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2   MODELO: CONCEITOS E APLICAÇÕES NO ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO

2.2   APLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO DO ARQUITETO E URBANISTA 53

2.2.1   Escalas do projeto 53

Boutinet (2002, p. 161) define a atividade do arquiteto como “um trabalho de invenção estimulado por uma negociação permanente”, materializado pelo projeto o qual denomina de “esboço da criação”. O projeto é, na visão do autor, o instrumento de antecipação do objeto de criação. Para Boudon (2000), o projeto significa o trabalho de elaboração que precede a realização de um edifício.

O projeto acompanha o arquiteto em toda a sua vida profissional, desde a sua formação, quando todas as atividades são voltadas para a educação de um profissional com visão generalista.

Desde que o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil passou a ser regulado pelos órgãos governamentais, o projeto, nessa área, foi tratado de diferentes formas.

No primeiro Currículo Mínimo definido pelo então Ministério da Educação e Cultura em 1962 para o ensino de Arquitetura (MEC, 1962), o projeto era definido como Composição Arquitetônica – nas escalas da composição arquitetônica de interiores, de exteriores e do planejamento – e o planejamento urbano como Evolução Urbana.

No Currículo Mínimo de 1969 (MEC/CFE, 1969), todas as escalas da intervenção arquitetônica, foram fundidas em um só conteúdo denominado de Planejamento Arquitetônico.

O planejamento arquitetônico constituirá a atividade criadora aplicada, quer quanto à Arquitetura das habilitações e edifícios em geral, quer quanto a projetos de objetos (arquitetura interior), quer a cidades e regiões (planejamento urbano e regional). Programas específicos objetivarão problemas do maior interesse social: escolas e hospitais, estádios e teatros, clubes e parques recreativos, residências populares, subúrbios, cidades indústrias e cidades-satélites, e outros reclamados pela comunidade e pelo desenvolvimento, atendendo-se às preferências dos alunos e às possibilidades da escola. (MEC/CFE, 1969, § 6o do Art. 1o, grifo

nosso).

Esse regulamento uniu a formação de Arquitetura com a de Urbanismo em um só curso adotando o conceito de habilitação única. Esse princípio já era adotado em alguns cursos como o da USP e da UFRJ. A formação na graduação passou a ser oficialmente tratada como generalista.

Nos normativos seguintes o planejamento urbano e regional foi separado dos projetos de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo – na Portaria 1770/94 de 1994 ao discriminar as matérias profissionalizantes (MEC, 1994), e nas Resoluções nº 6 de 2006 (MEC/CNE/CES, 2006) e nº 2 de 2010 (MEC/CNE/CES, 2010) ao especificarem o núcleo de conhecimentos profissionais.

Atualmente no Brasil a educação do arquiteto e urbanista está regulamentada pela Diretriz Curricular Nacional – DCN – para os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, contidas na Resolução nº 2, de 17 de junho de 2010 do Conselho Nacional de Educação (MEC/CNE/CES, 2010).

A DCN determina que os projetos pedagógicos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo devem assegurar,

[...] a formação de profissionais generalistas, capazes de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidade, com relação à concepção, à organização e à

construção do espaço interior e exterior, abrangendo o urbanismo, a edificação, o paisagismo, [...] (MEC/CNE/CES, 2010, Parágrafo 1o do

Art. 3o)

A DCN define ainda que o perfil do egresso deve ser de um profissional com “[...] habilidades necessárias para conceber projetos de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo [...]”. (MEC/CNE/CES, 2010, Inciso III do Art. 5o, grifo

nosso).

Podemos afirmar que nas suas diversas escalas, o projeto é por excelência, o objeto central da formação em Arquitetura e Urbanismo, um eixo estruturante do ensino de Arquitetura e Urbanismo. É corrente a expressão de que seria a espinha dorsal dos cursos de Arquitetura e Urbanismo. O conjunto de “matérias do ensino da prática projetual” é considerado o núcleo do currículo de Arquitetura, a tarefa essencial do Arquiteto (MARTINEZ, 2000, p. 55). Na prática, porém, verifica-se que em grande parte dos cursos há uma dissociação do ensino do projeto do edifício do ensino do projeto da intervenção urbana. Essa cisão é refletida na estrutura curricular dos projetos pedagógicos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo do País nos quais as áreas de projeto de Arquitetura e Estudos Urbanos não interagem, não se integram. Quando se fala em projeto, faz-se sempre a referência ao projeto do edifício e, quase que unanimemente quando se fala em Urbanismo nunca se quer mencionar o projeto urbano ou o desenho urbano. Parte dessa dissociação pode ser creditada ao perfil de formação do corpo docente, tanto na graduação quanto na pós-graduação.

Malard (2005, p. 83) discutindo o ensino levanta a questão da indissociabilidade entre Arquitetura e Urbanismo. A autora defende que o projeto como antecipação da existência de espaços reais, segue procedimentos metodológicos similares, seja ele destinado a execução de uma edificação ou de um parcelamento de solo. Adotando esse entendimento, quando há referência a projeto nesta pesquisa, procura-se compreendê-lo como a atividade acadêmica propositiva na qual o sujeito – estudante de Arquitetura e Urbanismo – irá desenvolver uma proposta de intervenção no espaço em qualquer das escalas e níveis de complexidade possíveis.

Esse entendimento se faz necessário, pois a modelagem geométrica e a posterior prototipagem rápida referida no objeto de estudo, tanto pode ser utilizada em projetos de urbanismo (Figura 31), projeto de edificações (Figura 32), projeto de

paisagismo, maquete para avaliação de desempenho (Figura 33), projeto de ambientação (Figura 34) assim como em projetos de intervenção no patrimônio histórico (Figura 35).

Figura 31 – Maquetes de estudo no desenho urbano

Fonte: Pupo 2009, p. 176.

Figura 32 – Maquetes de estudo de edifício – TFG UNICAMP

Figura 33 – Maquetes para teste de eficiência de dispositivo de ventilação

Fonte: Pupo, 2009, p. 32.

Figura 34 – Maquetes para estudo de layout de exposição

Fonte: Acervo da professora Gabriela Celani da UNICAMP.

Figura 35 – Maquetes para estudo de intervenção em edificações históricas

O objetivo dessa sessão foi delimitar o recorte das escalas do projeto tratadas nesta tese, nas quais a modelagem geométrica e a prototipagem digital podem ser utilizadas como ferramentas na linguagem arquitetônica utilizada por professores (instrutores) e estudantes no processo de ensino aprendizagem do projeto.