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Ao longo do desenvolvimento deste relatório foram sendo enunciados os equívocos e respectivas rectificações realizados pela estagiária ao longo do seu período na editora. Por conseguinte, os que optamos por ressaltar neste subcapítulo tratam-se daqueles mais gerais, quase independentes do texto, e que precisamente por isso não foram ainda referenciados. A percepção da sua existência por parte da estagiária, contudo, e consequente aprimoramento revelou-se numa das maiores mais-valias do estágio, pelo que seria incongruente ignorá-la. Foi de suma importância a supervisão da revisora Anabela Carvalho.

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• Sinalética utilizada

Durante o primeiro ano de mestrado foi pedido pelos alunos, em contexto de uma aula de Técnicas de Edição, que se procedesse ao ensino dos sinais utilizados em revisão manuscrita. O professor acedeu, com a ressalva de que, apesar de elementos em comum, era frequente a variação de editora para editora, pelo que seria imprescindível a consciência da flexibilidade sinalética, e disposição do aluno em se adaptar ao já vigente na casa editorial com que pudesse vir a trabalhar. De facto, assim sucedeu durante o estágio a que se refere este relatório. Salvo duas ou três excepções, a sinalética utilizada pelos revisores da Relógio d’Água e a aprendida em aula divergiu: um exemplo será o da indicação do revisor para se ignorar uma intervenção previamente realizada. Enquanto em aula foi indicado s/ ef. (sem efeito), na Relógio d’Água utiliza-se vale, encontrando-se ambas correctas. Esta divergência – e por vezes até mesmo o desconhecimento de qual o sinal a utilizar – atrasou as primeiras revisões efectuadas pela estagiária, chegando mesmo a dificultar desnecessariamente o trabalho da paginação pelo número de sinalização riscada e refeita com o propósito de se adequar ao utilizado na editora. Neste quesito, podemos concluir que a editora optou por uma via mais prática de ensino: a da observação e prática, em vez de um destilar teórico. Apesar da prática gerada pelo tempo, e da disponibilidade das demais funcionárias da editora em auxiliar quando questionadas, a nível imediato esta opção gerou atrasos e as problemáticas acima mencionados, os quais poderiam ser evitados com a criação de uma base de dados referente à sinalética utilizada pela editora, a facultar a novos colaboradores.

• Reconhecimento de espaçamentos duplos

O que em documentos em formato electrónico é facilmente reconhecido – o espaçamento duplo – por ser indicado pelo próprio programa de suporte, em manuscrito torna-se mais árduo de identificar. É com facilidade, portanto, que um duplo espaçamento possa escapar a “olho nu”, em particular quando o revisor se encontra cansado ou se deixa escorregar para uma leitura mecânica. Não existindo fórmula matemática que impeça esta irregularidade, apenas a atenção – e leituras múltiplas em dias diversos – a poderá colmatar.

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• Revisão da bibliografia

É frequente, ao falar-se em revisão, pensar-se apenas no texto propriamente dito, esquecendo os demais elementos que podem constituir uma obra: notas de rodapé, epígrafes, agradecimentos, ou bibliografias. Sob a supervisão da responsável de revisão da Relógio d’Água, a estagiária apercebeu-se de cometer esta falha em relação à bibliografia, a qual se reveste de particular importância em obras de não-ficção. Deste modo, foi ressaltada a necessidade de confirmação na correcção de nomes de autores, na omissão de espaçamentos ou existência de espaçamento duplo, e mesmo na verificação do correcto uso de pontuação na norma bibliográfica em uso.

Assim como no reconhecimento de espaçamento duplo, também a rectificação bibliográfica depende de minúcia e atenção, facilitando-se pela consciência da omissão realizada até então.

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4. A aplicação do Acordo de 1990: as excepções consideradas pela

Relógio d’Água

O Acordo Ortográfico de 1990 é o que se encontra actualmente em vigência. Ao aplicá-lo, a Relógio d’Água utiliza o conversor Lince e, em caso de divergência na grafia, segue o Portal da Língua Portuguesa. No entanto, não deixa de conter obras no seu catálogo que seguem o Acordo Ortográfico de 1945: ou seja, trata-se de uma editora que ainda hoje trabalha com as normas de ambos os Acordos, sendo necessário que antes de se começar uma tradução ou revisão se estabeleça qual dos dois será considerado. Como exemplificado pela Figura 6, ao aplicar-se o Acordo de 1990 é acrescentada à ficha técnica uma nota informativa nesse sentido:

Figura 6

(Salientado a vermelho pela estagiária)

Pelo que é apreensível da posição de consumidor no mercado editorial português, trata-se de um posicionamento curioso em relação à maioria das casas editoriais, que opta por acrescentar uma nota informativa quando o texto segue o Acordo de 1945, ao invés do de 1990.

A aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 realizou-se num clima de discórdia e controvérsia que ainda hoje se mantém, tanto nos meios académicos quanto empresariais, sendo bem vincada a opinião quer de quem se encontra a favor, quer de quem se encontra contra. No dia-a-dia, a grande maioria da população aplica ou não o

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“Novo Acordo” conforme a sua própria consideração, com excepção, talvez, quando se tratam de documentos relacionados com os organismos do Estado. Entre os próprios linguísticas e historiadores da língua não existe concórdia.

Por estes motivos, e na procura de uma solução a meio-termo que mantivesse a editora conectada ao público, mas também às alterações e avanços linguísticos, o Acordo Ortográfico de 1990 foi implementado pela Relógio d’Água com algumas excepções: palavras que, apesar da actualização, se consideraram na editora conforme a sua grafia anterior. Tanto ao tradutor quanto ao revisor se facultava esta listagem, constituída por palavras cuja alteração ortográfica se encontra pobremente justificada, sendo causa ainda de discussão entre os linguistas, ou entrave a uma leitura fluida:

Vêem Óptica Pêlo Crêem Espectador Recepção

Lêem Corrector Pára (forma verbal e nomes compostos)

Podemos, no entanto, afirmar tratar-se de uma experiência cujos resultados não se revelaram os expectáveis. As críticas recebidas foram pesadas – em particular nas redes sociais –, tanto de quem se encontra a favor do Acordo de 1990 como de quem se encontra contra, o que nos encaminha à conclusão de que, acima de tudo, o público leitor deseja consistência e uniformidade.

Não estando, todavia, no âmbito do revisor, trata-se de uma questão a ser considerada pelo editor.

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5. Considerações Finais

Durante o primeiro ano de mestrado em Edição de Texto na FCSH da Universidade Nova de Lisboa a necessidade de dotar o aluno de aptidões capazes de funcionar como ponto de partida ao seu crescimento laboral leva a que o regime escolar adoptado seja o de aulas teóricas. Simultaneamente, procura-se que nas disciplinas que compõem o programa lectivo se desenvolvam aptidões suficientemente diversas que permitam ao aluno a escolha entre várias áreas de actuação – editorial, bibliotecária, gráfica, académica, entre outras. Cremos que o segundo ano é a experiência em que o aluno não apenas consolida as aptidões adquiridas através da prática, como as desenvolve ao que melhor se coaduna às suas expectativas e capacidades, visto que quer apresente uma tese, quer opte por um estágio, a aprendizagem torna-se individual, adquirida pela experiência pessoal.

É a partir deste entendimento que consideramos quer o estágio realizado, quer o seu enquadramento em mestrado. Ou mesmo a adequação do programa de mestrado à realidade laboral. Não foram poucas as aptidões adquiridas durante as disciplinas leccionadas que foram aplicadas em estágio: um conhecimento básico da História do Livro ou da evolução linguística confere conteúdo e compreensão a decisões tomadas a nível editorial; a realização de trabalhos como a apresentação de uma proposta de venda, o desenvolvimento de capa e contracapa de um livro, ou a revisão de artigos de jornais – realizados no âmbito de Teoria da Edição – são de uma preparação prática exemplar. Ainda que não tenham sido aplicadas durante o estágio a que remete este relatório, torna-se evidente de que forma as aptidões adquiridas em Edição Electrónica são uma vantagem em funções de paginação ou mesmo de relação com a gráfica, enquanto as desenvolvidas em Crítica Textual se tornam fulcrais em áreas académicas, de estudos da língua e da literatura, e bibliotecas. Recorrendo a casos concretos: ao acompanhar a funcionária responsável pela venda de exemplares às livrarias, a estagiária recordou e reconheceu as capacidades necessárias – e desenvolvidas por erro e correcção – durante a realização do trabalho de apresentação de uma proposta de venda. Ao encarar, durante os vários trabalhos de revisão, a necessidade de flexibilidade e de considerar cada caso como um caso – até no que respeita a normas gramáticas e ortográficas, frequentemente pensadas como sendo fixas –, ressalva-se o que, mais do que a memorização de um elemento de uma só aula, é uma interiorização constante: tudo depende. Desde o tipo de vocábulo utilizado em determinada obra aos elementos

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que se considerarão para um lançamento, a demais situações que, por mero acaso, não se colocaram durante o estágio desenvolvido. Deste modo, o estágio tornou-se parte integrante do mestrado, ao permitir a colocação em prática de parte das aptidões previamente desenvolvidas.

Dizemos “parte”, contudo, e não “totalidade”, ou mesmo “grande parte”, e enquanto algumas não o foram pela sua própria natureza – identificar as origens de um manuscrito, por exemplo, não se coaduna com as funções primárias de uma editora –, outras tê-lo-ão sido por inexistência de tempo. No subcapítulo 2.4 apontamos algumas das funções notadas mas não exercidas ou acompanhadas pela estagiária, funções essas que são hoje em dia fulcrais ao funcionamento editorial e as quais, fosse o período de estágio mais longo, a estagiária gostaria de ter também desenvolvido: a área de paginação, por exemplo, para a qual Edição Electrónica fornece as bases.

Outra questão que apontamos prende-se com a necessidade de fortalecer a conexão entre a teoria das aulas com a prática do mercado laboral. Ainda que as aptidões adquiridas sejam uma boa base às funções práticas, não é incomum que o aluno passe por um desajuste ao ambiente laboral ao tornar-se um funcionário. Caso encaremos a utilidade académica como uma de preparação, não se pode ignorar esta desadequação. Cremos que entre as várias considerações a fazer com este propósito – de fortalecimento de uma conexão entre a academia e o mercado laboral – destacam-se:

• atender para que palestras e congressos com profissionais das diversas áreas de empregabilidade não coincidam com os horários de aulas, como se verificou com a grande maioria dos realizadas no ano lectivo de 2018/2019, uma situação que prejudica não apenas os alunos, os quais ficam numa situação de escolha em que de algum modo ficam sempre a perder, como também a organização e os convidados, que vêem diminuído grande parte do seu público;

• organização de visitas de estudo, como as realizadas às instalações da gráfica Oficina do Cego: acreditamos que, de modo a atender as expectativas laborais e de carreira dos diversos alunos, seria proveitoso expandir os locais de visita, considerando também livrarias, administrações de bibliotecas, centros de investigação académicos, armazéns de editoras e sedes editoriais (consideradas médias e grandes empresas), entre outros. Actualmente, as visitas de estudo, que permitem o contacto com o profissional na respectiva área de trabalho, encontram-se dependentes da vontade e rede de contactos de cada professor, o que sendo de mérito ao docente, não é uma situação academicamente ideal;

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• promover o contacto directo com profissionais da área através de professores convidados: utilizamos como exemplo a aula do editor João Concha, desenvolvida no âmbito de Teoria de Edição pelo professor Rui Zink. João Concha, fundador e responsável pela micro-editora Não (Edições), demonstrou estar numa posição rara em termos de experiência e capacidade de transmissão dessa experiência, o que permitiu aos alunos conhecer vários dos aspectos que envolvem o dia-a-dia de uma micro-editora e da publicação num nicho em Portugal, não apenas através da exposição, como também através da colocação de questões. Ademais, facilita a troca de contactos, algo primordial em qualquer área.

Terminando assim o relatório, poderemos confirmar a importância da aplicação prática de conhecimentos teóricos, bem como a relação interdisciplinar que de facto existe entre as componentes lectivas do mestrado e o seu desenvolvimento em estágio, no que às aptidões adquiridas diz respeito. O crescimento da estagiária desenvolveu-se, a seu ver, tanto a nível pessoal quanto profissional.

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Anexo 1 – Exemplificação da reorganização alfabética de um índice

remissivo (revisão e trabalho final)

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Anexo 2 – Revisão textual com vista à simplificação vocabular

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Anexo 3 – Pormenor da revisão de uma peça de teatro. As

interferências a vermelho são as realizadas pela estagiária; as

interferências a verde são as realizadas pela supervisora em estágio

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Anexo 4 – Revisão na Introdução de O Rei João. As interferências a

vermelho são as realizadas pela estagiária; as interferências a verde

são as realizadas pela supervisora em estágio.

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Anexo 5 – Excerto da tradução de O Rei João. Destacado em vermelho

encontra-se o correspondente à citação na Introdução revista no Anexo

4.

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Anexo 6 – Exemplificação da contagem dos versos, encontrando-se os

ditos salientados a vermelho.

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Anexo 7 – Exemplificação de revisão na contagem de versos,

demarcando a vermelho o original e a intervenção.

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