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Escola Politécnica de São Paulo

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 42-47)

A Escola Politécnica de São Paulo foi criada dentro do movimento de descentralização política que sucedeu a Proclamação da República e ao impacto da Revolução Técnico-Científica ou Segunda Revolução Industrial. Era destinada ao ensino profissionalizante de Engenharia e seus trabalhos aplicados eram relacionados com a construção de estradas de ferro.

Antonio Francisco de Paula Souza (1843-1917), eleito deputado estadual de São Paulo em 1892, e exercendo a presidência da Câmara dos Deputados, propôs a criação de um Instituto Politécnico na cidade paulistana. Ele possuía credencial para tanto, pois estudara na Eidgenössische Technis Hochschule (ETH) de Zurique, de 1861 a 1863 e, também, na Eidgenössische Technische

Hochschule de Carlsruhe, de 1864 a 1867, além de ter trabalhado na construção ferroviária nos Estados Unidos. Como estudante, viveu na Europa em franco crescimento industrial, sentindo as mudanças técnicas e tecnológicas norte- americanas, em rápida expansão (MOTOYAMA; NAGAMINI, 2004).

A essa época, São Paulo expandia-se em razão da prosperidade da agricultura e comércio de café, não obstante a crise internacional que rondava a cafeicultura paulista. Pelo seu espírito de autonomia, auxiliada pela dificuldade de controle pela metrópole, São Paulo tornou-se um centro político importante capaz de trazer uma das duas únicas Faculdades de Direito do País. Com isso, surgiu, em 1827, a Faculdade de Direito de São Paulo.

O Projeto do Instituto Politécnico resultou da Lei 64, de 17 de agosto de 1892. Entretanto, antes que Paula Souza conseguisse tornar realidade a instituição, recebeu a nomeação para ser Ministro de Exterior e depois de Agricultura, no Governo de Floriano Peixoto.

Nesse ínterim, tramitava outra lei, a de n. 26, de 11 de maio do mesmo ano, autorizando o funcionamento de duas escolas: a de agricultura, junto com o estabelecimento de dez estações agronômicas, e outra para graduar engenheiros práticos, construtores e condutores de máquinas, mestres de oficinas e diretores de indústrias.

O Governo Paulista optou em fundir as duas leis, fazendo surgir, assim, a Escola Politécnica de São Paulo, pela Lei 191, de 24 de agosto de 1893.

Antonio Francisco de Paula Souza foi nomeado o primeiro diretor da Politécnica e também Professor Catedrático de Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções.

A Politécnica começou oferecendo cursos de artes mecânicas e os de engenheiro civil, engenheiro agrícola, engenheiro industrial e, logo no ano seguinte, o de engenheiro arquiteto. Suas atividades tiveram início em 15 de fevereiro de 1894, com 31 alunos matriculados e 28 ouvintes, nas dependências da antiga residência do Marquês de Três Rios, no bairro da Luz, na capital paulista (MOTOYAMA; NAGAMINI, 2004).

Theodoro Augusto Ramos (1895-1935) foi um grande nome da Escola Politécnica de São Paulo. Ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1912 e exerceu liderança no grupo de seus colegas, sendo expressivo discípulo de Manuel Amoroso Costa (1885-1928), que iniciou suas aulas naquele ano. Em 1919, Theodoro Ramos, com a tese Questões sobre as curvas reversas, obteve o

cargo de Professor Substituto Interino na primeira seção da Escola Politécnica de São Paulo, que se tornou, na época, importante centro irradiador de Matemática no País. Em 1922, por Decreto do Governo Estadual, foi nomeado Professor Efetivo da Escola Politécnica de São Paulo. Em 1933, passou a ocupar-se da seleção do corpo docente para a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, criada em 1934 (SCHWARTZMAN, 1979, p. 114-115).

No Brasil, antes do período Republicano, apenas a formação de professores para o ensino primário mereceu alguma atenção dos governantes brasileiros. Em 1835, foi criada a primeira Escola Normal em Niterói e, em 1842, a segunda na Bahia. Todavia, não houve nenhuma tentativa de criação de escola para a preparação de professores para o ensino secundário. Os professores de Matemática que atuavam nas escolas secundárias obtiveram sua formação nas escolas politécnicas, escolas militares ou similares ou eram simplesmente leigos. Não foi oferecida nenhuma possibilidade de preparação de professores de Matemática no Brasil, nessa época, como ocorreu em Portugal ou em outros países europeus.

No início do período Republicano, foram criadas, entre 1889 e 1918, cinqüenta e seis instituições de ensino superior, em sua maioria privada, de iniciativa confessional católica ou não, e um número menor de escolas de iniciativa de elites locais, que pretendiam suprir suas regiões de instituições de ensino superior, contando para isso com o apoio dos governos locais (SAMPAIO,

1998, apud ZVEIBIL, 1999).

Podemos mencionar nesse período o surgimento das seguintes escolas de nível superior:

Escola de Engenharia Mackenzie, em São Paulo (1896); Escola de Engenharia de Porto Alegre (1896);

Escola Livre de Farmácia, em São Paulo (1898);

Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, no Rio de Janeiro (1898);

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba (1901) e duas Escolas de Comércio, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo (ambas em 1901) (SCHWARTZMAN, 1979, p. 84).

O ensino da Matemática Superior no Brasil a partir de 1896 e até 1933 era ministrado exclusivamente como disciplina dos cursos de engenharia.

Apesar da expansão e diferenciação ocorridas, o modelo de ensino superior brasileiro vigente na Primeira República mantinha a tradição anterior, continuava não universitário, ou seja, era constituído por um conjunto de escolas isoladas ou faculdades autônomas, basicamente organizado em torno do ensino e voltado para a formação de profissionais liberais.

O ensino das ciências, tanto quanto das humanidades, sempre esteve ligado à necessidade de conceder diplomas que permitissem o exercício de uma profissão e formasse os quadros da burocracia estatal e das elites dirigentes (DURHAM, 1987, apud ZVEIBIL, 1999).

A incipiente pesquisa, nestas escolas, era sempre desenvolvida marginalmente à formação profissional, mas não alheia a ela, uma vez que a utilização de tecnologia, mesmo importada, implicava apoiar-se em uma formação científica, despertando interesse pela investigação. A conseqüência consistiu em que, quando a pesquisa existia, ela se desenvolvia nos interstícios da formação profissional.

Foi a partir da década de 1910 que se percebeu um trabalho em prol da elevação do nível da cultura científica brasileira e a partir da década de 1920 que se fortaleceu a proposta de criar verdadeiras universidades de ensino e de pesquisa em substituição às escolas superiores isoladas. Não se tratava mais de apenas transmitir um saber constituído, mas de, simultaneamente, fornecer o domínio dos instrumentos de produção de novos conhecimentos. Desta forma, pesquisa deveria permear o ensino, renovando-o constantemente.

Os anos 20 foram marcados no Brasil por novas idéias, por movimentos culturais, políticos e sociais que tiveram profundas repercussões nas décadas seguintes.

Vieram para o Brasil os seguintes cientistas para ministrar cursos e realizar conferências: Jacques Salomon Hadamard (1865-1963), Félix Edouard Justin Émile Borel (1871-1956), Paul Langevin (1872-1946) e Albert Einstein (1879- 1955).

Promoveu-se a Semana de Arte Moderna de 22, em São Paulo, que rompeu com os moldes do academicismo na pintura, na música e na literatura, contribuindo para um contato mais direto com a vida brasileira e com as novas tendências da arte européia mais viva. Do ponto de vista político, tivemos uma série de rebeliões, conhecidas como “movimento tenentista”, que culminaram com a Revolução de 1930. Foi nesse período que se constituíram, no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 1922, cujas origens datam de 1916, quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Ciências (SBC), e a Associação Brasileira de Educação (ABE), instituída em 1924. Essas duas associações iniciaram um movimento pela modernização do sistema educacional brasileiro em todos os níveis, incluindo o universitário (SCHWARTZMAN, 1979, p. 163).

A partir da década de 1930 temos os primeiros indícios de formação da comunidade matemática brasileira, com congregação de matemáticos em associações de âmbito local, criação de periódicos especializados em Matemática para publicação de pesquisas, desejo de publicação em língua portuguesa e, preocupação com a repercussão das pesquisas no seio da comunidade matemática internacional (SILVA, 2007 p. 573, in LINTZ, 2007).

Enquanto na América espanhola a fundação das primeiras Universidades data do século XVI (São Domingos, em 1538, México e Peru, em 1551, as pioneiras), no Brasil, os primeiros centros de ensino universitário foram criados no começo do século XX.

Na década de 20 já havia sido criada a Universidade do Rio de Janeiro (depois Universidade do Brasil), por Decreto do Governo Epitácio Pessoa (07.09.1920), e iniciativa anterior ocorrera no Paraná (Universidade do Paraná, em 1912). Entretanto, nos dois casos, tratava-se, simplesmente, de uma reunião formal de escolas tradicionais autônomas já existentes. A Universidade do Rio de Janeiro reunia escolas até então isoladas, tais como a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Note-se que não passava de uma reunião, por meio de decreto, de escolas isoladas já em funcionamento, porém de caráter eminentemente profissionalizante. Outras instituições já existentes como Escola de Belas Artes,

Instituto Nacional de Música e Museu Nacional, não fizeram parte da nova estrutura universitária.

A Universidade deveria ser estruturada de maneira a que se integrassem num sistema único, mas sob direção autônoma, as Faculdades Profissionais (Medicina, Engenharia, Direito), Institutos Técnicos Especializados (Farmácia, Odontologia) e Institutos de Altos Estudos (Faculdades de Filosofia e Letras, de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, de Ciências Econômicas e Sociais, de Educação, etc.). E, ainda, sem perder seu caráter de universalidade, como uma instituição orgânica e viva, posta pelo seu espírito científico, pelo nível dos estudos e pela natureza e eficácia de sua ação, a serviço da formação e desenvolvimento da cultura nacional.

Se a Primeira República foi caracterizada pela descentralização política, a partir dos anos 20 e, sobretudo, após 1930 essa tendência se reverteu e começou a haver crescente centralização nos mais diversos setores da sociedade.

Surgiu, então, um aparelho de Estado mais centralizado e o poder se deslocou cada vez mais, dos âmbitos local e regional para o âmbito central. Nesse contexto, o Governo Provisório, ainda em 1930, criou o Ministério da Educação e Saúde Pública, tendo como seu primeiro titular Francisco Campos, que elaborou e implementou reformas de ensino – secundário, superior e comercial – com acentuada tônica centralizadora.

Nessa linha o governo elaborou seu projeto universitário, articulando medidas que se estendiam desde a promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras à reorganização da Universidade do Rio de Janeiro, até chegar à institucionalização da Universidade do Brasil.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 42-47)