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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONTEXTUAL

6. ESCOL’artes

O ESCOL’Artes, como agora se denomina, é um projeto artístico-pedagógico que envolve toda a comunidade escolar madeirense e que tem como fundamental objetivo a partilha, com toda a comunidade do arquipélago, do trabalho realizado pelas escolas de 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico, no âmbito das áreas de educação artística lecionadas naqueles níveis de ensino, num espírito de simbiose que interligue todas as modalidades: canto coral, expressão dramática, dança, cordofones madeirenses e instrumental. Tendo em vista a apresentação de dois espetáculos no final do ano letivo no Funchal, gravado para posterior transmissão pela RTP Madeira, as escolas dos diversos concelhos da Região Autónoma desenvolvem a sua parte no alinhamento do espetáculo, subordinando-se a um tema proposto pela DSEAM, que distribui por cada concelhia escolar os diversos conceitos a trabalhar.

Nos dias de hoje, e devido ao facto de os espetáculos do ESCOL’artes serem objeto de transmissão televisiva em diferido, verifica-se uma grande preocupação com as questões técnicas, sendo gravados todos os playbacks instrumentais e corais, assim como todo o plano oral da representação. Esta contingência obriga a que a produção tenha que arrancar muitos meses antes da apresentação pública: nas escolas, os professores de apoio são responsáveis pela criação de guiões narrativos, seleção musical, exploração de cenas, ensaios com instrumental, coral e oralidade teatral ao vivo, gravações em estúdio, ensaios com playbacks, construção de cenários e adereços. Obviamente que todo este processo de implementação do projeto tem os seus custos, distribuindo a DSEAM, de forma equitativa por cada concelho, um orçamento e a respetiva verba.

Cada espetáculo implica a deslocação ao Funchal das escolas dos restantes concelhos do arquipélago, realizando-se um ensaio geral in loco no período da manhã, preparando a apresentação que se realiza da parte da tarde. Esse mesmo ensaio serve também para que a equipa de realização da RTP Madeira possa conhecer o mise-en-scène e planear a distribuição de câmaras e planos a captar no decorrer do espetáculo.

madeirense. No entanto, para se chegar ao formato, que hoje em dia é um dos momentos mais marcantes da Semana Regional das Artes, inserida no Festival do Atlântico, percorreu-se um longo caminho desde 1982, ano em se realizou a primeira edição do projeto, então denominado MUSICAEP, e que compreendia os alunos do então designado ensino primário.

A essência do MUSICAEP era a celebração do encerramento das atividades letivas, uma oportunidade para que se desse a conhecer o trabalho feito nas escolas, valorizando-se, assim, a componente artística no ensino primário, de maneira a legitimar e fomentar uma oferta educativa que havia surgido poucos anos antes.

Damos conta, aqui, uma de resposta contida em entrevista de Carlos Gonçalves sobre as atividades, conforme anexo no final do trabalho: «[…] a

valorização que os pais, os professores, a comunidade em geral e os próprios governantes davam às artes não tem nada a ver com a que é dada hoje. Eram outros tempos completamente diferentes». (vd. anexo I)

E era, pois, importante fazê-lo dentro das escolas, mas também fora delas num evento planeado, programado e implementado num espaço privilegiado no Funchal, com a primeira edição a ter lugar no Casino da Madeira, um dos ex-libris da capital do arquipélago. Sem instrumentais gravados, nem playbacks, e com os professores a tocar todo o tipo de instrumentos, os alunos cantavam, dançavam e representavam. Nos anos seguintes, o projeto foi ganhando maior profundidade, fruto de uma planificação mais elaborada e, também, da implementação das modalidades artísticas de canto coral e instrumental nas escolas que vieram reforçar as competências dos alunos, abrindo caminho a um enriquecimento das suas ferramentas expressivas. Numa primeira fase, essas modalidades implicavam também a realização de encontros no final do ano e que decorriam na cidade do Funchal, na zona oeste e na zona este da ilha, alternando-se os vários concelhos no acolhimento do referido encontro. Já nesta altura, o impacto dos eventos de final de ano se sentia na comunidade, verificando-se acérrimas disputas entre concelhos para a organização dos encontros de modalidades.

A partir de 1984, o espetáculo final do MÚSICAEP começou a ser gravado pela RTP Madeira, iniciando-se um período ininterrupto de transmissões televisivas e

que ainda hoje acontecem, permitindo assim que toda a ilha e a sua diáspora conheçam o trabalho que se desenvolve nas escolas da Madeira.

O projeto de implementação da educação artística no 1.° CEB apenas viu a sua plena regulamentação através do Decreto Regulamentar Regional nº 31/93/M de 28 de setembro que veio promover a oferta genérica da educação artística no pré- escolar e no ensino básico, bem como reforçar a aposta na formação contínua de professores, dotando-os assim de ferramentas cientifico-pedagógicas para a prática lectiva da Música, Expressão Dramática, Teatro, Dança e Expressão Plástica. O referido decreto deu ainda orientações para a criação de grupos artísticos por área de expressão, bem como para a promoção de eventos artísticos abertos à comunidade.

Quando, no início dos anos 90 o ensino primário foi rebatizado de ensino básico, a designação MUSICAEP foi alterada para MUSICAEB. Posteriormente, com a introdução das modalidades artísticas no 2.° e 3.° ciclos e secundário, deu-se nova alteração na nomenclatura do projeto, passando a chamar-se MUSICAEBS. Por fim, de forma a tornar mais explícita a multiplicidade de expressões artísticas integradas no currículo educativo das escolas, surgiu a designação que se mantém até aos dias de hoje: ESCOL’artes.

Tal como referimos anteriormente, também através da entrevista, realizada por nós ao mentor do presente projeto, Prof. Doutor Carlos Gonçalves, constatámos, que o peso atribuído ao ESCOL’artes se evidencia da seguinte forma:

[...]dando força à escola e às artes ao serviço da escola, e não o contrário. Por isso é que está grafado ESCOLA com letra maiúscula e artes com letra minúscula. Isto foi tudo pensado com o objetivo de identificar as artes ao serviço da escola e não o contrário. (vd. anexo I).