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Once Upon a Time (Era uma vez) é uma narrativa, de ficção seriada, produzida

para televisão, pelo grupo midiático norte-americano ABC (American Broadcasting Company), que pertence à The Walt Disney Company. Criada e produzida pelos mesmos produtores executivos de Lost, Edward Kitsis e Adam Horowitz, estreou nos Estados Unidos em outubro de 2011, com alto índice de audiência para a rede aberta: quase 13 milhões de espectadores. Tendo sido considerada o novo drama mais assistido pelos norte-americanos, atingiu a média de 11 milhões e 700 mil espectadores, por episódio, ao vivo, numa primeira temporada, que esteve em oitavo lugar no rating/share, entre o público de 18 a 49 anos, dentre 93 séries58.

O sucesso levou à renovação para a segunda temporada, que estreou naquele país em 30 de setembro de 2012. Assim, no período 2011-2012, a série manteve-se em oitavo lugar no rating/share (4.10/10) das séries de TV em rede aberta, entre o público-alvo americano (18-49 anos). Os dados são da Nielsen Media

58 Dados obtidos no blog “Nova Temporada”, da revista Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/televisao/as-10-series-de-maior-audiencia-da-temporada-2011- 2012/. Acesso em: 28 set. 2012.

Research, empresa encarregada de medir a audiência dos meios de comunicação nos Estados Unidos. Mas o que, afinal, eles querem dizer?

O primeiro número (4.10) é chamado de rating e se trata de uma porcentagem. Significa que 4,10% é a média de público–alvo que acompanhou a série, durante o período, na área pesquisada. O segundo número (10) chamamos de share e também se refere a um percentual. Ele quer dizer que contando apenas a parte do público-alvo que estava com a televisão ligada, 10% dos aparelhos estavam sintonizados em Once Upon a Time. Na temporada 2013-2014 (que se encerrou em maio), o desempenho da série no rating/share permaneceu proeminente, figurando em nono lugar, dentre todas as séries de TV americanas em rede aberta, dessa vez com o índice de 3.3/959.

A quarta temporada da série estreou em setembro nos Estados Unidos, também com números animadores, segundo Marcelo Kotait, Vice President of Ad

Sales, da Sony Pictures Television (Brasil). A season premiere ou o primeiro episódio

da quarta temporada, que foi ao ar em 30 de setembro de 2014, obteve um

rating/share de 3.7/11, totalizando 10 milhões e 200 mil espectadores americanos60. Já os números da season finale são 1.8/6, chegando a 5 milhões e 510 mil espectadores ao vivo61. No final da temporada, Once Upon a Time teve uma audiência 50% maior que a de seus concorrentes diretos pelo público (18 a 49 anos)62.

A quinta temporada da série estrou nos Estados Unidos em setembro de 2015, com rating/share de 1.8/5 e audiência estimada de 5 milhões 878 mil espectadores. No último episódio dessa temporada os resultados foram 1.2/4, correspondendo a 4 milhões e 70 mil espectadores. A audiência média foi de 4 milhões e 437 mil espectadores por episódio ao vivo. Dentre 151 séries, OUAT ficou em 55º lugar no rating/share63. A sexta temporada da série estreou em 25 de setembro de 2016 nos Estados Unidos, com números ainda mais baixos, 1.3/4, o que

59 Dados obtidos no blog “Nova Temporada”, da revista Veja. Disponíveis em: http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/televisao/as-10-series-de-maior-audiencia-da-temporada- 2013-2014/; http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/televisao/os-numeros-da-audiencia/ Acessos em: 20 jun. 2014.

60 Dados disponíveis no ANEXO A.

61Dados obtidos no site: http://tvbythenumbers.zap2it.com/sdsdskdh279882992z1/sunday-final-ratings- once-upon-a-time-rooklyn-nine-nine-adjusted-up/. Acesso em: 10 nov. 2016.

62Dados obtidos no site: http://tvbythenumbers.zap2it.com/press-releases/abc-wins-its-third-straight- week-in-adults-18-49-with-7-of-the-top-15-shows/. Acesso em: 10 nov. 2016.

63Disponível em http://tvbythenumbers.zap2it.com/more-tv-news/final-same-day-viewer-averages-for- 2015-16-football-ncis-lead-charts/; http://tvbythenumbers.zap2it.com/more-tv-news/final-adults-18-49- same-day-ratings-for-2015-16-nfl-and-empire-on-top/ e em http://tvbythenumbers.zap2it.com/daily- ratings/tv-ratings-sunday-may-15-2016/. Acessos em: 10 nov. 2016.

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corresponde a 3 milhões e 990 mil espectadores ao vivo64, e tem mantido essa média até o presente momento. O episódio final desta temporada deve ir ao ar em maio de 2017. Os números de audiência mais recentes em queda parecem indicar um desgaste da série. No entanto, precisamos lembrar que as possibilidades de assisti- la vão muito além de sintonizá-la ao vivo, como vimos anteriormente neste capítulo. E a base de fãs na internet, como veremos adiante, é expressiva e devotada.

Segundo o Internet Movie Database65, a série possui 37 distribuidores, de modo que, além dos Estados Unidos, Once Upon a Time chegou às televisões de países como o Brasil – em que, a seguir, nos deteremos –, Canadá, Espanha, Portugal, Turquia, Estônia, Grécia, Holanda, Itália, França, Hungria, Japão, Finlândia, Bélgica, Alemanha, Austrália, Islândia, Argentina, México, Venezuela, Filipinas, Noruega, Nova Zelândia e Israel. Mas, se contarmos com a possibilidade de acesso via streaming e por

download, podemos dizer que a série é mundialmente assistida.

No Brasil, a série é veiculada pelo canal Sony em horário nobre. A estreia da trama, em 12 de abril de 2012, rendeu-lhe, segundo dados do Ibope, o primeiro lugar em audiência na TV por assinatura brasileira, entre o público de 25 a 49 anos, das classes AB66. Ainda de acordo com o Instituto67, a primeira temporada de Once Upon

a Time foi assistida, no Canal Sony Brasil, por 7 milhões de pessoas.

Kotait também disponibilizou os números de audiência das três primeiras temporadas veiculadas no Brasil, pela Sony (ANEXO B). Porém acreditamos que, a partir da quarta temporada os números da distribuidora não sejam mais representativos da adesão do público, considerando a proliferação de serviços de

streaming e do costume dos fãs de baixar (via Torrent, por exemplo) os episódios,

para possui-los, vê-los antes de sua exibição no canal brasileiro e revê-los à vontade. Assim, consideramos relevante citar que a série figura seguidamente, entre as mais populares do Netflix (ANEXO C).

64Disponível em: http://tvbythenumbers.zap2it.com/daily-ratings/sunday-final-ratings-sept-25-2016/ . Acesso em 10 nov. 2016.

65 Disponível em: http://www.imdb.com/title/tt1843230/companycredits?ref_=ttrel_sa_4.Acesso em: 10 nov. 2016.

66Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/tv-e-lazer/2012/04/19/once-upon-a-time-deixa-sony-em- 1-o-no-ibope-da-tv-paga/. Acesso em: 02 out. 2012.

67 Dados do Ibope, obtidos no site do jornal Folha de S. Paulo. Disponíveis em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1174581-seres-magicos-despertam-de-feitico-em-once-upon-a- time.shtml. Acessos em: 10 set. 2104.

Além disso, na última vez em que acessamos a página oficial de OUAT no

Facebook, ela já havia recebido 6 milhões 518 mil e 926 curtidas68. Além dessa, há diversas páginas de fãs nos países em que é veiculada. No Brasil, há sites bastante populares mantidos por fãs, como o Once Upon a Time Brasil69, que quando de nosso mais recente acesso, tinha 517 mil 135 curtidas, em sua página no Facebook70.

Quanto à nossa opção pela série Once Upon a Time (OUAT), como emblemática do feérico pós-moderno, justificamos esse aspecto com o argumento de que se trata de uma narrativa que relê, de forma multifatorial e ambígua, os perfis psicológicos e as formas de socialidade dos personagens populares, matizando os maniqueísmos e idealizações empreendidos pelo momento anterior. Além disso,

OUAT nos dá um panorama geral dos contos hodiernos, pois traz personagens de

diferentes tramas para se relacionarem em um universo complexo, que tem início com o fim dos finais felizes. Assim, chamaremos a narrativa de Once Upon a Time de versão pós-moderna dos contos de fadas.

A primeira temporada se desenrola, paralelamente, em duas linhas de tempo – nem sempre cronológicas –, na Floresta Encantada, e no “mundo real”, atual, na cidade fictícia de Storybrooke (Maine – EUA). A maior parte dos episódios possui uma trama completa ao mesmo tempo em que está inserida em uma narrativa maior, que se desenrola. Once Upon a Time (2011) começa contando que havia uma floresta encantada com os clássicos personagens que conhecemos, ou que pensamos conhecer. E que, um dia, eles se viram presos num lugar onde todos seus finais felizes foram roubados: nosso mundo. Vemos, assim, como eixo gerador o fim dos happy

endings, com suas diversas implicações.

Inicia-se, portanto, a história, cujo enredo principal gira em torno do conto de Branca de Neve. Para vingar-se dela, e ressentida pela aura de felicidade da Floresta Encantada, a Rainha Má lança uma maldição que acaba com os “finais felizes”. Os personagens das mais diversas histórias são transferidos para Storybrooke e não se lembram de seus passados. O tempo na cidade foi congelado e a magia banida. A única a escapar do feitiço parece ter sido a filha de Branca de Neve com o Príncipe James, Emma. Graças a um objeto mágico, ela foi enviada, ainda bebê, ao mundo

68 Disponível em: https://www.facebook.com/OnceABC. Acesso em: 10 nov. 2016. 69 Disponível em http://onceuponatimebrasil.net. Acesso em: 10 nov. 2016.

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real, antes da maldição ser lançada. Sem ter ideia de sua verdadeira origem, é quem pode salvar a todos, quebrando os efeitos do sortilégio.

Once Upon a Time denuncia, desse modo, num primeiro momento, a farsa

sustentada pelos finais felizes que conhecemos e mostra o dia a dia – tanto o banal, quanto as dificuldades – de seres que seriam, na verdade, tais como qualquer humano ordinário. Isso implica bruxas e princesas, animais falantes e objetos animados, que ganham uma alma multifacetada nesse conto contemporâneo. Assim, nos aproximamos dos personagens pelo compartilhar de sofrimentos, que leva à comunhão dos espíritos. Com a chegada da heroína, Emma71, o quotidiano apático volta a ser atravessado por momentos intensos, de euforia e desespero, harmonia conflitual e conflito harmonial, conquistas e perdas; de uma magia, num primeiro momento, relida e depois mais literal.

Assim, vemos um universo de realismo mágico que transcende as dualidades pedagógicas, para dar conta da complexidade das relações humanas, em temas como: adoção; ética pessoal e profissional; relações intrincadas entre pais e filhos, amigos e cônjuges; corrupção; traição; roubo; ameaça e chantagem; consciência; covardia; dupla personalidade; assassinato; sedução e manipulação do sexo oposto; sequestro e cárcere privado; preconceito e opinião pública; desconfiança; dilemas existenciais; e sede de poder e de potência, entre outros. A série conta as histórias depois dos finais felizes (em alguns casos, sem eles), tratando de separação e desintegração, além disso, das convulsões da ontogênese e penetrando nas temáticas da violência e da morte.

A primeira temporada termina com Emma conseguindo quebrar a maldição, mas no primeiro episódio da segunda temporada, vemos a decepção dos personagens que esperavam, com isso, voltar à terra dos contos de fadas, o que não acontece. Eles precisam se adaptar ao que é, afastando-se do que deveria ser. Ao menos, eles lembram de suas identidades na terra dos contos de fadas (de quem eles costumavam ser, antes de se tornarem pessoas comuns, ou como diz Maffesoli, “homens sem qualidades”)72.

A magia volta a ser possível na cidade, o que desencadeia o novo arco da temporada. Os personagens descobrem que há uma parte da Floresta Encantada que

71 Emma é filha de Branca de Neve, que no “mundo real” é Mary Margaret, professora de ensino fundamental, com o Príncipe Encantado, em Storybrooke, David, que começa a série em coma, no hospital da cidade.

72 Veremos em nosso capítulo metodológico que a análise será voltada apenas à primeira temporada, motivo pelo qual não nos deteremos em aprofundar os plots ou arcos centrais das demais temporadas.

não foi destruída e ainda há outros vivendo lá. Um novo vilão surge, para relativizar ainda mais os papéis desempenhados pelos demais personagens. Nessa temporada, há três temporalidades envolvidas: o presente em Storybrooke e o presente e o passado na Floresta Encantada. A magia está outra vez ameaçada na cidade.

Já a terceira temporada tem duas fases. Na primeira, os personagens mais relevantes para a trama vão parar na Terra do Nunca, pois Peter Pan sequestrou o filho de Emma (adotado quando bebê por Regina73). Alianças improváveis acontecem e dinamizam a narrativa. Na segunda fase, depois de terem conseguido retornar à Floresta Encantada, os personagens vão parar misteriosamente de volta em Storybrooke. Nenhum deles lembra o que aconteceu no período em que estiveram em sua terra natal. Parece haver sido rogada uma nova maldição e as pistas apontam para uma personagem recém-chegada de Oz, a Bruxa Malvada do Oeste. Ela aparece com um objetivo misterioso em Storybrooke.

A quarta temporada estreou nos Estados Unidos em 28 de setembro de 2014. Em sua primeira metade, as princesas Elsa e Anna 74fazem parte do plot, que coloca em cena também uma nova antagonista, a Rainha do Gelo. Na segunda parte, Malévola volta à trama (ela participou da primeira temporada) e tem como aliadas Cruella75, Úrsula76 e Rumplestintskin77, que buscam obter um final feliz para os vilões das histórias.

Na primeira parte da quinta temporada, os personagens centrais de OUAT partem para Camelot, com o intuito de libertar Emma dos poderes das trevas, que acabou adquirindo. Envolvem-se com Rei Arthur e diversos outros personagens da célebre Távola Redonda. Na segunda parte, com a morte de um personagem importante, os heróis vão ao submundo enfrentar Hades78, que pretende prendê-los ali para sempre.

73 Regina é, em Storybrooke, a persona da Rainha ou Madrasta Má de Branca de Neve.

74 As princesas são as protagonistas de Frozen: uma aventura congelante (Frozen, Chris Buck; Jennifer Lee, 2013). O filme, dos estúdios Walt Disney, é inspirado no conto A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen.

75 Cruella de Vil é a antagonista do filme Os 101 dálmatas (101 Dalmatians, Stephen Herek, 1996), produzido pela Walt Disney.

76 Úrsula é a antagonista da versão Disney de A pequena sereia, cuja história original foi escrita por Hans Christian Andersen.

77 Rumplestintskin é o personagem principal e antagonista de um conto de mesmo nome dos irmãos Grimm (2008). Em Once Upon a Time ele está presente desde a primeira temporada, como personagem regular. Também conhecido como o Sombrio ou o Senhor das Trevas foi quem criou a maldição lançada pela Rainha Má/Regina.

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Na sexta temporada, personagens do que a série chama de “histórias não contadas” vão se juntar aos que vivem em Storybrooke. A história de Strange Case of

Dr. Jekyll and Mr. Hyde (O médico e o monstro) é uma das que fazem parte do plot

central. Dr. Jekyll e Mr. Hyde conseguiram se separar, tornando-se duas pessoas. Logo, Mr. Hyde parece ser uma ameaça à cidade. Regina também conseguiu se libertar internamente de seu lado “Rainha Má”, porém essa se personificou em separado e quer, mais do nunca, o coração de Branca de Neve.

Assim, finalizamos este terceiro capítulo teórico, em que abordamos os contos de fadas e as séries de TV para chegarmos à Once Upon a Time. No próximo “episódio” da tese, apresentaremos o método, cujas linhas mestras têm nos guiado desde o início dessa “temporada” ou caminhada acadêmica, bem como a técnica que desenvolvemos para viabilizar o percurso analítico de nosso objeto de pesquisa.

4 METODOLOGIA: UM MODO DE OLHAR PARA O IMAGINÁRIO PÓS-MODERNO