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4 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO PARA OS

4.1 A ESCASSEZ DE DOMÍNIO LINGUÍSTICO E AS CONSEQUÊNCIAS AOS

4.1.2 Erros gramaticais

Consoante Moreno e Martins (2006, p. 27), erros de grafia são imperdoáveis, em vista dos modernos corretores ortográficos que fazem parte das ferramentas dos processadores de texto. Erros de concordância e de regência, embora um pouco

mais sutis, são também injustificáveis para um estudante ou um profissional que tenha o mínimo de familiaridade com uma gramática.

Para os referidos autores, dominar a língua portuguesa para expressar-se com clareza e eficiência é o principal fundamento dos operadores do Direito. Não basta ter razão, é preciso saber dizê-la, isso porque a linguagem deficiente esvaziará uma boa argumentação. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 24-25).

A linguagem deficiente é duramente punida em juízo, pois o advogado pode perder o processo, obter apenas parte do que pediu, alcançar resultado diferente do que esperava ou nem sequer ser compreendido. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 22).

Exemplo de erros gramaticas e o quanto esses prejudicam em uma decisão é o que ocorreu no acórdão da Apelação Cível n. 2006.001.48497, da Desembargadora Relatora Sirley Abreu Biondi, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que fez a seguinte observação para os erros gramaticais constatados nas contrarrazões:

Insta ser salientado que os advogados que assinaram as contra-razões necessitam com urgência adquirir livros de português de modo a evitar as expressões que podem ser consideradas como injuriosas ao vernáculo, tais co o “e asse” no lu ar de “e ace” , “não aciste razão” assiste , “cliteriosa ente” criteriosa ente , “doutros jul adores” doutos , “estranhesa” estranheza , “discusão” discussão , “inedoneos” inid neos Acrescenta-se, ainda, que devem os causídicos adquirir também livros de direito, à medida que nas contra-raz es consta “pedidos” co o se apelação fosse, o que não tem o menor cabimento. (RIO DE JANEIRO, 2007).

Viana e Andrade (2009, p. 48) relatam um caso semelhante que, em razão da grande repercussão, passou em um programa de televisão:

Tal inabilidade linguística, além de gerar responsabilização civil por parte do advogado junto ao cliente, pode resultar em responsabilização junto à Ordem dos Advogados do Brasil, conforme foi notícia no Fantástico, programa dominical da Rede Globo, do dia 20 de outubro de 2002. Na reportagem foi relatado o caso de um advogado que, devido à inadequação gramatical de suas petições, teve seu registro suspenso pela OAB, sendo obrigado a fazer outro exame da Ordem para recuperar o direito de advogar.

O advogado que não se expressa com segurança pode ter certeza de que vai sofrer ataques desse plano, bem como deixa evidente para todos os leitores que não

domina o principal instrumento do trabalho jurídico. (MORENO, MARTINS, 2006, p. 26).

Falhas na redação e no uso do português faciliam a vida do oponente. Caso não houvesse o erro, o adversário teria sido obrigado a enfrentar, de imediato, as questões de mérito do processo. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 28).

Quanto aos vícios gramaticais no processo, os autores (2006, p. 26) alegam que:

O ataque à linguagem do adversário é um recurso lícito e tem fundamento técnico, pois sua eficácia está em desviar a atenção para um defeito (de preferencia grosseira) nos aspectos formais do discurso do contendor. É co o se al ué dissesse: “Veja, ele ne sequer sa e se e pressar e pretende que suas raz es seja encaradas co seriedade” ou “Ele não sa e o que iz e ale a ter direito” ou ainda “Mas o que será es o que ele quis dizer?” Todas essas rea es são indesejáveis, pois vão ficar na memório do leitor e podem impressioná-lo negativamente.

Em situações como essas, em que se encontram erros e há necessidade de citá-los, usa-se o sic. Esse termo é usado para indicar ao leitor que aquilo que ele acabou de ler, por errado ou estranho que pareça, é assim mesmo. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 28).

Os autores ainda mencionam:

Quando estou citando o texto de alguém, o sic serve para assinalar minha estranheza com algo que ali está; quando uso sic em meu próprio texto, estou dizendo que é assim mesmo que eu quero que conste, por estranho e errado que pare a co o se eu dissesse ao leitor: “ assi es o co o voc está vendo ão oi erro de cópia ou i pressão” MORE O MARTINS, 2006, p. 28).

Tais erros podem ser encontrados, também, no exame para conseguir a licen a para advo ar Erros co o “perca do praso”, e vez de perda de prazo “Prossedi ento”, e não procedi ento “Respaudo”, e lu ar de respaldo “Inlícita”, e não ilícita, foram constatados no primeiro exame de 2011 da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). (ZAMPIER, 2011).

Viana e Andrade (2009, p. 46) definem como imperícia o domínio escasso da linguagem aos profissionais da área jurídica:

Vale dizer que se trata de imperícia e não de simples negligência, decorrente de omissão, pois o advogado, no seu exercício profissional, necessita de uma habilidade específica no que concerne à linguagem, tal

qual o domínio da gramática pátria e de técnicas de argumentação, o que o diferencia dos profissionais de outras áreas. Logo, assim como um cirurgião plástico necessita de aptidão para o manejo de um bisturi, analogicamente, o advogado precisa dominar a palavra, que é o seu instrumento de trabalho, sem o qual o seu serviço não pode ser prestado. O manejo inadequado da palavra, desta maneira, é a exteriorização da falta de habilidade técnica do profissional do Direito, ou seja, manifesta imperícia.

Quem não sabe escrever corretamente não tem capacidade de expressar adequadamente o seu pensamento, pois a Língua Portuguesa é o instrumento que visa a auxiliar os operadores de Direito na comunicação. (BARRANCOS, 2008, p. 9).

A citada autora conclui que conhecer ortografia, acentuação, pontuação, crase, regências nominal e verbal, concordâncias nominal e verbal e outras regras gramaticais tornam a peça jurídica mais clara, mais inteligível. (BARRANCOS, 2008, p. 8).

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