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erradicar o uso de produtos impactantes para a saúde e para o meio ambiente

Durante as visitas técnicas à comunidade de Rio Branco, nos momentos de forma- ção teórica, foi possível observar a complexidade em se lidar com conhecimentos enraizados na prática que vai sendo passada de geração a geração. A questão da produtividade, que pode ser melhorada a partir do manejo da cultura, foi um de- safio, visto que envolvia alterações nas práticas de pessoas que há muito tempo trabalhavam de determinada maneira. Essa relação com o agricultor, de respei- to às suas tradições e de possibilidade de contribuir com novos conhecimentos foi uma atividade de crescimento pessoal e profissional para toda a equipe. Daí a importância de entender, primeiramente, a demanda local. Não era o olhar do técnico o mais importante. Importante era entender o que a comunidade preci- sava e como construir conjuntamente. E foi essa relação dialética que pontuou toda a ação da equipe, gerando resultados satisfatórios. Essa é a metodologia mais eficiente para lidar com um público tão importante, como o agricultor familiar.

Uma das etapas realizada no campus Catu foi o dia de campo, no qual os agricultores aprenderam a fazer a compostagem. Essa etapa configura-se como início e fim do processo. Início porque a adubação garante o preparo do solo para que a produção de frutas, verduras e hortaliças ocorra com mais qualida- de. Por seu turno, não é qualquer adubação que vai garantir a qualidade desses alimentos. No projeto, a ideia era aplicar métodos alternativos, que não impac- tassem a saúde do consumidor, do próprio agricultor que, ao utilizar insumos químicos, em parte significativa das vezes, não possui o conhecimento técnico necessário, não utilizando os equipamentos de proteção individual (EPI), além de buscar não prejudicar o meio ambiente.

Consideram-se métodos alternativos quaisquer métodos de controle que não façam uso de agroquímicos, inclusive métodos já consagrados pelo uso,

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como a rotação de culturas e a resistência de cultivares, além dos métodos em desenvolvimento, como a solarização, a biofumigação e a utilização de extratos de plantas, e outros compostos naturais utilizados para a proteção de plantas. (PATRÍCIO, 2007)

Os fertilizantes orgânicos estão entre os aliados da transição agroecológica, e têm sido testados quanto à substituição de insumos utilizados em modelos convencionais por novos produtos, descobertos e validados, e capazes de au- xiliar a produção, através do fornecimento de nutrição às plantas e, em alguns casos, repelência à fitoparasitas.

No Brasil, entre os principais instrumentos legais que regulamentam a produ- ção e a comercialização de fertilizantes para a agricultura, estão: Lei nº 6894/80 (alterada pela Lei nº 6934/81), que dispõe sobre a inspeção e a fiscalização da produção e do comércio de fertilizantes; Decreto nº 4.954/2004 – aprova o regu- lamento da Lei nº 6.894/80; Instrução Normativa MAPA n° 10/2004, que aprova as exigências e critérios para embalagem e rotulagem de fertilizantes, destinados à agricultura; fertilizantes orgânicos IN SDA nº 25/2009 – especifica fertilizantes orgânicos; limites para contaminantes IN SDA nº 27/2006 – estabelece concen- trações máximas admitidas de substâncias tóxicas e patógenos nesses produtos.

No país, várias empresas desenvolvem e aprimoram técnicas de fermenta- ção que transformam matéria orgânica em húmus e sais minerais, mas o agricul- tor pode, perfeitamente, aproveitar insumos da sua propriedade para produzir o seu próprio adubo orgânico, através da aplicação de técnicas de compostagem. A compostagem é uma maneira de processar os resíduos vegetais e animais e transformá-los em composto ou húmus que pode ser utilizado para propor- cionar benefícios significativos para a agropecuária. Porém alguns princípios devem ser levados em consideração, de modo a garantir uma maior qualidade do húmus produzido.

Durante o processo, a ação e a interação dos micro-organismos depen- de da ocorrência de condições favoráveis, tais como: temperatura, umidade, aeração, pH, tipo de composto orgânico existente, concentração e tipos de nutrientes disponíveis.

Na propriedade rural, a compostagem pode ser um processo de grande importância econômica, pois resíduos como esterco dos animais, palhas, fo- lhas de árvores e outros resíduos orgânicos são reciclados, transformando- -se em fertilizantes ou húmus. O processo de compostagem envolve trans- formações muito complexas de natureza biológica e química, promovidas

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por uma grande variedade de micro-organismos como fungos e bactérias, que vivem no solo. Esses organismos obtêm, a partir da degradação da ma- téria orgânica, o carbono e os demais nutrientes minerais, necessários para a sua sobrevivência.

O processo geral de compostagem pode ser dividido em três fases: me- sofílica, termofílica e de maturação. A primeira fase é caracterizada por ser curta e se estender por aproximadamente 15 dias. Esta fase é denominada mesofílica. Os micro-organismos, principalmente bactérias, que atuam nes- ta fase sobrevivem em temperaturas mais amenas (de até 40ºC). Essas bac- térias metabolizam os nutrientes mais facilmente encontrados, ou seja, as moléculas mais simples.

A segunda fase, denominada termofílica, é mais longa e se estende por apro- ximadamente dois meses, sendo caracterizada pela atuação de fungos e bac- térias denominados termofílicos ou termófilos, que sobrevivem em ambientes com temperaturas mais elevadas que os mesofílicos e irão atuar sobre a matéria orgânica, degradando as moléculas mais complexas. Nessa fase, a temperatura das pilhas de compostagem pode atingir 65-70ºC, o que possibilita, também, a higienização do composto, ocasionando a morte de eventuais micro-organis- mos patogênicos presentes.

A última fase do processo, denominada fase de maturação, pode durar de um a dois meses, e é onde haverá uma diminuição da atividade microbiana, com a temperatura baixando gradativamente e se aproximando da temperatura ambiental. Nessa fase, ocorre também diminuição da acidez antes observada no composto, o que poderia ser prejudicial às culturas caso fosse aplicado direta- mente na agricultura.

Entre as técnicas de produção de compostos orgânicos, destacam-se as lei- ras e os cilindros de compostagem. Aqui será apresentada a técnica de cilindro de compostagem desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá- ria (Embrapa) e experimentada em aulas práticas da disciplina “Gestão Ambien- tal”, ofertadas para os alunos do curso técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio, do IF Baiano, Campus Catu, e também reproduzidas em treina- mento de produtores rurais da Apacorib.

A metodologia de trabalho envolveu a produção de composto orgânico através de uma técnica de compostagem adaptada de Oliveira, Aquino e Castro Neto (2005). Na produção do composto orgânico, foram utilizados os resíduos orgânicos provenientes do refeitório utilizado pelos alunos (restos de legumes,

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verduras, frutas, borra de café, casca de ovos, etc); material resultante da poda de árvores, palha seca e grama; resíduos de madeira, esterco de bovinos, além de outros materiais disponíveis no campus.

A produção do composto orgânico foi dividida em três fases. A primeira correspondeu à fase de decomposição da matéria orgânica facilmente degra- dável, a temperaturas entre 65-70ºC. Após um período de 15 dias, os micro-or- ganismos patogênicos foram eliminados da pilha de compostagem. A segunda fase equivaleu à maturação, em presença de bactérias, actinomicetos e fungos. Nessa fase, a temperatura variou entre 45 e 30°C, e o período variou de dois a quatro meses.

Na terceira fase, a celulose e lignina, componentes de difícil degradação, foram transformadas em substâncias húmicas. O aspecto do composto orgânico final se assemelhou ao de terra vegetal. Nessa fase, a temperatura esteve entre 25-30°C. A montagem dos cilindros de compostagem foi realizada no setor de agricultura do campus Catu. Entre um cilindro e outro, foi estabelecido um espa- ço para o escoamento da água das chuvas e para os reviramentos.

Os cilindros foram preparados com telas metálicas de 1 cm de malha, 80 cm de altura e 70 cm de diâmetro, que facilitam a organização dos resíduos. Eles foram preparados a partir da divisão da tela metálica em duas partes, para obter uma porta e facilitar o manuseio. O bambu (ou a madeira) foi fu- rado com uso de uma furadeira e um vergalhão atravessou este orifício para dar forma ao cilindro e fixar a tela. Antes de iniciar a montagem da pilha, a terra foi revirada a uma profundidade de 10 cm com enxada, e umedecida, para aumentar o contato dos micro-organismos do solo com a primeira ca- mada de resíduos orgânicos.

A montagem dos cilindros foi realizada alternando-se os diferentes tipos de resíduos em camadas, com espessura em torno de 20 cm – intercalando-se os resíduos em camadas de restos de capina, restos de cozinha, restos de folhada e novamente restos de cozinha para promover a decomposição desse material. É importante realizar a mistura do material – uma parcela úmida com uma parcela seca, material pobre em nitrogênio com material rico em nitrogênio. É desejá- vel que o material seja triturado em trituradeira para viabilizar a decomposição pelos micro-organismos, mas esse equipamento não é indispensável. Os cilin- dros foram revolvidos semanalmente, e esses procedimentos foram seguidos visando-se a bioestabilização do composto de 30 a 60 dias, e curação entre 90 a 120 dias.

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O uso de minhocas no processo de compostagem não é indispensável, mas a adição de minhocas pode melhorar a qualidade do composto e acelerar o processo de compostagem. Cerca de 50 minhocas adultas podem ser adiciona- das ao cilindro de compostagem. Após a introdução das minhocas, o manejo é bastante simples, consistindo apenas em irrigar os canteiros quando neces- sário. Esse processo dura cerca de 30 dias. Quando o vermicomposto estiver pronto, as minhocas tenderão a ficar mais lentas, pela falta de alimento. A sepa- ração das minhocas deve ser feita através da adição de iscas, que serão resíduos orgânicos frescos colocados diretamente sobre uma rede com malha em torno de 5 mm. Os resíduos orgânicos frescos são renovados semanalmente e as mi- nhocas são retiradas, repetindo-se esse processo até se esgotarem as minhocas do vermicomposto. O composto será identificado como pronto quando estiver desagregado, possuir cor escura, cheiro de terra e, quando esfregado nas mãos, não as sujarem.

A temperatura deve ser controlada durante todas as fases da compostagem para garantir a higienização – destruição térmica dos micro-organismos pato- gênicos – da massa e a identificação das fases da compostagem. Se possível, a umidade também deve ser mensurada em todas as fases, procurando-se manter o equilíbrio entre água e ar, mantendo-se o teor de umidade na faixa de 55%, para evitar inibição da atividade biológica (<40ºC) ou a ocupação dos espaços vazios pela água dificultando a aeração da massa (>65ºC). Sempre que o com- posto apresentar um aspecto seco, este deve ser regado.

A granulometria do composto, assim como a umidade e a temperatura, também influencia na demanda de oxigênio. Quanto menor for o tamanho da partícula, maior será a superfície de exposição ao oxigênio, acelerando o pro- cesso de compostagem. A ausência de oxigênio na matéria orgânica, por sua vez, tornaria o processo anaeróbio, provocando a geração de odores desagradá- veis. Entretanto partículas exageradamente pequenas promoveriam a compac- tação da massa, dificultando a areação e causando problemas de anaerobiose.

Os cilindros de compostagem devem ser revirados no 3º, 10º, 40º e 50º dias após a sua formação. O produto final da compostagem, o composto ou fertili- zante orgânico, deve conter alto teor de matéria orgânica estabilizada, podendo ser usado no solo, como corretivo orgânico, principalmente em solos pobres em matéria orgânica, como os argilosos e arenosos. Se possível, é recomendado que o agricultor colete amostras do composto e encaminhe para análise dos teores de carbono, nitrogênio, fósforo e potássio.

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Figura 1 - Placa de sinalização na chegada à Apacorib; Parte teórica da capacitação voltada ao reaproveitamento de resíduos agropecuários; Equipe de docentes e agricultores familiares no encerramento do curso; “Dia de campo” com apresentação de técnicas de compostagem

Fonte: foto da autora.

Resultados: a elaboração do produto final -