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Capítulo 5 DOS E-MAILS DOS ALUNOS: OS DIFERENTES SENTIDOS SOBRE OS PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO

3. Destinos diferentes para as trajetórias escolares

3.1 A escola como espaço social

por outras questões que se mostram vivas em cada um desses locais.

3.1 A escola como espaço social

As experiências dos alunos das escolas pesquisadas se formam em torno de uma tensão entre a lógica de subjetivação da sua condição juvenil e da manutenção de certo conformismo escolar e familiar (DUBET e MARTUCCELLI, 1998). Diante dessa perspectiva, o período escolar vivido no Ensino Médio é extremamente importante para a construção e formação de suas experiências de modo mais complexo, porque cada um dos princípios que constitui a identidade dos alunos (jovens) possibilita o desenvolvimento de sua autonomia. Neste ínterim, os mecanismos de socialização se voltam para os diferentes aspectos e os trabalhos sobre si mesmos são mais intensos. Quando esse exercício que os jovens experimentam se constitui de modo pleno, pode-se afirmar que a socialização escolar foi subjetivada, do contrário, entende-se que os alunos foram arrastados a um sentimento de incapacidade.

A experiência dos estudantes está organizada em torno de uma tensão central. De um lado, estão os alunos que de fato vão para a escola para estudar, em busca de aprendizagem, conhecimento em vista de seus projetos de futuro. De outra parte, estão os alunos que vão para a escola e se comportam como verdadeiros “palhaços” e/ou “bobo-da-corte” (DUBET e MARTUCCELLI, 1998).

Segundo os autores acima, não se trata de um conflito que opõe, de um lado, conformistas e, de outro, não conformistas, mas de uma estrutura em que a experiência escolar, principalmente nas escolas públicas, conforme os depoimentos evidenciam. Por tudo já relatado anteriormente, as questões vividas na escola acabam por gerar um confronto entre os alunos que se opõem a esse tipo de comportamento. Pode-se afirmar que os “palhaços” e “bobos da corte”, não se esforçam a ponto de serem subjetivados pelo mundo escolar.

Payasos e bufones son las dos caras de un miesmo conjunto: los bufones colboran, los payasos resiten. El payaso denuncia a la esuela y todo lo que procede de ella es “nulo”, desde la cantina a las clases. Si el payaso está em la escuela, su honor es no participar subsetivamente de ella y rechazar, por princiupio, todo lo que procede de la forma escolar (DUBET e MARTUCCELLI, 1998, 240).

Muitos Professores bons não conseguem exercer suas profissões, pois os alunos que estão na escola para estudar não querem nada com nada, só atrapalham quem realmente vai à escola para estudar. (Nina - aluna EJT).

Conforme já assinado no decorrer do trabalho, existem alguns estudantes que não se renderam ao processo de subjetivação escolar. Conforme Dubet e Martuccelli (1998), frequentam a escola sem saber o que fazem naquele local. De outra parte, a equipe diretiva não sabe lidar com tais situações, conforme a escrita do estudante que segue.

Há alguns alunos também na escola que não estudam e vem a aula só para fazer bagunça ou criar algum tipo de confusão e quando aprontam nem mesmo algum castigo levam ou qualquer coisa do tipo, isso é injusto com quem vem a escola para aprender, acaba atrapalhando os outros! (Breno - aluno ESC).

No contexto de sala de aula, o verdadeiro palhaço não só não colabora como também acaba por atrapalhar as relações de ensino e aprendizagem. Isso quando não formula perguntas fora do contexto, interrompe, muitas vezes, atrapalhando o andamento da aula. Tais situações ocorrem, principalmente, porque não vive o processo de subjetivação escolar, não quer ou não gosta de estudar e, simplesmente, não atende às solicitações vindas dos professores. Contudo, esses alunos que resistem ao processo de subjetivação escolar, não são “delinquentes”, alunos que gostam de se envolver em brigas, ou situações do gênero. Porém, sua “personalidade” se opõe à cultura escolar, eles se mantêm sempre de bom humor, em qualquer situação (DUBET e MARTUCCELLI, 1998).

Segundo Dubet e Martuccelli (1998, p. 280), ao fazer referência aos alunos ditos problemas ou os maus alunos, afirmam que:

De todos modos, la imagen del colegio aparece extremadamente confusa si se consideran las experiencias de los alumnos. En todos los casos, el colegio se acomoda mal a la autonomía del adolescente, no sabe o qué hacer con ella. Centrado en objetivos de resultados y de selección, no toma verdaderamente a su cargo los fracasos. Tampoco encuentra un verdadero punto de equilibrio con el objetivo de una educación que prolonga, para todos y en larga medida, las ambiciones de la escuela primaria. El colegio aparece siempre desfasado. Y en la experiencia de los profesores es donde este desfase se hace más visible.

Para muitos, essas situações acima descritas são vistas como “classe agitada”. A tensão entre esses alunos “palhaços” e “bobos da corte”, contribui para desestabilizar as relações pedagógicas e, muitas vezes, o professor não consegue dar conta dessas situações.

El mundo de las evidencias escolares es tanto más frágil cuanto que el sentimiento de utilidad de los estudios y los proyectos permanece débil, y los alumnos hasta manifiestan un verdadero miedo del futuro. En este registro, la infancia que se aleja es idealizada, percibida con la nostalgia vinculada con experiencias “redondas” y plenas; los adolescentes tienen una visión romántica de su infancia. (DUBET e MARTUCCELLI, 1998, P. 237).

Talvez o sentido mais vivo da escola seja esse: a escola como espaço social, um lugar de encontro para os jovens estudantes, oriundos muitas vezes de diferentes bairros, como no depoimento do estudante da ESC. Observa-se que, embora estes bairros pertençam à mesma cidade, os jovens muitas vezes não se conhecem. Isso se dá porque, muitas vezes, a escola é o único local de socialização das culturas que sua geração manifesta. Assim, a escola, passa a ser um espaço em que as diferentes culturas se manifestam, um local de diversidade e heterogeneidade. Constitui-se como local importante para os jovens, pois lhes permite conhecer pessoas diferentes e compartilhar suas experiências ou expectativas de futuro.

O que vou levar da escola para a minha vida é que não há nada igual a um lugar onde você se sente confortável, seguro, e que a qualquer momento pode fazer um novo amigo do qual vai procurar mantê-lo para sempre (Arthur - aluno ESC).

Para o aluno acima, conforme o escrito fica evidente um dos sentidos em relação à experiência escolar. Neste caso, as relações de amizade que acabou construindo foi um dos aspectos que lhe chamou atenção.

O terceiro ano é muito massa tipo na ultima semana de aula o 3° ano agita muito com os outros anos, faz brincadeiras e num dia faz uma guerra de bixiguinhas onde molham tudo e todos no colégio, muito fera!!! Bom meu querido essa é a escola para a qual você deve se matricular ai ta minha opinião aquele abraço (Augusto - aluno CM).

Conforme o aluno, final de ano, final da formação da educação básica, é hora de comemorar, se despedir da escola, da turma, muitas vezes também se despedir dos colegas. A possibilidade de fazer algumas brincadeiras na escola se constitui como elemento importante na experiência escolar.

Ou ainda, o último ano na escola se constitui como período em que fica evidente a passagem de um ciclo e o início de outro. É o momento de despedida, não só dos amigos/colegas, mas também da escola. O que lhes espera lá fora, conforme a escrita da estudante Deise, são responsabilidades maiores, além das expectativas em fazer um curso em nível superior.

O terceiro ano, é sem dúvida o ano mais triste de todos, ao mesmo tempo que você está dando tchau para os seus amigos, com quem você conviveu durante a maior parte da sua vida escolar, você está passando para uma nova etapa da sua vida, onde você será mais cobrado e terá responsabilidades maiores! Eu, particularmente, estou muito ansiosa para entrar na faculdade, ao mesmo tempo que estou muito triste por saber que não vou ver meus colegas e amigos todos os dias! (Deise - aluna EJT).

Pelos excertos dos e-mails dos alunos, a vida juvenil na escola está fortemente impregnada por aspirações culturais e sociais. Os alunos destacam além do aprendizado, as relações que construíram com seus pares. Pode-se afirmar que, através dessas relações, os jovens se veem comprometidos com a sociabilidade, pois é entre colegas que lhes é permitido expressar-se e, muitas vezes, descobrirem-se como sujeitos. Essas relações consistem em conciliar a vida escolar com a vida pessoal; ou seja, constituir-se como jovens e alunos.

A escola é um dos locais de encontro e de socialização. Nesse local, as amizades se constituem, as relações entre os professores são promovidas – criando vínculos que vão além desse espaço. Assim, os trabalhos em grupos motivam os jovens a vivenciar diferentes experiências.