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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONTEXTUAL

4. A escola a tempo Inteiro na Região Autónoma da Madeira

4.1. Funcionamento

Através da Portaria n.º 133/98 de 14 de agosto, a Região Autónoma da Madeira passou a integrar sob a denominação de Escola a Tempo Inteiro (ETI), todos os estabelecimentos de 1º CEB e de Educação Pré-escolar:

A realidade presente, detectada através de observação circunstanciada a todos os estabelecimentos de educação pré-escolar/1.° Ciclo do Ensino Básico, conduziu à inevitabilidade de evoluir para um outro regime (…) Optou-se, assim, pela criação de um regime denominado de "Escolas a Tempo Inteiro" (ETI), cuja vocação prioritária é corresponder às necessidades educativas básicas e contribuir para a formação integral das crianças, com vista ao melhor sucesso escolar. Apresenta-se, portanto, um modelo de "Escolas a Tempo Inteiro" (ETI), que conjuga, para além das atividades curriculares, atividades de complemento curricular/extra curriculares, fixado de acordo com dinamismos próprios que expressem o meio socio-cultural e as reais necessidades educativas.

As atividades curriculares (AC) e as atividades de complemento curricular/extra curricular (ACCEC) deveriam funcionar em regime de alternância, com metade das turmas da escola com AC no turno da manhã e ACCEC no turno da tarde e vice-versa.

Quatro anos mais tarde, pela Portaria n.º 110/2002 de 14 de agosto, alterou-se a definição das ACCEC para Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) e afirmou-se ainda a criação de atividades de Ocupação de Tempos Livres (OTL), a serem desenvolvidas em períodos e espaços não ocupados pelas restantes atividades, com o intuito de apoiar as famílias nomeadamente em relação aos seus compromissos profissionais.

Caberia assim à escola «assegurar as atividades das crianças/alunos, em dois períodos diários, não sobrepostos, cada um com duração nunca inferior a 5 horas, durante todos os dias úteis» (Portaria n.º 110/2002, p. 2).

Este regime cruzado permitiu uma melhor gestão do funcionamento da escola, maximizando espaços e recursos humanos. Uma das grandes vantagens deste modelo seria a rentabilização dos espaços, porque a mesma sala poderia ser aproveitada para as AC de duas turmas, funcionando uma num turno e a outra noutro.

Desta forma, metade das salas podiam ser aproveitadas para as AC e a outra metade para as AEC. Outro dos seus pontos positivos era permitir encontrar rápidas alternativas quando, por algum motivo, faltava um docente das AC, pois permitia reenquadrar os alunos nos grupos de AEC ou OTL que estariam a decorrer simultaneamente não prejudicando as outras AC em decurso. Como as atividades não teriam início nem término no mesmo horário, este regime também possibilitava uma melhor orientação dos alunos nas entradas e saídas da escola e na gestão das refeições (lanches e almoços), permitindo agrupá-los em diferentes horários e espaços, facilitando a vigilância e apoio dos mesmos.

Com o alargamento da rede escolar de ETI, construindo novos edifícios ou remodelando alguns já existentes, uma das dificuldades encontradas foi a implementação de novos espaços físicos, necessários para o cumprimento dos requisitos mínimos de algumas das AEC, nomeadamente na área da educação física, da expressão plástica e da informática. Para as AC e OTL, segundo o relatório de “Avaliação do regime de Escola a Tempo Inteiro”, os espaços estiveram sempre cotados entre o razoável e o bom, sendo que as maiores críticas foram apontadas às dimensões dos espaços.

A classificação dos espaços físicos das AEC situava-se, em 2004, entre o razoável e o bom, sendo que os melhores resultados foram apresentados pela Informática, resultantes da prioridade da SREC em dotar as escolas com equipamentos para esta área de atuação, seguindo-se da Educação e Expressão Musical e Dramática, também com espaços próprios e dotados para a prática da atividade.

Pelo contrário, os registos menos positivos relativos à caracterização dos espaços encontraram-se na Educação e Expressão Físico-Motora e na Expressão Plástica, resultantes da falta de alternativas do edifício para a prática desportiva em dias de chuva, da reduzida dimensão das salas e da falta de pontos de água e de locais de arrumação das mesmas. Nos espaços de recreio, as lacunas observadas prenderam-se com a ausência de áreas cobertas em algumas escolas ou a existência destes espaços mas com reduzida dimensão.

Também a colocação dos docentes e a criação dos seus horários era pensada de forma a haver técnicos especializados e/ou orientados para todas as atividades,

principalmente no que consta às AEC, permitindo uma melhor lecionação das mesmas ao focalizar os docentes para as atividades para as quais possuíssem maior habilitação ou formação. Neste sentido, pela Portaria n.º 56/2009 de 8 de junho , após vários anos de colocação de professores generalistas nestas áreas ou da contratação ser realizada pelos seus gabinetes coordenadores, é definido e enquadrada a colocação de docentes das AEC, sendo criados grupos de recrutamento específicos para cada uma delas, sendo no caso da Expressão Artística o código 150.

A escola deverá oferecer às crianças áreas curriculares disciplinares e áreas curriculares não disciplinares, ambas incluídas no que se denominou anteriormente por AC e AEC, de acordo com o estabelecido no Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro, adaptado à RAM pelo Decreto Legislativo Regional n.º 26/2001/M, de 25 de agosto, tendo sido alterado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 20/2003/M, de 24 de julho.

São ainda incluídas no rol as OTL, atividades que permitem manter as crianças ocupadas no interior do recinto escolar, devendo «ser

desenvolvidas nos períodos e espaços não ocupados pelas atividades curriculares, de enriquecimento e recreios» (artigo 6º da Portaria n.º110/2002, de 14 agosto).

Relativamente à disposição diária das atividades, a maioria das escolas, com eventuais pequenas alterações relacionadas com a realidade social e orgânica funcional de cada uma, perfila-se um modelo de exemplo (Ilustração 4)6 apresentado pela Direção Regional do Planeamento, Recursos e Infraestruturas (DRPRI).

Neste exemplo, o estabelecimento escolar procede a sua abertura às 7h50 e encerra às 18h30.

No caso de a turma ter AC no turno da manhã, as atividades letivas têm início às 8h15 e terminam às 13h05, com um intervalo de 20 minutos a meio da sua

6 Tabela retirada do sitio da DRPRI

frequência. Depois do almoço, as crianças poderão frequentar facultativamente as AEC disponibilizadas pela escola, entre as 14h00 e as 17h20, também com um intervalo de 20 minutos a meio da sua frequência. Se a turma tiver AC no turno da tarde, as atividades letivas são inversas às do turno contrário. Antes do início e no final destas atividades, as crianças poderão ainda frequentar OTL disponibilizados pela escola.

Relativamente ao tempo efetivo passado na escola, muitas foram as vozes que se manifestaram contra, atendendo ao facto de que é importante para as crianças destas faixas etárias estarem próximas dos seus familiares o maior período de tempo possível.

Contudo, este regime assegura às famílias todos os serviços educativos das crianças no próprio local e a permanência dos mesmos com pessoal qualificado, docente e não docente. As famílias que efetivamente têm horários de trabalho mais flexíveis podem sempre prescindir das AEC e das OTL disponibilizadas pela escola pois a sua frequência é facultativa. Relativamente à carga letiva das várias áreas curriculares e não curriculares, as orientações para a lecionação do programa do 1.º CEB disponibilizadas às escolas em vigor desde o ano letivo de 2015/2016, segundo o Ofício Circular n.º 5.0.0-097/15 de 17 de julho, foram:

 Português - mínimo de 7 horas letivas de trabalho semanal com 45 minutos diários de leitura);

 Matemática - mínimo de 7 horas letivas de trabalho semanal);

 Estudo do meio -mínimo de 3 horas letivas de trabalho semanal)

 Expressão Artística (EA) e Físico-motoras (EFM)- mínimo de 3 hora de trabalho semanal; (Expressão Musical e Dramática 1 hora; Modalidade Artística 1hora; Expressão Físico- motora 1hora)

 Apoio ao estudo – Mínimo de 1,5 horas letivas de trabalho semanal)

 Inglês – Mínimo de 1 hora letiva de trabalho nos 1.º e 2.º anos; Mínimo de 2 horas letivas de trabalho no 3.º ano; Área não disciplinar

 Educação para a cidadania; (deverá ser desenvolvida em articulação com as disciplinas de frequência obrigatória e as atividades de enriquecimento do

currículo, incluindo uma componente de trabalho dos alunos com as tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e constar explicitamente do plano anual da turma)

Disciplina de frequência facultativa

 Educação Moral e Religiosa – 1 hora semanal;

Áreas curriculares disciplinares e não disciplinares (AC), num total entre 22.5 a 26 horas semanais.

Atividades de complemento do currículo (AEC), nas turmas do 1º ciclo não deverão ultrapassar as 13 horas semanais:

 Inglês (1 hora de trabalho semanal para 1.º, 2. eº 3.º anos e 3 horas de trabalho semanal para o 4.º ano);

 Expressão musical e dramática (1 hora de trabalho semanal para 3.º e 4.º anos);

 Expressão físico-motora (1 hora de trabalho semanal para 1.º e 2.º anos e 2 horas de trabalho semanal para 3.º e 4.º anos);

 Expressão plástica (2 horas de trabalho semanal para 1.º e 2º anos e 1hora para 3.º e 4.º anos);

 Tecnologias da informação e comunicação ( 1hora semanal de trabalho para 1.º e 2.º anos e 2 horas de trabalho semanal para 3.º e 4.º anos);

 Apoio ao Estudo/Biblioteca (4 horas de trabalho semanal).

 Projetos de escola ou coordenados para Direção Regional de Educação (DRE) (sendo do concelho escolar a responsabilidade da distribuição da carga horária)

Em síntese, os alunos do 1.º CEB que frequentam a ETI, permanecem na escola 38 (trinta e oito) horas semanais, sem contabilizar as cargas horárias das OTL disponíveis.

Este facto é uma das grandes críticas a este modelo. A chamada híper- escolarização das crianças é real, mas também, nas palavras de Cosme e Trindade (2007, p: 17), «alarmista […] nomeadamente quando se sabe que as atividades […] são de carácter facultativo». Outros pontos menos positivos são “[…] cansaço

A ETI é um modelo de escola que tem em conta as necessidades sociais e económicas de uma comunidade, contribuindo para a igualdade de oportunidades de acesso e sucesso escolares colmatando as necessidades da família, pois na realidade atual a escola é continuidade da família, o papel da escola ultrapassa a escolarização, hoje em dia, é extensão da família.

5.

EXPRESSÃO

ARTÍSTICA NAS

ATIVIDADES

CURRICULARES E DE