• Nenhum resultado encontrado

A ESCOLA DE ARTES DECORATIVAS SOARES DOS REIS – A RESTANTE VIDA

A RELEVÂNCIA DO DIRECTOR NUMA ESCOLA DE ENSINO ARTÍSTICO

Para um melhor entendimento da especificidade pedagógica desta Escola de Artes e da sua inserção na vida social, cultural e económica da sociedade portuense nos tem- pos do Estado Novo, para além do que já foi exposto, importa aqui referir e ―olhar‖ de um modo globalizante e abrangente, os demais aspectos e facetas da acção dos seus elementos/actores no terreno concreto da Escola, nas suas práticas e motivações ou seja aqueles que verdadeiramente deram ao longo dos anos o corpo pela alma na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis.

Este processo de expor matérias e conhecimentos, defin ir objectivos, cumprir ordens, influenciar pessoas, moldar seres, transformar jovens à sua guarda em cidadãos acti- vos e actuantes na sociedade de então, só a sua tentativa, para quem ensina e dirige , já seria de exaltar. Para além de tudo isto numa Escola de A rtes mesmo que sejam ―decorativas‖ a transmutação entre os professores e os alunos vai-se inexoravelmente instalando e concomitantemente a transmissão de conhec imentos vai-se transforman- do num acto biunívoco onde o partilhar de experiências é ―coisa‖ natural.

É pois relevante, evidente e indispensável destacar a importância exercida pelos pro- fessores e mestres numa Escola como esta, em particular a dos seus directores, peças chave nesta engrenagem ―estadonovista‖.

Comecemos então por aquele que foi seu director durante trinta anos. José Fernandes de Sousa Caldas (1894-1965), nasceu na freguesia de Mafamude – Vila Nova de Gaia, numa casa do Largo da Bandeira. De acordo com o artigo escrito pelo padre Romero

Vila254 e ao analisarmos o livro de assentos do Registo Civil de Vila Nova de Gaia, cons-

tatamos que foram seus padrinhos o escultor José Joaquim Teixeira Lopes255 e Nossa

Senhora do Rosário, cuja coroa foi sustentada pelo também escultor e filho do ant e- rior, de seu nome António Teixeira Lopes256, que na altura teria vinte e oito anos,

253 H omenagem a LLANSOL, M aria Gabriela – A Res tante Vida. Lis boa: Relógio D’ Á gua Editores , 2001 .

254 VI LA, Romero - O Escultor Sous a Caldas . Breve an ális e à s ua vida de profess or e artis ta. Separata da revista MUSEU ,

segunda série, N º9 , 1965 ,p.8 .

255Jos é Joaquim T eixeira Lopes , (São Mamede de Ribatua, Alijó, em 1837 - Vila Nova de Gaia, em 1918 ), pai do escultor

António Teixeira Lopes . E m 1850 foi para o Porto, trabalhando na oficina de Manuel da Fo nsec a Pinto. Fez a es tátua de D. Pedro V , levantada em 1862 na P raç a da Batalha, cons iderada a s ua melhor obra. I n, FONTE, Barros o da (c oord) - Dicioná-

rio dos mais ilustres Tras montanos e Alto Duriens es . Guimarães : E ditora C idade Berço, 2001 .

256A ntónio Teixeira Lopes , (V ila N ova de Gaia, em 27 de O utubro de 1866 - São M amede de Ribatua, Alijó, 21 de Junho de

1942 ), era filho do também esc ultor José Joaquim Teixeira Lopes e s ua es posa, Raquel Pereira Meireles Teixeira Lopes , e irmão do arquitecto José T eixeira Lopes , s eu colaborador em muitos trabalhos . Os s eus primeiros anos decorreram na ofic ina de s eu pai, que o fizeram um notável artis ta. E m 1882 ingress ou na Academia de Belas A rtes , onde teve como profess ores Soares dos Reis e o pintor M arques de Oliveira. N o terc eiro ano do seu c urs o (1885 ) foi para P aris para c omple-

recentemente regressado de Paris onde obtivera para alé m de variados prémios e medalhas a merecida consagração de escultor.

Voltando ao ano de 1894, para além dos princípios auspiciosos do pequeno José, te n- do em conta as figuras protectoras dos seus padrinhos, ressalta a visível e existente

proximidade entre as famílias Sousa Caldas257 e Teixeira Lopes. Foi neste ambiente de

gente ligadas ás Artes onde o barro, a pedra e o gesso eram materiais nobres, os escopros, buris e cavaletes coabitavam naturalmente com os lápis, o carvão e demais apetrechos de desenho e escultura, que o jovem Sousa Caldas cresceu, se entusias- mou e decidiu que seria aquela a vida que para si desejava e a escultura o veículo que o transportaria para a fama e a glória.

Depois da decisão e dos previsíveis consentimentos e aconselhamentos, ingre ssa na Escola de Belas Artes do Porto no ano de 1905, onde iria encontrar como professor e mestre o seu padrinho de baptismo o consagrado escultor António Teixeira Lopes para além de outros professores onde se destacam os mestres José de Brito e o pintor Mar- ques de Oliveira, este, na disciplina de Desenho. Sousa Caldas conclui em 1911, ainda

jovem, o curso de escultura com 18 valores258 e inicia desde logo a sua participação

em exposições colectivas, sendo a sua primeira mostra pública no Porto no ano de 1914, a que se seguiram muitas outras exposições individuais e colectivas.

Premiado com a medalha de bronze na Exposição Internacional do Rio de Janeiro

(1923)259, volta a ser medalhado na Sociedade Nacional de Belas Artes – Lisboa (1928)

e mais tarde agraciado pelo SNI260 com o prémio Teixeira Lopes – escultura (1947).

tar os s eus estudos . I ngressou na Éc ole des Beaux-Arts , tendo como orientadores Gauthier e Berthet, onde veio a obter vários prémios e menções honros as . N os anos seguintes continuou a apres entar os s eus trabalhos em expos ições , tanto em Portugal como na França. E m 1894 é inaugurado o monumento a Soares dos Reis , de s ua autoria, em Vila N ova de Gaia. E m 1895 , c om projecto do s eu irmão, c ons truiu o s eu atelier na Rua do Marquês de Sá da Bandeira, em Vila N ova de Gaia, onde hoje é a Casa-Mus eu T eixeira Lopes e onde se preserva uma parte signific ativa da sua obra. A ntónio Teixeira Lopes é o autor das imponentes portas de bronze da I greja da C andelária, na c idade do Rio de Janeiro, c oloc adas em 1901 . Foi profess or da Escola de Belas A rtes do Porto, onde regeu, durante muitos anos , a c adeira de esc ultura. Retratou temas religiosos e his tóricos em barro, mármore e bronze. De entre a s ua vasta obra des tac am-s e "A I nfância de Caim", "A Viú- va", "A H istória", "Bac o" e "A Es tátua de Eç a de Q ueiroz" (P raça Barão da Q uintela - Lis boa).

257Seu pai, José Fernandes C aldas , esc ultor de es forçados méritos privou e colaborou artisticamente c om o esc ultor Soares

dos Reis .

258Nes te mes mo ano de 1911 , na mes ma Esc ola e com igual classific ação de 18 valores , c oncluiu o curs o de esc ultura o

seu c onterrâneo e amigo o escultor Diogo de M acedo (1889-1959 ).

259 A Exposição I nternac ional do Rio de Janeiro, marco do período que abra nge as duas primeiras décadas do s éculo XX no

Brasil oc orreu entre 1922 e 1923 na c idade do Rio de Janeiro, em função do primeiro Centenário da I ndependência do Brasil. Foi s ugerido aos res ponsáveis pela organizaç ão dos eventos c omemorativos que s e realizasse uma monumental Exposiç ão Nac ional. Es ta relevaria o ac ontecimento da I ndependência do Brasil e exibiria ao mundo os avanç os da nação bras ileira enquanto naç ão republicana. No entanto, devido à grande quantidade de países es trangeiros interessados em participar das c omemoraç ões do c entenário, houve, pois , uma mudança no c arácter do evento - tornando-s e assim interna- cional. I n http://www.dezenovevinte.net/arte 20dec orativa/expo_1922.htm. ,13/05/2006.

260Sec retariado Nac ional de Informaç ão, T uris mo e Cultura Popular, geralmente conhecido pelo s eu nome simplificado de

Sec retariado Nac ional de I nformação (SNI ), era o organis mo público res pons ável pela propaganda política, informação pública, c omunic ação s ocial, turis mo e acção c ultural, durante o regime do Es tado N ovo em Portugal. Desenvolveu uma acç ão importante na área das artes plásticas , cinema, teatro, dança, literatura (c om a instituiç ão dos prémios ), folclore, edição, etc . O organis mo foi c riado em 1933 , s endo s eu mentor e dirigente António Ferro (1895-1956 ), que iniciou a s ua ac tividade propagandista do Estado Novo precis amente c om a denominação de Sec retariado de P ropaganda N acional (SPN ), adoptando a des ignaç ão SNI em 1945 . E m 1968 foi trans formado na Sec retaria de Es tado da I nformaç ão e T uris mo (SEIT ). Depois do 25 de Abril de 1974 , a área de informação e comunicaç ão soc ial do antigo SNI /SEIT , serviu de bas e para a nova Sec retaria de Estado da Comunicaç ão Social.

Neste mesmo ano atingiu-se o auge da afirmação neo-realista nas artes plásticas em Portugal com a II Exposição Geral de Artes Plásticas, exposições , estas organizadas

pelo MUD261 que constituíram a principal oposição à política cultural de Ant ónio Ferro e

às exposições de arte moderna do SNI e em que a vitória principal destas exposições foi o facto de terem conseguido definitivamente trazer quase todos os artistas para a oposição ao regime.

Sousa Caldas decisivamente nunca fez parte deste alargado e muito representativo grupo de artistas, optando porém no desenvolvimento do seu trabalho enquanto artis- ta e na resposta às várias encomendas que lhe iam chegando, por um estilo muito próximo do Naturalismo herdado de Teixeira Lopes que tinha sido o seu expoente máximo e era ainda, duas décadas depois do início do século XX, a corrente artística maioritariamente aceite e apreciada em Portugal, principalmente pela classe dirigente e abastada do país que era quem encomendava os retratos, bustos e monumentos, apesar das propostas estéticas modernistas se terem já implantado na Europa e no Mundo. Respondendo com labor e afinco ao que lhe era pedido Sousa Caldas começa muito cedo por desenvolver uma série de trabalhos onde se distingue o baixo-relevo

Ódio na fachada do Teatro de São João - Porto (1918)262e executa em parceria com o

escultor Henrique Moreira o conjunto de doze estátuas em granito que decoram a

fachada da Câmara Municipal do Porto263.

Seguiu-se um interminável número de monumentos e bustos que Sousa Caldas foi executando ao longo do tempo para as mais variadas associações, particulares, auta r- quias e outras instituições. Muitas destas obras, desenvolveram-se em parceria com o Arquitecto Marques da Silva, seu velho amigo e antigo professor da escola Faria de Guimarães, antecessora da Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis.

Nesta base de trabalho e entendimento destacam-se: o busto do conselheiro Abílio Beça – Bragança (1929); Dr. Afonso Cordeiro – Matosinhos (1929); o baixo-relevo do benemérito João Lopes da Cruz - Bragança (1929); José Joaquim Leite Guimarães

261 M ovimento de U nidade Democ rátic a (MUD ), foi uma organização polític a de opos ição ao regime do Estado Novo, forma-

da após o final da II Guerra M undial, em 8 de O utubro de 1945 . Foi c riado para reorganizar a oposiç ão, prepará-la para as eleiç ões e para proporc ionar um debate públic o em torno da ques tão eleitoral. Porém, c omo conseguisse em pouco tempo grande ades ão popular (principalmente intelec tuais e profiss ionais liberais ) e s e tornass e uma ameaça para o regime, Salazar ilegalizou-o em Janeiro de 1948 , sob o pretexto de que tinha fortes ligaç ões ao Partido Comunista P ortuguês .

262 Os outros três baixos-relevos repres entando a Dor, Bond ade e Amor s ão do esc ultor Diogo de Mac edo e a rec uperaç ão

do teatro depois do violento inc êndio de 1908 foi da autoria do arquitecto Marques da Silva, c om o qual, Sousa Caldas irá c olaborar em várias obras ao longo da s ua vida.

263O ac tual edifíc io da C âmara M unicipal do P orto, foi projec tado pelo A rq. C orreia da Silva e c omeç ou a s er c onstruído em

1920 . O projec to s urgiu na sequênc ia do plano de expansão do centro c ívico elaborado pelo arquitec to inglês Barry Parker, aprovado em 1916 . A conc retizaç ão deste plano levou à expansão para norte da Praç a da Liberdade, abrindo-s e a Avenida dos Aliados e a actual P raça do General H umberto Delgado. A pes ar de ter s ido inic iado em 1920 , as obras do edifíc io dos Paç os do Conc elho sofreram inúmeras interrupç ões , tendo s ido introduzidas alteraç ões ao projecto inicial, pelo A rq. C arlos Ramos . A fac hada de granito é dec orada c om uma dúzia de esculturas , da autoria de José Sousa C aldas e H enrique Moreira representando as várias ac tividades ligadas desde s empre ao Porto, c omo a vitic ultura, a indús tria ou a navegaç ão.

(Barão de Nova Cintra) – Porto (1934?)264; o busto a Luís de Camões – Vigo – Galiza –

Espanha (1934)265, situado na Plaza de Portugal em lugar aja rdinado e aprazível e que

julgamos ser a sua única obra exposta fora do território português. Segue-se o busto do Abade de Baçal – Bragança (1935), situado no jardim António José de Almeida daquela cidade; monumento a Dr. Joaquim Borges e sua esposa – Vila Nova de Tazem (1936), erguido no largo fronteiro à igreja da vila; um busto do pastor evangélico Dio- go Cassels – Vila Nova de Gaia (1938), localizado no jardim do Morro junto à ponte de D. Luís; busto em bronze do médico Campos Monteiro – Torre de Moncorvo (1938); Dr. Rebelo Moniz – Resende (1939); Dr. Oliveira Salazar - Porto (1939)266; Cardeal

Cerejeira – Lousado - Famalicão (1944). Continuando com a série de bustos, executa o do Papa Pio X – Porto (1949), localizado no Seminário Maior do Porto à igreja dos Grilos; conselheiro José de Abreu do Couto Amorim Novais – Barcelos; busto do Padre Baltazar Guedes – Porto (1951); um busto a Alfredo Coelho em Lisboa; ao Dr. Couto Soares – Porto; monumento a Carolina Michaëlis – Porto (1951), situado na Escola Secundária do mesmo nome (antigo Liceu Carolina Michaëlis), executado aquando da inauguração do edifício na Ramada Alta e onde a patrona é apresentada, para além de bem marcadas linhas escultóricas, em pose doutoral, a que não será alheia a vest i- menta universitária que ostenta. Seguem-se os bustos do Dr. Lourenço Peixinho – Aveiro (1952); do Maestro Hernâni Torres; do Conde de Agrolongo na praça do mes- mo nome (Campo da Vinha) – Braga (1953) e do Dr. Sousa Júnior, médico e antigo Ministro da Instrução Pública – Porto (1953).

Entre as encomendas, vai também executando a ―sua escultura‖ como o grupo escul- tórico Ternura (1955) que dez anos mais tarde irá ser colocado nos jardins do Palácio de Cristal, assim como o busto de sua mulher, Maria Emília (1957). Ainda no mesmo ano executa o busto do Dr. Alfredo Magalhães – Porto (1957) e no ano seguinte, do também médico e investigador Ricardo Jorge – Porto (1958). Realiza ainda um monumento de grande porte ao ―cavaleiro da indústria‖ Narciso Ferreira – Riba d’Ave,

264O busto em c antaria, enc ima a fac hada do ac tualmente denominado Colégio do Barão de Nova Cintra. Jos é Joaquim

Leite Guimarães ( Barão de Nova Cintra), capitalis ta e abastado proprietário dos finais do séc ulo XI X, com fortuna feita no Brasil, fez erguer a expensas s uas em Campanhã – P orto, um c onjunto de edifíc ios que se des tinaram a asilo de infância e ao ens ino das A rtes e O fícios , onde , os rapazes tirados da Casa da Correcção , eram empregados na aprendizagem de diferentes ofíc ios e em trabalhos agrícolas c onforme as s uas vocaç ões e aptidões . Foi des te estabelecimento de educ ação para a infância des valida, inaugurado pelo Rei D . Luís em 19 de O utubro de 1866 que muitos alunos , nas décadas de 50 , 60 e 70 do s éculo XX, s e matric ularam na Escola de Artes Dec orativas Soares dos Reis , frequentando maio ritariamente os c ursos de E ncadernador -Dourador.

265 Esta obra em bronze, apres enta-s e c om uma cabeça excelentemente esculpida, bem expressiva e c om a força devida a

tão grande embaixador da c ultura portugues a como é Luís Vaz de C amões . N o entanto, s e o escultor não des mereceu a enc omenda, o res pons ável pelo plinto falhou rotundamente pois , apesar do bom enquadramento paisagístico, o monume n- to apres enta-se atarracado vis to o pedestal em c antaria estar desproporcionado em relação às boas dimens ões da c abeç a. Definitivamente, Sousa C aldas e nós portugueses mereciam melhor tratamento.

266 Este busto de Oliveira Salazar (1939 ), es teticamente de menor qualidade mas de linhas muito próximas da estátua de

c orpo inteiro de Salazar (1937 ) do esc ultor Francisc o Franco, apresenta o Ditador enquanto profess or univers itário c om a toga mas sem borla nem c apelo. Foi enc omendado pelo Grémio dos I ndus triais de Ourives aria do N orte, agremiaç ão c om quem Sous a Caldas tinha fortes relaç ões de amizade havendo por iss o ao longo dos anos variadas formas de interc âmbio esc olar c omo se referimos nes te trabalho.

Famalicão (1959) e o baixo-relevo em cantaria existente na parede ext erior da Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, na esquina da rua Firmeza com a D. João IV – Porto (1959) em que representa uma alegoria às Belas Artes.

Por fim, dentro das suas obras de ―homenagem‖267, temos os bustos do Dr. Pinheiro

Torres – Porto, o do médico e cirurgião Dr. João de Almeida - Lamego (1963?), do Padre Américo, situado nos jardins do Património dos Pobres do Calvário do Carvalh i- do – Porto (1963?)268.

Paralelamente a esta actividade ―de bustos‖, sempre colaborou em várias exposições colectivas, nomeadamente na III Expos ição dos Independentes no Porto em 1945,

amostra com algum destaque no panorama artístico portuense da época269. Postuma-

mente participa com três esculturas ( Busto de Mulher – 1929; Ternura – 1955 e Maria

Emília -1957) na exposição ‖ levantamento da arte do século XX no Porto‖ (1975),

organizada pelo Centro de Arte Contemporânea, Porto, Museu Nacional de Soares dos

Reis e Lisboa Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa270.

Quanto ao seu longo e constante labor escultórico deixamos para o fim as cinco obras de maior fôlego e relevância tanto no trabalho nelas dispendidas, como no seu valor

267A maior parte dessas esc ulturas s ão de carácter póstumo e muitas delas , s enão a totalidade, por enc omenda de famili a-

res ou ins tituiç ões .

268 P rovavelmente serão estes (bus tos do Dr. Pinheiro T orres – P orto, o do médic o e c irurgião Dr. João de Almeida - Lame-

go (1963?) e do Padre A mérico, – Porto (1963?), os seus últimos trabalhos , visto Sous a Caldas ter adoecido gravemente no último trimes tre de 1963 vindo a falecer no dia 29 de Març o de 1965 . C uriosamente o busto do Dr. João de Almeida, colo- cado no Hos pital de Lamego, é inaugurado em 16 de M aio de 1965 e anos mais tarde, c om a anuência da Santa da M iseri- c órdia de Lamego, da Câmara e dos familiares do ilus tre cirurgião, o seu bus to foi rec olocado no Largo que tem o seu nome, em frente ao local onde nasceu e viveu parte da s ua vida e junto da sede da Santa C asa da M isericórdia de Lamego. O bus to de P adre A méric o, es tá situado nos Jardins do P atrimónio dos Pobres do C alvário do Carvalhido e foi inaugurado no dia 16 de Julho de 1965 .

269I mportância bem maior teve a I Exposiç ão dos I ndependentes em A bril de 1943 ; a Arte Abs tracta portugues a es tá

his toric amente ligada às exposiç ões independentes , c ujo princ ipal organizador e animador, Fernando Lanhas , é c oinciden- temente a figura c entral dess e abstraccionis mo. Após uma I Exposiç ão, em Abril de 1943 , nas instalações da Escola Supe- rior de Belas Artes do P orto, c om esc ulturas de Altino Maia, M ário T ruta, A rlindo Roc ha, Serafim Teixeira, Augus to Tavares e Manuel P ereira da Silva, as exposiç ões independentes pass am a ter lugar fora da Escola e, várias vezes fora do P orto, um primeiro exemplo de descentralizaç ão e vontade de difusão que apesar de tudo, não evitará uma certa marginalização dos artistas do Porto em relaç ão aos acontec imentos e iniciativas de maior visibilidade e impacto da capital. A II E xpos ição I ndependente apres enta-se, em Fevereiro de 1944 , no Ateneu Comercial do Porto, c om esc ulturas de Altino Maia, Arlindo Roc ha, E duardo Tavares , Joaquim M eireles , M anuel da C unha M onteiro, Maria Graciosa de Carvalho, Mário T ruta, M . Félix de Brito, M anuel Pereira da Silva e Serafim T eixeira. Será a partir daí que a acç ão de Fernando Lanhas s e fará s entir, na c ons istente qualidade dos c atálogos e das expos ições , bem c omo na persis tênc ia em manter vivas as iniciativas . A III Exposiç ão I ndependente tem lugar, no mes mo ano, no salão do Coliseu do Porto, c om esc ulturas de Abel Salazar, Altino Maia, António Azevedo, A rlindo Roc ha, E duardo Tavares , H enrique Moreira, M anuel Pereira da Silva, M ário T ruta, e Sous a Caldas . N o catálogo da expos ição, em itinerância por C oimbra, Leiria e Lisboa, em 45 , esclarece-se que o nome de ―inde- pendente‖ não é um nome ao ac aso, mas implica a consc iência de que a arte é um património da humanidade e daí a ―a