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O homem parasitado, através de seus dejetos, contamina seu próprio ambiente por cistos e ovos de enteroparasitas; a água pode preservá-los por longos períodos e transportá-los a grandes distâncias; o solo permite o seu desenvolvimento a estágios infectantes, e os alimentos vegetais, consumidos crus, levam ao indivíduo tais formas (URQUHART & ARMOUR, 1990; GHEYI et al., 1999).

Conforme MARZOCHI (1977b), a água assume importância de destaque na disseminação das enteroparasitoses, agindo como importante veículo de transmissão, por permitir a sobrevivência e não prejudicar a viabilidade dos ovos de helmintos por ela transportados. Estes podem sofrer ainda um atraso no processo evolutivo, devido às condições de baixa tensão de oxigênio da água. O mesmo autor salienta que o solo, com relação aos helmintos parasitas, comporta-se como um hospedeiro intermediário, ou seja, recebe fezes ou água contaminada por parasitas em estágios não infectantes, oferecendo-lhes condições de

desenvolvimento e protegendo os parasitas, nos estágios infectantes, durante certo período para, posteriormente, transmití-lo ao homem.

Todos os gêneros alimentícios prontos para o consumo devem ser objeto de exames físicos, químicos e microbiológicos. Várias pesquisas demonstram que as frutas e verduras podem fazer parte da cadeia epidemiológica de infecções microbianas e parasitárias (GELLI et al., 1979).

O consumo de verduras cruas constitui importante meio de transmissão de várias doenças infecciosas e parasitárias pela freqüente prática de irrigação de hortas com água contaminada por material fecal ou também pela adubação das mesmas com dejetos humanos, particularmente se as hortaliças forem consumidas cruas ou mal cozidas (BARUFFALDI et al., 1984; FARIA et al., 1987; OLIVEIRA & GERMANO, 1992b; SARTI, 1992; SMITH, 1994; AYRES & MARA, 1996; GUILHERME et al., 1999; LEMES DE CAMPOS & TERRA, 2000).

MARZOCHI (1977b), FLISSER(1985) e SILVA et al. (1995) citam não só os fatores epidemiológicos acima descritos como importantes, mas também as moscas como vetores mecânicos e a manipulação direta por pessoas contaminadas, contribuindo, assim, para formar a cadeia de transmissão de verduras cruas. Já BRYAN (1977) e AGAPEJEV (1991) descrevem que a literatura menciona tal contaminação através do vento, artrópodes e pássaros, embora saliente que os mesmos ainda são pouco convincentes.

TAKAYANAGUI et al. (2000) afirmam, ainda, que o lançamento de esgoto doméstico, sem tratamento prévio, nos rios e córregos, é prática usual, e a utilização desta água na irrigação de hortas possibilita a contaminação fecal das verduras. Complementa que, em Ribeirão Preto — SP, tal irregularidade foi constatada em 1974 nas hortas localizadas na região sudoeste do município e, a despeito da proibição legal, esta prática ainda existe, duas décadas após, embora em escala menor.

BIONDI (2000), em trabalho realizado em Goiânia (GO), detectou presença de ovos deTaenia sp. em amostras de água analisadas segundo técnica adaptada de Centrífugo – flutuação (Apha, 1989) ao empregar Dicromato de Sódio (D= 1:35), confirmando assim a endemicidade da região estudada.

PESSÔA & MARTINS (1982) e BARUFFALDI et al. (1984) denominam heteroinfecção o mecanismo onde o homem se infecta, ingerindo ovos em água poluída, hortaliças mal cozidas, frutos contaminados ou através de suas próprias mãos sujas, que se constituem veículos comuns para o transporte de ovos.

Segundo URQUHART & ARMOUR (1996) os fatores principais que determinam a distribuição de contaminantes de origem fecal nas hortaliças são as condições ecológicas, as práticas de agricultura, transporte, acondicionamento e comercialização.

MARZOCHI & CARVALHEIRO (1978) —- a partir de dados sobre as condições sanitárias, sócio-econômicas, culturais e coproparasitológicas de dois grupos populacionais periurbanos na região sudoeste da cidade de Ribeirão Preto — demonstram que a prevalência de algumas geo-helmintoses é mais alta no grupo que dispõe das piores destas condições.

OLIVEIRA & GERMANO (1992a) citam que são três os principais motivos que possibilitam a exposição de uma grande parcela da população às formas de transmissão destes parasitas: as verduras sendo adubadas com dejetos humanos ou irrigadas com água contaminada por material fecal, além do hábito de consumo das hortaliças “in natura”.

A Organização Pan Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS -1992) estabelece como endemicidade:

v Cisticercose humana (0,1%) v Teníase humana (1%)

v Cisticercose animal (5%)

De acordo com CÔRTES (1984), REY (1992), AYRES & MARA (1996), CÔRTES (2000) e SOCCOL et al. (2000) a resistência dos ovos das tênias ao meio externo é de grande importância, pois podem sobreviver de semanas à vários meses em águas residuais, cursos d’água ou nos pastos. Descrevem ainda que, do mesmo modo, embora sofrendo influência dos mecanismos biológicos de fermentação e putrefação, resistem à maioria dos processos de digestão, utilizados na depuração de

esgotos, sendo encontrados no líquido decantado dos tanques de sedimentação, e resistindo aos processos de fermentação, que se desenvolvem no “Sistema de lodos ativados”, cujo produto (lodo digerido seco) é utilizado como fertilizante. Já AYRES & MARA (1996) e SOCCOL et al. (2000) afirmam que o tratamento do esgoto e do lodo podem diminuir a população de agentes patogênicos neles presentes.

GUILHERME et al. (1999) e SOCCOL et al. (2000) descrevem ainda que a simples presença de ovos de helmintos no lodo não garante a infecção de humanos e animais, porque, para infectar o hospedeiro, estes agentes patogênicos necessitam de uma dose mínima; no caso dos helmintos esta dose é de apenas um ovo viável, e este pode sobreviver por vários meses; portanto trata-se de organismos que possuem baixa dose infectante.

SOCCOL et al. (2000) enfatizam, ainda, que o conhecimento dos agentes patogênicos, da sua viabilidade e sobrevivência no lodo, permitem avaliar o potencial de risco de infecção a que o homem e outros animais estão expostos. Estudos epidemiológicos têm apontado os riscos que representam os parasitas intestinais (ovos e helmintos) presentes no lodo, quando este é utilizado sem prévios tratamentos higienizantes. Tais riscos são devido à vasta distribuição geográfica que os parasitas representam, alta freqüência destes na população, longo tempo de sobrevivência no meio externo e sua baixa dose infectante (um ovo ou cisto é capaz de infectar o hospedeiro).

Complementam que o uso do lodo contendo agentes patogênicos necessita, portanto, não só de monitoramento na presença de ovos de helmintos e cistos de protozoários, como também de verificação da viabilidade dos mesmos.

Conforme AYRES & MARA (1996), para que a infecção ocorra depende dos seguintes fatores:

v Tempo de sobrevivência do patógeno no solo, na colheita ou na água de irrigação.

v Freqüência dos agentes nos excretas ou na irrigação. v Tipo de verdura cultivada.

v Natureza da exposição do hospedeiro humano ao solo contaminado, à água ou à verdura.

Independentemente da origem, a prevalência de contaminantes fecais relaciona-se diretamente com o tipo de hortaliça analisada: a alface tende a encontrar-se menos contaminada que o agrião. Este resultado pode estar relacionado às características próprias da alface, como folhas largas, firmemente justapostas, que não permitem a fixação e o contato prolongado com resíduos do solo e da água de irrigação e lavagem; isto reforça a importância da estrutura vegetal no grau de contaminação da hortaliça. Por outro lado, possue folhas múltiplas e separadas, com área de contato maior, permitindo a fixação destes resíduos; a escarola e a rúcula apresentam características físicas intermediárias e contaminação situada entre aquelas duas variedades

(GELLI et al., 1979; OLIVEIRA & GERMANO, 1992a; GUILHERME et al., 1999).

Este último autor justifica essa maior probabilidade do agrião encontrar-se contaminado, citando que, na periferia das cidades, ocorre descarga de dejetos sobre os remansos de água e o fato dessa hortaliça ser cultivada em meio aquático a tornaria mais passível de contaminação, podendo, assim, explicar os altos índices encontrados.

Conforme AYRES & MARA (1996), o modo como os excretas ou a água residual são aplicados ao solo, o intervalo entre as sucessivas aplicações, e o período entre a última aplicação e a colheita podem afetar o grau de contaminação da hortaliça e a dispersão dos contaminantes ao meio ambiente.

Os pequenos produtores, que comercializam suas verduras na feira, têm as propriedades localizadas nas periferias das cidades, e a contaminação dos produtos vegetais por enteroparasitas depende da concentração da matéria orgânica de origem fecal nas águas de irrigação provenientes da drenagem de esgotos domésticos (GUILHERME et al., 1999). De acordo com a mesma teoria, SILVA et al. (1995) justificam também que alguns bairros do Rio de Janeiro – segundo pesquisas por eles realizadas – são desprovidos de saneamento, ou o tem em condições precárias. CAMILLO-COURA (1991) afirma que a cisticercose deve-se à ingestão de ovos ou de proglotes grávidas de

tênias, desenvolvendo-se no homem a forma cística, responsável pelo quadro clínico da cisticercose.

Em pesquisas realizadas por MARZOCHI (1977a), os resultados obtidos mostraram que cistos e ovos de enteroparasitas, foram mais freqüentemente encontrados nos períodos de baixa pluviosidade, quando mais intensivamente se faz a irrigação das hortas com águas de córregos poluídos por material orgânico de origem fecal, e conclui, portanto, que a contaminação de hortaliças depende nem só da qualidade das águas utilizadas na irrigação, mas também da maior ou menor utilização das mesmas nos diferentes períodos do ano.

Para o mesmo autor, a endemicidade das geohelmintoses depende, fundamentalmente, da presença de indivíduos infestados, da contaminação fecal do solo, de condições favoráveis ao desenvolvimento dos estágios infectantes e do contato entre o indivíduo são e o solo poluído.

Enfim, os fatores determinantes do complexo Teníase/Cisticercose são as baixas condições sócio-econômicas, precário saneamento básico, deficiente educação em saúde, hábitos alimentares e de higiene pessoal, criação doméstica anti-higiênica de animais, precariedade e ineficiência de serviços de vigilância sanitária de alimentos e elevado comércio clandestino de carne (MARZOCHI, 1977b; FLISSER, 1985; SCHANTZ, 1994; FREITAS & PALERMO, 1996). SARTI (1997) aponta, também, que hábitos como não lavar as mãos após a utilização

de sanitários e antes das refeições, e o consumo de água não tratada e nem fervida, aumentam a probabilidade de ocorrência da neurocisticercose.

A cisticercose humana, de acordo com FLISSER (1990) e ACHA & SZYFRES (1996), pode ocorrer através de 3 formas:

1) Heteroinfecção – Ingestão de água, frutas e verduras cruas contaminadas por fezes de indivíduos portadores de Taenia solium.

2) Autoinfecção exógena – Introdução de ovos de Taenia solium à boca através das mãos contaminadas com as próprias fezes devido à falta de hábitos higiênicos.

3) Retroperistaltismo – Também conhecida por auto- infecção endógena, dá-se quando as proglotes grávidas retornam ao estômago e, em seguida, novamente ao intestino, onde há liberação da oncosfera e desenvolvimento do cisticerco.

Conforme STRAUS (2000), há possibilidade de aumento da infecção em bovinos por Taenia saginata com o uso do lodo, proveniente de estações de tratamento de esgoto e que contenham ovos viáveis, para adubar pastagens de bovinos, podendo ocorrer a infecção dos animais (cisticercose) e não causando doença grave nos mesmos, mas resultando em prejuízos econômicos pela condenação destas carcaças. Na seqüência, se o homem ingerir esta carne contaminada com cisticercos desenvolverá o parasito adulto, perpetuando assim o ciclo do mesmo. No caso do lodo conter ovos viáveis de Taenia solium o risco

maior é para a saúde humana, principalmente para indivíduos que tenham contato direto com este lodo. A infecção – ingestão de ovos – pode, neste caso, acarretar comprometimento do SNC (neurocisticercose). É devido a isso que este lodo deve ser sempre submetido a tratamentos higienizantes e esterilizantes.

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