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Mudanças Ambientais Recentes ocorridas no Setor da Construção Civil à Nível

PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.3. Mudanças Ambientais Recentes ocorridas no Setor da Construção Civil à Nível

Na Indústria da Construção Civil, mais especificamente no subsetor edificações, a análise do ambiente, à nivel nacional, é feita por diversos estudiosos.

Para Leusin (1993), as condições econômicas e mercadológicas anteriores não mais existem: financiamentos fartos, permitindo repassar custos indefinidamente e alimentando um mercado francamente comprador, que aceitava produtos sem maiores controles qualitativos. Segundo o autor, as novas condições do mercado provocaram uma queda da demanda efetiva, deprimindo os preços dos produtos e, consequentemente, as margens de lucro bruto dos empreendimentos.

Farah (1993) em seu trabalho, se atém às estratégias adotadas, relacionadas às mudanças ambientais, e sua relação com os trabalhadores. No que se refere às mudanças ambientais, ela descreve: “diante da crise que atingiu o setor, os custos de construção, a eficiência na utilização de recursos e a qualidade da edificação ganharam importância, num mercado em retração e mais exigente, a concorrência se intensificou”.

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A abertura do mercado nacional, a criação do Mercosul, a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços públicos, a nova Lei de Licitações e Contratos e a redução nos preços de obras públicas, residenciais, comerciais e industriais são algumas das transformações ocorridas no cenário produtivo e econômico. Além destas transformações, no que se refere aos clientes, mudanças no comportamento deste elemento são evidentes: progressivamente aumentaram as

exigências em relação à qualidade das obras e à partir de março de 1991, estas exigências passaram a ter apoio legal, quando entrou em vigor o Código de Defesa do Consumidor, que estabelece uma série de regras para a relação produtor/consumidor, impondo sanções pesadas aos projetistas, fabricantes e construtores, no caso de ocorrerem falhas no produto em uso ou vícios de construção. Quanto aos aspectos sociais, ressalta-se a maior organização e conscientização dos trabalhadores da construção, ocorrida nos últimos anos (Souza et al, 1994).

Este movimento de mudanças é classificado e sintetizado por Picchi (1993) de acordo com os seguintes itens: a) restrições de mercado, provocada pela diminuição dos recursos financeiros para o setor e queda do poder aquisitivo dos assalariados; b) maior grau de exigência dos clientes, fenômeno que vem ocorrendo em todos os setores, e teve um importante marco com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em 1991; c) evolução do grau de organização e reivindicação da mão-de-obra; d) influência dos conceitos de garantia de qualidade implantados, na década de 80, pela Petrobrás e anteriormente pela construção pesada na construção de usinas nucleares, que chegam agora, com certa defasagem, ao setor de edificações; e e) desenvolvimento tecnológico através da racionalização da construção, que exige menores investimentos e permite maior flexibilidade.

Estas descrições sobre as transformações ocorridas no ambiente refletem a influência deste sobre as empresas, bem como a necessidade de monitorar tais mudanças. Longe de constituir-se uma percepção individual distorcida da realidade objetiva, estas mudanças ambientais, continuamente discutidas, representam sim, a realidade do mercado atual.

Assim, as organizações passam, como resultado das novas condições de mercado, a sentirem necessidade de interagir com o seu meio ambiente mudando suas estruturas de sistema fechado para sistema aberto (Oliveira, Radharamanan e Cunha, 1995).

Evidencia-se, portanto, a importância da análise do ambiente, através da análise dos seus constituintes críticos. Toda mudança do ambiente está relacionada com um ou mais destes constituintes, ou seja, com os elementos que compõem o ambiente específico e afetam a empresa. Assim, os órgãos financiadores, que gerenciam os recursos destinados ao subsetor; o governo que estabelece regras; os trabalhadores, que reivindicam melhores condições ou os clientes que alteram suas expectativas e exigências, bem como as próprias empresas, que buscam inovar, provocam alterações no ambiente, tornando-o cada vez mais dinâmico, mais exigente e competitivo.

1.3.1. A Era da Competitividade na Construção Civil

A Construção Civil carrega o estigma de ser um dos setores mais atrasados na economia, principalmente no que se refere à construção de edifícios. Observa-se um hiato considerável entre as práticas das empresas da construção e as demais indústrias. Se as empresas ainda estão longe de um ponto razoavelmente satisfatório, também não estão num quadro de paralisia generalizada. Na verdade, se observa uma movimentação de boa parte das empresas buscando novas posturas estratégicas (Luna e Oliveira, 1994).

Diversas empresas do ramo já iniciaram mudanças, visando atender as necessidades dos clientes e/ou despertar novas necessidades. Como resultado da mudança ambiental, descrita anteriormente, o setor entra com certo atraso na era da competitividade. Empresas, precursoras na busca pela qualidade e produtividade como forma de sobrevivência, estão forçando as demais a seguirem suas trilhas. Constata-se que as empresas do setor, de forma geral, estão procurando formas de competir neste novo ambiente, seja através de mudanças radicais ou superficiais. Mudanças relacionadas com os recursos humanos, com as técnicas construtivas e materiais e com a forma de gerir o processo da construção, desde a fase de concepção até a fase de uso e manutenção do produto, são observadas.

1.3.2. As Estratégias de Mercado

As empresas dispõem de dois tipos de estratégias de marketing como forma de se dirigir ao mercado: a da difusão, que consiste em espalhar os produtos pelo mercado afora, sem se preocupar com quaisquer diferenças que possam existir entre os compradores em potencial e a da segmentação, que parte da premissa inversa: a demanda não é uniforme, mas sim heterogênea, o que justifica uma concentração dos esforços de marketing em determinadas fatias específicas do mercado (Richers,

1991).

A segmentação, longe de ser uma poderosa arma estratégica, é uma particularidade do setor da construção civil, dada as características do produto final. Mascaro (1981) descreve que este produto é o bem mais caro, de maior vida útil e que serve de referencial para a aquisição de todos os outros produtos de mercado. Na verdade, esta segmentação natural no setor seguia critérios econômicos. Hoje, uma segmentação exclusivamente econômica não é mais suficiente. Para superar os concorrentes, as empresas devem procurar atingir segmentos específicos do mercado, cada vez mais pluralista, e oferecer produtos diferenciados, com características exclusivas, que agreguem valor ao produto.

A estratégia de concorrência também pode ser classificada a partir de uma visão dicotômica entre os tipos de produtos, produtos homogêneos e diferenciados, e os tipos de mercados, oligopolista e competitivo. Identifica-se quatro tipos de mercado: o mercado competitivo homogêneo, onde existe competição por preço, mas não diferenciação por produto; o mercado competitivo diferenciado, onde ambos mecanismos de competição, por preço e por diferenciação de produtos estão presentes; o mercado oligopolista homogêneo onde não ocorre nem competição por preço nem por diferenciação de produto e; o mercado oligopolista diferenciado onde existe competição por diferenciação de produto, mas não por preço (Guimarães apud Toledo, 1987).

A estrutura de mercado na construção de edifícios, dentro da classificação de Guimarães se mostra como competitiva diferenciada, onde as empresas concorrem

de diversas formas. Isto se deve aos produtos da construção serem produtos claramente diferenciados e à existência de uma enorme quantidade de empresas construtoras, o que confere um elevado grau de competitividade ao setor, mais especificamente ao subsetor edificações, cuja concorrência aumentou na última década pela falta de financiamentos e pelo deslocamento das empresas que construíam obras públicas para este subsetor.

Cavalcanti (1991) ressalta que o grande problema, comum a todas as organizações nestas décadas de 80 e 90, é a dificuldade de adaptação não tanto às modificações de seu ambiente, mas à aceleração na freqüência com que ocorrem essas modificações. O autor agrupa estas mudanças no ambiente das organizações nas que aumentam a instabilidade nos ambientes econômico e político e, nas que aumentam a agressividade do ambiente, agressividade de concorrentes com novos produtos, com custos e preços decrescentes e estratégias mercadológicas radicais.

Frente a um ambiente instável e agressivo, determinar quais as características que o imóvel deve ter e quais os atrativos a serem incorporados ao produto para aumentar seu valor, sem aumentar excessivamente os custos, corresponde a procurar ser competitivo, como forma de garantir a sobrevivência da empresa. Aos projetistas cabe esta responsabilidade, tomar decisões sobre as características do produto final de acordo com as necessidades e o poder de compra dos clientes, otimizando os recursos tecnológicos, humanos e econômicos disponíveis, dotando o produto de características competitivas, seguindo a estratégia definida pela empresa. Em outras palavras, a grande responsabilidade pelo sucesso de um empreendimento está, muitas vezes, nas mãos de profissionais que trabalham isolados dos clientes, sejam estes clientes internos ou externos.

Na verdade, deve-se procurar usar mais as informações que os clientes podem oferecer. Richard Whiteley (1995) faz uma observação neste sentido: “Acredito que muitas organizações hoje estão dirigindo seu foco para seus clientes, enviando pesquisas, criando grupos de opinião, ouvindo-os de várias formas. Mas não estão agindo. Não deixam que a opinião dos clientes oriente as decisões que tomam em seus negócios.”

Diversas técnicas disponíveis atualmente podem servir de apoio a este tipo de decisão que incorpora o juízo de valor dos clientes, tornando-a mais clara e susceptível a análises. Há necessidade de se usar ferramentas que possibilitem a análise dos produtos segundo aspectos quantitativos e qualitativos, permitindo maximizar o valor do produto, otimizando recursos disponíveis. As metodologias multicritérios de apoio à decisão tornam exeqüível este tipo de análise.

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