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2   MODELO: CONCEITOS E APLICAÇÕES NO ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO

2.1   CONCEITOS 28

2.1.1   Modelo físico 30

Segall (2007) define a modelagem física como “Modelagem Real” e afirma que ela é essencial como meio de expressão da criatividade e comunicação entre os interlocutores no processo de ensino e aprendizagem próprio da formação profissional do arquiteto.

A modelagem física quando articulada ao desenho feito à mão e às representações eletrônicas e integrada ao processo de projetual desde os primeiros momentos pode se constituir em um processo de conhecimento, de descoberta e criação da Arquitetura (ROZESTRATEN, 2004).

Knoll e Hechinger (1992, p. 10) classificam as maquetes de acordo com a tipologia em maquetes topográficas (de um terreno, de uma paisagem ou de um jardim), maquetes de edificação (de urbanismo, de um edifício, de uma estrutura, de um espaço interior ou de detalhes) e maquetes especiais (de móveis ou de produtos).

Os autores afirmam ainda que as maquetes de edificações podem ser produzidas ao longo de três fases diferentes de um projeto: no anteprojeto, a maquete de conceito; no desenvolvimento do projeto, a maquete de trabalho; e na execução, a maquete de execução.

As maquetes topográficas de um terreno quase sempre são produzidas como maquetes de trabalho sobre as quais se desenvolvem as análises e estudos durante o desenvolvimento do processo de projeto. No caso de serem utilizadas como instrumento de análise as maquetes topográficas do terreno assumem a função de Modelo Físico de Análise (Figura 5).

Figura 5 – Maquete de terreno com curvas de nível: em cartão com corte a laser

Fonte: Trabalho Final de Graduação de Barbara Elali - CAU/UFRN, 2012.2.

Para Mills (2007, p. 24) maquetes de conceito são utilizadas geralmente nas fases iniciais com a finalidade de explorar características abstratas de um projeto. O autor também se refere a maquetes de volumes e de cheios e vazios como modelos físicos aplicáveis à fase iniciais de desenvolvimento da proposta. Para esse autor maquetes preliminares de conceito, de volumes ou de desenvolvimento, são consideradas maquetes de estudo (Figura 6) cuja função é gerar ideias de projeto e servir como veículos para aperfeiçoamentos.

Figura 6 – Maquetes de estudo

A expressão maquete de estudo implica na possibilidade de novas investigações e aprimoramentos. A maquete de estudo – feita rapidamente, com materiais simples (papelão, isopor, massas, arame, etc.) no ateliê, sobre a própria mesa de trabalho – pode constituir um laboratório de experimentação por meio do qual as características (qualidades e deficiências) do projeto se revelam de maneira mais rápida, direta e completa do que no desenho. Não é necessário o emprego de máquinas ou ferramentas especiais, e sim, de materiais de fácil aquisição e manuseio (KNOLL; HECHINGER, 1992, p. 11). Rocha (2007, p. 22) se refere à “maquete como croqui” [sic] e enfatiza a necessidade de se produzir maquetes durante o processo de projeto. O autor considera "[...] a maquete como instrumento de desenho [...] que faz parte do processo de trabalho" [sic], refere-se ao modelo produzido dessa forma como “[...] a maquete em solidão!" [sic] São modelos simples que não são para serem vistos por ninguém além do projetista, aquela "[...] que você faz como ensaio daquilo que está imaginando”. Esse objeto tridimensional permite alterações e intervenções no projeto aprimorando a proposta ao longo do processo de concepção. Nesse sentido a “maquete como croqui” referida por Rocha (2007) (Figura 7) tem as mesmas características da “maquete de estudo” de Mills (2007), e neste trabalho é tratada como Modelo Físico de Estudo.

Figura 7 – Maquete de estudo para Praça dos Museus da USP – Paulo Mendes da Rocha

Fonte: Rocha (2007, p. 3)

Na Maquete de Trabalho, algumas características formais já estão definidas e já é possível fazer avaliações de desempenho e de funcionamento das soluções adotadas. É utilizada, segundo Knoll e Hechinger (1992) principalmente na

fase de desenvolvimento do projeto. Ferramentas e materiais mais especializados podem ser utilizados. Devem poder ser modificadas com facilidade e podem ter durabilidade limitada. Mills (2007) refere-se a esse tipo de maquete como maquete de desenvolvimento (Figura 8), aquela que se aplica quando as decisões iniciais já foram tomadas e a geometria já está decidida. Nesse estágio se desenvolvem análises complementares e refinamento de detalhes. Nesta tese a maquete nesse nível é referida como Modelo Físico de Trabalho.

Figura 8 – Maquete de desenvolvimento

Fonte: Mills (2007, p. 27).

Nesta pesquisa as maquetes são referidas de acordo com as fases projetuais nas quais estão inseridas, e são denominadas de Modelo Físico de

Análise, Modelo Físico de Estudo e Modelo Físico de Trabalho.

O modelo físico é uma mídia com vasto potencial de aplicação devido ao fato de que suas informações são assimiladas dinamicamente e intuitivamente, apesar da diferença de escala entre modelo e realidade.

A modelagem geométrica apresenta similaridades e diferenças com modelagem física (BREEN et al., 2003). Computadores podem ser usados para desenhar, porém seu maior potencial está na criação de um ambiente virtual que pode ser percebido em escala real. Entretanto, sua limitação está na visualização do todo, que limita o alcance de detalhes. A manipulação do aproximação (zoom in) e do distanciamento (zoom out) implica em perda de informações. Para atenuar, são explorados diversos recursos de visualização e de camadas. Por mais que se crie a sensação de imersão no modelo, a percepção continua limitada porque ainda consiste em observação de uma imagem em um monitor. Outra limitação encontrada

pelos autores é a ausência de imperfeições do modelo, que se traduz em falta de personalidade e falta de carisma presentes no modelo físico.

O nível de detalhes dos modelos depende do seu objetivo. Maquetes de edificações que visam a venda de imóveis buscam passar a informação de como ficará o projeto depois de construído e se destina a clientes leigos, geralmente pouco familiarizados com a área de arquitetura. Por isso buscam reproduzir o projeto como um todo, da forma mais sedutora possível. Certamente o detalhamento está voltado para a reprodução das características de envoltórias e humanização do projeto. Modelos também podem representar apenas uma fração de uma edificação e ser repleto de detalhamentos com o objetivo específico de simular uma situação e avaliar seus efeitos. Por exemplo, há modelos para avaliação da incidência da luz natural que requer fiel reprodução das características superficiais internas e aberturas, como os desenvolvidos no Laboratório de Conforto Ambienta (LabCon) (Figura 9) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como a ênfase é a distribuição de luz natural interna, o detalhamento ocorre no interior da maquete, enquanto que seu exterior pode apresentar qualquer aspecto, sem necessidade de aprimoramento de seus detalhes.

Figura 9 – Emprego de maquetes para avaliação da distribuição da luz natural: (a) modelos diversos, (b) maquete de uma igreja e (c) olho mágico para visualização da incidência da

iluminação natural no interior do ambiente

(a) (b) (c)

Fonte: Laboratório de Conforto Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina. Desde que devidamente planejadas, as maquetes podem evoluir para elementos de bancadas de medição, como a quantificação da distribuição da luz natural (CALCAGNI; PARONCINI, 2004). Nesse caso, além do esmero no detalhamento, ela passa a incorporar equipamentos de medição devidamente planejados (Figura 10).

Figura 10 – Emprego de maquetes para quantificação da distribuição da luz natural: (a) maquete instrumentada, (b) pontos internos de medição

(a) (b) Fonte: Calcagni e Paroncini, 2004.

Da mesma forma modelos podem ser utilizados para avaliações de desempenho e medições quanto à ventilação natural, quanto a eficiência de elementos de proteção solar e sombreamento.