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CAPÍTULO V: ASPECTOS METODOLÓGICOS

5.2. Desenho da Investigação e Objectivos

5.4.2. Questionários

5.4.2.3. Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar

A Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS) foi construída por Snaith e Zigmond em 1983, com o objectivo de auxiliar os clínicos, na identificação e reconhecimento de componentes emocionais associados a doença física e que podem aumentar o distress desta doença, confundir o diagnóstico e prolongar o tempo de recuperação (Pais-Ribeiro, 2007).

Esta escala propõe-se avaliar a depressão e a ansiedade em doentes que estão em contexto hospitalar. A ansiedade e depressão avaliados são a depressão e ansiedade estado, referindo-se as questões colocadas aos últimos dias (Pais-Ribeiro, 2007).

Zimond e Snaith (1983) explicam que os sintomas apresentados por pessoas com doença podem dever-se a estados emocionais, nomeadamente ansiedade e depressão, e não necessariamente a patologia orgânica.

Os itens da escala foram escolhidos de modo a que não reflectissem a doença física actual, motivo pelo qual, foram eliminados itens tais como perda de apetite e alterações do sono, que podem ser sintomas de outra perturbação emocional ou doença física. Alguns autores designam o construto resultante da junção da ansiedade e depressão como distress (Pais-Ribeiro, 2007).

Apesar do termo hospitalar estar incluído no título, investigações posteriores mostram que esta escala é útil em contextos de saúde de cuidados primários, como centros de saúde, centros comunitários, e até em contextos psiquiátricos, em indivíduos com doença física ou como instrumento de rastreio de ansiedade e depressão (Pais- Ribeiro et al., 2007).

A HADS consiste em duas sub-escalas, uma que mede a ansiedade e outra a depressão, cada uma com sete itens. As duas escalas são classificadas separadamente. Cada item é respondido pelo doente numa escala ordinal de quatro posições (0-3). A nota para cada dimensão varia entre 0 a 21. É um questionário de auto-resposta constituído por 14 itens, demorando entre dois e cinco minutos para ser respondidos (Pais-Ribeiro, 2007).

Apesar de ter sido desenvolvida para identificar dois construtos separados (ansiedade e depressão), Hermann (1997) e Johnston, Pollard, e Hennessy (2000) sugerem que o resultado baseado nos 14 itens da HADS pode ser usado para avaliar o que os autores designam por distress (Pais-Ribeiro et al., 2007).

A escala foi construída com base no conteúdo e confirmada por análise estatística, quer psicométrica, quer clinimétrica (Pais-Ribeiro, 2007).

Bjelland, Dahl, Haug e Neckelmann (2002) desenvolveram uma revisão da literatura de 747 estudos que utilizaram a HADS e verificaram que a sua revisão confirmou a hipótese de que a HADS é um questionário que tem um bom desempenho na avaliação da ansiedade e depressão e de casos de perturbações de ansiedade e perturbação depressiva em indivíduos acompanhados em hospitais não-psiquiátricos. Os resultados da sua revisão suportam a estrutura dos dois factores da HADS. As diferentes traduções da HADS confirmam a consistência interna e suportam a robustez deste instrumento (Bjelland et al., 2002).

A investigação encontrara evidência de que a HADS tem as mesmas propriedades quando aplicada a amostras da população geral, indivíduos acompanhados por médicos de clínica geral e doentes psiquiátricos, comprovando a sua sensibilidade (Bjelland et al., 2002).

Bjelland et al. (2002) afirmam que esta escala tem propriedades tão boas como instrumentos semelhantes utilizados para a identificação de perturbações de ansiedade e depressão, tais como o BDI, STAI, CAS e sub-escalas do SCL-90 Anxiety and Depression, podendo a sua validade ser considerada boa a muito boa.

Mykletun, Stordal e Dahl (2001) examinaram as propriedades psicométricas da HADS numa grande população, num total de 65648 participantes, com idades compreendidas entre os 20-89 anos. Este estudo baseado numa grande população deu suporte à estrutura bidimensional dos factores, verificando-se que as propriedades psicométricas da HADS, como um instrumento de auto-avaliação, devem ser consideradas como muito boas em termos de estrutura factorial, validade e fidelidade.

A versão portuguesa desta escala designa-se Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar, desenvolvida por Pais-Ribeiro et al. em 2007. A versão portuguesa da HADS foi estudada em 1322 doentes com doenças como cancro (mama, ovário, útero), acidente vascular cerebral, epilepsia, diabetes tipo 2, doença cardíaca coronária, obesidade mórbida, depressão, distrofia miotónica, apneia do sono, bem como, mais um grupo sem doença como controlo (Pais-Ribeiro et al., 2007). O estudo da versão portuguesa da HADS confirma que é um instrumento fiel e válido para avaliar a ansiedade e a depressão em contextos médicos e em populações com doença.

Não existem alterações na versão portuguesa relativamente à forma original, apresentando propriedades métricas idênticas à versão original e semelhantes a outras versões adoptadas para outros idiomas. Para além do estudo exploratório e das propriedades métricas básicas e da sensibilidade, a versão portuguesa da escala foi submetida a análise factorial confirmatória que confirma o ajustamento do modelo de dois factores tal como os autores originais propõem (Pais-Ribeiro, 2007).

Os valores normativos apresentados no manual da HADS indicam que uma nota entre “0” e “7” é “normal”, entre “8” e “10” “leve”, entre “11” e “14” “moderada” e entre “15” e “21” “grave”. Segundo Pais-Ribeiro (2007), vários estudos recomendam um ponto de corte entre possível existência de ansiedade e depressão versus ausência em 8/9. Contudo, este valor não foi estudado para a população portuguesa. No entanto, dada a semelhança das restantes propriedades métricas com as versões originais e adaptadas para outros países pode-se assumir, para efeitos de rastreio estes valores (Pais-Ribeiro, 2007).

Pais-Ribeiro et al. (2007) afirmam que, o instrumento é útil no contexto dos cuidados de saúde, por ser breve, aceitável para os pacientes, facilmente compreensível e fornecer informações claras sobre a interpretação dos resultados.

No presente estudo verificou-se que as duas sub-escalas da HADS apresentam um valor de Alpha de Cronbach razoável (os valores dos Alpha de Chronbach são todos superiores a 0,70) e que, deste modo, se trata de uma escala fiel (quadro 5).

Quadro 5: Valor de Alpha de Cronbach para as duas sub-escalas e escala total da HADS no presente estudo

Alpha de Chronbach Número de Itens

Escala Total 0,854 14

Sub-escala Depressão 0,775 7

Sub-escala Ansiedade 0,792 7

5.5. Procedimento