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ERP e Sistemas Integrados de Gestão Empresarial

Capítulo 2 Sistemas Integrados de Gestão Empresarial

2.3 Histórico dos sistemas de gestão empresarial

2.3.3 ERP e Sistemas Integrados de Gestão Empresarial

Na década de 90, com a globalização criando um ambiente de negócios extremamente competitivo, o MPR II sofreu nova ampliação incorporando aspectos da área de Recursos Humanos e Finanças, prometendo maior agilidade e redução de custos. Com os novos recursos passou a ser chamado de ERP, ainda que alguns prefiram chamá-lo de ERM (Enterprise Resources

Management), (Gerenciamento dos Recursos Empresariais) em função da

grande amplitude que o escopo do sistema atingiu, abrangendo, além do planejamento, as atividades de execução e controle (COLANGELO FILHO, 2001).

No Brasil, o ERP chegou em meados da década de 90, trazido pelas empresas estrangeiras que para cá vieram nessa época. (HABERKORN, 2003).

Três décadas se passaram desde os primeiros MRP até o ERP, e essa evolução no tempo, bem como a abrangência das áreas de atuação do ERP é ilustrada na Figura 7.

Figura 7 – Evolução dos sistemas ERP

Fonte: Adaptado de Colangelo Filho (2001, p. 21)

Para Slack, Chambers e Johnston (2002, p. 474), o ERP é o “último e

provavelmente o mais significativo desenvolvimento da filosofia MRP básica”.

Apesar de ser fiel ao princípio herdado do MRP de explorar os reflexos que as

ERP MRP II 1970 1980 1990 Produção Produção e Finanças MRP Negócio

mudanças em uma operação produzem em outras, o ERP possibilita que isso seja feito de uma forma muito mais ampla e em todas as partes da organização, refletindo as mudanças de uma parte da operação nos sistemas de planejamento e controle do restante da organização. Isso é possível porque o ERP trabalha com o conceito de ter uma base de dados que integra todas as partes da organização.

O fato da incorporação de novas áreas não dá ao ERP um caráter de

software para funções estratégicas uma vez que seu foco é voltado para as

atividades transacionais do negócio atuando principalmente na questão da integração. As questões estratégicas são abordadas por outros tipos de sistemas de informação como por exemplo: Sistema de Apoio à Decisão, Sistema de Informação para Executivos, Datawarehouse e Business

Inteligence, que farão uso dos dados transacionais coletados com o auxílio do

ERP para auxiliar no fornecimento de informações de caráter estratégico. Sordi (2003, p. 33) relata a inadequação do ERP para funções de ordem estratégica e comenta que a ampla base de dados que o ERP possibilita gerou a evolução e difusão de outros aplicativos como os programas que possibilitam a análise de dados em diferentes dimensões.

Kalpic e Fertalj (2004, p.195) definem com clareza o foco de funcionamento do ERP ao o definirem como um sistema integrado de informação para dar suporte ao negócio nas diferentes partes organizacionais da empresa.

Colangelo Filho (2001) explica que acompanhando os progressos tecnológicos das áreas de hardware e software, o ERP é capaz de trabalhar em um ambiente cliente-servidor, com uma base de dados única e integrada.

Jakovljevic (2000) explica que em uma arquitetura cliente-servidor o trabalho é dividido entre os computadores. O “cliente” é o computador que está na mesa (desktop) do usuário final do sistema que processa somente algumas funções lógicas e apresenta os resultados processados pelo sistema, enquanto o “servidor” é o computador que contém o banco de dados e os programas aplicativos. O autor explica também que esta arquitetura pode ser implementada de duas formas: em duas camadas ou em três camadas.

Cada camada representa uma parte do sistema como um todo: uma camada para interface, outra para as regras de negócio e uma terceira para o banco de dados.

No conceito de cliente-servidor em duas camadas, a máquina cliente se conecta à um único servidor. Este servidor normalmente controla o banco de dados, enquanto o computador cliente controla a interface do sistema. Neste caso, o servidor se encarrega de cuidar da camada de banco de dados ficando as camadas de interface e da camada de regras de negócios para o cliente.

A Figura 9 apresenta a arquitetura cliente-servidor em duas camadas.

Figura 8 – Arquitetura cliente-servidor em duas camadas Fonte: adaptado de Jakovljevic (2000)

No cliente-servidor em três camadas a camada de regras de negócios é colocada em um outro computador, ficando o cliente com a interface, outro computador funcionando como servidor de aplicação (regras de negócio) e outro servidor para o banco de dados. Na Figura 10 apresenta-se a estrutura cliente-servidor em três camadas.

Figura 9 - Arquitetura cliente-servidor em três camadas Fonte: adaptado de Jakovljevic (2000)

Cada cliente pode utilizar um tipo diferente de aplicação (módulo) do sistema ou um conjunto deles.

Servidor Central (Banco dados) Cliente (interface e regras de negócio) Servidor Central (Banco dados) Cliente (interface) Servidor Aplicação ( regras de negócio)

Jakovljevic (2000) informa que o padrão cliente-servidor contrasta com o ambiente de funcionamento do MRP que era baseado na utilização de um mini- computador (mainframe) ou na utilização do sistema isolada de um microcomputador do tipo PC. Para o autor o ERP está baseado em uma arquitetura distribuída, com gerenciadores de banco de dados conhecidos como “banco de dados relacionais”.

Os bancos de dados relacionais são acessíveis por meio de uma linguagem padrão, a Struturec Query Language (SQL). Quanto à interface do programa, Jakovljevic (2000) registra que o ERP do ano 2000 faz uso de uma interface gráfica (GUI – grafical user interface) explorando recursos de tela de computador que apresenta ícones e uso do mouse (point and click), fato que não existia nos antigos MRP que utilizavam recursos de tela baseados apenas em caracteres.

Para Colângelo Filho (2001) o modelo cliente-servidor descreve uma forma de relacionamento entre computadores, onde um programa chamado de cliente envia uma solicitação de serviços a outro, denominado servidor. Dessa forma, muitos programas clientes podem compartilhar os serviços disponibilizados pelo programa servidor, podendo ou não fazer parte de uma mesma aplicação. Segundo o autor essa é a forma mais comum de implementação de sistemas ERP.

A Figura 10 mostra diferentes aplicações que utilizam uma base de dados integrada.

Figura 10 – Aplicações ERP acessam base de dados integrada Fonte: Slack, Chambers, Johnston (2002, p.474)

Base de dados integrada Aplicações em operações financeiras Aplicações em operações produtivas Aplicações em compra e suprimento Aplicações em gestão de recursos humanos Aplicações em serviços Aplicações em entrega e logística Aplicações para relatórios estratégicos Aplicações em vendas e marketing Fornecedores Consumidores

Mendes (2003) comenta que os sistemas ERP possuem grande abrangência funcional, objetivando abranger todas as atividades da organização, e fala da divisão do sistema em módulos. Um módulo corresponderia ao menor conjunto de funções que podem ser implementadas separadamente, e estão normalmente ligados a divisões departamentais da organização. Um ponto positivo dos módulos é que eles permitem que a empresa possa implementar somente os módulos de seu interesse, ou implementar o sistema em etapas. De forma genérica os módulos encontrados em sistemas disponíveis no mercado são os seguintes:

• Módulos relacionados a operações e gerenciamento da cadeia de suprimentos;

• Módulos relacionados à gestão financeira, contábil e fiscal; • Módulos relacionados à gestão de recursos humanos;

• Módulos relacionados ao MRP II (planejamento de materiais, capacidade, gestão de demanda, compras e vendas)

Com o passar do tempo, a sigla ERP pela abrangência de seu significado acabou servindo de classificação para uma determinada categoria de software, assim é possível encontrar descrições de programas ditos “ERP para comércio”, ou “ERP para serviços”. Esse fato é comentado por COLANGELO FILHO (2001).

As diferenças entre um tipo e outro estão no objetivo de cada tipo de atividade que o ERP se dispõe a auxiliar, o que irá influenciar diretamente nos módulos que compõem o sistema. Um “ERP para indústria” é o que obedece a descrição histórica, retratando a evolução do MPR e assim terá módulos destinados ao controle de matéria-prima, composição de produtos e cargas de máquinas, entre outros que abrangem funcionalidades de planejamento e controle de produção, módulos que não são necessários por exemplo a um “ERP de comércio”.

Para Davenport (2002), essa categoria de sistema ultrapassou de tal forma o significado literal da sigla ERP que esta deixou de ser a denominação mais adequada, refletindo apenas a origem destes sistemas na área de produção, uma vez que se trata de uma alteração da sigla MRP.

A justificativa para esta visão está no fato de que essa categoria de sistemas deixou de ser aplicada apenas à automação das transações de negócios como por exemplo: atualização de registros contábeis, pagamento de fornecedores, saldo de férias de funcionários, e registros de produção, que necessariamente precisam ser atualizados, mas que eram operações que os clientes não viam e cuja melhoria na exatidão e rapidez não levavam diretamente ao aumento do índice de satisfação do cliente.

Davenport (2002) explica que estas aplicações evoluíram, deixando de estar somente focadas no apoio à retaguarda (back-office), e vieram para a linha de frente dos negócios, proporcionando suporte à otimização da cadeia de suprimentos, automação de equipe de vendedores e serviços para consumidores.

Vale dizer que os processos transacionais não perderam a sua importância e que um sistema de informação que apresente deficiências nessa área pode afetar o sistema como um todo, implicando em um mau funcionamento das aplicações voltadas ao suporte ao negócio.

De acordo com Sordi (2003, p.33), os sistemas integrados estão fortemente relacionados com o ERP e acabaram assumindo o significado de um sistema para a estrutura empresarial.

Ainda sobre o uso ou não da sigla, Mendes e Escrivão Filho (2002), registraram informações sobre o que era considerado como característica de um ERP de acordo com quatorze autores diferentes, e apenas três deles consideravam o ERP como uma evolução do MRP. O Quadro 3 registra esse levantamento.

Mendes e Escrivão Filho (2002) concluíram que alguns autores ao caracterizarem o ERP como uma evolução do MRP querem expressar que o embrião do ERP foi o MRP desenvolvido para ambientes de manufatura, mas que a partir disso novos módulos ou mesmo parte de módulos, podem ser introduzidos de forma a adequar o sistema a outros ambientes.

Autores

Características 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14

Auxilia a tomada de decisão X X X

Atende a todas as áreas da empresa X X X X X X X X X X

Possui base de dados única e centralizada X X X X X X X

Possibilita maior controle sobre a empresa X X X X X

Evolução do MRP II X X X

Obtém a informação em tempo real X X X X

Permite a integração das áreas da empresa X X X X X X X X X

Possui modelos de referência X X X

É um sistema genérico X X X

Oferece suporte ao planejamento estratégico X X X X

Suporta a necessidade de informação das áreas X X X X X X X X

Apóia as operações da empresa X X

É uma ferramenta de mudança organizacional X X

Orientação a processos X X X X X X X X X

Legenda:

01 – Bucknout et.al (1999) 06 – Deloitte Consulting 11 – Mitello (1999)

02 – Centola & Zabeu (1999) 07 – Dempsey (1999) 12 – Souza & Zwicker (2000) 03 – Corrêa et al (1997) 08 – Informática Exame (1997) 13 – Stamford (2000) 04 – Cunha (1998) 09 – Hehn (1999) 14 – Wood Jr. (1999) 05 – Davenport (1998) 10 – Lina et.al (2000)

Quadro 3 - Características dos sistemas ERP Fonte: Mendes e Escrivão Filho (2002, p.281)

Segundo Davenport (2002, p.18), estes sistemas podem ser chamados de “sistemas de gestão empresarial (SGE, ou, ocasionalmente, de ES, da sigla em inglês, para entrerprise systems)”, bem como são conhecidos como Sistemas Integrados de Gestão (SIG) ou ainda ERP (Enterprise Resource Planning). Todos esses nomes e siglas referem-se a um pacote de programas para dar suporte às necessidades de informação da organização.

Assim, chega-se a denominação de Sistemas de Gestão, ou ainda Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (SIGE), como uma referência para o que se chamava de ERP, e em muitos casos as expressões ainda são usadas como sinônimos, ou seja usa-se o ERP referindo-se a sistemas integrados de gestão empresarial.

Toda a questão da mudança de foco e abrangência destes sistemas de informação é que acabou por designá-los como Sistemas Integrados de Gestão, que de acordo com Padilha e Marins (2005), no Brasil são também

conhecidos como de Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (SIGE), sendo esta a definição adotada para este trabalho.