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2. QUALIDADE NO SETOR PÚBLICO

2.1 Eras da Qualidade no Setor Público

2.1.3 Era do New Public Management (NPM)

As origens do New Public Management (NPM) ou Nova Administração Pública (NAP) estão associadas à Primeira Ministra Britânica Thatcher e ao Presidente Americano Ronald Reagan e também com o Labour, partido que presidiu a Nova Zelândia em 1984. Nem Thatcher nem Ronald Reagan eram da abordagem ortodoxa até então utilizada nos setores públicos britânico e americano nos anos 60 e começo dos anos 70. Durante seus períodos no poder nos anos 80 eles e muitos de seus conselheiros favoreceram o que consideravam uma abordagem mais "comercial" (POLLITT; DAN, 2011).

Gradualmente, em parte através da doutrina e em parte através de tentativas e erros, essa atitude geral cristalizou em um conjunto mais específico de receitas para a reforma do setor público. Esse movimento foi rotulado como o New Public Management (NPM) ou (nos

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EUA) Reinventing government. Dois consultores de gerenciamento americanos, que escreveram um best-seller intitulado Reinventing government e depois se tornaram assessores do vice-presidente dos EUA em um importante programa de reformas, estavam convencidos de que as mudanças que viram faziam parte de uma tendência global. Eles alegavam que o "governo empreendedor" (como eles o chamavam) era mundial e "inevitável" (OSBORNE; GAEBLE, 1992).

O Comitê de Gestão Pública da OCDE elaborou uma série de publicações que pareciam sugerir que a maioria do mundo desenvolvido, pelo menos, caminhava pelo mesmo rumo. Esta direção envolveu o desenvolvimento da gestão do desempenho, introduzindo mais concorrência para o setor público, oferecendo qualidade e escolha aos cidadãos e fortalecendo o papel estratégico face ao papel operacional da direção. Embora seja agora bastante claro que todo o mundo não seguiu o mesmo caminho (POLLITT; BOUCKAERT, 2011), continua a ser verdade que as idéias do NPM se espalharam amplamente e muitas vezes ainda são vistas como a via mais óbvia para a modernização.

Houve muitas disputas e ambiguidades de definição sobre exatamente quais seriam os principais elementos da NPM (DUNLEAVY et al., 2006, BARZELAY, 2000; GOW ; DUFOUR, 2000; HOOD, 1990; HOOD; PETERS, 2004). Assim como Dunleavy et al. (2006), esta tese compreende que o NPM é um fenômeno de dois níveis. No nível superior, é uma teoria ou doutrina geral de que o setor público pode ser melhorado pela importação de conceitos, técnicas e valores do setor de negócios. Isso foi claramente visto, por exemplo, quando o então vice-presidente dos EUA Al Gore aprovou pessoalmente um folheto popular intitulado Governo empresarial: lições aprendidas com as melhores empresas da América (Gore, 1997). O NPM é um pacote de conceitos e práticas específicas, incluindo (POLLITT; DAN, 2011):

a) Maior ênfase no "desempenho", especialmente por meio da medição de resultados;

b) Uma preferência por formas organizacionais simples, planas, pequenas, especializadas (desagregadas) ante formas grandes e multifuncionais (por exemplo, agências executivas semi-autônomas como proposto por Pollitt et al., 2004);

c) Uma substituição generalizada dos contratos de relações hierárquicas como o principal dispositivo de coordenação;

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d) Uma injeção generalizada de mecanismos de mercado, incluindo licitação competitiva, remuneração relacionada ao desempenho e vários mecanismos de escolha do usuário;

e) Uma ênfase no tratamento dos usuários do serviço como "clientes" e na aplicação de técnicas genéricas de melhoria da qualidade, como o TQM (POLLITT, 2003).

Portanto, a pesquisa de gestão pública nas décadas de 1980 e 1990 centraram-se na adoção do New Public Management (no Brasil, conhecido como Nova Administração Pública ou Gerencialismo), que apoiou grandes mudanças organizacionais para reduzir estruturas hierárquicas e aplicar práticas gerenciais do setor privado, tais como contratação externa, adoção de metas de desempenho, pressão para inovar e maior independência em relação à alta administração (BARTLETT; DIBBEN, 2002; LAEGREID et al., 2011).

A Nova Administração Pública (NAP) propõe uma visão das organizações de gerenciamento público e serviços como uma cadeia de relações governo-agente contratado de baixa confiança (ante as fiduciárias ou beneficiário-fiduciário), uma rede de contratos que ligam incentivos ao desempenho (DUNLEAVY; HOOD, 1994).

Ademais, a NAP utiliza dos seguintes mecanismos (DUNLEAVY; HOOD, 1994):

a) Retrabalhar os orçamentos para serem transparentes em termos de

Accountability, mensurados por indicadores quantitativos de desempenho;

b) Desagregar funções separáveis em formas quase contratuais ou de quase mercado, particularmente ao introduzir distinções entre comprador e fornecedor, substituindo estruturas planejadas e unificadas anteriormente;

c) Abrir os papéis dos fornecedores para a concorrência entre agências ou entre agências públicas, empresas e órgãos sem fins lucrativos.

Portanto, a NAP incorpora uma ideologia que valoriza o governo limitado e uma agenda de reformas práticas destinadas a transformar o desempenho do setor público por meio da aplicação de mecanismos de mercado (por exemplo, FERLIE et al., 1996). Os princípios e práticas da NAP foram amplamente implantados como remédios para deficiências de desempenho do setor público nos países em desenvolvimento (MANNING, 2001; OCDE, 2005).

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A NAP (POLITT, 2000; 2003) atraiu a maior atenção, atingindo seu ponto alto em muitos países no início do século XXI (SMIDT, 2007). Um objetivo importante da NAP era tornar as agências públicas mais transparentes ao aplicar o gerenciamento de desempenho. Estudos no setor público mostraram que, ao implementar o gerenciamento de desempenho, as organizações do setor público eram mais propensas a alcançar seus objetivos, oferecer melhores serviços aos cidadãos e empresas e melhorar sua eficiência geral (DE WAAL; KERKLAAN, 2004; MORIARTY; KENNEDY, 2002).

Nos EUA a NAP foi implantada nos a partir de um conjunto de reformas do Governo Federal via instituição do Government Performance and Results Act (GPRA). O GPRA é um conjunto de instituições jurídicas dos Estados Unidos promulgada em 1993, compreendendo uma série de leis destinadas a melhorar o gerenciamento de desempenho do governo. O GPRA exige que as agências se envolvam em tarefas de gerenciamento de desempenho, como estabelecer metas, medir resultados e relatar seu progresso (GOVERNMENT PUBLISHING OFFICE, 2017).

O objetivo da gestão de desempenho no setor público era de tornar claros os objetivos, o desempenho e os recursos usados, integrar informações financeiras e não financeiras, integrar os ciclos de políticas e orçamentos e melhorar a qualidade, a acessibilidade e o conteúdo da informação de gerenciamento. O sistema de orçamentação existente, que se concentrou principalmente na aplicação de recursos, precisava ser substituído por um sistema de orçamento com um vínculo explícito com os objetivos a serem alcançados, os recursos necessários para alcançá-los e os resultados esperados e realizados. Outros programas da NAP enfocaram a necessidade de as agências públicas e os políticos mostrarem melhores resultados rapidamente para diminuir a crescente insatisfação entre os cidadãos com o desempenho do governo (WAAL, 2010).

Apesar de sua popularidade, a NAP também teve seus detratores, que consideraram a NPM um conceito falho (RADIN, 2006), especialmente pela parte de desempenho. Na verdade, é geralmente reconhecido que muitos desses programas de melhoria, embora ainda em vigor, tiveram, na melhor das hipóteses, resultados mistos e muitas vezes não alcançaram seu principal objetivo de melhorar o serviço público (ALFORD; HUGHES, 2008; BALAGUER–COLL; PRIOR, 2009).

Por exemplo, o estudo de Tambulasi (2009) descobriu que a implementação de reformas NAP levou a níveis aumentados de corrupção no governo de Malawi. O autor até sugeriu que existe uma crise de governo porque "a fé na capacidade do Estado de governar

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quase desapareceu" (2009, p.1). Ele argumentou que o governo tenta minimizar os resultados decepcionantes com uma variedade de métodos, como a mudança de metas (ou seja, a mudança de metas predefinidas para níveis menos ambiciosos), utilização de relações públicas para transformar desempenho ruim em resultados aceitáveis e utilização de estruturas complexas, procedimentos e linguagem para que as pessoas não possam acompanhar e realmente não entendam o que o governo conseguiu. No entanto, esta miríade de técnicas de “cortina de fumaça” não pode ocultar que o desempenho do governo está em necessidade urgente de melhoria e que os gerentes de órgãos governamentais têm que explorar as possibilidades de aumentar os resultados do governo de forma sustentável (WAAL, 2010).