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Docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Paraná.

Duas tendências importantes, e de certo modo controversas, se fazem presentes na sociedade contemporânea. Por um lado, temos o envelhecimento global da população, e por outro, vivenciamos a rápida evolução da tecnologia. Especificamente no caso do Brasil, de acordo com dados do Banco Mundial (2011), seu processo de transição demográfica está muito mais avançado quando comparado a Europa, Estados Unidos e até mesmo aos outros países da América Latina e sua taxa de fecundidade tem baixado mais rapidamente do que a observada nos países europeus.

Em relação ao avanço tecnológico, as modernas tecnologias impactam de sobremaneira nos hábitos cotidianos da população, o que resulta em novas formas de pensar, de agir e de se comunicar. Nunca tivemos tantas alterações no cotidiano, mediadas por múltiplas e modernas tecnologias. Estas fazem parte do ambiente em que as pessoas vivem e mediam as relações que são estabelecidas nesses espaços. Para facilitar a a informação e a comunicação temos hoje disponíveis os telefones celulares comuns e smartphones, computadores de mesas e portáteis, tablets, e-mail, televisores (também utilizada para lazer), entre outras; dentro de nossas residências contamos com o auxílio e com a facilidade proporcionada pelo uso do o forno de micro-ondas, máquina de lavar; e para o gerenciamento financeiro, além dos aplicativos disponíveis temos os caixas eletrônicos (PORTO, 2006; DOLL; MACHADO, 2011; CARVALHO; ARANTES; CINTRA, 2016; DOLL; MACHADO; CACHIONI, 2016).

Neste texto será abordado, especificamente, os dispositivos e tecnologias móveis e suas contribuições para o envelhecimento seja no âmbito pessoal, social e cultural. “Dispositivo móvel” é o termo utilizado para definir os dispositivos tecnológicos que são possíveis de serem levados a outros locais, ou seja, que favoreçam a mobilidade, a portabilidade, além do acesso à internet. Entre esses dispositivos destacam-se os smartphones, tablets, notebooks, entre outros (DOLL; MACHADO; CACHIONI, 2016). Já o termo “tecnologias móveis” (termo mais conhecido e mais abrangente) refere-se a todas as tecnologias que são fundamentais para o funcionamento dos dispositivos móveis e envolve as conexões de rede móvel e sem fio (3G, 4G, wireless, bluetooth) (DOLL; MACHADO; CACHIONE, 2016). Ademais, destacam-se os aplicativos, ou seja, os softwares, que possibilitam que determinadas tarefas sejam executadas nos aparelhos/dispositivos tecnológicos (por exemplo, comunicação,

acesso a informações, lazer, monitoramento de hábitos de vida – saúde, sono, alimentação, entre outros) (DOLL; MACHADO; CACHIONE, 2016).

A convergência das duas tendências apontadas no início deste texto aponta os benefícios do uso de dispositivos tecnológicos para o bem-estar de seus usuários. O termo bem-estar não é fácil de ser definido, pois, tal aspecto pode ser influenciado por diferentes variáveis como idade, gênero, cultura, nível socioeconômico (GIACOMINI, 2004). Na tentativa de defini-lo, a literatura aponta que uma pessoa com sentimento de bem-estar é aquela que apresenta satisfação com a vida, afeto positivo, e a pouca ou inexistente presença de afeto negativo (GIACOMINI, 2004). Para Oliveira e colaboradores (2016) como consequência da promoção do bem-estar, há a promoção da saúde.

No que diz respeito ao estudo conjunto do uso de tecnologias por idosos e o bem-estar, os estudos de Blit-Cohen e Litwin (2005) e Van der Wardt, Bandelow e Hogervorst (2012), trazem que o uso de dispositivos e tecnologias móveis possibilita uma maior conexão com o mundo exterior, criação de redes sociais virtuais, percepção de maior suporte social, trocas intergeracionais, comunicação com amigos e familiares, encurtamento de distâncias, além de fornecerem uma gama de informações voltadas ao cuidado com a saúde, ao lazer, trabalho e educação. Assim, as novas tecnologias digitais podem contribuir para a melhora do bem-estar e qualidade de vida dos adultos mais velhos, assim como para uma visão mais positiva acerca do processo de envelhecimento.

No entanto, para que a tecnologia cumpra seu papel no favorecimento do bem-estar aos idosos que a utilizam, faz-se necessário que esses usuários sejam instrumentalizados e reconheçam os potenciais e os benefícios desses dispositivos. Não se pode apenas inserir as tecnologias no cotidiano dessas pessoas e esperar que o uso aconteça de maneira natural. A grande maioria dos idosos de hoje passaram a ter contato com dispositivos tecnológicos há pouco tempo e, devido a isso, podem encontrar dificuldades para o uso, e aceitação desses equipamentos. A capacitação de idosos para o uso de tecnologias pode auxiliar adultos mais velhos e idosos a entenderem a estrutura e o funcionamento dessas. Um treinamento adequado os preparará para aplicar os conhecimentos adquiridos sobre as novas tecnologias e para solucionar problemas com as tecnologias existentes em suas atividades cotidianas. Em outras palavras, eles ficarão melhor preparados para ajudar a si mesmos caso haja necessidade (TAHA; CZAJA; SHARIT, 2016).

Referências

BANCO MUNDIAL. Envelhecendo em um Brasil mais velho. Washington, 2011. Disponível

em:<http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2015. BLIT-COHEN, E.; LITWIN, H. Computer utilization in later-life: Characteristics and relationship to personal well-being. Gerontechnology, v. 3, n. 3, p. 138-148, 2005.

CARVALHO, E.; ARANTES, R.C.; CINTRA, A.S.R. The inclusion of elderly persons from the Instituto Henrique da Silva Semente (IHESS) in Indaiatuba, São Paulo, in the digital age: physio-gerontological contributions. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, n.4, p. 567-575, 2016.

DOLL, J.; MACHADO, L.R. O idoso e as novas tecnologias. In: FREITAS, E. V.; PY, L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. p.1664-1671.

DOLL, J.; MACHADO, L.R.; CACHIONI, M. O idoso e as novas tecnologias. In: FREITAS, E. V.; PY, L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p.1613-1621.

GIACOMONI, C. H. Bem-estar subjetivo: em busca da qualidade de vida. Temas psicol., v.12, n.1, p. 43-50, 2004.

OLIVEIRA, C. et al. Bem-Estar Subjetivo: estudo de correlação com as Forças de Caráter. Avaliação Psicológica, v. 15, n. 2, p. 177-185, 2016.

PORTO, T. M. E. As tecnologias de comunicação e informação na escola; relações possíveis relações construídas. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 31, p. 43-197, 2006.

TAHA, J; CZAJA, S. J.; SHARIT, J. Technology training for older job-seeking adults: The efficacy of a program offered through a university-community collaboration. Educational Gerontology, Philadelphia, v. 42, n. 4, p. 276-287, 2016.

VAN DER WARDT, V.; BANDELOW, S.; HOGERVORST, E. The relationship between cognitive abilities, wellbeing and use of new technologies in older people. Gerontechnology, v. 10, n. 4, p. 187-207, 2012.