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Portella A, Woolrych R

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas

adrianaportella@yahoo.com.br Heriot-Watt University

School of the Built Environment r.d.woolrych@hw.ac.uk

Introdução

"Projetando lugares com os Idosos: Rumo às Comunidades Amigas do Envelhecimento" é um Projeto de Pesquisa financiado pelo Fundo Newton e ESRC (Economic and Social Research Council) num total de £808.289 libras esterlinas (R$

3.339.930,98 reais). É um projeto de parceria internacional liderado pela Universidade Heriot-Watt em Edimburgo, pelo Professor Ryan Woolrych (Coordenador no Reino Unido), e pela Universidade Federal de Pelotas, pela Professora Adriana Portella, Coordenadora no Brasil. Esta pesquisa foi submetida ao Edital "Vida Urbana Saudável e Ciências Sociais do Nexo Alimentação-Água-Energia: Reino Unido-Brasil por Pesquisa Colaborativa" e tirou primeiro lugar entre os projetos selecionados. É financiada no âmbito do Programa de Pesquisa de Transformações Urbanas no Brasil do Fundo Newton e ESRC.

O envelhecimento populacional no Reino Unido e no Brasil tem gerado novos desafios na forma de projetar os ambientes urbanos para que estes apoiem e promovam envolvimento social cotidiano e vida urbana saudável para os idosos. A medida que envelhecem, os adultos mais velhos enfrentam o declínio de suas capacidades físicas e cognitivas, mudanças nos arranjos de vida e a perda de apoios sociais. Em resposta a essas questões, a agenda do envelhecimento no local tornou-se importante na redefinição das políticas para os idosos (Andrews e Phillips, 2005). A agenda do envelhecimento no lugar defende que o ambiente preferido para idosos envelhecerem é na comunidade onde eles podem permanecer ativos, engajados, socialmente conectados e independentes (Wiles et al, 2011). Entretanto, os ambientes urbanos em seu projeto atual muitas vezes desencorajam o envelhecimento ativo, colocando os idosos em risco de isolamento e solidão (Buffel e Phillipson, 2012; ILC, 2013). As cidades urbanas contemporâneas podem ser "não amigas" e "hostis" aos idosos, agindo como uma barreira ao acesso a oportunidades sociais, econômicas e cívicas (Scharf et al, 2005). Ao abordar esta questão, as políticas e as práticas internacionais estão focadas na criação de cidades e comunidades amigas do idoso como ambientes para incentivar o envelhecimento ativo (Davies e Kelly, 2014). Trabalhando para esses ambientes, foram desenvolvidas melhores diretrizes para apoiar a caminhada e o design inclusivo dos espaços abertos (Happi, 2012; Idgo, 2012). Esta pesquisa reconhece que simplesmente mudar a forma construída não é suficiente para criar um ambiente mais inclusivo para o envelhecimento, pois os lugares são mais do que espaços físicos. Ambientes viáveis são articulados através de um forte sentido de lugar, definido como os vínculos sociais, psicológicos e emocionais que as pessoas têm com seu ambiente (Manzo e Perkins, 2006). Um forte sentido de lugar resulta do acesso a apoios para a participação ativa, oportunidades para construir e sustentar redes sociais e assumir um papel significativo na comunidade (Seamon, 2014). Em contrapartida, um sentimento de deslocamento ou "falta de espaço" está associado à alienação, isolamento e solidão, muitas vezes gerando resultados adversos de saúde e bem-estar, particularmente entre os idosos vulneráveis (Lewicka, 2013). Socialmente, a criação de ambientes urbanos amigáveis à idade que apoiam o sentido de lugar é parte integrante do envelhecimento bem-sucedido, assegurando que os idosos possam continuar a contribuir positivamente na velhice, atrasando a necessidade de cuidados institucionais e reduzindo os custos de saúde e assistência social.

Objetivos

Os objetivos gerais desta pesquisa são:

(i) investigar como o sentido de lugar é vivenciado por pessoas idosas de diferentes contextos sociais vivendo em diversos bairros no Brasil e no Reino Unido; (ii) traduzir essas experiências em projetos para comunidades amigas do idoso para que suportem o sentido de lugar; e (iii) articular melhor o papel dos idosos como participantes ativos no processo de design da cidade através do envolvimento da comunidade em todos os estágios da pesquisa.

Dentro desse contexto, o projeto tem os seguintes objetivos específicos:

Objetivo 1: estabelecer e comparar como idosos de diferentes classes sociais e contextos urbanos e culturais constroem o sentido de lugar com foco na identificação de oportunidades, desafios, facilitadores e barreiras para a participação social, ter independência

e ser ativo e envolvido na comunidade através da captura de rotinas diárias, caminhabilidade, e acesso e uso de espaços e amenidades comunitárias.

Objetivo 2: traduzir os dados obtidos a partir do objetivo 1 em exercícios de mapeamento participativo com a comunidade com o objetivo de fornecer uma representação visual valiosa de como uma comunidade valoriza, entende e interage com o lugar e identifica as características significativas dentro do ambiente que incorporam lugar. Isto será atingido através da participação de oficinas de mapeamento com a comunidade para facilitar a produção de conhecimento a partir do zero.

Objetivo 3: traduzir os resultados dos objetivos 1 e 2 em diretrizes para projetar comunidades para adultos mais velhos, refletindo as necessidades dos usuários de diferentes classes sociais e contextos urbanos e culturais que acomodem tanto a necessidade de independência e facilidade de mobilidade, incentivando ao mesmo tempo a participação social e o envolvimento na comunidade. As diretrizes são orientadas para a identificação de princípios de desenho e planejamento urbano para profissionais, urbanistas e políticos, com a finalidade de orientar o desenvolvimento de cidades e comunidades amigas do idoso.

Perguntas de Pesquisa

As questões de investigação que norteiam este estudo são: (i) Como é sentido o lugar vivido por idosos de diferentes classes sociais que vivem em diversos bairros no Brasil e no Reino Unido? Abordado no objetivo 1. (ii) Que serviços, amenidades e recursos são necessários para criar comunidades amigas do idoso que promovam cidades saudáveis e envelhecimento ativo em diferentes contextos urbanos e culturais? Abordado no objetivo 2. (iii) Como as comunidades podem ser projetadas para melhor integrar as necessidades de senso de lugar dos adultos mais velhos em diferentes contextos urbanos e culturais? Abordado no objetivo 3.

O Contexto no Reino Unido e no Brasil

O Brasil e o Reino Unido estão passando por profundas mudanças sociais impulsionadas pelos desafios do envelhecimento da população e pelos padrões de urbanização (ONU, 2013). Como país em desenvolvimento, o Brasil tem a sexta maior população de idosos do mundo. A proporção da população mais velha (60 anos ou mais) aumentou de 4,7% em 1960 para 10,8% em 2010 e deverá atingir 29% até 2050 (IBGE, 2010). Como um país desenvolvido, a população do Reino Unido tem envelhecido desde a década de 1870 (mais rapidamente entre 1970 e 2000). As projeções recentes indicam que a proporção de pessoas com 65 anos aumentará de 17,7% em 2015 para 23,5% em 2034 e o número de pessoas com mais de 85 anos deverá duplicar nos próximos 20 anos e triplicar nos próximos 30. Envelhecimento que se desdobrou ao longo de mais de um século no Reino Unido ocorrerá em duas décadas no Brasil, levantando desafios sociais específicos em termos de como melhor dar apoio à adultos mais velhos para que possam ter uma melhor qualidade de vida. Juntamente com o envelhecimento demográfico, Brasil e Reino Unido experimentaram diferenças em seus caminhos para a urbanização. No Reino Unido, a rápida urbanização ocorreu durante o período de industrialização no século XIX e início do século XX. O Brasil tem sido caracterizado por uma urbanização rápida relativamente recente; 84% da sua população vive agora em áreas urbanas, comparado com 82% no Reino Unido (ILC, 2013, Kinsella e Phillips, 2005). Assim, apesar das diferenças no ritmo de urbanização e envelhecimento, as áreas urbanas continuarão a serem importantes ambientes residenciais para a maioria dos idosos no Brasil e no Reino Unido.

Métodos de análise

A pesquisa realiza uma abordagem de estudo de caso internacional. Pesquisas experimentais envolvendo idosos e lugares foram conduzidas, principalmente, como estudos de uma única nação. Embora esses estudos tenham dado uma importante contribuição para o cenário científico, há uma tendência de generalizar os resultados e assumir que meios e recursos são aplicáveis em diferentes contextos nacionais. É necessária uma abordagem de estudo de caso comparativa, múltipla e internacional para entender a diversidade de experiências locais dos idosos, e como isso é influenciado pelo bairro, contexto social, políticas de bem-estar, processos governamentais e planejamento urbano.

Essa pesquisa seleciona três cidades para os estudos de caso no Brasil (Pelotas, Belo Horizonte e Brasília) e três cidades no Reino Unido (Edimburgo, Manchester e Glasgow). As cidades dos estudos de caso foram selecionadas para representar um amplo espectro de áreas urbanas, em termos de demografia (ocupação variada por idade), desigualdade (saúde e desigualdade sociail entre grupos de alta e baixa renda), topografia (diferentes tipos de densidade e forma urbana) e desenvolvimento urbano (diferentes níveis de transformação física e de mudança).

Dentro de cada uma das cidades estudo de caso, três bairros foram selecionados como locais de pesquisa, tomando como base a densidade populacional e os níveis de renda (medidas baseadas em pesquisas anteriores que examinaram a satisfação de vizinhança dos idosos; Mahmood et al, 2012). Os bairros compreendem uma mistura de baixa, média e alta renda e áreas de baixa, média e alta densidade. A análise à nível de bairro foi escolhida porque: (i) o maior tempo gasto pelos idosos aposentados é em casa e na vizinhança imediata; (ii) os idosos estão cada vez mais dependentes das relações sociais da vizinhança a medida que envelhecem; e (iii) os idosos têm vínculos psicológicos e emocionais importantes associados à comunidade.

Pesquisa Participativa Baseada na Comunidade (PPBC) - Community-based participatory research (CBPR)

Para gerar um sentimento de envolvimento da comunidade e para fundamentar a pesquisa nas experiências dos idosos, uma abordagem participativa baseada na comunidade (PPBC) é adotada. A PPBC é sustentada pelos princípios de igualdade, capacitação, inclusão e parceria de trabalhos com idosos (Minkler e Wallerstein, 2010). O PPBC promove: a transferência mútua de conhecimentos especializados; participação inclusiva; divisão do poder e equidade; e propriedade dos dados para todos os participantes. A abordagem PPBC é necessária, pois abordagens tradicionais de investigação podem não ser apropriadas por não gerar as compreensões necessárias sobre como os idosos interagem com o ambiente. A escolha dos métodos em um esquema PPBC é proposital, com a intenção de fornecer "espaço" aos idosos e uma plataforma para suas percepções. A PPBC reconhece que o "conhecimento especializado" reside nas comunidades, conhecimento que pode ser estimulado para trazer novos entendimentos e lutar pela mudança social (Cacari-Stone, 2014). A pesquisa adota uma abordagem colaborativa para o projeto, co-análise dos dados e design dos meios e recursos de transferência de conhecimento, incorporando a troca de conhecimento em todas as atividades e assegurando que os resultados da pesquisa sejam relevantes. A promoção do trabalho interprofissional procura compartilhar e melhorar as abordagens, as práticas e os resultados entre todas as partes interessadas (adultos idosos, profissionais de políticas e práticas, e acadêmicos), particularmente na área de planejamento urbano.

Resultados esperados da pesquisa para acadêmicos e usuários em potencial

Os resultados alcançados ao longo da vida do projeto serão disponibilizados a uma extensa rede de organizações internacionais, nacionais, regionais e locais através dos setores acadêmico, público, privado, voluntário e dos meios de comunicação. As equipes do Brasil e

do Reino Unido têm experiência em comunicação com público acadêmico, profissional e comunitário e em publicação nas disciplinas relevantes. A equipe reconhece que os resultados devem ser divulgados ao público em todas as etapas do projeto e propõe um plano abrangente de mobilização do conhecimento para alcançar esse objetivo.

As investigações do primeiro ano da pesquisa estão sendo concluídas e pode-se verificar que as pessoas com mais de 60 anos em ambos os países, em sua maioria, gostariam de participar mais nas decisões locais de sua comunidade, se sentem muitas vezes desrespeitadas pela própria comunidade. Além disso, indicam como fator principal para a melhoria da qualidade de vida a promoção de estratégias de requalificação do bairro com o apoio da comunidade através de encontros e mapeamentos participativos. Questões geracionais também foram apontadas, sendo importante projetar espaços que atendam necessidades de diferentes faixas etárias simultaneamente, sendo destacada a importância do convívio entre crianças, jovens, adultos e idosos em ambos os países.

Referências

Andrews, G., & Phillips, D. (2005). Ageing and Place: Perspectives, policy and practice. Buffel, T., & Phillipson, C. (2012). Ageing in urban environments: Developing ‘age-friendly’cities. Critical Social Policy, 32(4), 597-617.

Cacari-Stone, L., Wallerstein, N., Garcia, A. P., & Minkler, M. (2014). The Promise of Community-Based Participatory Research for Health Equity: A Conceptual Model for Bridging Evidence With Policy. American journal of public health, 104(9), 1615-1623

Davies, J. K., & Kelly, M. (Eds.). (2014). Healthy cities: research and practice. Routledge.

HAPPI (2012) Housing our Ageing Population.

http://www.homesandcommunities.co.uk/sites/default/files/happi_final_report_-_031209.pdf

IBGE (2010). Population Census: Brazil.

http://www.ibge.gov.br/english/estatistica/populacao/censo2010/

IDGO (2012) Inclusive Design for getting Outdoors.

http://www.idgo.ac.uk/design_guidance/streets.htm

ILC (2013) Housing for older people: Country paper Brazil. Available at http://www.ilc-alliance.org/images/uploads/publication-pdfs/ILC-Brazil.pdf

Lewicka, M. (2013). Localism and Activity as two dimensions of people–place bonding: The role of cultural capital. Journal of Environmental Psychology, 36, 43-53.

Mahmood, A., Chaudhury, H., Michael, Y. L., Campo, M., Hay, K., & Sarte, A. (2012). A photovoice documentation of the role of neighborhood physical and social environments in older adults’ physical activity in two metropolitan areas in North America. Social science & medicine, 74(8), 1180-1192.

Manzo, L. C., & Perkins, D. D. (2006). Finding common ground: The importance of place attachment to community participation and planning. Journal of planning literature, 20(4), 335-350.

Minkler, M., & Wallerstein, N. (Eds.). (2010). Community-based participatory research for health: From process to outcomes. John Wiley & Sons.

ONU (2013) World Population Ageing: National Report. Available at http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/ageing/WorldPopulation Ageing2013.pdf

Scharf, T., Phillipson, C., & Smith, A. E. (2005). Social exclusion of older people in deprived urban communities of England. European Journal of Ageing, 2(2), 76-87.

Seamon, D (2014) Place attachment and phenomenology: The Synergistic Dynamism of Place. In: Lynne C. Manzo & Patrick Devine-Wright, eds., Place Attachment: Advances in Theory, Methods, and Applications, pp. 11-22, NY: Routledge, 2013

Wiles, J. L., Leibing, A., Guberman, N., Reeve, J., & Allen, R. E. (2011). The meaning of “ageing in place” to older people. The Gerontologist.

20. APLICATIVOS PARA PERCEPÇÃO POSTURAL: SOLUÇÕES PARA