• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: CABO VERDE ANTES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

2.4. C ABO V ERDE E OS C ABOS S UBMARINOS

Uma das mais antigas, senão a primeira proposta feita ao Governo português para a imersão de um cabo submarino, foi a do General inglês Wilde, a 30 de Maio de 1855, e referente a uma linha de Portugal aos Açores e deste arquipélago para os EUA. Mais tarde, o pedido foi modificado,

134 Diário da Câmara dos Senhores Deputados, Acta de 15/07/1912, p. 16, cit. por António Leão de Aguiar Cardoso

Correia e Silva, op. cit., 2007, p. 341.

135 António Leão de Aguiar Cardoso Correia e Silva, op. cit., 2007, p. 353.

Adildo Soares Gomes Capítulo II: Cabo Verde antes da Segunda Guerra Mundial

41 sendo a linha projectada de Inglaterra a Portugal, devendo seguir para os Açores e Cabo Verde. Fez- se a concepção, mas não foi levada à execução e, por isso, foi anulada a 1 de Junho de 1867137.

Entretanto, continuavam as tentativas de ligar Portugal com a América do Sul. Foram numerosas as propostas recebidas neste sentido pelo Governo de Portugal, mas nenhum chegou a ter execução prática. Foi Jules Despecher, representante da companhia inglesa Companhia Falmout, “que obteve, a 30 de Novembro de 1871, a concepção do cabo, ainda em plena e perfeita exploração, mas pertencente à Western Telegraph Company, que ligava Portugal à Madeira, Cabo Verde e Pernambuco (Brasil)”138. Estavam, pois, obtidas as ligações telegráficas, por meio de cabos

submarinos, entre Portugal e a Inglaterra e Portugal com a Madeira, Cabo Verde e América Central. Mais tarde, em 1874, uma subsidiária da Eastern Telegraph Company lançou um outro cabo vital da «rede vermelha» que uniu a Inglaterra, à América do Sul. Cabo Verde passou a estar ligado a Bathurst, estação intermédia no trajecto para a África do Sul. Em 1900, a ilha de São Vicente foi ligada a Ascensão, escala numa linha directa para a Cidade do Cabo139.

Finalmente, por contrato de 25 de Janeiro de 1906, foi “concedido à companhia Western

Telegraph e Eastern Telegraph o direito de estabelecer um cabo entre a ilha de São Vicente, em Cabo Verde, e a Grã-Bretanha, com um ponto intermédio de marcação, que foi escolhido na ilha do Faial, nos Açores”140.

No final do século XIX, havia na cidade da Praia a estação telegráfica da Brazilian Submarine

Telegraph Company Limited, ligando-a à ilha de São Vicente, Guiné, São Tomé e aos Açores. Do Porto Grande, na Cidade do Mindelo, partia um cabo submarino para a América do Sul. Outras, como a African Direct Telegraph e a Western African Direct Telegraph, também ligavam os continentes do Atlântico Sul através de Cabo Verde.

Na viragem para o século XX, a rede mundial de telegrafia submarina era já muito extensa e competitiva, conservando Portugal no centro dos circuitos estratégicos das ligações transatlânticas.

No início de 1920, a companhia italiana ITALCABLE solicitou a Portugal a concessão de cabos tocando nos Açores, em Lisboa e em Cabo Verde. Dois anos mais tarde, o Director Geral dos Negócios Comerciais e Consulares entregou ao Ministério do Comércio e Comunicações as condições especiais que julgava conveniente serem incluídas no processo relativo à amarração de um cabo submarino na ilha de São Vicente.

As condições especiais eram as seguintes:

137 Paulo Benjamim Cabral, “Telegraphos”, in: Notas Sobre Portugal, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1908, p. 199.

138 Idem, p. 200.

139 António José Telo, op. cit., 1993, p. 169.

Adildo Soares Gomes Capítulo II: Cabo Verde antes da Segunda Guerra Mundial

1) A concessão para a amarração de um cabo submarino em São Vicente poderia ter lugar

sem envolver qualquer exclusivo ou responsabilidade do Governo português;

2) A empresa concessionária pagaria, de uma só vez, ao Governo da província de Cabo Verde e na sua Sede, após a concessão e como compensação desta, a quantia de 5.000 libras, destinadas ao melhoramento do Porto de São Vicente;

3) As taxas de trânsito e terminais não poderiam ser inferiores às que eram cobradas às outras empresas que amaram os seus cabos em São Vicente, ou que de futuro se vierem a estabelecer;

4) As taxas de trânsito e terminais que forem estipuladas seriam integralmente e trimestralmente pagas na seda da Província de Cabo Verde;

5) O Governo das Colónias fiscalizaria pelos meios que julgar mais convenientes e necessário as receitas, na sede da empresa em São Vicente, dívidas à província que lhe seriam creditadas mensalmente, como o número de palavras transitadas;

6) Os telegramas do Governo teriam a redução de 50% da tarifa ordinária; 7) O local para amarração do cabo seria fixado com audição prévia do Governo;

8) A empresa concessionária teria na ilha de São Vicente uma estação telegráfica com empregados seus. Sendo possível, esta estação funcionaria na casa onde for a estação principal do Governo, pagando a empresa a renda que se ajustar. Se nesta estação, porém, não houvesse acomodações necessárias, a estação da empresa seria estabelecida em local aprovado pelo Governo. Nesta última hipótese a empresa poderia ser obrigada a destinar, na sua estação, uma ou mais casas destinadas aos empregados do Governo encarregados da recepção e distribuição dos telegramas, pagando o Estado a renda que for convencionada. Se forem em edifício separados, as estações telegráficas do Estado e da empresa, o Governo as poria em comunicação pelos meios mais convenientes;

9) Se ao tempo em que começar a exploração do cabo da empresa não existir ainda, na localidade, estação de Estado, o serviço de recepção e distribuição dos telegramas seria feito por empregados da empresa pertencendo a esta, por este serviço, à respectiva taxa terminal;

10) Ao Governo ficaria o direito de tomar as medidas necessárias para fiscalizar a execução das disposições que forem estabelecidas na concessão;

11) A empresa deveria ser obrigada a ter em Portugal um agente que a represente para todos os efeitos e com o qual possa estar em relação141.

Adildo Soares Gomes Capítulo II: Cabo Verde antes da Segunda Guerra Mundial

43 Em 1924, foi assinado o contrato, entre o Governo português e a Companhia Italiana de

Cabos Submarinos (ITALBACLE), “para a colocação de um cabo submarino italiano na ilha de São

Vicente, em Cabo Verde”142. Um ano mais tarde, inaugurou-se a ligação, com cinco cabos.

Assim, ficaram ligados por cabos italianos os vértices do “triângulo estratégico Lisboa- Açores-Cabo Verde” que só se encontravam ligados por cabos ingleses. Trata-se de um “caso muito especial de concessão” solicitada em virtude da importância estratégica que é notório ligar-se ao triângulo acima mencionado e por isso é que o Ministério do Comércio e das Comunicações “fez os reparos aludidos”143.

Em suma, o ponto mais importante da rede inglesa, a seguir aos Açores que têm um significado estratégico especial, é Cabo Verde (São Vicente), “uma verdadeira placa giratória nas comunicações para a África e América do Sul”144. António José Telo, acrescenta que “nenhuma das

outras «encruzilhadas» na «rede vermelha» – Gibraltar, Malta, Suez, Áden (Iémen), Seicheles, Maurícias, Ascensão, Singapura, Barbados (Caraíbas) – tem uma importância semelhante”145.