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PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2. OS FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DA DECISÃO

2.4. O Processo de Apoio à Decisão

2.4.6. Escalas de Atratividade Escala Cardinal de Intervalos e de Razão

No que se refere aos tipos de escala de atratividade, é importante diferenciar uma escala cardinal de intervalos de uma escala de razões, termos usados no capítulo 4.

A técnica proposta pelo MACBETH, auxilia a construção de uma escala cardinal de atratividade através de juízos absolutos sobre a diferença de atratividade entre duas ações, ou seja, trabalha-se com uma escala de intervalos, em que só tem sentido comparações em termos de razão de dois intervalos quaisquer, independente da unidade de mensuração e da origem da escala. Para este tipo de escala é permitido transformações do tipo <|)(x) = a.x + ß, a > 0. Assim, numa escala cardinal de intervalos, valores referentes à avaliações de ações alternativas não têm significado quando isolados.

Quando uma escala tem todas as características de uma escala de intervalos e, além disso, tem um verdadeiro ponto zero como origem, é chamada escala de razões. Em uma escala de razões, a razão de dois pontos quaisquer da escala independe da unidade de mensuração. Medidas de massa e comprimento são exemplos de escalas de razões. São permitidas transformações do tipo <|> (x) = a.x, com a > 0.

METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO

DO MODELO DE AVALIAÇÃO

- CONVICÇÕES E PROBLEMÁTICAS

“Some men see things as they are and ask why; others dream of things as they might be and ask why not.”

Robert Kennedy.

As duas grandes fases de uma metodologia multicritério de apoio à decisão, a estruturação e a avaliação, são tratadas nos dois próximos capítulos. Antes de ser apresentada a fase de estruturação, o presente capítulo descreve o processo a ser seguido na construção e aplicação de um modelo de avaliação.

São discutidos os problemas inerentes a cada fase do processo de apoio à decisão, que possam dar margem a possíveis hesitações e interrogações, e como proceder perante os mesmos de forma a ultrapassar os obstáculos que se ponham no caminho da construção de um modelo mais ou menos formalizado, apropriado como resposta à demanda apresentada pelos atores. As idéias de base sobre as quais se assenta todo o processo de apoio à decisão são também expostas. Em outras palavras, a metodologia é aqui dissecada sob a denominação de convicções e problemáticas.

3.1. AS CONVICÇÕES DE NATUREZA METODOLÓGICA

Sobrepondo-se às divergências das escolas americana e francesa, Bana e Costa (1993) apresenta, dentro de uma perspectiva de integração, três convicções de natureza metodológica, consideradas pelo autor como pilares fundamentais na prática da atividade de apoio à decisão e que norteiam o desenvolvimento deste trabalho:

• a convicção da interpenetração de elementos objetivos e subjetivos e da sua inseparabilidade;

• a convicção do construtivismo; e

• a convicção da participação.

A respeito da interpenetração de elementos objetivos e subjetivos e da sua inseparabilidade, Bana e Costa (1993) descreve o processo de decisão como um sistema de relações entre elementos de natureza objetiva, próprios às ações, e elementos de natureza subjetiva, próprios aos sistemas de valores dos atores. Como este sistema é indivisível, um estudo de apoio à decisão não pode negligenciar nenhum destes aspectos.

Na verdade, ao se procurar esclarecer ou apoiar uma decisão, usando-se um modelo abstrato, onde elementos primários, julgados importantes, são identificados, agrupados, categorizados, organizados, tornados operacionais e agregados por meio de fórmulas matemáticas, busca-se a objetividade. Cada uma das fases deste processo resulta de atividade humana tentando representar a realidade complexa da forma que vê.

Desta forma, pode-se dizer que um modelo de avaliação é sempre subjetivo, a partir do momento que incorpora o resultado de um processo cognitivo baseado no sistema de valores dos atores, onde procura-se identificar quais elementos primários devem ser considerados; quais são os elementos mais ou menos importantes numa

decisão; que ações considerar; quais conseqüências são mais desejáveis; o quanto uma ação é mais preferível que outra, segundo um dado ponto de vista.

Não há modelos objetivos com validade universal que identifiquem a solução ótima. As ações têm características que se revelam como importantes para uns atores e sem importância para outros. A objetividade das características das ações está intrinsecamente relacionada à subjetividade do sistema de valores dos atores. Não há como separar estes elementos no processo de decisão, pois a subjetividade é ubíqua. Assim, tentativas de isolar as características das ações dos objetivos dos atores não têm sentido.

Na fase inicial do processo de apoio à decisão, dada a subjetividade dos elementos primários de avaliação, características das ações e objetivos dos atores, o problema apresenta-se, em geral, como uma massa disforme de elementos, tanto para um observador externo quanto para os intervenientes no processo. Esta massa deve ser trabalhada, na fase de estruturação, pelos intervenientes no processo decisório, de forma interativa, utilizando-se um conjunto de instrumentos que permitam avançar no processo de estruturação mantendo a coerência com os objetivos e valores dos intervenientes.

A abordagem construtivista integrando a idéia de aprendizagem tem se apresentado como a mais adequada para conduzir o processo de apoio à decisão. Assim, nesta abordagem, o facilitador ajuda a construir um modelo de preferências através da busca de hipóteses de trabalho com o objetivo de fazer recomendações e, o envolvimento dos atores se dá durante todas as fases do processo de apoio à decisão.

“E essencial conhecer as hipóteses teóricas subjacentes a cada um dos instrumentos analíticos disponíveis para apoiar a tomada de decisões. Mas isto não significa minimamente que, ao optar-se por uma abordagem construtiva, essas hipóteses de base tenham de ser consideradas como “normas para prescrever” uma vez “aceitas”; elas deverão ser vistas como “hipóteses de trabalho para recomendar”, adotando uma atitude permanente de discussão crítica dos instrumentos (“chaves”) que vão sendo utilizados no decurso de um processo interativo de aprendizagem” (Bana e Costa, 1993).

A última convicção, a da participação, e por conseqüência da aprendizagem, se apoia na inexistência de um procedimento genérico de estruturação e na natureza mal definida da maioria dos problemas de decisão. Os modelos de avaliação são gradualmente construídos, onde procura-se trabalhar usando uma linguagem comum aos intervenientes e ferramentas analíticas simples, num processo interativo que culmina num modelo de avaliação partilhado pelos intervenientes. Segundo Bana e Costa (1993), a simplicidade e a interatividade devem ser as linhas de força da atividade de apoio à decisão, para abrir as portas à participação e à aprendizagem.

Estas convicções passam a ter uma maior importância ao se apresentar um problema novo. Algumas vezes, um processo de decisão está bem delimitado, ou por já existirem modelos de referência sobre os quais as discussões se apoiam ou por estar sendo desenvolvido dentro de organizações que definem bem as fronteiras do problema. No presente trabalho não há modelos definidos a priori, não há limites bem definidos, seja no que se refere à precisão ou à forma da análise, seja no que se refere às ações a serem avaliadas. Dentro deste contexto, há a certeza que qualquer outra forma de levar o processo avante não seria adequada, caso não fossem baseadas nas convicções do construtivismo, da participação e da interpenetração de elementos objetivos e subjetivos. A participação dos atores, a liberdade de criar e recriar e aprender e a certeza que o modelo deve refletir seus sistemas de valores, ou seja, a subjetividade do modelo, foram fundamentais em todas as fases do processo, com destaque para a fase de estruturação.

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