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Mapa 03 – Localização da Escola em Porto Velho/RO

3.1 Escola Pública

O termo “Escola Pública” surgiu quando o Estado passou a se responsabilizar pela educação da população. A primeira escola pública surgiu na Prússia com o decreto do rei Frederico Guilherme I, obrigando as crianças de 5 a 12 anos a estarem

na escola, proibindo a contratação de crianças de qualquer idade que não tivessem concluído os ensinos obrigatórios (CELETI, 2012, p. 30). A escola seguia o “regime espartano” com disciplina, obediência e forte divisão das classes. O objetivo não era formar um cidadão culto, mas ter um povo obediente, dócil e preparado para a guerra. Desta forma, o ensino passou a tutela e determinação do Estado com currículo, planos de ensino e leis educacionais que todas as escolas públicas deveriam seguir. Passou a ser um bem da coletividade e deveria ser gratuita, universal, laica com seus custos pagos pelos cidadãos através dos impostos.

As alterações do conhecimento e do saber não deveriam ser um privilégio para alguns, mas tornar-se uma necessidade de todos. Não poderia ser um instrumento segregador, pois é função da Escola Pública transformar-se em educadora de trabalhadores comuns, trabalhadores qualificados, especializados ou técnicos de qualquer profissão e até preparar cientistas e pesquisadores (TEIXEIRA, 1994, p.45). Segundo Freire (1991, p.16), a participação da comunidade rompe com a tradição de que somente a elite é capaz de ver as necessidades da sociedade.

É um local por excelência que transborda e recria a cultura popular. Deve ser o centro das reflexões, dos debates e das soluções onde a cultura popular vai se organizando e mostrando as próprias experiências. É formada desde a constituição física até a equipe pedagógica passando pelos professores e técnicos de pensamento político, pois é também espaço de organização política, apesar de ter visão do mantenedor da escola aqui representado pelo governo. Os jovens das famílias de baixa renda terão, na escola, os meios para se desenvolverem intelectualmente e tornarem-se independentes dos valores da classe dominante.

No Brasil, tivemos reformadores que, com insistência, convenceram a sociedade local da necessidade de investimento maior na formação intelectual da população e que lutaram para o desenvolvimento das políticas públicas educacionais como Antônio Carneiro Leão81, José Quirino Ribeiro82, Lourenço Filho83 e Anísio

81Antônio Carneiro de Arruda Leão foi um professor que fez a reforma do ensino de Pernambuco na

década de 30 e escreveu “Introdução à administração escolar”, pela editora Melhoramentos, em 1939, baseando-se nas teorias de Henri Fayol.

82José Quirino Ribeiro foi um educador no Estado de São Paulo que escreveu o livro “Fayolismo na

administração das escolas públicas”. São Paulo: Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo,

1938.

83Manoel Bergström Lourenço Filho foi um educador e pedagogista brasileiro conhecido, sobretudo,

por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova. Foi duramente criticado por ter colaborado com o Estado Novo de Getúlio Vargas. Escreveu o livro: “Organização e administração

Teixeira84 que foram os primeiros a falar de uma modernização da administração

pública escolar. Anísio Teixeira se preocupou com a educação pública e seu livro “Educação não é um privilégio” torna-se um pilar da atuação das políticas educacionais. Sempre enfrentou obstáculos das forças dominantes que contrapunham às transformações que visavam superar as desigualdades da sociedade brasileira (SAVIANI 2008, p. 222). Hoje, as propostas do Estado para as políticas sociais estão voltadas para o enfrentamento das desigualdades, a busca pela redução dos privilegiados que controlam a ordem estabelecida e a maioria marginalizada que os sustentam (DEMO, 1994, p. 12).

Segundo Teixeira (1994, p.60-61), o dever do Estado é oferecer aos brasileiros a escola que possa lhes dar a formação indispensável, capaz de atender às aptidões e dar-lhes a boa cultura. É necessário, e com urgência, a mobilização dos vários atores para transformar a realidade social da escola. Foi vista no passado como assistencialista, voltada para atender aos carentes sem a preocupação da qualidade, mas está gradualmente acompanhando as necessidades da sociedade expressas nos saberes úteis. A estrutura é complexa e, para mudar a escola pública, teria que ouvir os delegados de ensino, diretores, supervisores, professores comunidade científica, alunos, pais, mães, a sociedade, zeladoras e merendeiras para montar o quadro do problema educacional (FREIRE, 1991, p. 35 e 75).

As mudanças da escola estão sendo feitas desde o “Manifesto dos Pioneiros

da Escola Nova”, de 1932, para garantir os direitos à educação em igualdade de

condições no ensino público gratuito (dever do Estado e direito do cidadão), de qualidade (tenham o padrão de excelência no ensino), obrigatória (para todos poderem acessar a ela) e laica (não deve estar presa à religião específica) a todos.

A função social da escola pública é o resultado do contexto histórico-social, pois é a única dentro desta sociedade que é fruto dela, pode ao mesmo tempo questionar e intervir na formação das novas gerações. Socializa o conhecimento, sistematizando- o ao longo dos séculos para apresentá-lo aos estudantes. Porém, não se aprende todo o conhecimento adquirido na escola em 20 anos de estudos. O que se faz é apresentar o resumo deste conhecimento e este define que tipo de sujeito irá formar.

84Anísio Spínola Teixeira foi um jurista, intelectual educador e escritor brasileiro. Personagem central

na história da educação no Brasil nas décadas de 1920 e 1930. Escreveu vários livros sobre educação, entre eles: “Educação não é um privilégio” e “Educação pública: administração e desenvolvimento”. Rio de Janeiro: Diretoria Geral de Instituição Pública, 1935.

Assim, a escola deve refletir sobre a função social, pois deve estar ciente dela. Formará sujeitos que terão de adaptar-se à situação social posta, mas há fatores que acabam emperrando estas propostas. Um deles é a burocracia educacional que acaba atrapalhando como exemplifica Freire (1991, p. 35 e 75),

[...]. É claro que não é fácil! Há obstáculos de toda ordem retardando a ação transformadora. O amontoado de papéis tomando o nosso tempo, os mecanismos administrativos emperrando a marcha dos projetos, os prazos para isto, para aquilo, um deus nos acuda.

Para que isso não ocorra e a escola possa exercer a função social, terá que ter o Projeto Político Pedagógico – PPP, que demonstre a identidade da escola, que execute as ações definidas pelo Conselho Escolar, que ajude a realizar o processo da construção do conhecimento com visão global, que busque alternativas para o aprender e possibilite o desenvolvimento dos alunos na compreensão do mundo social (analfabetismo, aquecimento global, corrupção, desigualdade social, globalização, falta de solidariedade e violência). É o maior desafio da educação atual.

A escola dá oportunidades iguais para todas as classes sociais. Dentro de suas instalações, todos são iguais, não existem distinções entre pobres e ricos, brancos ou negros, deficientes e não deficientes. O Estado não deve ter o monopólio da educação, mas, por ela, todos possam ter o direito à boa escola pública de qualidade. Só assim as classes inferiores poderão ter acesso à boa educação sem preconceitos (TEIXEIRA, 1994, p. 99).

O fator que beneficia a educação no Brasil é o currículo escolar. Tanto as escolas públicas como as privadas utilizam o mesmo. Essa característica favorece a transferência dos alunos da escola particular para as públicas e vice-versa sem que haja prejuízo nos conhecimentos adquiridos. Outro benefício é a multiplicidade de escolas públicas pelo interior, pois a maioria das cidades brasileiras possui mais de uma escola pública ou várias, o que facilita as matrículas mais próximas das residências. Assim, a escola irá conhecer a realidade do bairro em que se situa e poderá trabalhar esta realidade social no aprendizado, além de favorecer as famílias que evitarão o deslocamento dos filhos para outras escolas distantes.