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Mapa 03 – Localização da Escola em Porto Velho/RO

2.4 Os Interesses Internacionais nas Políticas Públicas Educacionais do

Procura-se, nesta seção, abordar os elementos da política educacional a partir dos organismos internacionais na reforma educacional, realizada pelo Estado através do Banco Mundial, que foi o articulador financeiro e ideológico das diretrizes educacionais sob a ótica do mercado capitalista liberal.

A educação, porém, é muito ampla e as políticas públicas educacionais devem ter foco específico, como: construção do prédio, contratação de profissionais, formação docente, carreira, valorização profissional, matriz curricular, gestão escolar e outras. O Estado brasileiro tenta estruturar as políticas públicas educacionais, mas não consegue. Atualmente, surgiram avanços na legislação bem como melhorias nas políticas públicas através de seminários e discussões para o aperfeiçoamento da gestão educacional.

Para o Estado Neoliberal, as políticas públicas são importantes para a construção histórica e apresentam diferentes interesses econômicos e políticos. As políticas educacionais necessitam dos fatores culturais, éticos e econômicos que restringem a execução e os resultados. O Estado, com políticas administrativas, com programas governamentais, com vontade política e com a relação dos programas com o cenário econômico também são fatores importantes.

As políticas públicas educacionais necessitam ser compreendidas e se adequarem às transformações que acontecem na economia, na política, na cultura e nas mudanças dos espaços geográficos modernos.

As mudanças ocorridas no sistema de produção econômico atreladas aos avanços científicos e a redução do papel do Estado a partir da década de 70 influenciaram o sistema de gestão público e as políticas educacionais (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2005, p. 34). As reestruturações da economia mundial através de organismos internacionais fizeram com que a educação fosse submetida aos interesses do mercado de trabalho ao invés de uma formação cultural humana. Foram

criados organismos internacionais57 para o fomento da globalização e para criar uma

nova ordem mundial (SANDER, 2008, p. 159). As instituições internacionais criaram normas para as reformas dos Estados aos quais passaram a exigir mudanças para obterem empréstimos financeiros ou obterem apoio político.

Os países em dificuldades aceitaram as condições e pressionados a modernizarem a gestão para obterem melhor desenvolvimento econômico e redução da desigualdade pelo aumento da produtividade. Os princípios educacionais voltaram-se para a formação básica de trabalhadores e o Banco Mundial passou a fomentar a educação básica como estratégia neoliberal. O Brasil em meados de 1970 recebeu empréstimos para investir na reformulação do ensino primário e médio, transformando estudantes em mão de obra qualificada para a indústria. O trabalhador torna-se acrítico ao sistema mantendo apenas seu foco na dimensão da produção (SILVA, 2002b).

Para as políticas públicas educacionais, os empréstimos são estabelecidos com regras, procedimentos e metas a serem atingidas que condicionam os projetos educacionais a favorecerem a ideologia neoliberal. As diretrizes para as reformas nos países tinham como objetivos melhorar a gestão, a qualidade do serviço público, a redução das despesas e o aumento da produtividade na gestão do Estado (SOUZA, 2002, p.90). Os financiamentos antes limitados à área de infraestrutura passaram a incluir o setor social (a educação, a saúde e o setor agrícola). Assim, a educação passa a ser alinhada com o desenvolvimento econômico do país.

A partir da década de 80, o Banco Mundial realiza acordos com os países para promoverem reformas educacionais em diferentes níveis de ensino, principalmente na privatização dos níveis educacionais mais elevados, privilegiando o fator material no lugar do humano, além de fortalecer o setor educacional privado reduzindo o papel do Estado (OLIVEIRA, 2015, p. 56).

A política pública da gestão escolar brasileira teve forte interferência do Banco Mundial após a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien, na Tailândia (FONSECA, 1998). A conferência fortaleceu os conceitos neoliberais nas políticas públicas educacionais no Brasil e estabeleceu compromisso para apresentar a educação de qualidade às crianças, jovens e adultos focando nas

57 Esses organismos são: Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das

Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados Americanos (OEA) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Necessidades Básicas de Aprendizagem - NEBA. Estabeleceram-se as prioridades para a universalização da educação como: as necessidades básicas de aprendizagem; educação das meninas e mulheres; atenção especial aos desamparados e aos portadores de necessidades especiais; avaliação de resultados; valorização do ambiente de aprendizagem e compartilhamento das responsabilidades com a sociedade; envolvimento da sociedade na educação; reconhecimento da validade dos saberes tradicionais e patrimônio cultural do povo (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2007). Determinou-se a descentralização da educação, a autonomia na gestão escolar, o envolvimento dos pais e da comunidade escolar nas atividades da escola e até parcerias com o setor privado e Organizações Não Governamentais - ONGs. As políticas descentralizadoras obrigam as escolas a executarem ações que eram de responsabilidade das SEDUCs como as reformas dentro da escola, contratando a mão-de-obra, fazendo as licitações e as compras dos materiais (CRUZ, 2003, p. 17). Isso requer volume grande de recursos e quantidade razoável de documentos para prestar contas, de acordo com o Banco Mundial.

O Brasil, no início do Governo de Fernando Collor de Mello, intensifica as relações com o Banco Mundial por meio de empréstimos para a educação brasileira e, assim, aproximando-se das propostas e dos ideais do Consenso de Washington58.

Com a aprovação da nova LDB, as reformas e emendas constitucionais subsidiaram as mudanças nas políticas públicas da educação. Foram criados o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF59; a reforma curricular por meio dos Parâmetros Curriculares

Nacionais - PCNs; os mecanismos de avaliação; a ampliação do Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE e o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD; o Programa Dinheiro Direto na Escola PDDE; o Programa TV Escola; Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO, Programa de Formação de Professores em Exercício - PROFORMAÇÃO; e a aprovação do Plano Nacional de Educação - PNE (JACOMELI, 2011).

Fernando Henrique Cardoso adota as diretrizes internacionais e o pensamento pedagógico empresarial (FRIGOTTO E CIAVATTA, 2003). Cria os Planos Nacionais

58O Consenso de Washington foi uma recomendação internacional elaborada em 1989, para divulgar a

conduta econômica neoliberal no mundo, com a intenção de combater as crises e misérias dos países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina.

59 FUNDEF é um conjunto de fundos contábeis formado por recursos dos três níveis da administração

para a Educação, surgindo aí os pilares para a política educacional da gestão democrática na escola.

Para os organismos internacionais, os problemas da escola estavam no modelo de gestão centralizador que a tornava ineficaz. Para a solução do problema, só havia a solução da Gestão Democrática. A educação passa a ser compreendida como serviço com ênfase em resultados e indicadores de desempenho, na lógica da descentralização entre as instâncias governamentais (GANDINI E RISCAL, 2002). O aumento da responsabilidade da escola tira do Estado a responsabilidade pelo fracasso dos resultados e a este cabe o papel de regulador e avaliador das políticas públicas educacionais (BARROSO, 2005, p. 728).

O processo regulador das políticas públicas na administração do Estado brasileiro, entrelaçado com as normas para a educação mundial das conferências internacionais de educação, fortalece a lógica de modernização da estrutura, organização e gestão das escolas. Um exemplo claro é o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) que envolve meta, desempenho, controle e eficiência. O PDE força a comunidade escolar a se reunir, planejar e estabelecer metas de ação fragmentando o trabalho dos professores, centralizando as decisões e cria um modelo centrado na ótica da economia (SILVA, 2005b, p. 274, 279). A crítica de Silva ao PDE está na imposição de normas que este impõe à escola para utilização dos recursos, o que dificulta o fortalecimento da autonomia da escola na execução dos recursos.