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Escola Estadual Extensão Kalunga I da comunidade do Vão de Almas

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CAPÍTULO I – HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA

3. CAPÍTULO III – AS COMUNIDADES KALUNGAS DO ENGENHO II E VÃO DE

3.4. Caracterização das escolas kalungas do Engenho II e do Vão de Almas

3.4.1. Escola Estadual Extensão Kalunga I da comunidade do Vão de Almas

A Escola Estadual Extensão Kalunga I está localizada na comunidade kalunga do Vão de Almas (Figuras 5 e 6), a 72 km de distância do centro do município de Cavalcante. Essa escola foi instalada numa área cedida pelo proprietário da Fazenda Vão das Almas, próxima ao Rio Paranã e Rio das Almas, aqui chamado pelos moradores de Rio Branco. Segundo as informações disponíveis no site da Secretaria Estadual de Educação e Esporte (SEDUCE- GO), é uma escola rural que oferece as modalidades de ensino regular, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A escola conta para seu funcionamento de um prédio próprio, com água de rio ou córrego, possui esgoto sanitário por fossa e o destino dado ao lixo produzido é a queima. (GOIÁS, SEDUCE, 2016)

Possui em sua estrutura física: cozinha, cinco salas de aulas utilizadas, mas somente três para o Ensino Médio; conta com 48 funcionários que atendem às turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. No dia em que foi realizada a visita a essa escola, observou- se que havia no dia seis professores, um coordenador, que também leciona algumas disciplinas, e quatro funcionários. A escola oferece alimentação para os alunos e atividade complementar. Os banheiros ficam do lado de fora do prédio. Quando essa escola foi inaugurada, em 2013, visando a ampliar seu atendimento ao Ensino Médio, a região não contava com energia elétrica, e na área da escola havia um sistema de energia solar com as placas fotoelétricas que alimentavam o funcionamento da escola. Mais recentemente chegou a

energia elétrica, a torre de telefonia móvel e também a internet, que os alunos gostam muito de utilizar.

Figura 5: Escola Estadual Kalunga II – Vão de Almas

Fonte: Acervo do pesquisador, 2017.

Figura 6: Placa da Escola Estadual Kalunga II – Vão de Almas

A escola conta com o recurso de dois computadores, um para usao nas atividades pedagógicas e outro para uso administrativo; uma impressora, dois equipamentos de TV, DVD, copiadora, equipamento de som e impressora. A Escola, por estar em área de remanescentes de quilombolas, enquadra-se nas diretrizes que estabelecem uma educação específica para esse grupo histórico e reconhece sua cultura como patrimônio, o que não significa contar com grandes investimentos, pois se um professor precisar de um aparelho de data show, como a escola não o possui, deve entrar em contato com a Subsecretaria Regional de Campos Belos, a mais de 100 km de distância da comunidade do Vão de Almas, para agendar o equipamento, que, por sua vez somente será disponibilizado quando houver outras demandas para a região, pois assim se justificaria o deslocamento a essa distância, de um veículo e profissional.

Os professores, em diálogo informal com o pesquisador em uma das visitas em campo, mencionam que as escolas instaladas nas comunidades remanescentes de quilombolas, como os kalungas da região deveriam contar com mais recursos e melhores condições de trabalho. Os professores que não são moradores da comunidade deveriam ter assegurado nos dias que estão em serviço na comunidade auxílio moradia e alimentação, mas eles têm que arcar com essas despesas apesar dos baixos salários que recebem, pois seus contratos são temporários.

Atualmente, as duas turmas do Ensino Médio contam com a seguinte quantidade de alunos: o 1º ano tem sete alunos frequentes; o 2º ano, nove. Segundo os relatos dos professores, não se formou uma turma do 3º ano porque no ano anterior não houve um 2º ano. As turmas dos três anos que compõem o Ensino Médio sempre tiveram número bem reduzido de alunos, sem falar das desistências que eventualmente ocorrem, diminuindo, mais ainda, o número de alunos da escola. Nessa escola, foi notada grande quantidade de livros didáticos quando comparada com o reduzido número de alunos das turmas, sendo que a escola já havia fornecido livros para outras escolas kalungas que tinham déficit de livros.

A estrutura física da escola possibilita o desenvolvimento dos trabalhos educativos, tendo sido observado um aspecto positivo relacionado ao empenho e disposição da equipe da escola, que geram um bom trabalho com os alunos. Nenhum professor dessa escola, assim como os funcionários pertence ao quadro efetivo de servidores do Estado. Nem todos os professores e demais funcionários residem na comunidade, alguns tendo mesmo família e moradia fixa em Cavalcante, passam a semana na comunidade e retornam aos seus lares no final de semana.

Os alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio para ir para a Escola Estadual Extensão Kalunga I do Vão de Almas têm que percorrer cerca de nove quilômetros por uma estrada de terra em péssimas condições, atravessar o Rio Branco de canoa a remo, pois o núcleo onde há maior concentração populacional fica do lado sul da margem, enquanto a Escola está do outro lado. Os estudantes atravessam o rio com seus materiais escolares e muitos aproveitam para passar suas bicicletas, pois há uma distância grande a ser superada. Segundo os relatos de alguns jovens e crianças, o governo estadual mandou umas bicicletas para os alunos, mas muitas já estão danificadas, pois não há tem como dar manutenção, troca de peças e até pneus. Muitos pré-adolescentes e jovens percorrem a pé essa distância para ir e voltar da escola e, mesmo assim, seguem firmes esse desafio que é ir para a escola; eles afirmam que fazem tudo isso porque acreditam que a educação é um meio de conquistar melhores condições futuras.

Ao longo desse trajeto, cercado pelo cerrado da região e sol forte que castiga, esses estudantes seguem por estradas e trilhas empoeiradas, esburacadas pela erosão sem qualquer auxílio. Os kalungas do Vão de Almas quando falam que percorrem longas distâncias para estudar, visitar amigos e parentes, ir trabalhar na roça, ir até a estrada pegar uma condução, ir ao rio buscar água ou para pescar, falam naturalmente como se essa prática fosse bastante comum no seu cotidiano. E de fato essa prática é comum, pois ou se vai a pé, ou então se utiliza, para quem tem condições, o cavalo.

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