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Erosão – escorrimento superficial e massa de material erodido

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Parâmetros ambientais

3.1.1.3. Erosão – escorrimento superficial e massa de material erodido

O resultado da medição do declive nos talhões de erosão foi o seguinte: declive de 6% no solo mobilizado e de 5% no solo com enrelvamento.

A aplicação dos 6 eventos de chuva artificial nos tratamentos de solo mobilizado e solo com enrelvamento, durante períodos de tempo de 4 minutos, permitiu obter eventos com uma intensidade de precipitação de 10 l min-1 m-2 (intensidade de chuva que raramente ocorre na natureza).

No Quadro 3.1.1 encontram-se os valores dos tempos iniciais e totais do escorrimento superficial, a quantidade de água de escorrimento e a quantidade de sedimentos obtidos nas chuvadas artificiais, para o solo mobilizado (Figura 3.1.5).

Nos talhões de erosão no solo com enrelvamento, não se observou escoamento superficial em nenhum dos 6 eventos (Figura 3.1.6).

.

Figura 3.1.5 – Escorrimento superficial produzido por chuva artificial em solo mobilizado.

Figura 3.1.6 – Talhão de erosão com enrelvamento sob chuva artificial.

Quadro 3.1.1 – Valores do escorrimento superficial e material erodido para o solo mobilizado, por evento de chuva.

Evento de chuva Nº dias desde o último evento Início do

escorrimento escorrimento Duração do

Total de água de escorrimento (l m-2) Total de água de escorrimento (% da água aplicada) Total de sedimentos (g m-2) 1 44” 5’25” 13,9 34,8 397,85 2 7 15” 4’34” 13,28 33,2 526,67 3 1 40” 5’26” 15,78 39,5 693,44 4 7 55” 4’41” 18,20 45,5 1174,20 5 4 25” 4’29” 18,84 47,1 1069,24 6 1 42” 4’39” 21,29 53,2 1441,90

No 6º evento, e apenas para os talhões com enrelvamento, prolongou-se o fornecimento de chuva artificial durante mais 8 minutos, no sentido de determinar a partir de que momento se iniciava o escoamento. Estes resultados são apresentados no Quadro 3.1.2.

Muito embora as intensidades de chuva utilizadas não correspondam à realidade, os resultados mostram uma diferença clara entre os sistemas de maneio da cobertura do solo, a favor do enrelvamento, que se pode atribuir à diferente proporção de cobertura do solo Quadro 3.1.3 e Figuras 3.1.7 e 3.1.8.

Quadro 3.1.2 – Valores do escorrimento superficial e material erodido para o solo com enrelvamento. Evento de chuva Início do

escorrimento escorrimento Duração do

Total de água de escorrimento (l m-2) Total de sedimentos em suspensão (g m-2) Total de material sedimentado (g m-2) Total de sedimentos (g m-2) 6 5’22” 7’40” 2,51 1,786 0 1,786

Quadro 3.1.3 – Proporção (%) de cobertura vegetal do solo mobilizado e com enrelvamento.

Mobilizado Enrelvamento

Taxa de cobertura (%) 56 98

Figura 3.1.7 – Pormenor da taxa de cobertura nos talhões de erosão no solo mobilizado.

Figura 3.1.8 – Pormenor da taxa de cobertura nos talhões de erosão no solo com enrelvamento.

3.1.2. Rega

A estratégia de rega seguida foi procurar manter a zona de maior absorção de água pelas raízes sempre acima de um potencial de -60/-70 centibar, efectuando o menor número possível de regas semanais, de forma a diminuir as perdas por evaporação.

Na Figura 3.1.9 apresenta-se, a título de exemplo, a evolução do potencial hídrico do solo nos meses de Junho e Julho de 2004, para as diferentes profundidades. Verifica-se que os consumos são mais evidentes até aos 70 cm de profundidade, já que foi nas profundidades até este nível que se registaram as maiores descidas nos valores do potencial da água no solo.

50.40 76.68 79.20 86.40 57.6 57.6 57.6 57.6 64.8 64.8 64.8 64.8 -200 -180 -160 -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 Data Ψ m at ric ial (c ba r) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 01-Jun 05-Jun 09-Jun 13-Jun 17-Jun 21-Jun 25-Jun 29-Jun 03-Jul 07-Jul 11-Jul 15-Jul 19-Jul 23-Jul 27-Jul 31-Jul

R ega (l .a rv -1) Rega 15 30 50 70 90

Figura 3.1.9 – Evolução do potencial matricial do solo, nos meses de Junho e Julho de 2004.

A partir da análise do gráfico, verifica-se ainda que apenas a 14 de Junho a água da rega atingiu a camada dos 90 cm e que, a 29 de Junho e 15 de Julho, foi necessário efectuar rega com uma dotação mais elevada, para que a água atingisse a profundidade de 70 cm, onde o potencial já era elevado. Em todas as regas houve o cuidado de não perder água para camadas mais profundas, onde se pressupõe não existir consumo pelo sistema radical (90 cm). Esta situação foi garantida através das leituras no sensor colocado aos 90 cm, o qual, como facilmente se detecta no gráfico, não acusa acréscimo de água ao longo das diferentes regas.

Assim, o número de dias e horas de rega foi programado no início de cada semana, tendo em consideração toda a informação recolhida dos

No Quadro 3.1.4 apresenta-se o resumo mensal da gestão da rega nas campanhas de 2003 a 2005. Devido a falta de água na barragem, no ano agrícola de 2005, consequência da baixa precipitação registada (195 mm de Set. 2004 a Ago. 2005), foi necessário reduzir as dotações de rega nos meses de Agosto e Setembro de 2005.

Com base na monitorização da água no solo, verificou-se que dotações de rega semanais de 120 a 130 l árvore-1, para os meses de maior consumo e para árvores com esta idade, foram suficientes para satisfazer as necessidades hídricas das jovens árvores. Para aplicar esta dotação, duas regas semanais parecem ser as que apresentam melhor comportamento na distribuição da água no perfil deste solo.

Quadro 3.1.4 – Resumo da gestão da rega no ensaio.

2003 2004 2005 2003 2004 2005 2003 2004 2005 Abril 6 22 154.8 Maio 5 6 29 16 208.8 115.2 Junho 11 4 10 41 41 61 295.2 295.2 439.2 Julho 26 9 15 104 77 78 748.8 554.4 561.6 Agosto 22 12 10 106 110 39 763.2 792.0 280.8 Setembro 18 7 3 90 60 9 648.0 432.0 64.8 Outubro 13 38 273.6 Total global 90 37 50 379 317 224.5 2728.8 2282 1616 Mês

Nº dias de rega Nº de horas de rega Volume de água aplicado (l/árv)

No ano de 2005, mais precisamente no mês de Abril, começou-se a observar que o solo apresentava valores de potencial matricial elevados, devido à baixa pluviosidade registada, pelo que, neste ano a rega teve início em Abril.

3.2. Flora e Vegetação

3.2.1. Monitorização da evolução do coberto vegetal 3.2.1.1. Composição florística

Os levantamentos efectuados na entrelinha tiveram como objectivo a comparação dos efeitos dos três sistemas de maneio da entrelinha do olival na composição florística do coberto vegetal e no grau de cobertura do solo que os mesmos proporcionam. Com os levantamentos efectuados na linha, pretendeu- se avaliar a eficácia da aplicação de herbicidas no controlo da vegetação.

Os resultados anuais apresentados resultam de diversos períodos de amostragem que, realizados ao longo da primavera, de forma a abranger todo o ciclo de crescimento.

Análise comparativa do coberto vegetal na entrelinha

A situação inicial do coberto vegetal do olival, na Primavera de 2002, é resultante da mobilização profunda e fertilização preparatórias para a sua instalação. Os valores de cobertura total determinados nesta fase foram de 70,0% e corresponderam, na íntegra, a cobertura verde. Nos anos subsequentes, após a aplicação dos tratamentos, a proporção de solo nu foi sempre maior no mobilizado do que no enrelvamento e no melhorado (Quadro 3.2.1). A cobertura total do solo, por seu lado, atingiu as maiores proporções no enrelvamento. Estas proporções deveram-se não só ao coberto verde (mais elevado que nos outros cobertos apenas em 2003), mas principalmente à manutenção de um coberto seco à superfície do solo que, para além de não entrar em competição com as árvores, em termos de recursos disponíveis (água e nutrientes, por exemplo), constitui um potencial factor de protecção e melhoramento da qualidade do solo. O melhorado, apesar de apresentar valores de cobertura verde ligeiramente superiores aos do enrelvamento (2004 e 2005), não se verificou a formação de uma camada de palha (à excepção de 2005, ano em que o tratamento não foi aplicado). O mobilizado apresentou os mais baixos valores de cobertura verde, de forma particularmente acentuada

Quadro 3.2.1 – Cobertura do solo (%) da entrelinha, durante o período de estudo. Os valores representam as médias (erro padrão) para n=3. 2002 2003 2004 2005 Solo nu Mobilizado 35,0 76,7 30,0 75,0 (7,6) (18,3) (5,8) (8,7) Enrelvamento 35,0 48,3 20,0 5,3 (7,6) (7,3) (7,6) (2,3) Melhorado 35,0 56,7 20,0 30,0 (7,6) (8,3) (7,6) (10,0) Cobertura total Mobilizado 70,0 27,7 88,3 26,7 (5,0) (21,2) (1,7) (8,8) Enrelvamento 70,0 60,0 93,3 94,7 (5,0) (5,8) (6,7) (2,3) Melhorado 70,0 50,0 86,7 70,0 (5,0) (5,0) (6,7) (5,8) Cobertura verde Mobilizado 70,0 27,7 88,3 26,7 (5,0) (21,2) (1,7) (8,8) Enrelvamento 70,0 60,0 80,0 43,3 (5,0) (5,8) (7,6) (13,3) Melhorado 70,0 50,0 86,7 51,7 (5,0) (5,0) (6,7) (9,3) Cobertura seca Mobilizado 0,0 0,0 0,0 0,0 (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) Enrelvamento 0,0 0,0 21,7 73,3 (0,0) (0,0) (8,3) (16,9) Melhorado 0,0 0,0 0,0 21,7 (0,0) (0,0) (0,0) (14,8)

No quarto ano (2005), particularmente seco, a cobertura verde desceu, em qualquer dos tratamentos, relativamente aos anos anteriores. Contudo, embora no enrelvamento o decréscimo da cobertura verde tenha sido acentuado, de 80,0 para 43,3%, o solo manteve uma cobertura adicional de palha de 73,3%, devida ao efeito acumulado dos tratamentos. No solo mobilizado, a diminuição da cobertura verde foi bastante mais acentuada, de 88,3 para 26,7%, para além de, como referido, não ter havido acumulação de palha.

Na Primavera a conservação da humidade do solo é particularmente importante, uma vez que o défice hídrico pode ocasionar redução do número de flores e da fecundação, assim como aumento da alternância. Após a

realização dos tratamentos, o solo mobilizado fica desprotegido no decurso do período de secura estival, o que, de acordo com o referido noutros estudos (Pastor et al. 2001a; Belo et al., 2003), favorece a perda de água por evaporação. Pelo contrário, o solo com enrelvamento torna-se progressivamente mais vantajoso no que diz respeito à conservação da água no solo, particularmente em anos mais secos, o que se pode atribuir ao efeito “mulching” cumulativo proporcionado pelo tratamento (Teasdale & Daughtry, 1993; Pastor et al., 1999; Pastor et al., 2000; Belo et al., 2003), embora se verifique a manutenção de algum consumo inicial de água pelas infestantes cortadas e pela faixa de coberto deixada para ressementeira (Belo et al., 2003). No início do Outono, o enrelvamento também pode beneficiar o olival, visto que facilita a infiltração de água no solo, principalmente no início da estação pluviosa (Belo et al., 2003), o que se torna importante visto ser este o período do aumento do tamanho do fruto e do conteúdo do mesmo em azeite. Este aumento da infiltração deverá, em parte, ser consequência do número acumulado de canalículos deixados pelas raízes, após vários anos de tratamento (Pastor et al. 2001b). As sucessivas mobilizações, pelo contrário, alteram o sistema solo-coberto vegetal, através da destruição das raízes e da estrutura da camada superficial do solo, potenciando a perda de água por escorrência (Gómez-Aparisi et al., 1994).

Relativamente à situação inicial, pareceu haver uma tendência para o aumento da percentagem de cobertura, quer por dicotiledóneas, quer por monocotiledóneas, em qualquer dos cobertos (Figura 3.2.1). O ano de 2005 constituiu uma excepção a esta tendência geral, atribuível ao facto de se tratar de um ano muito seco.

Embora a percentagem de cobertura vegetal tenha aumentado em todos os tratamentos, há a realçar os seguintes aspectos:

- a muito maior percentagem de cobertura de dicotiledóneas no coberto melhorado, relativamente aos outros dois, reflecte essencialmente a introdução da leguminosa por sementeira;

- o enrelvamento apresentou maior proporção de cobertura de monocotiledóneas do que os outros dois cobertos;

0 20 40 60 80 100 120 2002 2003 2004 2005 Data C o b e rt ur a do s o lo ( % )

Mob-Di Enr-Di Mel-Di

Mob-Mono Enr-Mono Mel-Mono

Figura 3.2.1 – Percentagem de cobertura vegetal de monocotiledóneas (Mono) e dicotiledóneas (Di), da entrelinha, no solo mobilizado (Mob), com enrelvamento (Enr) e melhorado (Mel), no período de 2002-2005. Médias + erros padrão.

Fazendo a análise comparativa dos valores de riqueza específica nos diferentes tratamentos, de um modo geral, o enrelvamento apresenta valores superiores (Figura 3.2.2). Este tratamento é, por isso, o que se apresenta como o mais favorável à conservação da biodiversidade e, consequentemente, do equilíbrio do ambiente. 0 5 10 15 20 25 30 2002 2003 2004 2005 Data N º d e es p é ci es

Mob Enr Mel

Figura 3.2.2 – Riqueza específica da entrelinha, no solo mobilizado (Mob), com enrelvamento (Enr) e melhorado (Mel), no período de 2002-2005. Médias + erros padrão.

No primeiro ano (2002), as famílias com maior proporção de cobertura foram as Compostas (31%), as Gramíneas (22%) e as Geraniáceas (11%). No segundo ano (2003), as famílias mais representadas foram as Gramíneas no enrelvamento (41%) e no mobilizado (29%), enquanto, como esperado, as Leguminosas predominaram no melhorado (47%). Em 2004, verifica-se novamente o domínio das Gramíneas, em especial no enrelvamento (65%), seguido do mobilizado (52%) e do melhorado (31%); neste último, as Leguminosas voltaram a ser as mais representativas (55%); as Compostas marcaram também presenças em todos os cobertos (40, 8 e 22%, respectivamente no mobilizado, enrelvamento e melhorado). No último ano (2005), as Gramíneas diminuíram para 23%, no enrelvamento, 5% no melhorado e 1% no mobilizado, embora neste último as Convolvuláceas tenham aumentado para 19%. Como no último ano não se realizou a sementeira anual da leguminosa, apesar do melhorado continuar a apresentar a maior cobertura de Leguminosas, verificou-se um decréscimo para 14%.

Para além das famílias mencionadas, na flora de infestantes do olival estudado, há ainda a destacar a presença de espécies pertencentes às Umbelíferas, Crucíferas e Papaveráceas (lista de espécies e famílias em anexo).

No respeitante à percentagem de cobertura dos diferentes tipos fisionómicos, a escassa diferença entre os tratamentos verificada em 2003, logo após a aplicação dos tratamentos, acentua-se progressivamente, nos anos seguintes, devido ao efeito acumulado dos tratamentos (Figura 3.2.3). A análise temporal de cada tratamento permite verificar uma diminuição progressiva da percentagem de terófitos (plantas anuais) acompanhada de um aumento de plantas de ciclo mais longo, no enrelvamento, que pode ser justificada pela ausência de mobilização do solo. Pela mesma razão e ao contrário do que seria de esperar, os terófitos não aumentaram no mobilizado. Verificou-se sim um aumento acentuado de protohemicriptófitos em 2005, que se deveu a uma infestação por Convolvulus arvensis. No que diz respeito ao melhorado, denota-se uma perda progressiva do domínio dos terófitos, que neste tratamento são constituídos quase exclusivamente pela leguminosa semeada, quer por invasão de infestantes em 2004, quer pela ausência de

exagerado e dificilmente controlável de hemicriptófitos e protohemicriptófitos no enrelvamento que constituem, no espectro fisionómico, o grupo menos desejável e o que menos beneficia a infiltração da água no solo.

Mobilizado - 2003 pH H T Enrelvamento - 2003 T pHH Melhorado - 2003 T Situação inicial - 2002 Out H pH T Enrelvamento - 2004 T pH H Out Melhorado - 2004 T Out H pH Mobilizado - 2004 pH H Out T Mobilizado - 2005 pH H Out T Enrelvamento - 2005 T pH H Out Melhorado - 2005 T pH H Out

Figura 3.2.3 – Distribuição (%) dos tipos fisionómicos (H – hemicriptófitos, pH – protohemicriptófitos, T – terófitos e Out - Outros), no solo mobilizado, com enrelvamento e melhorado, no período de 2002-2005.

Evolução do coberto vegetal na linha

A proporção de solo coberto na linha diminuiu em consequência da aplicação dos herbicidas (Quadro 3.2.2), o que aponta para a sua eficácia. Esta diminuição foi devida a decréscimos nas famílias com maior representatividade, exceptuando-se as Convolvuláceas, designadamente o Convolvulus arvensis, que parece apresentar resistência aos herbicidas aplicados visto que, não só se manteve, como reforçou a sua presença, principalmente no último ano.

Quadro 3.2.2 – Proporção de solo nu e coberto (%) na linha, no período de 2002-2005. Os valores representam as médias (erro padrão) para n=9. 2002 2003 2004 2005 Solo nu 31,1 75,9 84,6 31,1 (3,3) (9,2) (0,7) (5,7) Cob. verde 73,3 2,9 7,9 29,2 (2,9) (1,5) (0,6) (4,5) Cob. seca 0,0 25,6 10,0 44,4 (0,0) (7,4) (0,0) (9,8) Compostas 31,9 0,0 0,1 3,7 (31,9) (0,0) (0,0) (0,6) Crucíferas 10,8 0,1 1,0 1,6 (10,8) (0,1) (0,3) (0,3) Leguminosas 5,8 0,0 0,2 0,1 (5,8) (0,0) (0,3) (0,2) Convolvuláceas 1,1 0,1 4,0 9,9 (0,2) (0,0) (0,5) (2,9) Gramíneas 22,0 2,0 1,5 6,9 (22,0) (1,5) (0,3) (1,4) Outras 21,5 0,9 1,6 9,6 (3,6) (0,3) (0,3) (3,7)

O efeito da aplicação de herbicida, em 2003, fez-se sentir, não só nesse ano, como também no ano subsequente. No ano da aplicação ocorreu um decréscimo acentuado de todas as famílias de dicotiledóneas presentes. No ano seguinte (2004), embora as suas proporções tenham aumentado, foram muito inferiores às determinadas em 2002, excepto a das geraniáceas. Em 2005 verificou-se alguma irregularidade na variação destas proporções, o que se poderá atribuir à irregularidade e escassez da precipitação ocorrida, pelo

que, seria necessário o prosseguimento dos estudos para uma avaliação mais rigorosa do efeito cumulativo do herbicida.

3.2.1.2. Produção e capacidade de ressementeira do coberto melhorado

A emergência e instalação do Trifolium resupinatum cv. Prolific (trevo da Pérsia), semeado em Novembro de 2001, foram deficientes. Poucas plantas de trevo emergiram e as que emergiram não estavam homogeneamente distribuídas no terreno. Simultaneamente, verificou-se uma elevada infestação, principalmente de gramíneas, tendo o Lolium sido o género dominante. Este resultado pode ter sido devido à falta de adaptação deste trevo às características do solo, nomeadamente ao pH (7,1 a 8,7). Para além disso, a sementeira tardia e a má preparação da cama da semente (o terreno não estava finamente desagregado, como era necessário para semear uma espécie com sementes tão finas, como o trevo resupinado) podem também ter exercido um efeito negativo na cultura.

A substituição do trevo pela Medicago truncatula cv. Paraggio (luzerna truncatula), espécie mais bem adaptada a solos alcalinos, não melhorou substancialmente os resultados. Embora a sementeira com luzerna tenha sido efectuada em época adequada para as leguminosas (Outubro de 2002), verificou-se insucesso na instalação, tendo-se encontrado na Primavera de 2003 poucas zonas com um revestimento adequado desta leguminosa (Figura 3.2.4). Em zonas mais distantes da entrada de acesso ao campo, a densidade de leguminosas foi muito baixa. No Quadro 3.2.3, apresentam-se os resultados da produção de matéria seca (MS) acumulada e da produção de semente, das amostras colhidas em Verão.

Quadro 3.2.3 – Peso de matéria seca (MS) e de semente no coberto melhorado, em Junho de 2003.

Rep. Amostra MS (g m-2) Semente (g m-2)

I 892 36,69 II 896 37,25 1 III 940 56,84 Média 909,3 43,6 dp 26,6 11,5 I 988 68,35 II 1180 80,27 2 III 1128 92,05 Média 1098,7 80,2 dp 99,3 11,9 I 976 20,17 II 1004 14,00 3 III 900 13,98 Média 960,0 16,1 dp 53,8 3,6

Pode-se observar que, para além de se ter mantido a irregularidade da densidade do povoamento, a produção de matéria seca total e, consequentemente, a de semente, também variou entre as amostras de cada repetição. De forma a compreender se a deficiente instalação da luzerna era atribuível à variabilidade do solo, retiraram-se amostras de solo em cada uma das situações (solo com instalação deficiente e solo com boa instalação) e fez- se a sementeira em vasos, na ENMP. Verificou-se, em ambas as situações, um bom nascimento e crescimento da luzerna. Por este motivo, não se conseguiu apurar qual o factor determinante do insucesso em algumas das zonas da unidade experimental. O resultado obtido na sementeira em vasos veio apresentar como baixa a possibilidade da responsabilidade ser da variabilidade do solo, contribuindo para acentuar a suspeita, da equipa responsável, de que o insucesso no campo estava relacionado com a aplicação de herbicida, que se pretendia controlasse as infestantes apenas nas linhas de árvores.

No respeitante à sementeira de 2003 (Novembro), já no Inverno se observava um campo bem povoado (Figura 3.2.5), embora com uma abundante infestação. A produção de matéria seca, amostrada no início da Primavera seguinte, está representada no Quadro 3.2.4.

Figura 3.2.5 – Aspecto da instalação da luzerna, em 2004.

Quadro 3.2.4 – Produção de biomassa (peso fresco e peso seco) da luzerna e das infestantes no coberto melhorado, em Março de 2004.

Peso fresco (g) Peso seco (g)

Rep truncatula Gramíneas OutrasMedicago truncatula Gramíneas Outras Medicago

1 204,75 58,36 9,28 37,70 15,25 1,83

2 395,70 21,38 19,06 80,33 4,01 4,70

3 439,90 17,58 26,44 77,11 3,63 2,37

As baixas produções obtidas devem ter sido devidas não só ao elevado grau de infestação do ano em curso, como também à grande quantidade da matéria morta, resultante do corte das infestantes do ano anterior (igualmente densas), que ficou depositada sobre a luzerna, prejudicando o crescimento e desenvolvimento da cultura (Figura 3.2.6).

Nas amostras de vagens da luzerna (colhidas em Julho de 2004, para avaliação da dureza seminal) não foi possível identificar diferenças significativas de dormência das sementes por estas terem um teor de humidade próximo de 6%, possivelmente devido à colheita tardia em relação à data de maturação.

Em Outubro, o povoamento era suficiente em quase toda a superfície do ensaio, o que aponta para a eficácia do corte (efectuado em Julho, com corta mato), de toda a matéria seca existente e da passagem com grade de discos para enterrar palhas e sementes. No entanto, verificou-se haver uma elevada infestação por gramíneas, nomeadamente azevém. Para além disso observaram-se, em alguns locais, plantas de luzerna esbranquiçadas e praticamente mortas, possivelmente devido à geada que se fez sentir.

Figura 3.2.6 – Aspecto do solo após o corte das infestantes.

No início do Inverno, ver ficou-se que a aplicação de herbicida para as gramíneas (Novembro), com o objectivo de eliminar o azevém, foi eficaz encontrando-se os talhões limpo de gramíneas, embora o desenvolvimento da luzerna fosse reduzido, dada a escassez de chuva no Outono.

3.2.2. Influência das técnicas de maneio do coberto nas oliveiras 3.2.2.1. Avaliação do desenvolvimento vegetativo

O desenvolvimento e o crescimento das plantas dependem das alterações sazonais e anuais, mais ou menos regulares, dos parâmetros ambientais. A quantidade de carbono fixada pelas plantas, assim como os respectivos padrões de partição e utilização, é determinada pela disponibilidade de recursos incluindo luz, água, temperatura e nutrientes (Miller, 1981; Mooney, 1981), condicionando deste modo a produtividade dos cobertos e da dinâmica dos ecossistemas (Oechel & Lawrence, 1981; Oechel et al., 1981).

No clima mediterrânico, caracterizado por invernos frios e chuvosos e verões quentes e secos (Aschmann, 1973; Di Castri, 1981), tem sido destacada a influência da interacção da disponibilidade de água com a temperatura, no desenvolvimento e na produtividade das comunidades (Di Castri, 1981; Miller, 1981). Simultaneamente, a disponibilidade de nutrientes é apontada como factor limitante, durante a maior parte do ano, nomeadamente no que se refere à deficiência de azoto e fósforo, comum nos ecossistemas arbustivos destas regiões (Mooney, 1981).

O crescimento vegetativo ocorre, na maioria dos casos, na estação húmida, quando as condições são mais favoráveis, embora as plantas perenifólias mediterrânicas, basicamente xerófilas, possam apresentar diferentes estratégias adaptativas, relacionadas nomeadamente com a estrutura e anatomia foliar (Mitrakos & Chistodoulakis, 1981) e com os padrões gerais de crescimento e de partição do carbono (Catarino et al., 1981).

O conhecimento dos ciclos de vida das espécies mediterrânicas pode aumentar a precisão das previsões de crescimento das plantas que compõem estas comunidades (Montenegro et al., 1979). Estes estudos podem, ainda, ser relacionados com aspectos estruturais e funcionais das comunidades, podendo, por exemplo, contribuir para a construção de modelos de produção (Montenegro, 1987), já que permitem estimar os padrões de tendência sazonal de utilização da água e de fixação do carbono, característicos de cada espécie

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