• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV: CABO VERDE E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

4.6. A V ITÓRIA DOS P AÍSES A LIADOS NA B ATALHA DO A TLÂNTICO

Após a rendição da Alemanha, os submarinos alemães começaram a chegar aos portos navais da costa sul de Inglaterra em obediência às ordens dadas pelas Nações Unidas. A Batalha foi ganha após uma luta não menos perigosa e por meios de esforços tão difíceis e prolongados como na que

319 AHU – 2966, 1A, UM, GM, MÇ, 1940-1941, Cópias Ofícios, Correspondência Expedida de Setembro de 1941,

UTL, p. 2171.

320 AHU – 2966, 1A, UM, GM, MÇ, 1940-1941, Cópias Ofícios, UTL, Correspondência Expedida de Outubro de 1941,

p. 2192.

321 AOS/CO/NE – 2F.

322 AHM – FO/037/1/518/4.

323 António José Telo, op. cit., 1987, p. 425.

324 Telegrama 72 de Salazar o Ministro em Roma, em 28 de Novembro de 1941, citado por António José Telo, op. cit.,

1987, p. 441.

325 António José Telo, op. cit., 1987, p. 428-9. 326 Idem, p. 438.

Adildo Soares Gomes Capítulo IV: Cabo Verde e a Segunda Guerra Mundial

terminou em Novembro de 1918, embora não tivesse sido coroada com o “esplendor trágico” da rendição da orgulhosa esquadra alemã no alto mar, que depois foi afundada em Scapa Flow. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazi não possuía “navios de superfície em quantidades suficientes e não esteve em condições de travar uma batalha naval como a da Jutlândia”327.

Todavia, os “poucos” navios principais dos nazis eram rápidos e potentes e enquanto andaram nos mares só a sua existência causou embaraços à Esquadra Real se o facto de os terem aplicado isoladamente, ou em pequenas esquadras, deu ocasião àquelas “acções brilhantes” em que foi derrotado o almirante Graf Spee, em Dezembro de 1939, e à destruição de Bismarck, em 1941. Daí em diante, o valor principal dos restantes navios alemães, tais como Tripitz, Gneisenau, e

Scharnhorst consistiu em conter forças superiores com a sua presença nos portos, onde normalmente se limitavam a espiar.

Mais do que na Primeira Guerra Mundial, o submarino continuou a ser a principal arma da Alemanha. A princípio, houve esperança de que os estratagemas empregues, principalmente o sistema de comboios seriam agora suficientes para manter os submarinos dentro de limites moderados visto que os progressos técnicos na construção de submarinos e na táctica não tinham sido grandes. Porém, a Alemanha começou a explorar “duas novas grandes vantagens – a produção extremamente rápida de submarinos e o uso, como bases, de todos os portos na Noruega e da França vencidas”328.

A Esquadra Real, por seu lado, já não tinha à disposição os portos da Irlanda do Sul. Chegou- se à conclusão de que operar com submarinos em “alcateias de lobos” compensava a perícia deficiente dos oficiais e das tripulações, mas o número insuficiente de unidades de escolta deixava muitas vezes a sua “presa completamente indefesa”. Uma vez mais, o Almirantado teve razões para mostrar as mais sérias inquietações a respeito da manutenção da linha vital do Atlântico.

A ameaça foi vencida, pouco a pouco, graças, principalmente, à acção de três factores: a) O primeiro foi a construção intensiva de unidades ligeiras de escolta, principalmente corvetas e fragatas para protegerem os comboios. Suprida esta necessidade, os cinquentas

destroyers, então cedidos pelos Estados Unidos (país ainda neutro), em troca de bases nas Caraíbas, prestaram auxílio indispensável no momento mais crítico;

b) O segundo factor diz respeito a transferência de maior número de aviões ingleses para defender os comboios em águas ao alcance da protecção aérea com bases terrestres e para contra-atacar os próprios submarinos;

327 AHM – FO/037/2/512.

Adildo Soares Gomes Capítulo IV: Cabo Verde e a Segunda Guerra Mundial

83 c) O terceiro tem a ver com a construção de unidades de escolta e a sua adstrição aos comboios, a fim de os guardar na passagem mais perigosa no meio do Atlântico, onde não podiam ser protegidos da costa britânica nem da americana329.

Com o emprego destes métodos, a ameaça foi vencida – os afundamentos de submarinos começaram a exceder os dos navios mercantes. Durante toda a guerra foram afundados mais de 500

submarinos330. Após um período em que a Alemanha “parecia tão intimidada com as suas perdas

que nem se quer ousava fazer-se ao mar”, começou a notar-se certa actividade dos submarinos, mas os seu êxitos não “perturbaram seriamente” a fase da ofensiva final da estratégia aliada.

A campanha contra os submarinos, que não se tinha limitado ao Atlântico, mas sim a todos os mares onde navegavam navios aliados, era a principal preocupação da Marinha através da guerra. A política britânica “baseava-se ao máximo” na opinião do Coronel Henderson, segundo a qual “a força naval do inimigo devia ser o primeiro objectivo das forças navais tanto em terra como no mar”331. O poder naval representava o controlo das comunicações marítimas com todas as armas

que fosse possível empregar. Era evidente que era necessário haver a mais íntima coordenação entre as forças navais e aéreas, quer fossem transportadas, quer tivessem bases terrestres, além da cooperação dos exércitos332.

Os Aliados combateram com perseverança e conseguiram dominar as vias marítimas, impedindo que a Alemanha se apossasse delas, utilizando-as continuamente para o seu próprio tráfego. Não se conseguia o domínio das comunicações marítimas no Báltico. O Mediterrâneo foi perdido com a queda da França e toda a campanha do Norte de África, incluindo a defesa da Malta travada para recuperar aquele domínio. Nos oceanos, não houve esforços alemães que conseguissem perturbá-lo.

Em virtude da supremacia britânica no Canal, para a qual muito contribuíram os aviadores que combateram na Batalha de Inglaterra, o adversário teve de desistir da ideia de invadir as ilhas britânicas. Com o domínio do Atlântico foi mantida a subsistência da Grã-Bretanha e concentrado o poderoso exército americano necessário para a invasão da Europa. Acrescido a isto, o domínio do Ártico permitiu que os recursos industriais do Novo Mundo prestassem o auxílio à defesa russa.

329 Para mais desenvolvimento, ver o ponto 2.2. A Batalha do Atlântico e a Importância Geoestratégica de Cabo Verde e

dos Açores; António José Telo, Portugal na Segunda Guerra, Lisboa, Perspectivas & Realidades, 1987; e Luís Nuno Rodrigues, No Coração do Atlântico: Os Estados Unidos e os Açores, (1939-1949), Lisboa, Prefácio, 2005.

330 AHM – FO/037/2/512.

331 Idem. 332 Idem.

CAPÍTULO V: A DEFESA DE CABO