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A linguagem como base para o currículo dos cursos de direito

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Academic year: 2021

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STEFANÍA SCOLARI

A LINGUAGEM COMO BASE PARA O CURRÍCULO DOS CURSOS DE DIREITO

Florianópolis 2020

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STEFANÍA SCOLARI

A LINGUAGEM COMO BASE PARA O CURRÍCULO DOS CURSOS DE DIREITO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Diane Dal Mago, Msc.

Florianópolis 2020

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STEFANÍA SCOLARI

A LINGUAGEM COMO BASE PARA O CURRÍCULO DOS CURSOS DE DIREITO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, (dia) de (mês) de (ano da defesa).

______________________________________________________ Professor e orientador Nome do Professor, titulação

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A LINGUAGEM COMO BASE PARA O CURRÍCULO DOS CURSOS DE DIREITO

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 8 de julho de 2020.

____________________________________

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AGRADECIMENTOS

À família, amigos e namorado, pelas vezes em que mesmo estando presente fisicamente, minha cabeça estava longe, pensando neste trabalho, pela compreensão e paciência nesta fase.

Ao professor Gabriel Henrique Collaço, que acolheu minha ideia e me incentivou no Projeto de Pesquisa Jurídica, o qual serviu de base para o desenvolvimento deste trabalho.

À professora Diane Dal Mago, por ter aceito ser orientadora desta monografia e ter sido meu suporte e guia durante esses meses de incertezas e inseguranças.

À psicóloga Carla Baldi, que me auxilia a manter a mente sã e a enfrentar minhas fases com coragem.

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“Os céticos dirão, talvez, que conhecer o direito não é necessário para ser um bom advogado, e os que querem a todo custo preservar suas ilusões, dirão, talvez, que para ser um bom advogado é suficiente conhecer o direito. A verdade é que para ser um bom advogado é necessário conhecer o direito e não é suficiente conhecê-lo”. (Abeledo Perrot, tradução nossa).

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a ligação entre o Direito e a linguagem, em razão de que, para aos operadores de Direito, a boa redação forense torna-se fundamental como ferramenta para a realização de um trabalho coerente, claro, coeso e adequado. Saber se expressar e escrever bem é essencial para o exercício profissional na área jurídica, e o principal instrumento para que essa comunicação seja concretizada de uma forma eficiente depende da habilidade do estudante ou profissional em fazer uso de sua principal ferramenta, que é a palavra. No entanto, para que se efetive esses textos de qualidade, há a necessidade da prática das nuances da linguagem nos cursos de Direito. A atenção à gramática nos textos jurídicos mostra o quanto é necessário a escrita estar de acordo com a norma culta, respeitando não só as regras gramaticais, mas também a maneira como se desenvolve a peça jurídica e desconstruindo ideias de que um texto bom é um texto longo, com palavras e frases difíceis e, consequentemente, prolixas, evitando, dessa forma, dúvidas na interpretação das mensagens transmitidas. Por intermédio dos fundamentos teóricos levantados, foi demonstrado o importante papel do estudo e prática da linguagem para os estudantes e futuros operadores de Direito. Por isso, é fundamental o seu desenvolvimento durante o curso, para garantir a formação de egressos capazes de manusear o seu principal instrumento de trabalho, a linguagem. Para a realização do presente estudo monográfico, o método científico adotado foi o dedutivo, utilizando-se como principal fonte materiais bibliográficos.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 A LINGUAGEM NO ORDENAMENTO JURÍDICO ... 12

2.1 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM NA ÁREA DO DIREITO ... 14

3 EVOLUÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE DIREITO NO BRASIL E COMO SE ENCONTRA EM ALGUMAS INSTITUIÇÕES DE SANTA CATARINA ... 18

3.1 O CURSO DE DIREITO NO BRASIL E SUA EVOLUÇÃO ... 18

3.2 DIRETRIZES CURRICULARES PROPOSTAS PELO MEC PARA O CURSO DE DIREITO ... 20

3.3 HABILIDADES A SEREM INCITADAS NO CURSO DE DIREITO ... 21

3.3.1 Comparativo dos currículos das Instituições de Ensino Superior com as resoluções impostas referentes ao desenvolvimento do português no curso de Direito ... 23

3.3.1.1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ... 23

3.3.1.2 Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC) ... 24

3.3.1.3 Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) ... 25

3.3.1.4 Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) ... 26

3.3.1.5 Um olhar comparativo entre as instituições ... 26

4 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO PARA OS OPERADORES DE DIREITO ... 30

4.1 A ESCASSEZ DE DOMÍNIO LINGUÍSTICO E AS CONSEQUÊNCIAS AOS ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DE DIREITO ... 31

4.1.1 Excesso de páginas em petições ... 36

4.1.2 Erros gramaticais ... 37

4.1.3 Latinismos em excesso ... 40

4.1.4 Linguagem rebuscada ... 41

4.2 LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO COMO PILARES PARA A FORMAÇÃO JURÍDICA ... 44

4.2.1 A necessidade de incitar a prática da linguagem para os acadêmicos de direito ... 48

5 CONCLUSÃO ... 50

REFERÊNCIAS ... 52

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ANEXO A – MATRIZ CURRICULAR UFSC ... 58

ANEXO B – MATRIZ CURRICULAR CESUSC ... 66

ANEXO C – MATRIZ CURRICULAR UNISUL ... 70

ANEXO D – MATRIZ CURRICULAR UNIVALI ... 78

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1 INTRODUÇÃO

O domínio da linguagem escrita é importante para todas as áreas profissionais, mas a relação dos operadores de Direito com a linguagem, contudo, é muito mais complexa do que a de outros profissionais, pois o ato de escrever é inerente ao desenvolvimento das suas atividades.

A motivação para este tema se deu em razão da experiência da pesquisadora como estagiária no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Um dos gabinetes em que atuou, a função dos estagiários era elaborar acórdãos e quando começou a produzir, percebeu vícios de linguagem que os assessores apontavam nas correções, além de demorar muito tempo para conseguir explicar o raciocínio lógico que se levaria a decisão. Bem como, percebeu durante a leitura de processos, disfunções da linguagem vinda de profissionais do Direito. Foi nesse momento que se chegou a conclusão que o curso de Direito não prepara de forma eficiente os estudantes para essas situações que serão corriqueiras na vida profissional. Portanto, tendo como crítica a escassez do fomento à escrita e argumentação no curso jurídico, vislumbra-se a necessidade de vislumbra-se refletir sobre esta ausência no cotidiano dos estudantes de Direito.

Dessa forma, os operadores do Direito, desde o início da sua formação, devem dar uma atenção especial ao estudo e à prática das normas da língua, pois é por meio do uso adequado da linguagem que o Direito se realiza efetivamente. No entanto, os cursos de Direito, no caso mais específico deste trabalho, os da grande Florianópolis, incitam o desenvolvimento da linguagem correspondente aos anseios e necessidades do exercício profissional na elaboração de peças jurídicas, bem como as habilidades a serem desenvolvidas impostas pelo Ministério da Educação (MEC)?

Para elaborar esta pesquisa sobre a linguagem no âmbito do curso de Direito, o método científico utilizado foi o dedutivo, pois foram examinadas disciplinas que estudam o desenvolvimento do português forense nos currículos de Direito de Instituições de Ensino Superior (IES) da Grande Florianópolis, para mostrar a lacuna das grades curriculares do curso jurídico das referidas IES, ao não investirem em estudos que aprofundem o ensino da linguagem para a prática profissional. Também, seguindo esse método, foram investigados vários aspectos sobre a

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importância do domínio da linguagem, tendo como enfoque o campo jurídico. A natureza invesgativa foi a qualitativa, pois a abordagem é centralizada em uma discussão teórica.

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica em diversas fontes – artigos, dissertações, teses e algumas obras abrangendo o Direito e o estudo da linguagem – tal qual, verificando artigos de leis que tratam do assunto em questão, buscando-se, assim, um material claro e coerente, que consiga definir a situação-problema e esclarecer dúvidas relativas à formação deste profissional, atendendo também aos objetivos da pesquisa, os quais visam a apresentar e discutir a importância do estudo da linguagem na base curricular do curso de Direito.

No segundo capítulo, será abordado o que é a linguagem, para após apresentar especificamente a prática da linguagem no campo forense: o que é e para que serve. Logo em seguida, passa-se ao estudo de alguns pontos de vista sobre comunicação jurídica, que mostrarão a importância do tema, exprimindo o porquê da relevância da prática e do aperfeiçoamento da língua portuguesa no âmbito jurídico. Assim, evidencia-se o quanto é necessário, para os operadores de Direito, ter conhecimento da linguagem, aplicando a norma culta na redação forense, a fim de que a mensagem a ser veiculada seja interpretada corretamente, de uma maneira clara e objetiva.

Em seguida, no terceiro capítulo, será feita uma breve abordagem da evolução curricular do curso de Direito no Brasil, mostrando as transformações no decorrer do tempo: alguns estudos foram introduzidos, bem como outros foram completamente afastados dos currículos. Com efeito, foram se moldando com a relevância de abordagens dos mais variados fenômenos sociais, culturais e históricos do âmbito jurídico. Nesse passo, explicar-se-á o que é um currículo escolar e quais as suas finalidades e atribuições. Também, serão apresentadas as diretrizes curriculares impostas pelo Ministério da Educação (MEC), verificando as habilidades indispensáveis que devem ser desenvolvidas nos cursos de Direito do Brasil. Sendo assim, far-se-á o exame da matriz curricular de quatro IES da grande Florianópolis, verificando se há, dentro dos currículos, disciplinas direcionadas para a estimulação e o desenvolvimento da linguagem jurídica, conforme determina o MEC.

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O critério para a escolha das quatro IES da grande Florianópolis, se deu em razão da relevância destas na cidade, ou seja, são as mais conhecidas, e por todas apresentarem campus físico.

Para encerrar, no capítulo final, buscar-se-á salientar, por meio de posições doutrinárias, o quanto a linguagem influencia e determina a capacidade do profissional de Direito, uma vez que ela é o seu instrumento de trabalho.

Nesse contexto, será feita a relação do domínio da língua portuguesa com os egressos do curso de Direito, ilustrando o porquê o estudo da linguagem é essencial durante a graduação jurídica, pois essa guiará as ações dos futuros profissionais. Dessa forma, serão elucidados possíveis problemas que a falta de um estudo mais aprofundado e da prática da língua portuguesa podem acarretar aos estudantes e operadores do Direito.

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2 A LINGUAGEM NO ORDENAMENTO JURÍDICO

Neste capítulo, será feita uma explicação do que é linguagem e assim, apresentar especificamente a relevância da prática da linguagem no mundo jurídico.

A nossa Língua Portuguesa é uma língua muito rica em recursos, talvez resida aí boa parte da dificuldade em utilizá-la. (REOLON, 2010, p. 2).

Assim, a princípio, faz-se oportuno esclarecer o significado de alguns conceitos que serão úteis para o entendimento de como funciona a linguagem, utilizando as definições de Tomasi e Medeiros (2010, p. 17-21):

LINGUAGEM é um sistema de signos utilizados para estabelecer uma comunicação. A linguagem humana seria de todos os sistemas de signos o mais complexo. Seu aparecimento e desenvolvimento devem-se à necessidade de comunicação dos seres humanos. Fruto de aprendizagem social e reflexo da cultura de uma comunidade, o domínio da linguagem é relevante na inserção do indivíduo na sociedade.

[...]

A LINGUAGEM VERBAL é uma faculdade que o homem utiliza para exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais denominado língua. Esse sistema organiza os signos e estabelece regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de linguagem desenvolve-se com base no uso de um sistema ou código de comunicação, a língua. A LINGUAGEM é uma característica humana universal, enquanto a LÍNGUA é a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo. SISTEMA é uma organização que rege a estrutura de uma língua. [...] LÍNGUA é um código que permite a comunicação, um sistema de signos e combinações. Ela tem caráter abstrato e dispõe de um sistema de sons, e concretiza-se por meio de atos de fala, que são individuais. Assim, enquanto a língua é um conjunto de potencialidades dos atos de fala, esta (ou discurso) é um ato de concretização da língua.

[...] A FALA é anterior à escrita, mas tem, através dos tempos, sido relegada a uma condição de inferioridade por causa das circunstâncias modernas em que informações e documentos escritos constituem o mundo das relações humanas e de produção. [...] As características diferenciadoras entre LÍNGUA e FALA são: a língua é sistemática, tem certa regularidade, é potencial, coletiva; a fala é assistemática, nela se observa certa variedade, é concreta, real, individual.

[...] A NORMA varia segundo a influência do tempo, espaço geográfico, classe social ou profissional, nível cultural do falante. A diversidade das normas, visto que há tantas quanto os indivíduos, não afeta a unidade da língua, que contém a soma de todas as normas.

[...] A LÍNGUA PORTUGUESA, portanto, é um sistema linguístico que abrange o conjunto das normas que se concretiza por meio dos atos individuais de fala. Ela é um dos sistemas linguísticos existentes dentro do conceito geral de língua e compreende variações diversas devidas a locais, fatores históricos e socioculturais que levam à criação de variados modos de usar a língua.

[...] NORMA é um conjunto de regras que regulam as relações linguísticas. A norma sofre afrontas ou é contrariada devido a vários fatores: alterações devidas às classes sociais diferentes, alterações devidas aos vários indivíduos que utilizam a língua.

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Logo, o processo de comunicação se efetua por meio da linguagem oral e escrita, as quais diferem sensivelmente entre si, embora a língua seja a mesma. (SOUZA, 2010).

O conceito de linguagem que norteia este trabalho é de que é uma (OLIVEIRA, 2013, p. 13):

[...] construção histórica, social e cultural. Esta concepção fundamenta-se na ideia de que, como elemento constitutivo da atividade propriamente humana, a linguagem origina-se no processo social da existência humana, processo este que combina interações do homem com a natureza e com os outros homens.

Sucintamente, o termo linguagem refere-se a uma capacidade genérica de atribuir significação a elementos. (GOLD; SEGAL, 2018, p. 12).

Esses elementos, para Damião e Henriques (2018, p. 5), seriam um objeto de comunicação (mensagem) com um conteúdo (referente), transmitido ao receptor por um emissor, por meio de um canal, com seu próprio código.

O emissor possui o pensamento e busca a expressão verbal para fazê-lo conhecido no mundo sensível, e o receptor possui a expressão verbal e caminha em direção ao pensamento, com o propósito de compreender a mensagem. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2018, p. 6).

Por sua vez, para Nascimento (2013, p. 21):

[...] “a lin ua e é, ao mesmo tempo, efeito e condição do pensamento” elacroi e eito por traduzir co palavras e i ar o pensa ento é condi ão porque, quanto aior or o conheci ento de palavras, ais claro é o pensa ento “Pensa ento e lin ua e pro ride , correlativa ente: o primeiro, desenvolvendo-se, leva e pressão ais e ata e o sinal per ite-lhe aior precisão” Cuviller, Manuel de philosophie A lin ua e socializa e racionaliza o pensamento.

A linguagem, em geral, apresenta dois aspectos ou formas: a artística e a técnica. A artística, também deno inada e pressiva, é a iteratura, a saber, a expressão de uma arte. Ao passo que a linguagem técnica visa a informar, ou convencer. Também temos as características relacionadas à linguagem lógica, que tem relação com a técnica, ou seja, assemelham-se. (SABBAG, 2015, p. 37).

Ainda, segundo o autor, a linguagem técnica de convencimento compreende a linguagem lógica. As oratórias – sacra, política e forense – fazem parte desse

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grupo. Desse modo, podemos situar a linguagem forense nesse campo da lógica, pois é unda entada e ar u entos e usca a razão, ou seja, o pensamento em movimento. (SABBAG, 2015, p. 38). Essa ideia de movimento da linguagem, do pensamento, remete-nos às ações efetuadas por meio do uso da língua.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM NA ÁREA DO DIREITO

O Direito e a linguagem mantêm uma considerável e importante relação, já que aquele se realiza efetivamente por meio da linguagem. (MONTEIRO, 2017).

No âmbito jurídico, há a linguagem forense como um meio importante de comunicação, que, se undo Viana 2007, p 18 , é “o conjunto de palavras jurídicas que visa a produzir u a co unica ão própria dos pro issionais do ireito”

Para Oliveira (2013, p. 15):

[...] reconhece-se como linguagem jurídica a forma de expressão escrita ou oral utilizada no universo jurídico, diferenciada de outras linguagens por seu acervo peculiar de termos técnicos e pela utilização de recursos de ornamentação e rebuscamento do texto. Sobre este conceito, esclarece PETRI que “há u a lin ua e jurídica porque o ireito dá um sentido particular a certos termos. O conjunto desses termos forma o vocabulário jurídico”

Nesse contexto, surge o português forense – ou português jurídico –, que, de acordo com Sabbag (2015, p. 18):

[...] é a aplicação das regras gramaticais aos recursos expressivos mais usuais no discurso jurídico a exteriorização jurídica do sistema gramatical. Traduz-se no empréstimo das ferramentas gramaticais pelo Direito, que se incumbe de produzir um objeto final: o português jurídico.

Logo, o português forense é como os operadores do Direito se expressam – de forma verbal ou escrita – de maneira clara e formal, a respeito de um conteúdo ou fato jurídico, mantendo uma gramática correta e sem a presença de palavras plurissignificativas. Essa ideia de uma gramática correta e da não ocorrência da plurissignificação relaciona-se ao uso das normas da língua portuguesa e como utilizamos a linguagem para nos comunicar de forma clara, precisa e correta dentro

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do âmbito jurídico, ora em discussão. Ou seja, não se dissocia o português forense, ou jurídico, da língua portuguesa.

Acerca da importância da linguagem aplicada no Direito, discorre Passos (2001, p. 63-64):

[…] o ireito, ais que qualquer outro sa er, é servo da lin ua e Como Direito posto é linguagem, sendo em nossos dias de evidência palmar constituir-se de quanto editado e comunicado, mediante a linguagem escrita, por quem com poderes para tanto. Também linguagem é o Direito aplicado ao caso concreto, sob a forma de decisão judicial ou administrativa. Dissociar o Direito da Linguagem será privá-lo de sua própria existência, porque, ontologicamente, ele é linguagem e somente linguagem.

O serva-se, portanto, que o ireito é a pro issão da palavra, e o operador do Direito, mais do que qualquer outro profissional, precisa saber usá-la co conheci ento, tática e ha ilidade eve-se prestar uita aten ão principal erra enta de tra alho, que é a palavra escrita e alada, procurando transmitir melhor o pensamento, com elegância, brevidade e clareza. (SABBAG, 2015, p. 13).

Toda profissão tem sua linguagem própria, com características que são peculiares, e que todo e qualquer membro pertencente a ela adota naturalmente no seu exercício. A linguagem para quem exercita o Direito, no entanto, tem um significado muito mais contundente, uma vez que ela é o instrumento de trabalho para o advogado. (REOLON, 2010, p. 10).

Ainda sobre a linguagem e o Direito, Cruz (2013, p. 207) explana:

in ua e e ireito são, portanto, co o “a panela e a ta pa”, e o ireito nada seria sem a linguagem. Logo, o Direito não é e não pode ser uma linguagem estritamente técnica nem especificamente vulgar, bem como o acadêmico ou operador jurídico não deve se ater apenas ao Direito instru ental, “esquecendo-se” do ireito aterial, devendo haver u equilíbrio entre ambos para obter um bom desempenho jurídico e social, traduzindo os termos jurídicos e esclarecendo as pessoas em geral.

Em tese, o indivíduo que possui conhecimentos técnicos, mais facilidade em expor suas ideias, por certo tem a seu favor maiores possibilidades de ganho. (CARNEGIE, 2016, p. 29).

Reafirmando o valor e a relevância da linguagem na vida de um operador do direito, Rodríguez (2005, p. 5-6) pontua que:

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No Direito, nada se faz sem explicação. Não se formula um pedido a um juiz sem que se explique o porquê dele, caso contrário diz-se que o pedido é desarrazoado. Da mesma forma, nenhum juiz pode proferir uma decisão sem explicar os motivos dela, e para isso constrói raciocínio argumentativo. Sem argumentação, o Direito é inerte e inoperante, pois fica paralisado nas letras da lei, no papel. A partir do momento em que se exercita o Direito – e é essa a função de todo profissional que nessa área atua -, a argumentação passa a ser imprescindível. Ela surge de várias fontes: da doutrina dos professores que interpretam e analisam o ordenamento jurídico, das peças dos advogados que articulam teses para adequar seu caso concreto a um ou a outro cânone da lei, da decisão de juízes que justificam a adoção de determinado resultado para um caso concreto.

Argumentação é instrumento de trabalho do próprio Direito, e então é objeto de previsão legal. Quando a Constituição fala em fundamentos da decisão legal, evidentemente está se referindo aos argumentos formulados pelo Poder Judiciário (embora ainda façamos alguma distinção entre fundamentação e argumentação propriamente dita, mas com princípios muito próximos). Quando determinado recurso cuida a respeito das razoes, pede os argumentos que o sustentam, caso contrario será inoperante. Os argumentos são também a própria essência do raciocínio jurídico. A teoria do Direito somente é aceita na medida em que bons argumentos a sustentem, e também só pode ser aplicada a um caso concreto se outros argumentos demonstrarem a coerência entre estes e a teoria.

Nesse contexto, quem mais argumenta, melhor opera o Direito, melhor o aplica.

O conhecimento jurídico propriamente dito representa, então, uma série de informações que se encontram à disposição do argumentante, mas elas por si mesmas não garantem a capacidade de persuasão. Informações puras não se combinam, não fazem ninguém chegar a conclusão alguma, a não ser que sejam intencionalmente dirigidas, articuladas para convencer alguém a respeito de algo.

Podemos afirmar, portanto, que sem linguagem não há justiça nem Direito. É com a linguagem que os atores da cena judiciária pedem, respondem, replicam, narram, explicam, opinam e decidem. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 24). É por meio das palavras que o profissional formulará o pedido do cliente, formalizando o pensamento por meio de expressões corretamente conjugadas ao seu conhecimento, com o intuito de satisfazer as necessidades de seus interlocutores. (MONTEIRO, 2017).

Elucida Sabbag (2015, p. 19-20) sobre o tema:

E entrevista ao jornal O Estado de Paulo dez 1 , p 8 , o eritíssi o uiz de ireito osé Renato alini, então conselheiro da Escola Paulista da Magistratura, afirmou:

e o portu u s é essencial para qualquer carreira, e rela ão ao ireito ele é u pressuposto A nica ar a do acharel é a lin ua e o au conheci ento ou da inadequada utiliza ão desse instru ento, poderão derivar vulnera es e es o o pereci ento de direitos alheios, como a li erdade, a honra e o patri nio das pessoas.

adóls is, Marcondes e Toledo 1 7: 7 assevera , no es o diapasão: Todo cidadão deve zelar pelo vernáculo, as o advo ado é o rande pro issional da palavra a palavra que dá or a inal a seu tra alho e ele

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não sa e usá-la co perícia, os teste unhos, os docu entos, o apoio le al, a i lio ra ia jurídica, as provas actuais não se trans or a e ar u entos e não lhe per ite de ender, acusar, contestar, exigir, exortar, tergiversar, persuadir, convencer co e ici ncia eu sucesso na pro issão é direta ente proporcional a seu dese penho lin uístico, a sua habilidade em manejar palavras.

E prosseguem os renomados autores:

Muito ais que a para ernália retórica é o respeito a esta verossi ilhan a que persuade e convence, dando oros de verdade aos te tos jurídicos, porque u discurso vazio, por ais retu ante que seja, não convence nin ué , é “cí alo que tine”, “ ronze que soa”, cujo so não persiste (1, Co, 13). (...) O advo ado é o ho e da palavra, e a palavra é a “terra” que lhe cabe submeter e dominar (Gen, 2).

Assim, a argumentação é a própria prática do Direito, é como ele se opera, principalmente nas lides forenses. Engana-se quem pensa que apenas o conhecimento jurídico interessa ao operador do Direito, pois esse representa conteúdo essencialmente informativo. (RODRÍGUEZ, 2005, p. 7).

Portanto, não restam dúvidas quanto à relevância da linguagem, essencial ao operador jurídico como ferramenta da comunicação, nas formas oral e escrita, utilizada na atividade forense para apresentação do pedido de tutela jurisdicional, de sua contraposição, para a coleta de depoimentos e testemunhos, para a prolação de sentença, entre outros atos jurídicos inerentes à profissão. (RIBEIRO; SANTOS, 2017, p. 129).

A argumentação é a prática e a dinâmica da operação do Direito, o que nele há de mais ágil e concreto, sendo assim, vale estudá-la como meio de aprimoramento da atividade jurídica como um todo, pois argumentar é a própria essência do raciocínio jurídico. A teoria do Direito somente é aceita na medida em que bons argumentos a sustentem (RODRÍGUEZ, 2005, p. 6-7), em razão da linguagem ser uma ligação que abrange todas as matérias jurídicas. Por possuir tal característica de interdisciplinaridade, constitui-se na ferramenta laboral para qualquer operador de Direito. (MONTEIRO, 2017).

Entende-se, assim, que o linguajar particular das atividades ligadas à justiça, além de uma utilização sociocultural, é também uma imposição inerente aos que trabalham direta e indiretamente nessa esfera, devendo esses utilizá-lo de maneira precisa e técnica. (RIBEIRO; SANTOS, 2017, p. 126-127).

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3 EVOLUÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE DIREITO NO BRASIL E COMO SE ENCONTRA EM ALGUMAS INSTITUIÇÕES DE SANTA CATARINA

Neste terceiro capítulo, são feitas abordagens sobre a composição curricular do curso de Direito, um pequeno histórico, e como está na atualidade em algumas instituições de ensino superior da região da grande Florianópolis.

Desde a sua criação, em 1827, o curso de Direito no Brasil já passou por diversas alterações ao longo da história, muitas vezes, a composição curricular estava relacionada ao contexto da época e também a interesses sociais, políticos e ideológicos que se apresentavam. Depois, as próprias IES, de acordo com sua missão, valores, mercado de trabalho, seguindo diretrizes nacionais também, seguem remodelando os projetos pedagógicos desse curso. (RODRIGUES, 1987, p. 20).

3.1 O CURSO DE DIREITO NO BRASIL E SUA EVOLUÇÃO

Para Rodrigues (2005, p. 199), o “currículo é a or a de or aniza ão de conteúdos, matérias, disciplinas, módulos e demais componentes curriculares, tais como estágio supervisionado, trabalho de conclusão de curso e atividades co ple entares”

Em 11 de agosto de 1827, houve a criação dos dois primeiros cursos de Direito no Brasil, com sedes nas cidades de Olinda (PE) e São Paulo (SP). (RODRIGUES, 1987, p. 21).

De 1827 a 1961, havia um mesmo currículo pleno predeterminado (fixo e rígido), composto por nove cadeiras e com duração de cinco anos. Demonstravam, nas disciplinas que compunham sua grade curricular, uma forte vinculação orgânica com o Império e suas bases político-ideológicas, como exemplo, as cadeiras de Direito Natural e Direito Público Eclesiástico. (RODRIGUES, 2005, p. 61).

Houve algumas alterações na grade curricular nesse período (1827 – 1961), como em 1854, quando inseriram Direito Romano e Direito Administrativo. (RODRIGUES, 2005, p. 62). Depois, em 1890, foi extinto o estudo de Direito

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Eclesiástico, devido à desvinculação do Estado em relação à Igreja. Criaram-se as cadeiras de Filosofia e História do Direito e de Legislação Comparada sobre o Direito Privado. (RODRIGUES, 1987, p. 27).

Em 1895, por meio da Lei n. 314, de 30 de outubro, criou-se um novo currículo para os cursos jurídicos. Esse currículo foi bem mais abrangente que o primeiro e buscou uma maior profissionalização dos egressos do curso de Direito. (RODRIGUES, 2005, p. 62-63). Em termos curriculares, outras mudanças, além da de 1895, foram feitas, mas todas mantiveram a mesma base estrutural. (RODRIGUES, 1987, p. 29).

No ano de 1962, ocorreu uma mudança no currículo por meio do Parecer 215, do Conselho Federal de Educação, que implantou um currículo mínimo no ensino jurídico. (FLORES, 2016).

Rodrigues (2005, p. 199-200) define currículo mínimo como:

[...] o conjunto de conteúdos, matérias e demais componentes curriculares, fixado pelo órgão legalmente competente, e que deve obrigatoriamente fazer parte de todos os currículos plenos dos cursos da área específica, em todas as Instituições de Educação Superior.

Nesse sentido, o currículo mínimo é aquele que é obrigatório para as IES, que, ao elaborarem seus currículos plenos, devem contemplar todos os conteúdos, matérias e demais atividades nele indicados como necessários.

A implantação do currículo mínimo foi a primeira mudança importante implementada no Brasil, no caminho da flexibilização curricular. A duração continuou fixada em cinco anos, nos quais deveriam ser estudadas as quatorze matérias propostas, sendo elas: Introdução à Ciência do Direito, Direito Civil, Direito Comercial, Direito Judiciário Civil (com prática Forense), Direito Internacional Privado, Direito Constitucional (incluindo Teoria Geral do Estado), Direito Internacional Público, Direito Administrativo, Direito do Trabalho, Direito Penal, Medicina Legal, Direito Judiciário Penal (com Prática Forense), Direito Financeiro e Finanças; Economia Política. (RODRIGUES, 2005, p. 64).

Com esse novo currículo se percebe que não houve grandes mudanças, mantendo-se um caráter dogmático, uma vez que a única cadeira que trazia um viés mais amplo era a Introdução à Ciência do Direito, permanecendo uma estrutura limitada e positivista. (FLORES, 2016).

Em 1972, essa regulamentação foi substituída pela Resolução CFE n. 3/1972, que determinou as diretrizes de funcionamento do ensino do Direito brasileiro, no

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período de 1973 a 1995. (RODRIGUES, 2005, p. 65). Essa tratou do currículo mínimo, do número mínimo de horas-aulas, da duração do curso e de outras normas gerais pertinentes à sua estruturação. (FLORES, 2016).

A resolução de 1972 foi o paradigma da Portaria MEC n. 1.886/94, que a substituiu, a qual trouxe novidades, como a implantação do estágio supervisionado, possibilitando, a partir disso, a prática jurídica de atividades reais e simuladas (FLORES, 2016). Ou seja, ia além do que tradicionalmente era objeto das normas curriculares dos cursos de Direito. (RODRIGUES, 2005, p. 83).

Ainda, de acordo com o referido autor (2005, p. 83), ela continha uma série de orientações que obrigatoriamente teriam de ser levadas em consideração, não apenas na elaboração da grade curricular, mas também no tratamento que deve ser dado aos conteúdos das matérias.

Em 2004, com a Resolução n. 9, de 2004, ocorreu a última modificação do currículo do curso de Direito, trazendo grandes inovações no que diz respeito ao aspecto social na formação do profissional de Direito. (FLORES, 2016). Para Rodrigues (2005, p. 100 , “essa resolu ão te co o pressupostos – contidos na Constituição Federal de 1988, mais especificamente nos artigos 206 e 209 –, a li erdade, o pluralis o e qualidade no ensino”

3.2 DIRETRIZES CURRICULARES PROPOSTAS PELO MEC PARA O CURSO DE DIREITO

A Secretaria de Educação Superior (SESU) é a unidade do Ministério da Educação que tem por atribuição planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da política nacional de educação superior. (BRASIL, 2020).

Assim sendo, existem as diretrizes curriculares do curso de Graduação em Direito, as quais têm como objetivo preservar o conteúdo e as sugestões enviadas pelos membros da comunidade acadêmica jurídica para a Comissão de Especialistas de Ensino de Direito (CEED). (BRASIL, 2000, p. 1).

Essas diretrizes integram-se ao processo de construção de qualidade dos cursos de Direito, que teve como marco, na década de noventa, a instalação da

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Comissão de Especialistas de Ensino de Direito (CEED/SESU/MEC), em parceria com a Comissão de Ensino Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). (BRASIL, 2000, p. 2).

Essas normas curriculares (BRASIL, 2000, p. 2):

Visam a fornecer as linhas gerais para os cursos jurídicos estruturarem seus projetos pedagógicos de forma autônoma e criativa, segundo suas vocações, demandas sociais e mercado de trabalho, objetivando a formação de recursos humanos com elevado preparo intelectual e aptos para o exercício técnico e profissional do Direito.

Destarte, as diretrizes curriculares são as orientações gerais definidas pelo órgão juridicamente competente e devem ser cumpridas pelas IES na elaboração dos projetos pedagógicos e currículos plenos de seus cursos. (RODRIGUES, 2005, p. 202).

3.3 HABILIDADES A SEREM INCITADAS NO CURSO DE DIREITO

O profissional da área jurídica deve ter conhecimentos essenciais do Direito, porém, não deve limitar-se a tais aprendizados. O ato de escrever e de organizar ideias é técnica primordial para o profissional demonstrar domínio de sua capacidade (PAIVA, 2015, p. 15).

Conforme consta no primeiro capítulo deste trabalho:

A educação jurídica tem sido excessivamente centrada no fornecimento do maior contingente possível de informações. Todavia, esse modelo informativo de ensino não capacita o operador técnico do Direito a manusear um material jurídico cambiante, em permanente transformação, nem a desenvolver um adequado raciocínio jurídico. Os cursos deverão, portanto, privilegiar o que é essencial e estrutural na formação dos alunos, tomando-se os currículos como totalidades vivas de uma ampla e sólida formação que expressem o núcleo epistemológico de cada um. (BRASIL, 2000, p. 2).

Nessa senda:

O perfil desejado do formando de Direito repousa em uma sólida formação geral e humanística, com capacidade de análise e articulação de conceitos e argumentos, de interpretação e valoração dos fenômenos jurídico-sociais, aliada a uma postura reflexiva e visão crítica que fomente a capacidade de trabalho em equipe, favoreça a aptidão para a aprendizagem autônoma e

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dinâmica, além da qualificação para a vida, o trabalho e o desenvolvimento da cidadania. (BRASIL, 2000, p. 3).

No art. 4º da Resolução CNE/CES, n. 9 de 2004, é determinado que os cursos jurídicos incitem o desenvolvimento de habilidades e competências específicas, sendo elas:

I - leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas; II - interpretação e aplicação do Direito; III - pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; IV - adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; V - correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; VI - utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; VII - julgamento e tomada de decisões; e, VIII - domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito.

Esses componentes curriculares indicados são todos obrigatórios e devem, necessariamente, constar nos currículos plenos de todos os cursos de Direito. (RODRIGUES, 2005, p. 203).

Isso posto, conforme consta no art. 5º da mencionada resolução, as Instituições de Ensino Superior poderão definir, com autonomia, em seus projetos pedagógicos, o conteúdo curricular, de modo a atender a três eixos interligados de formação: fundamental, profissional e prática.

Rodrigues afirma (2005, p. 101) que, “e resu o, a orde constitucional rasileira arante a li erdade e o pluralis o, as e i e a preserva ão da qualidade”

O autor, ainda, complementa que:

O Poder Público tem de garantir, de um lado, flexibilidade suficiente para que as IES possam, nas suas propostas pedagógicas, realizar os mandamentos constitucionais, e, de outro, que essa flexibilidade possui como limites, também fixados pelo Poder Público, os padrões de qualidade a serem exigidos mediante processos avaliativos oficiais. (RODRIGUES, 2005, p. 101).

Com isso, será observado a seguir se, entre as IES comparadas, há esse respeito ao padrão exigido na regulamentação do MEC, quanto ao estudo e aprimoramento da linguagem nos cursos de Direito.

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3.3.1 Comparativo dos currículos das Instituições de Ensino Superior com as resoluções impostas referentes ao desenvolvimento do português no curso de Direito

As competências em leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, são itens que caracterizam o perfil desejado e almejado dos profissionais da área jurídica. Assim, o domínio da norma culta da língua portuguesa torna-se exigência para o acadêmico. (KRIEGER, 2013).

De acordo com o visto anteriormente, os cursos jurídicos têm autonomia para estruturarem seus projetos pedagógicos, ao passo que as diretrizes curriculares impostas pelo MEC servem apenas como parâmetro para a incorporação da matriz curricular de cada IES. Em consequência, o currículo do curso de Direito no Brasil é variável entre as instituições de graduação e muitas optam por não oferecerem disciplinas voltadas para a linguagem.

Para examinar essa variação curricular referente a disciplinas que tratem sobre a presença de estudos voltados para a linguagem, são apresentadas (em anexo) as grades curriculares de IES da grande Florianópolis, sendo elas a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC), Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

Conforme ver-se-á na sequência, a abordagem em relação a aspectos linguísticos, de forma geral, volta-se para métodos de interpretação das normas legais.

3.3.1.1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Na matriz curricular da UFSC (ANEXO A), percebe-se que há apenas uma disciplina voltada para aspectos da linguagem, no quinto semestre, que é “Her en utica urídica” e acordo co de ini ão da própria universidade, trata-se de “Co preensão jurídica Pré-compreensão e interpretação jurídica. Espécies de interpretação. Vontade e interpretação. Lógica e interpretação. Integração e

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antinomias. Problemas, questões e temas contemporâneos da interpretação jurídica” E resu o, são étodos para interpreta ão da nor a le al

Porém, pressupõe-se que, para um estudo efetivo dessa interpretação da norma legal, necessita-se de um bom entendimento da Língua Portuguesa (KRIEGER, 2013), o que, de acordo com a análise do currículo, não há mais nenhuma forma de suporte, base e continuidade para um estudo voltado para isso. Bem como, não há disciplina que trabalhe o desenvolvimento da linguagem e argumentação. As abordagens são mais gerais, como veremos nas análises que seguem.

3.3.1.2 Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC)

Continuando a análise, em relação ao no curso de graduação em Direito oferecido pelo CESUSC (ANEXO B), na segunda fase, há a disciplina de “Interpreta ão e Reda ão de Te tos” Essa traz, em sua ementa curricular, os seguintes itens:

Linguagem e semiologia. Usos da linguagem. Principais correntes da semiologia. Formas de argumentação. Falácias não formais e argumentos. Técnicas de argumentação nas práticas jurídicas. Senso comum teórico dos juristas: verdade e ideologia. (CESUSC, 2018).

A disciplina aborda aspectos da linguagem como formas e técnicas de argumentação, entretanto, não se foca somente nisso. Há uma ênfase bastante grande no estudo da semiologia, que pode ser abordada em diversas áreas do conhecimento, com enfoques variados. Dessa forma, mesmo que tenha relação com a linguagem, não necessariamente esse estudo estaria relacionado a aspectos de leitura e escrita no contexto acadêmico do curso.

Para entender melhor o que a semiologia pode abordar no curso de Direito, Lopes (2010), explica que é:

[...] introduzida a um discurso jurídico e aplicada no curso de Direito, não é meramente o estudo dos signos das palavras inseridas na lei, mas os fatos ideológicos e o contexto sócio-histórico em que estão embutidos estes signos, ou seja, a formação discursiva diretamente ligada à formação ideológica e as funções sociais do sujeito envolvido na elaboração do

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processo, visando a verificar a incorporação de noções de social e de histórico, além de questionar a consciência dessa distinção do homem, quando este produz linguagem.

Dessa forma, a citação acima nos remete a uma visão social e histórica da formação do discurso do homem, relacionada a sua produção de linguagem.

No entanto, o que se busca apontar aqui é a defasagem de se trabalhar propriamente aspectos formais e estruturais da língua portuguesa, exigindo, assim, maior precisão, maior esforço na elaboração do texto e cuidado com os preceitos gramaticais, posto ter a língua um caráter mais abstrato, mais reflexivo (SOUZA, 2010, p. 9), ou seja, por mais que haja um enfoque em relação à linguagem, o fato de a disciplina abordar de forma mais superficial, acaba mostrando-se insuficiente para a o aprimoramento de um conhecimento linguístico mais aprofundado por parte do estudante.

3.3.1.3 Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

Em análise da matriz curricular do mesmo curso em relação à UNISUL (ANEXO C), tem-se a unidade de aprendizagem Universidade e Ciência no primeiro semestre, que, de acordo com o plano de ensino, tem como ementa:

Universidade, pesquisa e extensão. Estudos da linguagem. Texto e discurso. Produção no campo acadêmico e científico. Metodologias técnico-científicas. Análise e produção de textos acadêmicos. Elaboração de projetos de pesquisa, planejamentos de estudo e elaboração de sínteses.

De acordo com a ementa descrita acima, constata-se que essa não foca somente na linguagem, como também visa a trabalhar a pesquisa, os métodos e o projeto de pesquisa. É possível perceber que não há uma inserção mais elaborada e aprofundada do aluno na área da linguagem e interpretação jurídicas.

É evidente que nos itens “Estudos da lin ua e ” e “Te to e discurso” pode-se trabalhar vários pontos que dizem respeito à abordagem linguística, a depender de como se pratica isso. Na parte relativa aos textos acadêmicos, existe também a possibilidade de se analisar o texto jurídico, entretanto, isso não vem em um primeiro plano, levando-se em conta que é apenas nesta unidade de aprendizagem, em todo

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o curso, que haveria a possibilidade de se desenvolver melhor essas habilidades. Sendo assim, não é apresentado um enfoque, com a devida relevância, nessa abordagem da prática da língua.

3.3.1.4 Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)

Por fim, na UNIVALI (ANEXO D), há a disciplina “ in ua e urídica”, aplicada na segunda fase do curso, a qual a orda “Pontua ão nos Te tos urídicos Semântica Jurídica e Expressões Latinas. Texto Narrativo, Descritivo e Dissertativo. Processo Argumentativo – Oratória Gra ática E positiva”. (ANEXO E).

Saber expressar-se escrevendo e organizando ideias é essencial para o operador da área jurídica demonstrar domínio de sua capacidade. Como também o uso adequado de figuras de linguagem, especialmente daquelas empregadas com maior frequência na comunicação jurídica. (SOUZA, 2010, p. 12).

Percebe-se que essa última universidade analisada é a única que apresenta uma disciplina que estuda mais pontualmente a linguagem voltada para o campo jurídico, de acordo com o estabelecido nas diretrizes curriculares do MEC, sendo elas a leitura, compreensão e elaboração de textos, utilização de raciocínio jurídico, argumentação, de persuasão e de reflexão crítica, domínio de métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito. (BRASIL, 2000, p. 4).

É na produção dos textos jurídicos que o acadêmico terá consciência da dimensão e da importância do estudo e do conhecimento da linguagem como realidade ligada à área jurídica. (BITTAR, 2010, p. 15).

3.3.1.5 Um olhar comparativo entre as instituições

Diante da análise comparativa entre as matrizes curriculares apresentadas de cursos de Direito da Grande Florianópolis, observa-se que não foram incorporados, de forma mais efetiva, estudos os quais visassem a desenvolver pontualmente o

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aprimoramento da linguagem jurídica, seja por meio da leitura, da interpretação ou redação.

Quanto a essa conclusão, Moreno e Martins (2006, p. 19) dissertam que: Muitas faculdades não dão a devida importância para o estudo da Língua Portuguesa nos cursos de Direito. O que é uma lástima diante da relevância do conhecimento da linguagem como forma de demonstrar a competência jurídica. É possível fazer uma comparação grosseira: é a mesma coisa que uma pessoa ter conhecimento sobre determinado assunto, mas não poder se expressar em função do desconhecimento do idioma do país em que se encontra. Se, falar na questão de que como é possível um perfeito entendimento jurídico, se há evidente deficiência no conhecimento básico da língua? Na verdade, fica comprometido desde o entendimento a respeito dos conceitos básicos do Direito até a sua aplicação ao caso concreto.

Medina (2006, p. 110-111) em sua obra, questiona sobre o ensino do ofício dos advogados na graduação:

Como infundir à formação jurídica, nos cursos de bacharelado, os matizes próprios da advocacia, o colorido especial que o perfil do advogado ostenta, o preparo específico que a arte da profissão requer?

Antes de tentar responder à questão, caberia recordar a melancólica reflexão, em torno do assunto, que faz, num livro instigante (Como estudiar y cómo argumentar um caso – Consejos elementares para abogados jóvenes), o advogado argentino Genaro Carrió.

iz o nosso cole a do país vizinho que ‘A orde jurídica pode ser vista ou abordada desde pontos de vista ou perspectivas distintas e com interesses distintos. Uma dessas perspectivas é a do advogado; traduz-se nessa apro i a ão de caráter técnico ’ que o estudo dos casos exige, em relação aos pro le as jurídicos E acrescenta: ‘u dos de eitos raves da or a como se ensino o direito em nossas Universidades é que, em geral, não se apresenta de nenhum desses pontos de vista [o do juiz, o do legislador ou o do advo ado] que per ite ver o direito e u conte to prático’ Por isso, conclui, ‘As aculdades de direito nos dão o conheci ento teórico de normas, e com isso, rudimentos de técnicas classificatórias baseadas naquele conhecimento teórico. O mais – o ofício do advogado – temos que aprender por nossa conta’

O ilustre conferencista da Associación de Abogados de Buenos Aires, com esta reflexão, aponta para uma necessidade facilmente perceptível: a de que os professores de direito levem o estudante a encarar os problemas do mundo jurídico sob a ótica do advogado. Eis aí a chave da questão cujo deslinde ora procuramos! Trata-se, já se vê, de um problema de método. O que se deseja é que os professores, notadamente nas disciplinas de Direito Processual e Deontologia Jurídica, saibam ensinar os alunos a pensar como advogados e adquirirem, ali, nas províncias do direito, desde logo, consciência do comportamento ético que esses devem assumir, na cena judiciária e nos demais campos de atuação profissional.

Para Rodrigues (2005, p. 21):

Profissionalizar os alunos dos cursos de Direito não pode e não deve representar a formação de técnicos em direito positivo, meros exegetas dos

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textos legais emanados do Estado. Fazer isso é desprepará-los para um mercado de trabalho plural onde as normas estatais não são mais as únicas formas efetivas de pacificação e/ou controle social.

Salienta-se, assim, que parece não ser uma prioridade, em relação às Instituições de Ensino Superior mencionadas, sanar e aprimorar as dificuldades da escrita da língua dos ingressantes no curso de Direito (KRIEGER, 2013), bem como aperfeiçoar o aprendizado na área da linguagem para as futuras práticas como discente e profissional jurídico.

Ou, ainda, como descrevem Ribeiro e Santos (2017, p. 10):

[...] verifica-se a obrigatoriedade de atentar-se à deficiência educacional a qual o país atravessa, o que intensifica a preocupação com a carência da linguagem jurídica durante o curso de Direito, bem como no exercício das carreiras profissionais. Disso decorre que estudantes e operadores do Direito deparam-se constantemente com as dificuldades de interpretar leis, produzir textos ou petições, expressarem seus discursos e posições doutrinárias, justamente devido a essa lacuna no aprendizado, seja em nível básico, seja em nível superior.

Tal problema deve ser resolvido com bastante dedicação, enfatizando os estudos nesta área, pois a prática forense e o desempenho eficaz dos discentes de Direito exigem a habilidade e o domínio da língua portuguesa na busca da concretização da justiça.

Para as referidas autoras, ao tratar do tema em debate, essas afirmam que a linguagem é, e sempre será, o meio pelo qual o Direito se propaga. Por isso, é inevitável analisar se as faculdades estão dando a devida importância ao ensino da língua portuguesa e jurídica para o acadêmico. (RIBEIRO; SANTOS, 2017, p. 5).

Desse modo, nota-se que deveria haver uma melhor preparação dos egressos dos cursos de Direito com relação à sua competência mais especificamente profissional (sua formação dogmática e técnica). (RODRIGUES, 2005, p. 45). Isso, pensando em uma atuação que o capacite para os domínios necessários à prática linguística de leitura e escrita, junto a todo o aparato técnico obtido no decorrer de seu curso.

Acerca da matéria Rodríguez (2005, p. XV), salienta que:

[...] seguro é que vale implantar a disciplina de Argumentação Jurídica, como autônoma, nos cursos de Direito, não apenas pelas diretrizes curriculares ora vigentes, mas por fazer parte da formação do aluno, já que neste mundo pós-moderno, por questões que aqui não vale aprofundar, é imprescritível fomentar o trabalho do raciocínio, para que não prevaleça a ilusória impressão de que o excesso de informação importa diretamente em capacidade para a construção do raciocínio. É só.

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Por fim, de acordo com Monteiro (2017), o Direito depende do emprego de sua adequada ferramenta funcional, ou seja, a palavra. Em virtude disso, o uso correto dos signos deve ser objeto de estudo dos operadores do Direito, conforme será observado no próximo capítulo, com a abordagem mais especificamente sobre o componente linguagem e sua relação com a formação acadêmica e jurídica.

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4 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO PARA OS OPERADORES DE DIREITO

Neste capítulo final, serão abordadas as consequências que a falta de estímulo da linguagem pode acarretar aos estudantes e profissionais da área do Direito. A partir disso, será apresentado vícios comuns encontrados em peças jurídicas, tanto de profissionais como de estudantes de Direito.

Toda profissão tem sua linguagem própria, com características que são peculiares, e que todo e qualquer membro pertencente a ela adota naturalmente no seu exercício. A relação dos operadores de Direito com a linguagem, no entanto, torna-se muito mais complexa do que a de outros profissionais, uma vez que ela é o seu instrumento de trabalho. (REOLON, 2010, p. 6).

Um médico, por exemplo, recorre, no seu trabalho, às substâncias, aos instrumentos e aos aparelhos que julga mais adequados para cada caso. Quando escreve é para relatar o que fez ou anunciar o que pretende fazer. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 10).

Continuam os autores (MORENO; MARTINS, 2006, p. 10) que:

Para o advogado, entretanto, tudo é linguagem: esse é único instrumento do que ele dispõe para tentar convencer, refutar, atacar ou defender-se. Também é na linguagem que se concretizam as leis, as petições, as sentenças ou as mais ínfimas cláusulas de um contrato – que não passam, no fundo, de formas peculiares de textos que o advogado terá de redigir ou interpretar. O profissional de Direito, desse modo, precisa conhecer os principais recursos do idioma.

A comunicação escrita requer mais cuidados, assim o estudante de Direito e o profissional dessa área devem dominar um bom vocabulário jurídico, para obter êxito na produção de um texto claro e objetivo. (GONÇALVES; CARNEIRO, 2008, p. 6).

Na sequência, será feita uma abordagem em relação a problemas recorrentes devido à escassez do domínio linguístico no contexto jurídico.

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4.1 A ESCASSEZ DE DOMÍNIO LINGUÍSTICO E AS CONSEQUÊNCIAS AOS ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DE DIREITO

O culto oa lin ua e , às vezes, é meio escasso no dia a dia do operador do Direito, quer se passe nos bancos acadêmicos quer se desenrole nos recantos profissionais. Tem-se encontrado, frequentemente, narrativas pobres ou rebarbativas em conteúdo. (SABBAG, 2015, 18).

Rodríguez (2004, p. 10) ilustra um impasse na prática dos operadores de Direito:

Reconheço a importância do texto argumentativo para a vida do advogado. Tenho conhecimento jurídico mas, na hora de elaborar minha petição, sinto dificuldade de colocar minhas ideias no papel. O que me falta?

Não é raro o caso do profissional que tem boa desenvoltura ao falar, conhece as teses jurídicas, faz audiências e até sustentações orais com competência mas, na hora de escrever, sente dificuldade de expor nos papeis suas ideias. Tem ele a noção de que o puro conhecimento gramatical não lhe adianta para solver esse problema, e procura um ensino mais pragmático, que lhe faça construir qualquer texto com competência e, principalmente, com maior facilidade. Insatisfeito com o tempo que despende em redigir suas petições, seus recursos, memoriais, contratos ou relatórios, procura um método de, por assim dizer, desinibir-se diante da palavra escrita, tornando mais fluente tanto o ato de escrever como a própria leitura de suas peças, que por vezes, parecem ser pouco claras ao leitor.

Uniformemente, para Rodrigues (2005, p. 45):

Nota-se, em diversos momentos, um despreparo generalizado dos egressos dos cursos de Direito, quer seja com relação à sua preparação científica (seu embasamento teórico), quer seja com relação à sua preparação mais especificamente profissional (sua formação dogmática e técnica).

Sabbag (2015, p. 21) complementa a referida constatação afirmando que:

[ ] o desconheci ento do vernáculo torna o advo ado u rá il de ensor de interesses alheios, não sendo capaz de convencer so re o que arrazoa, ne postular adequada ente o que intenciona Pode até es o se ver privado de prosse uir na lide, caso ela ore u a peti ão inicial ininteli ível ou e disson ncia das nor as cultas da ín ua Portu uesa, uma vez que o Códi o de Processo Civil, no art 1 , o ri a o uso do vernáculo e todos os atos e termos do processo.

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O termo vernáculo, utilizado no referido dispositivo legal, alude à pureza idiomática, à clareza e à correção no falar e no escrever pertinentes ao texto jurídico processual. O art. 156 do Código de Processo Civil de 1973, por si só, já é suficiente para justificar o zelo que o profissional do Direito deve ter pelo uso correto das palavras. (VIANA; ANDRADE, 2009, p. 41-42). O Códex de 2015 dispõe que “e todos os atos e ter os do processo é o ri atório o uso da lín ua portu uesa” art 192).

ão o stante o Códi o de Processo Civil anterior e i ia “ atos e unda entos e postos co precisão e clareza” (art. 159, III), o atual determina que o juiz veri ique “de eitos e irre ularidades capazes de di icultar o érito” (art. 284), o que implica a linguagem. (NASCIMENTO, 2013, p. 21).

Sobre a linguagem, o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (aprovado pela Resolução nº 02/2015) estabelece, em seu artigo 28, a se uinte assertiva: “considera -se imperativos de uma correta atuação profissional o emprego de linguagem escorreita e polida, bem como a observância da boa técnica jurídica”.

Também, no Estatuto da Advocacia e da OAB, Lei 8.906/94, no seu art. 34, inciso XXIV, constitui-se in ra ão disciplinar “incidir e erros reiterados que evidencie inépcia pro issional” O arti o trata da situa ão e que o advo ado demonstra falta de conhecimento mediano de atuação profissional ou do idioma pátrio. ( O, 2019, p. 264).

O citado autor, em comento ao artigo (LÔBO, 2019, p. 265), disserta que:

São assombrosos os exemplos de advogados que cometem erros grosseiros sucessivos de linguagem, nas peças que redigem. O discurso é desarticulado, além de agressão às regras rudimentares de regência ou concordância. É inadmissível que um profissional que lida com a linguagem, para exercer seu mister, não a maneje bem. Não se exige proficiência ou erudição, mas regularidade e correção. A condescendência com a inépcia profissional expõe a sociedade em geral a prejuízos, além de comprometer o conceito público e a dignidade da advocacia. Dá-se o tipo quando: a) há erros grosseiros de técnica jurídica ou de linguagem; b) há reiteração. Erros isolados não concretizam o tipo. No entanto, a reiteração pode emergir de uma única peça profissional, quando os erros se acumulem de forma evidente, embora seja recomendável o cotejo com mais de uma. Decidiu, todavia, a Segunda Câmara do CF/OAB (Proc. 2.439/2001/SCA que “erros reiterados devem ser verificados em vários processos e em tempo razoável” Al uns e e plos, e casos jul ados pelo CFOA : quando o advo ado “de onstra raves de ici ncias de or a ão, a ponto de diri ir-se ao Chefe do M. P. invocando poderes somente atribuídos aos Juízes e Tribunais, além de usar expressões sem sentido, cometer erros grosseiros de lin ua e e or ular pedidos ani esta ente inadequados” Proc

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1 7 / 4/ C “ edida anterior do es o jaez, não i pede trata ento idêntico, para a inépcia superveniente” Proc 1 1 / / C “aprova ão e E a e de Orde não si ni ica declara ão, para se pre, de aptidão” Proc 1.608/95/SC). Nesse caso, a suspensão perdura até que o advogado seja aprovado em exames de habilitação aplicados pela OAB, envolvendo técnica jurídica e linguagem. O suspenso fica interditado ao exercício profissional, em todo o território nacional; se descumprir a punição, contra ele será instaurado processo por violação do art. 47 da Lei de Contravenções, por exercício ilegal da profissão.

A advocacia necessita de u a or a ver al adequada, isso porque o jurista não e a ina direta ente os atos, as o e a e da e posi ão deles, e essa exposição consiste, necessariamente, de textos escritos ou depoimentos falados. A corre ão é u pressuposto inad issível o advo ado escrever co erros orto rá icos ou sintáticos. (NASCIMENTO, 2013, p. 21).

O Código de Ética e Disciplina da OAB (BRASIL, 1995), no art. 2°, parágrafo nico, IV, disp e que: “ ão deveres do advo ado: [...] empenhar-se, per anente ente, e seu aper ei oa ento pessoal e pro issional ” o re o re erido artigo, Viana e Andrade (2009, p. 44) comentam:

O artigo utiliza o termo aperfeiçoamento profissional, de modo que abrange também o aprimoramento linguístico e a prudência na produção do texto adequado ao ato processual. Tal zelo é indispensável, visto que a palavra, no cenário de tessitura textual, possibilita ao advogado defender, acusar, afirmar, instigar, indagar, sugerir, persuadir e convencer. Enfim, é o seu instrumento de trabalho, de modo que a sua má utilização pode depreciar consideravelmente o seu trabalho.

Qualquer requerimento necessita ser suficientemente claro para ensejar sua apreciação pelo órgão competente. Isso se materializa com extrema ênfase na petição inicial que, carente dos elementos mínimos que permitam o exercício do direito de defesa, poderá ser indeferida. (GOLD; SEGAL, 2008, p. 7). Conforme preconiza no art. 295 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015):

Art. 295 A petição inicial será indeferida: I – quando for inepta;

[...]

Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: [...]

II – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão.

A boa redação também é exigência presente nas senteças e acórdãos, sob pena de serem alvejados pelo recurso de embargos declaratórios (GOLD; SEGAL,

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2008, p. 7) presentes no Código de Processo Civil, na Consolidação das Leis Trabalhistas e no Código de Processo Penal. Isso porque, todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas, pois seus argumentos serão decisivos para a obtenção de bons resultados, explicando porque aceitou ou reijeitou determinado pedido. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 20).

Devido à importância da linguagem para o mundo jurídico, a Constituição Federal de 1988 estabelece, no caput do seu arti o 1 , que “a lín ua portu uesa é o idio a o icial da Rep lica Federativa do rasil”, e deter ina ta é , no seu arti o 1 , que “o advo ado é indispensável na ad inistra ão da justi a, [ ]” RA I , 1988). Dessa forma, o advogado deve primar pela linguagem utilizada, pois ele exerce uma função pública essencial à administração da Justiça, conforme também consta nos termos do artigo 2° da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB) e do art. 2° do Código de Ética e disciplina da OAB. (VIANA; ANDRADE, 2009, p. 43).

Para co pletar esse entendi ento, e plica a a 201 , p que “u erro em petição, sentença ou acórdão tem o condão de retirar-lhe a pujança e a autoridade, além de espelhar a incapacidade do anunciante”

Percebe-se, assim, a essencialidade, ou seja, a específica forma de utilizar a palavra, escrita ou falada, como instrumento de trabalho dos operadores do Direito. (RIBEIRO; SANTOS, 2017, p. 126).

Ademais, o domínio da escrita da Língua Portuguesa é crucial para o Bacharel em Direito na segunda fase do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Tal prova cobra do candidato a confecção de uma peça profissional e questões discursivas sobre estudos de caso da área jurídica escolhida pelo futuro advogado. (GONÇALVES; CARNEIRO, 2008, p. 7).

Nessa avaliação, muitos são reprovados não apenas por desconhecerem conteúdos jurídicos necessários a sua atuação profissional, mas também por não saberem expressar com clareza o que querem e por cometerem erros absurdos, ferindo, assim, a norma culta da língua. (BARROS NETO, 2005, p. 29).

Grande parte da dificuldade dessa prova respalda-se no fato de o aluno de Direito não se dedicar como deveria durante o seu curso de graduação. Muitas vezes, nas disciplinas de Prática Jurídica, o estudante aproveita modelos já prontos e digitados na internet. Daí a dificuldade de ter que escrever – à mão – uma petição inteira. (GONÇALVES; CARNEIRO, 2008, p. 7).

Referências

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