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4 – TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL

6. A escola Marvin: texto e contexto

Como se percebe este trabalho é um estudo de caso, tendo em vistas a amplitude do programa de educação profissional na cidade de Fortaleza que hoje conta com 18 Escolas desse tipo. Devido a limitação de tempo e recursos financeiros optou-se pela avaliação da EEEP Marvin localizada no Bairro Cristo Redentor, na comunidade de Nossa Senhora das Graças (Grande Pirambú). A escola teve cerca de 460 alunos matriculados no ano de 2014 em quatro cursos técnicos integrados ao ensino médio: Informática, Hospedagem, Enfermagem e Modelagem e vestuário.

A escolha por esta escola deu-se pelo fato deste pesquisador já ter lecionado na instituição no período de Setembro de 2009 à Março de 2010. A escola Marvin de acordo com

relatos de pessoas da comunidade foi fundada por um missionário americano de mesmo nome que chegara na comunidade na década de 1950, para desenvolver projetos sociais. O fato coincidiu com a formação do bairro datada como início de sua ocupação o ano de 1952 de acordo com Souza (2006).

O grande Pirambú é hoje um dos aglomerados mais densos de Fortaleza. São 42.878 habitantes segundo dados do IBGE (2011). É preciso salientar que apesar de apresentar os piores indicadores sociais e a menor renda média da Secretaria Executiva Regional I, o bairro é marcado por histórias de populações inconformadas, tanto pela via do crime, quanto pela luta política, com presença significativa de movimentos sociais organizados e suas lutas e intervenções em favor de melhorias no bairro. (SECRETARIA EXECUTIVA REGIONAL I, 2004).

O complexo Grande Pirambú se divide nos bairros: Tirol, Nossa Senhora das Graças, Cristo Redentor e Quatro Varas. Após essa divisão o Pirambu atualmente, é denominado Bairro Nossa Senhora das Graças pela prefeitura de Fortaleza.

A escola Marvin, já foi reconhecida pela comunidade como profissionalizante desde a década de 1970, quando fornecia na época cursos técnicos como secretariado, mecânica e eletrônica. Após o fim da política nacional de educação profissional articulada ao ensino médio nos anos 1970, a escola voltou a fornecer o ensino regular, fato que durou até 2008, quando passou por reparos estruturais provenientes de recursos do Governo do estado para abrigar o novo projeto.

Desde 2009 quando passou a ser profissional a EEEP Marvin formou mais de 320 estudantes em cursos de nível técnico, sendo 3 turmas de Enfermagem, 3 turmas em Informática 1 turma de Técnico em Turismo, 2 turmas de técnico em Hospedagem e 2 turmas de Vestuário Modelagem.

O prédio atual da EEEP Marvin é bastante amplo, ocupando parte significativa da Comunidade de Nossa Senhora das Graças. Frequentemente sofre com problemas estruturais ligados à falta de água e ao calor, fator muito lembrado por alunos e professores.

O entorno da escola é densamente habitado e rodeado de moradias, muitas das quais informais (ver figura III e mais fotos no anexo II). Casas, casebres e barracos multiplicam-se com o passar dos anos pressionando o uso e a ocupação do solo urbano o que reflete no aumento de resíduos sólidos e lixo espalhado pelas ruas da comunidade.

FIGURA III - Entrada da escola

GOMES, 2015

A mesma situa-se próxima à um batalhão da polícia militar, também é próxima de outras escolas e projetos sociais. Da rua de acesso é possível ter uma visão de parte do oceano atlântico. O litoral próximo ao prédio foi recentemente objeto de reordenação urbana conduzida pela prefeitura municipal de Fortaleza no programa intitulado Vila do Mar. Esta reordenação foi responsável pelas remoções de muitas famílias que ocupavam as faixas litorâneas. Este processo já ocorreu inúmeras vezes na história do Pirambú. Segundo Souza (2006):

Com o crescimento de favelas como o Pirambú, Lagamar e Verdes mares, dentre outras, iniciou-s, ainda na década de 1960 , os conflitos pela posse da terra. O Pirambú, bairro situado no litoral Oeste da cidade, ao lado da Zona Industrial da Av. Francisco Sá em área relativamente próxima ao centro da cidade, foi uma das primeiras favelas a sofrer os problemas de expulsão. (p. 154).

O clima de insegurança interfere principalmente na rotina dos profissionais que atuam na escola como os professores, porém os alunos que lá vivem sentem-se inseguros apenas em

relação à determinados locais do bairro. A fala de muitos revela um certo grau de naturalidade a respeito dos acontecimentos violentos que perpassam o cotidiano do bairro.

O grande Pirambú ocupou durante muitos anos as primeiras posições nos índices de criminalidade em Fortaleza, fato comprovado pela memória local dos moradores e também pelos noticiários policiais da década de 1980 e 1990. Era bastante disseminado na mídia os frequentes conflitos entre gangues rivais. De acordo com relatos de quem vive a mais tempo no bairro as gangues diminuíram mas ainda existem em territórios específicos.

Em síntese a comunidade de Nossa senhora das Graças inserida no Grande Pirambú é um espaço onde claramente pode-se perceber a exclusão social materializada nas ruas, nas construções, nos relatos e na memória local. A pobreza e a escassez de serviços básicos fizeram do bairro espaço de de surgimento de inúmeros conflitos e movimentos sociais que reivindicassem o direito à terra, ao trabalho, à saúde e à educação. A violência urbana é apenas uma das faces desse espaço contraditório, que também se caracteriza pela intensa vida comercial diurna e pela territorialização de determinados locais por grupos sociais organizados tais como pescadores, comerciantes, moradores, ou mesmo sujeitos inseridos no tráfico de drogas.

Dessa forma a localização da escola Marvin ressalta o seu papel na formação dos atores sociais daquela comunidade. Passa a ter uma função central na conscientização e emancipação dos indivíduos, isto se compreendermos a instituição escolar enquanto lócus do desenvolvimento humano crítico, capaz de compreender a realidade e dela participar ativamente rumo a um processo transformador.