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CAPÍTULO 1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E COTIDIANO ESCOLAR

1.2 C OTIDIANO E SCOLAR

1.2.2 Escolas Públicas e as dificuldades com alunos de Acolhimento

escolas públicas, ou seja, com as atividades, normas, práticas e métodos pré- estabelecidos tanto para os professores quanto para os alunos. Assim, é necessário contextualizar a escola pública atual, para um melhor entendimento do cotidiano escolar.

A escola pública no século XXI está pautada na escola do século XX com um ensino tecnicista19 e que, vê os fenômenos sociais a partir de uma causalidade

linear. Segundo Ferrari (2011, p.11) esse ensino visa “[...] aplicar na escola o modelo de racionalização típico do sistema de produção capitalista”. Ferrari (2011) esclarece que a escola produz e conduz suas práticas influenciadas pela sociedade que a condiciona naquele período.

Segundo Lettieri (apud FRIGOTTO, 1999, p.133, grifo nosso) “[...] o capitalismo de hoje de fato não recusa o direito à escola. O que ele recusa é mudar a função da escola”. Complementando essa perspectiva Frigotto (1999) explica que a função social da educação fica subordinada e controlada a ótica dominante, que é treinar tecnicamente, socialmente e ideologicamente, para servir ao mundo do trabalho. Brandão (2007) adverte que,

[...] Se a educação é determinada fora do poder comunitário dos seus praticantes, educandos e educadores diretos, por que participar dela, da educação que existe no sistema escolar criado e controlado por um sistema político dominante? Se na sociedade desigual ela reproduz e consagra a desigualdade social, deixando no limite inferior de seu mundo os que são para ficar no limite inferior do mundo do trabalho (os operários e filhos de operários) e permitindo minorias reduzidas no seu limite superior, por que acreditar ainda na educação? Se ela pensa e faz pensar em o oposto do que é, na prática do seu dia-a-dia, por que não forçar o poder de pensar e colocar em prática uma outra educação? Porque a educação é inevitável [...] Porque a educação sobrevive aos sistemas e, se em um ela serve à reprodução da desigualdade e à difusão de ideias que legitimam a opressão, em outro pode servir à criação da igualdade entre os homens e à pregação da liberdade. (BRANDÃO, 2007, p. 98-99)

Para Frigotto (1999, p.25) a educação caracteriza-se como campo social de embate hegemônico, e se apresenta com uma "[...] perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social, aos interesses de classes". Seguindo o ponto de vista de Frigotto,Paulo Freire afirma que não existe a educação,

[...] mas educações, ou seja, formas diferentes de os seres humanos partirem do que são para o que querem ser. Basicamente, as várias “educações” se resumem a duas: uma, que ele chamou de “bancária”, que torna as pessoas menos humanas, porque são alienadas, dominadas e oprimidas; e, outra, libertadora, que faz com que elas deixem de ser o que são, para serem mais conscientes, mais livres e mais humanas. A primeira é formulada e implementada pelos (as) que têm projeto de dominação de outrem; a segunda deve ser desenvolvida pelos (as) que querem a

19 Segundo o dicionário informal a pedagogia tecnicista “tem origem norte-americana. Adota o modelo empresarial, com o objetivo de adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, seu ensino é voltado diretamente para produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho. O método usado é na transmissão do conhecimento taylorista, no qual as tarefas são divididas entre os técnicos de ensino incumbidos do planejamento racional e do trabalho educacional e cabe ao professor a execução dos objetivos pré-estabelecidos.”

libertação de toda a humanidade (FREIRE, 2010, p. 133-134 apud HENNING, 2013, p.86).

Deste modo, é necessário destacar que a educação constitui-se numa atividade humana e histórica como prática social. Desenvolve-se nas relações estabelecidas, seja na escola, entre os grupos ou em outras esferas da vida social, assim ela se define na totalidade das relações sociais. Nesta perspectiva, Libâneo (2012) esclarece que circulam propostas contraditórias em relação às funções da escola no meio educacional, perpassando as que solicitam o retorno da escola tradicional, e propostas que optam que a ela cumpra missões sociais e assistenciais. Assim,

[...] o dualismo da escola brasileira em que, num extremo, estaria a escola assentada no conhecimento, na aprendizagem e nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos, e, em outro, a escola do acolhimento social, da integração social, voltada aos pobres e dedicada, primordialmente, a missões sociais de assistência e apoio às crianças (LIBÂNEO, 2012, p.16).

Esse dualismo na escola pública surgiu devido a alguns problemas de análise externa e interna. Com relação à análise externa segundo Libâneo (2012) pesquisas e dados estatísticos apontando a deterioração da escola, bem como a ineficácia quanto aos objetivos e formas de funcionamento. A análise interna prevê uma crise quanto ao papel socializador da escola, visto que a mesma compete com o mercado cultural, a mídia, o consumo e os grupos de referência que são instâncias de socialização.

Também há outro estudo que apresenta que os professores estão preocupados em relação aos alunos em como conter atos de indisciplina e motivá- los. Portanto, é relevante pontuar que Libâneo (2012) assegura que, as medidas adotadas pelas políticas oficiais para os problemas educacionais são soluções evasivas. Isso ocorre pelos desacordos entre legisladores, educadores e pesquisadores em relação aos objetivos e as funções da escola, ou ainda pela orientação dos organismos internacionais exercidas quanto à educação e o ensino.

Ainda, outro fator são as dificuldades com alunos de acolhimento no cotidiano escolar. Esse aluno precisará adaptar-se as normas internas do acolhimento, como: de participar do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que estão delineados na Tipificação, entre outras atividades. É relevante esclarecer que os motivos que o levam ao acolhimento e outras características destes alunos e seus familiares serão descritos no próximo capítulo.

Vale ressaltar que a Tipificação20 (2009, p.3-4) apresenta e descreve os

serviços que compõem o SUAS, assim traz no art.1, a organização por níveis de complexidade: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. O serviço de proteção especial de alta complexidade que acolhem adolescentes que sofreram alguma violação dos seus direitos está detalhado na Tipificação.

Assim, as instituições de acolhimento seguem as seguintes leis: as Orientações Técnicas para Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes de 2009; do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) com a lei n. 8.242, de 12 de outubro de 1991 juntamente com as diretrizes do Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) com a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 e o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) a Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993. Essas leis trazem no seu arcabouço a instrução a qual as instituições que prestam o serviço de acolhimento. Além de seguir tais leis, o acolhimento precisa ampliar o seu projeto com outras instâncias que compõem a rede de serviços local, como: a escola, a saúde, a comunidade, e entre outras instituições. A partir destas considerações, quanto às leis, é importante salientar que a Orientação Técnica de Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes traz que,

O desenvolvimento das ações do Plano de Atendimento deve ser realizado de modo articulado com os demais órgãos e serviços que estejam acompanhando a família, a criança ou o adolescente (escola, Unidade Básica de Saúde, Estratégia de Saúde da Família, CAPS, CREAS, CRAS, programas de geração de trabalho e renda, etc.), a fim de que o trabalho conduza, no menor tempo necessário, a uma resposta definitiva para a criança e ao adolescente, que não seja re-vitimizadora ou precipitada. (BRASIL, Orientações Técnicas..., 2009, p.30, grifo nosso)

Logo, o plano individual de atendimento (PIA) auxilia na priorização da manutenção ou reintegração da criança e adolescente para a sua família de origem. Para tanto, há uma reavaliação da situação da criança e adolescente a cada seis meses, e o tempo máximo de dois anos para o acolhimento. Também foi criado o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes em sistema de acolhimento institucional, dentre outras. Todas essas ações, a partir das leis já mencionadas, são para melhor atender e compreender a complexa rede de significações que permeia a área.