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A ESCOLA “ SOARES DOS REIS” OU A METAMORFOSE DA “FARIA GUIMARÃES”

A Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, criada pelo decreto da Reforma de 1948, digna sucessora da Escola Industrial de Faria Guimarães (Arte Aplicada), come- çou por reflectir a herança da sua antecessora já com créditos fi rmados no ensino artístico no Porto desde 1884:

― (…) A Escola [Industrial Faria de Guimarães] foi criada oficialmente por Decreto de 3 de Janeiro de 1884. A tardia abertura em relação à data da sua criação oficial justificou-se pela dificuldade em encontrar instala- ções e equipamentos minimamente adequados. Enquanto a Escola Infante D. Henrique e a Escola Passos Manuel de Gaia recebem o indispensável apoio, a primeira do Museu Industrial na época situado no Palácio de Cristal e a segunda da Fábrica de Cerâmica das Devesas, a Escola Faria de Guimarães, mais tarde deno- minada de Artes Decorativas Soares dos Reis, acabou por ver retardada a sua abertura para 12 de Janeiro de 1885, pois não consegue instalações que possibilitem o arranque da sua actividade em data anterior (…)‖.87

Como se atesta, a ―Faria Guimarães‖ iniciou a sua idade escolar com alguns constran-

gimentos de espaço visto ter estado primeiramente aboletada numa casa de habitação

situada no Campo 24 de Agosto sem o mínimo de condições para o seu funcionamen- to, situação que se irá prolongar durante anos, mas desde o início procurando respon- der às preocupações, aos interesses e acima de tudo às necessidades sentidas pelas classes dirigentes, de assegurar um ensino profissional e artístico que desse re sposta à crescente industrialização do país, principalmente na região Norte e particularmente no Porto, que nos finais do século XIX contava já com um conjunto importante de industrias e, para retribuir à procura e ao gosto de uma burguesia endinheirada ligada ao rápido progresso industrial do Norte.

― (…) Através de 55 anos lectivos, pois abriu em 1884, tem vindo a Escola Industrial de Faria Guimarães (Arte Aplicada) a fornecer conhecimentos profissionais a alunos de ambos os sexos, em cursos diurnos e nocturnos(…)‖.88

87 SERRALHEIRO, J. P aulo, [et.al]- A Es cola de Artes Decor ativas Soar es dos Reis e o Ens ino Técnico, Pr ofissional e Artístico

em Portugal. P orto: O ficinas Gráficas da Escola Secundária Soares dos Reis , 1985 .p.49 .

88Boletim da Es cola I ndus trial Faria Guimarães ‖ ( Arte Aplicada), A no I N º 1 , 1884 a 1939 , Porto, E dições M arânus , 1939 .

Foi, para assegurar a qualidade de mão-de-obra, tão necessária a esse surto de desenvolvimento industrial que foi criada legislação apropriada8 9 e daí resultando a criação de Escolas de Desenho Industrial intimamente ligadas aos novos conceit os de Desenho e das Artes Aplicadas, no rasto, aliás, do que se fazia nos países mais dese n- volvidos da Europa industrializada, como a Grã-Bretanha, onde tinha sido criado o Departamento of Science and Art, com o objectivo principal de desenvolver e articular a educação técnica e artística com o conhecimento científico.

Este conceito não foi totalmente assumido pelas elites lusas, no entanto, dando prior i- dade na prossecução dos objectivos da Reforma de 1884, à criação das Escolas de Desenho Industrial. Foi neste contexto que a Escola Industrial Faria Guimarães come- çou a sua actividade escolar não em 1884, por dificuldades de instalações, mas sim em 12 de Janeiro de 1885, iniciando as suas actividades com 144 alunos todos do sexo masculino e distribuídos pelas aulas de desenho industrial:

― (…) Esta escola apenas leccionava a aula de desenho industrial que incluía o desenho, grau elementar ou geral e o desenho, grau industrial ou especial (…)‖.90

O grau elementar ou geral destinava-se especialmente aos alunos com idades até aos doze anos, idade que se considerava anterior à sua entrada na aprendizagem para uma profissão. O grau industrial ou especial, como o próprio nome indica, destinava - se aos aprendizes ou operários das várias indústrias da região que quise ssem ou pudessem evoluir nos seus saberes a fim de melhorar, assim o esperavam, com certe- za, a sua relação contratual com o empregador. O ensino de grau elementar do des e- nho era leccionado em regime diurno e tinha os seguintes objectivos programáticos:

― (…) Habituar o aluno a desenhar à vista (sem auxílio de compasso, régua, e a reprodução de figuras pla- nas ou de três dimensões, usando os modelos sólidos estampados ou quadros parietais; aproveitando e alternando os diversos métodos sólidos estampas ou quadros parietais; aproveitando e alternando os diver- sos métodos de ensino (ditado, de memória, de invenção, a tempo fixo, etc.), conforme a índole, aptidão e preferência dos alunos (…)‖.91

Quanto ao ensino de grau industrial, leccionado em regime nocturno, estava vocacio- nado, como já referimos, para indivíduos já integrados na indústria, enquanto apre n- dizes ou mesmo mestres, e tinha, necessariamente, objectivos mais específicos:

89Decr eto criando Es colas I ndustriais e Es colas de Des enho I ndus trial. Lis boa: I mprensa N acional Cas a da M oeda, 1888 de

3 de Janeiro de 1884 , art. 3 .º, p.4 e o Regulamento Geral das Es colas I ndus triais e Es colas de Des enho I ndustrial . de 6 de Maio de 1888 , publicado no Diário do Governo n.º 103 de 7 de Maio de 188 , art.º 1 .º C ap. I .

90 LOBO , Maria N atália de M agalhães Moreira – O Ens ino das Artes Aplicadas (ourives aria e talha) na Es cola Faria Guima-

rães de 1884 a 1948: Reflexo no des envolvimento artístico da cidade do Porto. V ol. I . Porto: U niversidade do Porto, Fac ul-

dade de Letras , 1998 , p. 59 .

91 ―Regulamento Geral das Escolas I ndustriais e de Desenho I ndus trial‖ de 6 de Maio de 1884 , public ado em Diário de

incluía o Desenho Geométrico ou rigoroso com o auxílio de régua, compasso, transf e- ridor, esquadro, duplo-decímetro e outros instrumentos considerados necessários à sua execução; abordava o Desenho de Ornato abrangendo nesta designação os ele- mentos ornamentais naturais, geométricos e a combinação de ambos; o estudo da perspectiva, das aguadas; a Modelação em cera ou barro de figuras animais, flores e frutos; o Desenho à vista de máquinas e aparelhos industriais, com a elaboração de cortes e planos.

O ensino de grau industrial ou especial dividia-se em ornamental, arquitectura e mecânico e tinha a duração de dois anos, tantos como o grau elementar. Quatro anos mais tarde, em 1888,92 a Escola Industrial Faria de Guimarães sofre a sua primeira

alteração funcional e curricular ao incorporar as aulas de Arit mética e Geometria Ele- mentar, Química industrial e o Francês e anexa-se à escola uma biblioteca, um peque- no laboratório e oficinas, convenientes para o desenvolvimento do ensino manual:

― (...) Apesar da criação destas disciplinas em 1888/89, só funcionaram nesta escola a aula de desenho e a disciplina de Aritmética e Geometria Elementar. A cadeira de Desenho industrial foi desdobrada, tendo o professor italiano Silvestre Silvestri sido encarregado do ensino do Desenho Ornamental. No ano lectivo de 1890/91, já funcionou todo o plano curricular aprovado em 1888 (…)‖.93

Entre 1891 e 1893 são criados o Curso Geral Elementar para alunos de ambos os sexos, com a duração de dois anos e que compreendia o ensino de Desenho e de Tra- balhos Manuais e os Cursos Industriais de Pintor Decorador, Tecelão, Fo rmador e Estucador. Entretanto e passados que foram quatro anos, com os problemas económi- cos do país a sobreporem-se aos ideais desta reforma e por não se dispor de verbas consideradas necessárias à sua realização prática, o currículo sofre reformul ações:

― (...) O decreto de 14 de Dezembro de 1897 vem assim unificar toda a legislação referente ao ensino técn i- co e determina que a Escola Faria de Guimarães seja, de novo, uma Escola de Desenho Industrial, uma vez que aí se ministrava unicamente o ensino do desenho (...)‖.94

Os cursos, fruto da reforma de 1897, compreendiam o Curso Geral com o ensino de Desenho Elementar e a duração de dois anos e o Curso Especial com a disciplina de Desenho Ornamental e Modelação com a duração de três anos. Mais tarde, em 1901 nova reforma, nova reorganização. Pelo decreto de 24 de Dezembro de 1901 determi- na-se que passe a haver somente e apenas o Curso de Desenho Industrial com a duração de cinco anos:

92 Dec reto c riando Escolas Indus triais e Escolas de Desenho I ndustrial‖. Lis boa: I mprensa N acional, Dec reto de 13 de Julho

de 1888 , Art.º 4 .º, p. 9 .

93 LOBO , M aria N atália de Magalhães M oreira, ob. c it., p. 66 .

― (...) Num curso serão ministradas as disciplinas de desenho geral elementar, desenvolvidas durante dois anos, a disciplina de desenho ornamental, desenvolvida nos três anos seguintes e a disciplina de trabalhos oficinais a iniciar no segundo ano da disciplina de desenho geral elementar. Continuava em vigor a carga horária semanal... e os programas aprovados em 1893 (...)‖ .95

Continuavam a ser praticados, indo ao encontro da lei no espírito e na forma, os cur- sos gerais de Desenho Elementar como preparação geral para uma profissão e os cur- sos especiais já com uma vertente de aprofundamento dos ensinamentos do desenho e perfeitamente adequados às diferentes profissões dos alunos. Em 1918 foi apresen- tada, não uma nova reorganização do ensino industrial, mas sim uma verdadeira e

profunda reforma do ensino técnico,96 através do Decreto n.º 5.029 de 5 de Dezembro

de 1918, versando a organização do Ensino Industrial e Comercial, sendo seu mentor o Secretário de Estado do Comércio, Dr. João Alberto Pereira de Azevedo Neves e ten- do na altura, sido criada na Secretaria de Estado do Comércio, a Direcção Geral do Ensino Industrial e Comercial para acompanhar a implementação desta tão estrut u-

rante reforma. Nessa reforma a Escola Faria de Guimarães passa a Escola Industrial:97

― (…) art. 23º - As escolas industriais, preparatórias e de arte aplicada serão destinadas: a) As escolas industriais, a preparar aprendizes em cursos de aprendizagem e operários em cursos de aperfeiçoamento; b) As escolas preparatórias a ministrarem o ensino geral e aplicado preparatório para as carreiras técnicas e para a admissão nos institutos industriais e nos institutos comerciais; c) As escolas de arte aplicada ao ensino especializado de artes industriais (…)‖.98

Logo em seguida, passa a ministrar os Cursos de Aprendizagem sempre em horário diurno e os de aperfeiçoamento em regime nocturno.

Os Cursos de Aprendizagem compreendem três graus: o preliminar – destinado a estabelecer a ligação entre a escola primária e o grau geral com a duração de um ano e onde se leccionavam as disciplinas de Língua Pátria, Noções de Arit mética e Geome- tria, Elementos de Desenho Geral, Trabalhos Oficinais em madeira, ferro, modelação e pintura e Noções de costura, Bordados, Rendas e Cartonagem para o sexo feminino. O segundo grau, geral, com a duração de quatro anos, compreende já, para a lém da Língua Pátria, Desenho Geral especializado, Língua Francesa, Geografia e História, Arit mética e Geometria, Trabalhos Oficinais masculinos e femininos, sempre de acordo com a especialização do Desenho, ou seja: ao desenho de construção corresponderá trabalhos oficinais em madeira; ao desenho mecânico corresponderá trabalhos ofic i-

95I dem, p. 72 .

96―O rganizaç ão do ensino industrial e c omerc ial, aprovada pelo Dec reto n.º 5 .029 , de 5 de Dezembro de 1918 ‖, publicado

no Diário do Govern o, n.º 2 63 , I .ª Série de 5 de Dezembro de 1918 .

97 I dem, p.2092 .

nais em metal… O Curso Complementar destinava-se a preparar operários modernos e que tivessem completado com aproveitamento o grau geral e tinha a duração de dois anos, tendo sido leccionados na ―Faria Guimarães‖.

Não descurando o ensino diurno, apesar da continuada precariedade das instalações99,

a escola viu-se obrigada a que as oficinas de marcenaria não fossem utilizadas nos Cursos de Aprendizagem comprometendo-se logo que a escola estivesse instalada em edifício próprio e adequado às necessidades dos cursos que lecciona, a colocá-las em funcionamento:

― (…) O ensino ministrado nos cursos de aperfeiçoamento das escolas industriais destinados aos operários que nelas pretendam aperfeiçoar-se ou instruir-se, compreenderá determinadas disciplinas de especializa- ção, cuja natureza dependerá da localidade em que se encontra a escola (…).‖100

Quanto aos Cursos de Aperfeiçoamento, iniciaram-se logo no ano-lectivo de 1918/19 em regime nocturno dentro do espírito da lei e do legislador e a Escola Industrial Faria Guimarães através do seu Conselho Escolar, determinou a constituição de quatro cur- sos de aperfeiçoamento com a duração de cinco anos:

― (…) O curso especial de desenho industrial, destinado a pintores, decoradores e outras artes afins; o curso especial de cinzelagem e ourivesaria destinado a cinzeladores, ourives; o curso especial de marcenaria e carpintaria e o curso especial complementar destinado aos indivíduos que desejam instruir-se nas disciplinas que o constituem e que podem contribuir para o aperfeiçoamento da sua profissão (…)‖ .101

Com o passar dos anos o ensino na ―Faria Guimarães‖ foi-se entrelaçando cada vez mais com as realidades sociais e económicas da região e respondendo às solicitações dentro das suas possibilidades. Desta troca mútua de interesses realça-se, por volta de 1921, a parceria com a Associação de Ourives do Porto:

―(…) A Associação criou prémios especiais para os alunos com melhor aproveitamento e po r tal facto foi essa associação louvada em portaria do Governo [foi louvada pelo patriótico auxílio prestado ao desenvo l- vimento do ensino técnico]. Porém a ligação da Associação à escola era, nesta época mais vasta (…). Terá sido mesmo por diligências e pressão [desta Associação] que se criou em 1919 o Curso de Cinzelagem na Escola Industrial de Faria Guimarães (…)‖.102

99 ―(…) Q uanto à Escola Faria Guimarães , essa irá continuar a debater-s e c om dific uldades de es paç o às quais por volta de

1917 irão juntar-se outras . Com efeito a partir daquela data o s enhorio do c asarão que s ervia de ins talação à escola reso l- ve vendê-lo (…) a es cola rec ebe ordem de des pejo, recus ando-se o novo proprietário a receber as rendas pagas pela esc ola (…) a ideia de oc upar o As ilo das Raparigas A bandonadas [no Campo 24 de Agos to, bem perto das ac tuais ins talações ], que entretanto a Câmara havia pos to à venda, surge como s oluç ão possível. Apela-s e às autoridades municipais e ao governo central, contudo a s ituaç ão mantém-se(…)‖,I n Boletim da Es cola I ndustrial Faria Guimar ães ( Arte Aplicada)‖,ob. c it., p. 5 0 .

100O rganizaç ão do ensino indus trial e comercial, aprovada pelo Dec reto n.º 5 .029 de 5 de Dezembro de 1918 , ob. c it., p.

2092 .

101 I dem, p. 2 093 .

Esta ligação frutuosa com a indústria e seus industriais manteve-se ao longo dos anos, servindo até em reivindic ações mútuas ao governo, como por exemplo para a abertura de cursos nocturnos de Cinzelagem que beneficiariam os alunos e a indústria dos our i- ves. Não tendo ficado por aqui as relações entre as duas instituições foram ala rgadas, quer no apoio de matérias-primas, bastante dispendiosas, como de professores espe- cializados, muitas vezes, inteiramente custeadas pela Associação.

Entretanto, a escola, muda em 1922 de instalações, passando a ocupar o edifício n.º 422 na Rua de Santo Ildefonso, bem no centro do Porto, onde tinha estado instala do o Liceu Alexandre Herculano e, em 1925, reorganiza os seus estudos introduzindo os cursos lavores femininos, costureira de roupa branca, bordadeira – rendeira e modista de chapéus e de vestidos, acompanhando a procura feminina de emancipação e a conquista da mulher ao direito ao trabalhos fora da sua condição de ―domést ica‖. Não satisfazendo de forma alguma esta sua segunda morada visto não possuir as co n- dições mínimas de higiene e segurança e sendo acanhados para o número de alunos e alunas que afluíam cada vez em maior número à escola, a sua direcção continuou a desenvolver esforços, na procura de um espaço mais capaz:

― (…) Na verdade o velho edifício de Santo Ildefonso era um casarão de três andares… não dispunha de instalações adequadas… as oficinas de lavores femininos e de costura eram divididas por uma barreira de rede… as alunas amontoavam-se nesta dependência da escola, como aliás sucedia nas oficinas de cinzela- gem onde a impureza do ar era acondicionada [ordenada] dada a pouca altura do tecto… aproveitavam-se cantos e recantos, subiu-se até às águas-furtadas e até se chegaram a instalar serviços escolares nos sub- terrâneos (…)‖. 103

Por fim, em Dezembro de 1927 foi autorizada a compra das instalações de vetusta fábrica de chapéus, situada no n.º 49 da Rua Firmeza, pertença da extinta Sociedade Indústria Firmeza e, em 1928, é oficialmente inaugurada com a devida pompa e cir- cunstância a Escola Industrial Faria de Guimarães.

Na altura da reforma do ensino técnico de 1931104, de acordo com as linhas programá-

ticas do Estado Novo, procedeu-se à uniformização dos diversos tipos de escolas, cur- sos e procedimentos pedagógicos vindos da reforma ―progressista‖ de 1918. Extingu i- ram-se umas, transformaram-se outras, criaram-se algumas e modificaram-se cursos com o objectivo de rentabilizar o ensino técnico, ao mesmo tempo que impunham a nova ideologia aos alunos, à escola e especialmente ao corpo docente, demasiado republicano para os gostos dos governantes da época:

103SE RRALHEIRO , J. Paulo, [et al.] – A Escola de Artes Decorativas Soar es dos Reis e o Ensino Técnico, Profissional e Artís -

tico em Portugal. P orto: O ficinas Gráficas da Escola Secundária Soares dos Reis . 1985 , p.51 .

― (…) [com] esta escola visa-se em especial a preparação profissional com o ensino feito por professores e mestres em aulas teóricas, práticas, experimentais, de desenho, em oficinas e escritórios, atendendo -se simultaneamente [conjuntamente] à educação geral julgada indispensável (…) ‖.105

Quanto à Escola Industrial de Faria Guimarães, muda de nome, passa a denominar-se

Escola Industrial de Faria Guimarães (Arte Aplicada)106 implementando-se desde logo

o ensino de Cinzelador; Ourives; Gravador de Aço; Marceneiro; Entalhador; Pintor- Decorador; Tecelão-Debuxador; Modista de Vestidos; Bordadeira; Rendeira; Costure i- ra de Roupa Branca e pela primeira vez o Curso de Habilitação às Escolas de Belas Artes. Mencionar ainda que na organização dos cursos ministrados nesta escola, em todos eles foram leccionadas as disciplinas de Português e Matemática; a disciplina de Francês só não figurava no Curso de Ourives e a Geografia e História estava somente ausente nos Cursos de Tecelão-Debuxadora, Modista de Vestidos e Costureira de Ro u- pa Branca, o que atesta a importância dada à cultura geral no ensino técnico para além da mera aprendizagem dos ofícios.

O espírito da reforma e dos seus legisladores foi o de não se descurar a ―educação geral do espírito‖, embora tenha sido outra a prática seguida em particular na Escola Industrial de Faria Guimarães, que fez jus, para o bem e para o mal, ao cognome de ―Arte Aplicada‖, que lhe foi aposto aquando de reforma de 1930, com os posteriores ajustamentos do decreto n.º 20.420 de 21 de Outubro de 1931.

A luta de quem ensinava e dos que aprendiam, na procura de aliarem à riqueza dos materiais com que trabalhavam a beleza artística dos objectos que criavam nem se m- pre foi conseguida, de tal modo que nos finais dos anos quarenta em plenos trabalhos da reforma de 1948, uma individualidade de reconhecido mérito artístico e pedagógi- co, o pintor Lino António, director que foi da Escola António Arroio nos princípios dos anos cinquenta, ao analisar o problema do ensino das artes decorativas em Portugal referia e sugeria:

― (…) É chegado o momento de encararmos com coragem e decisão um dos problemas de ensino dos mais importantes para a vida das artes nacionais: o das artes aplicadas à indústria ou melhor o das artes decorativas. Todos nós sabemos que as duas escolas de Arte Aplicada que actualmente existem no País [Escola António Arroio – Lisboa e Escola Faria Guimarães - Porto] são unicamente embriões de escolas dig- nas desse nome, … o que de facto nos falta é o apetrechamento conveniente e as instalações necessárias a um ensino profícuo das artes industriais, bem assim a necessária coordenação de elementos artísticos e científicos a fim de podermos realizar em toda a sua plenitude obras de arte… É, pois, urgente tanto sob o aspecto económico como cultural, que se vitalizem as indústrias de arte para as quais temos as melhores condições (…) No nosso modesto entender, hoje, mais do que nunca, é para as indústrias de Arte que os

105I dem, pp. 2293-2294 .

106 ―(…) A rt.º 362 - São anexadas : (…) À Escola Indus trial de Faria Guimarães do Porto, a escola de arte aplicada da mes-

ma cidade.(…)‖, I n ―Dec reto n.º 18420 ‖ de 4 de Junho de 1930 , Diário do Govern o, I .ª Série de 4 de Junho de 1930 , p. 1027 .

países que não podem rivalizar nos outros campos industriais terão necessidade de se voltar ( …) A única forma de o fazermos é, sem dúvida, a de organizarmos, apetrecharmos e dotarmos as actuais escolas de Arte Aplicada, de molde a que elas sejam de futuro, não só [mas também] o manancial onde se irão buscar os operários, artífices e artistas destinados às indústrias (…)‖.107

Foram estes recados, feitos no âmbito da nova reforma do ensino técnico que despo n- tava, que em boa medida foram ouvidos. Passámos, muito lentamente, registe -se, de um ensino centrado no ―treinamento‖ de gestos e técnicas mimetizadas, como maiori- tariamente se centrava o ensino na Escola Industrial de Faria Guimarães (Arte Aplic a-