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ESCOLA CIDADÃ E SUA GESTÃO

No documento SOLANGE - Dissertação final (páginas 55-58)

CAPÍTULO III GESTÃO ESCOLAR: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

3. ESCOLA CIDADÃ E SUA GESTÃO

A educação tem grande influência para a cidadania e para o fortalecimento das instituições democráticas. Essa é uma noção incorporada há muito no discurso dos professores e constitui, certamente, a motivação mais forte dos educadores. A administração de um sistema público e descentralizado de ensino deve entender a escola como expressão concreta do projeto político-pedagógico do coletivo dos educadores e como espaço fundamental para a construção da identidade do educador. Essa identidade é construída no jogo das relações sociais que acontecem no contexto mais amplo da sociedade, onde se correlacionam a divisão social do trabalho e a distribuição social do conhecimento, especificando-se responsabilidades e comprometimentos em nível de relações que se dão no cotidiano da escola.

Como instrumento de organização administrativa e pedagógica, o projeto político-pedagógico deve expressar o estágio da consciência da comunidade a que se refere. Sendo, portanto, a busca de uma escola livre e democrática a serviço dos

interesses da maioria da população. Assim, a participação efetiva e ativa dos diferentes segmentos sociais, na tomada de decisões, conscientiza a todos de que são agentes da história que se materializa no cotidiano da escola.

O principal instrumento da administração participativa é o planejamento participativo que pressupõe uma deliberada construção do futuro, do qual participam os diferentes segmentos de uma instituição, cada um com sua ótica, seus valores e seus anseios, que, com o poder de decisão, estabelecerão uma política para essa instituição, com a clareza de que são ao mesmo tempo autores e objetos dessa política, que deve estar em permanente debate, reflexão, problematização, estudo, aplicação, avaliação e reformulação, em função das próprias mudanças sociais e institucionais. (HORA, 1997, p.51).

Colocar a escola na liderança da atividade educacional significa dar à direção das escolas a liberdade, as condições e os estímulos para tomar iniciativas, zelar pelo funcionamento cotidiano da instituição, buscar apoio e recursos na comunidade. Dessa forma, a gestão da escola passa a ser o resultado da ação de todos os componentes da comunidade escolar, sempre na busca do alcance das metas estabelecidas pelo projeto político-pedagógico construído coletivamente. A gestão democrática exige uma mudança de mentalidade dos diferentes segmentos da comunidade escolar e implica que a comunidade e os usuários da escola sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros receptores de serviços educacionais. Na gestão democrática e participativa os pais, alunos, professores, funcionários, direção e comunidade assumem sua parte da responsabilidade pelo projeto da escola.

Ao serem capazes de participar ativamente das decisões mais amplas da sociedade, os educadores terão condições de converter a escola no primeiro espaço público do aluno, criando possibilidades desta perceber, viver e atuar, interagindo com as múltiplas relações que perpassam toda a sociedade. O aluno é um cidadão que deve aprender a debater e a construir o espaço político, tendo seus direitos garantidos.

Educação para a cidadania requer uma escola que forme cidadãos aptos a participar da sociedade. Tal concepção supõe um “aluno sujeito” de sua própria formação, com participação ativa na elaboração do conhecimento, e de um educador com compromisso ético-pedagógico com a transformação. A escola que formula e

implementa seu projeto assume uma identidade própria, tornando-se uma escola autônoma, ou seja, uma escola cidadã. Certamente, a formulação do projeto político- pedagógico nas escolas é uma inovação introduzida com o objetivo de descentralizar e democratizar o processo de tomada de decisões e de buscar maiores níveis de participação da comunidade e de comprometimento de todos os seus segmentos com as soluções dos problemas da instituição escolar. A consolidação de relações que integrem, de fato, a escola à comunidade colocará por certo no espaço da sala de aula, educadores e alunos como interlocutores que confrontam saberes diferentes e que, mediatizados pelo conteúdo de ensino, estabelecem relações entre os fatos e relevâncias do mundo objetivo, as organizações do mundo social e as especificidades do seu mundo pessoal. A relação entre gestão pública e escola cidadã requer a construção de um novo espaço intermediado pela participação. É necessário, então, imaginar um novo espaço descentralizado capaz de permitir que os agentes da educação encontrem um lugar de representação de si mesmos, o qual, a partir da sociedade civil, lhes permita constituírem-se em atores sociais reais no debate público da educação. Colocar a escola no centro das preocupações educacionais é, sem dúvida, o paradigma da educação para a cidadania, indispensável à construção de uma sociedade democrática. Portanto, fortalecer e ampliar o espaço da iniciativa da escola é o mesmo que transferir para a unidade escolar parte substancial do poder de decisão, capaz de elaborar e realizar um projeto educativo próprio em benefício dos alunos e com a participação de todos no processo educativo.

Enfim, uma escola autônoma com projeto político-pedagógico próprio e formadora de cidadãos requer ousar o sonho de um futuro possível e viável que estabeleça um novo paradigma da educação para construir coletivamente, a partir das diferenças, da conscientização de suas responsabilidades, e um compromisso ético- pedagógico com uma sociedade mais justa. Constatar a existência desse novo modelo de escola exigido pela sociedade tem sido uma tarefa difícil em função da falta de estratégias e instrumentos para a realização de um trabalho referendado pelo projeto político pedagógico e voltado, especificamente, ao ensino noturno da EJA. Neste sentido, a pesquisa buscou analisar as ações da gestão escolar e a conseqüente reação discente, focalizando sua influência sobre a evasão na EJA, a partir do cenário

de democratização da gestão posto como orientação das práticas gestoras da escola pública brasileira, principalmente no que se refere aos seus parâmetros legais.

No documento SOLANGE - Dissertação final (páginas 55-58)