• Nenhum resultado encontrado

Escola Secundária Doutor Azevedo Neves

Anexo I – Roteiro de aulas

Aula 1 Escola Secundária Doutor Azevedo Neves

Sumário: Estudo da teoria contratualista de Hobbes.

Breve introdução ao contratualismo.

Para os contratualistas o Estado não é uma forma natural de os indivíduos organizarem a sua vida em sociedade.

O Estado é uma construção humana. O resultado de um contrato.

Hobbes

Hobbes não nega que os seres humanos dependam uns dos outros, apenas acha que todos têm um desejo natural de usufruir

Por outras palavras, Hobbes nega que os homens tenham por natureza um instinto que os leve à benevolência e à concórdia recíprocas: “Mesmo que haja uma grande multidão, se as acções de cada um dos que a compõem forem determinadas segundo juízo individual e os apetites individuais de cada um, não se poderá esperar que ela seja capaz de dar defesa e protecção a ninguém, seja contra o inimigo comum, seja contra as injúrias feitas uns aos outros. Porque divergindo em opinião quanto ao melhor uso e aplicação da sua força, em vez de se ajudarem só se atrapalham uns aos outros, e devido a essa oposição mútua reduzem a nada a sua força. E devido a tal não apenas facilmente serão subjugados por um pequeno número que se haja oposto de acordo, mas além disso, mesmo sem haver inimigo comum, facilmente farão guerra uns contra os outros, por causa dos seus interesses particulares.” Hobbes, T. Leviatã, p. 144

Hobbes opõe-se, portanto, à ideia de homem como animal político. (Opõe-se à conceção aristotélica de homem enquanto animal político). Os homens estão constantemente envolvidos numa competição pela honra e pela dignidade, o que leva ao surgimento da inveja e do ódio e, por fim, da guerra. (cf. Leviatã, p. 145)

O homem só encontra felicidade na comparação com os outros homens. (cf. Leviatã, p. 145)

Os homens, através do uso da razão, veem e julgam ver erros na administração da sua existência comum. “Ao passo que entre os homens são em grande número os que se julgam mais sábios e mais capacitados do que os outros para o exercício do poder público. E esses esforçam-se por empreender reformas e inovações, uns de uma maneira e outros doutra, acabando assim por levar o país à desordem e à guerra civil.” Hobbes, T. Leviatã, p. 145

“Arte das palavras” cria conflitos entre os homens. (cf. Leviatã, p. 145)

O homem é tanto mais implicativo quanto mais satisfeito se sente, pois é neste caso que tende mais para exibir a sua sabedoria e para controlar as acções dos que governam. (cf. Leviatã, p. 145)

Para Hobbes a amizade deve-se apenas ao temor recíproco que caracteriza as relações entre homens.

O estado de natureza:

Lei natural do mais forte.

Todos se julgam com direito a tudo.

A igualdade natural entre os homens faz com que todos desejem a mesma coisa, isto é, o uso exclusivo dos bens comuns.

Ninguém reconhece ou respeita direito nenhum. A vida humana é nesta situação um constante conflito. Todos contra todos.

Ameaça permanente.

No estado de natureza não existe noção de justo ou injusto, de errado ou correto.

Onde não há nem lei nem poder falta a possibilidade da distinção entre o justo e o injusto.

Razão para sair do estado de natureza:

Nenhum ser racional aguenta viver numa situação em que não há garantia alguma de continuar a viver.

Hobbes considera que qualquer homem, por via da razão natural, tem medo da morte, sobretudo se esta for acontecer em circunstâncias violentas.

Nenhum ser racional aguenta viver numa situação em que não há qualquer segurança, ordem ou estabilidade.

O estado de sociedade ou a paz cívica:

A paz e a segurança só são possíveis se cada qual renunciar ao direito que, no estado natural, tem sobre tudo.

Todos abdicam dos seus direitos, colocando-os, por mútuo acordo, nas mãos de (idealmente) um só indivíduo ou de um conjunto de indivíduos:

Leitura e discussão conjunta da seguinte citação retirada do Leviatã

de Thomas Hobbes: “(…) conferir toda a sua força e poder a um

homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir as suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma

assembleia de homens como representantes das suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor de todos os actos que aquele que representa a sua pessoa praticar ou levar a praticar, (…) Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é

uma verdadeira unidade de todos eles, numa só pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens, de um modo

que é como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro o meu direito de me governar a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires para ele o teu direito, autorizando de uma maneira semelhante todas as suas acções. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa chama-

se Estado, em latim civitas. É esta a geração daquele grande

Leviatã (…)” Hobbes, T. Leviatã, p. 146

(apenas os trechos destacados a negrito serão exibidos na aula)

Mostrar o frontispício original do Leviatã. (ver ppt. Aula 1) o Desenhado por Abraham Bosse.

o Leviatã constituído por indivíduos, todos eles virados para o

soberano (ou seja, de costas para o leitor).

o Contém uma citação do livro de Job (Job 41:24): “Não há na

terra quem lhe seja semelhante, pois foi feito para não ter

medo.”

(Na capa do Leviatã aparece apenas o trecho destacado a

negrito)

o Na parte inferior encontramos um tríptico que ao centro contém o título do livro. Nas duas colunas laterais encontramos algumas ilustrações de elementos que aludem ao poder terrestre/humano (simbolizado pela espada na mão direita do Leviatã) e aos poderes da igreja (simbolizados pelo cetro na mão esquerda do Leviatã).

O contrato é feito entre os cidadãos.

O Estado que assim é instituído é soberano absoluto. Os cidadãos não terão qualquer palavra no modo como as suas vidas vão ser reguladas nem quem votou a favor nem quem votou contra.

Trata-se de uma alienação completa e definitiva de poderes e de direitos.

Mas por que aceitam isto?

Porque, se os cidadãos tivessem o direito de interferir em algumas das ações do Estado, então haveria conflito entre governo e

governados.

Risco grave: que o conflito destrua o poder do Estado e todos regressem ao panorama desolador do estado de natureza.

O poder deve estar concentrado num só lugar ou numa só pessoa para evitar desacordo e divergências entre governadores.

Se não houver separação de poderes também não há conflitos entre representantes de diversos poderes (estes poderiam limitar-se reciprocamente).

O soberano tem apenas de promover a segurança e a ordem. Apenas isso…

Ainda assim, o governante tem alguns limites como respeitar o direito

à vida ou a propriedade privada.

Ao contrário do que veremos em Locke, o direito à liberdade não tem de ser respeitado pelo soberano.

Para Hobbes, a paz cívica é mais importante do que a justiça e a liberdade.

Se o melhor caminho para alcançar a paz cívica passar por um constrangimento da liberdade individual, então não só é legítimo como também é desejável que o soberano retire a liberdade aos indivíduos.

Faz parte da soberania a prerrogativa de exigir obediência a ordens reputadas injustas ou criminosas.

Discussão conjunta: Preferiam viver em condições miseráveis, sem

qualquer liberdade, mas com a garantia de ordem e segurança ou viver livremente uma vida incerta e instável?

Abbagnano, N. História da Filosofia Volume VI, Editorial Presença, 1970, Lisboa

Hobbes, T. Leviatã, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1999, Lisboa Rodrigues, L. Filosofia 10º ano, Plátano Editora, 2013

Aula 2 – Escola Secundária Doutor Azevedo Neves

Sumário: Estudo da teoria contratualista de Locke. Breve comparação entre as

teorias contratualistas de Hobbes e Locke.

Ao contrário do que Hobbes pensava, Locke defende que a vida no estado de natureza não seria marcada por um conflito permanente.

Para Locke, as pessoas no estado de natureza têm restrições e deveres derivados da sua consciência moral e do seu interesse.

Locke defende a existência de direitos naturais: os direitos à vida, à liberdade e à propriedade.

Leitura e discussão de um excerto retirado do Segundo Tratado do Governo

de John Locke:

“O estado de natureza é governado por uma lei da natureza que a todos obriga. E aquela lei, que mais não é do que a razão, ensina a todos aqueles que se derem ao trabalho de a consultar que sendo todos os homens iguais e independentes, nenhum deve molestar qualquer outro na sua vida, na sua saúde, na sua liberdade, ou nos seus haveres.”

Locke, J. Segundo Tratado do Governo, pp. 36-37 Será então necessário formar um Estado?

Sim, diz Locke, porque embora a maioria respeite os direitos naturais, alguns não o fazem e quando isso acontece...

… nem sempre somos suficientemente fortes para defender e fazer

respeitar esses direitos.

O estado de natureza é insatisfatório porque não garante aos seres humanos uma defesa adequada dos seus direitos.

É necessário estabelecer uma autoridade imparcial com poder legal e coercivo para resolver os conflitos.

O contrato ou pacto social significa que os seres humanos, naturalmente livres, iguais e independentes, renunciam, não aos seus direitos, mas a

fazerem justiça por suas próprias mãos.

A justiça privada dá lugar à justiça pública.

O Estado com as suas leis, os seus tribunais e as forças que impõem a sua autoridade protegerá as nossas vidas, liberdades e propriedades.

O Estado defende sempre os direitos naturais.

A autoridade do Estado tem, no entanto, limites.

A vontade do povo tem prioridade sobre a autoridade política. O governo é servidor da vontade dos cidadãos.

A transferência de poderes e de direitos para o Estado que surge do contrato social não é ilimitada.

Delegação limitada de poderes.

A autoridade do Estado é limitada pelos direitos naturais dos indivíduos.

Os direitos que temos no estado de natureza continuam a existir no estado de sociedade. O Estado nunca pode violar os direitos naturais dos

cidadãos.

Ao contrário do que acontece em Hobbes, onde apenas o direito à vida e à propriedade é respeitado pelo Estado, o direito à liberdade não é retirado aos cidadãos no Estado civil lockeano.

“Para Locke, a liberdade supõe e organiza-se em torno de uma atenção por nós próprios, (…) A liberdade assoma, de facto, aqui com um trabalho do cuidar de si mesmo, perfilando-se num horizonte de efectiva auto-determinação. (…) De um modo correlativo, a «falta de liberdade» não consiste senão, para o homem, em «estar sob a determinação de algum outro que não ele próprio.»” Barata-Moura, J. Traços do Programa da Modernidade na Gnosiologia de John Locke (in A Herança de Locke, Org. Teresa de Ataíde Malafaia e J. Carlos Viana Ferreira, Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa)

Estado mínimo, mais protetor do que interventor.

O governo não deve intervir nas nossas vidas, exceto para nos proteger uns dos outros.

Depois de uma breve introdução à teoria contratualista de Locke, espera-se que os alunos assimilem a mesma a partir de uma comparação com a teoria contratualista de Hobbes.

Hobbes Locke

O estado de natureza Todos contra todos. Impera a lei natural do mais forte.

Conflito/ameaça permanentes.

Alguns contra alguns. Existem restrições e deveres (consciência moral).

Existem direitos naturais: direito à vida, à

liberdade e à

propriedade.

As principais consequências do estado

de natureza

Vida insegura e muito instável.

Direito à vida não se encontra garantido: medo.

Vida insegura e instável. Ainda que existam direitos individuais e a maioria dos seres humanos os respeite, existirão sempre

exceções, ou seja, pessoas que não respeitam esses direitos.

As principais características da vida em

sociedade (Estado)

A transferência de poderes dos indivíduos para o Estado é ilimitada.

Em nome da segurança, da ordem social e da paz social renunciam à

liberdade.

O contrato obriga apenas o soberano a promover a segurança

A transferência de poderes dos indivíduos para o Estado é limitada. Os indivíduos preservam os seus direitos naturais,

renunciando apenas à possibilidade de fazerem justiça por suas próprias mãos.

O Estado protegerá as

e a ordem. Limites do Estado: respeitar o direito à vida e à propriedade privada. e propriedades daqueles que não as respeitam. Limites do Estado: A autoridade do Estado é

limitada pelos direitos naturais dos indivíduos. Estado mínimo: mais

protetor do que interventor. (destacar a importância desta característica para o desenvolvimento de outras teorias, incluindo a teoria de Nozick) Bibliografia:

Barata-Moura, J. Traços do Programa da Modernidade na Gnosiologia de John Locke in A Herança de Locke, Org. Teresa de Ataíde Malafaia e J. Carlos Viana Ferreira, Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa, 2005, Lisboa

Locke, J. Segundo Tratado do Governo, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, Lisboa

Luís Rodrigues, Filosofia 10º ano, Plátano Editora, 2013

Documentos relacionados