• Nenhum resultado encontrado

I.4 Visão geral e estrutura da dissertação

3.2 A escolha dos sujeitos da pesquisa

A escolha dos professores como alguns dos sujeitos da pesquisa teve como objetivo tentar confrontar a visão que têm sobre os fundamentos da abordagem CTS e o modo como desenvolveram a sequência com as percepções dos alunos sobre esse desenvolvimento.

Tentamos avaliar o nível de clareza que os professores tinham quanto aos objetivos da proposta a fim de compreender o modo como a desenvolveram e confrontar isso com a percepção dos alunos desse desenvolvimento. A avaliação da SD que fizemos junto aos professores passa também por identificar de que modo a visão pessoal deles sobre o ensino influenciou sua prática pedagógica, em quais momentos a sua formação acadêmica e experiência profissional auxiliou ou limitou o desenvolvimento da proposta.

Uma das formas utilizadas para responder às questões de pesquisa foi através da entrevista presencial com professores e alunos. Uma das vantagens da entrevista presencial é permitir “ouvir” o que não foi dito, perceber o que não foi explicitamente expresso, mas ainda assim transmitido, através dos gestos, movimentos e expressões corporais. Observar e apreender a partir de “[...] outros tipos de interação social que sugerem significados sutis da linguagem” (VIANNA, 2003, p. 55). Isso sem perder de vista o fato de que meu próprio conhecimento e experiência interferem no que eu vejo, absorvo, apreendo dessa interação. Compreender a visão e perspectiva que os mesmos tinham da sequência, antes mesmo de começar a implementa-la, nos auxiliou na compreensão do modo como desenvolveram a SD.

A escolha dos alunos que participariam foi feita segundo dois critérios. O primeiro foi relativo à escolha de alunos que participaram do desenvolvimento da sequência no ano anterior à entrevista e que, portanto, ainda se encontravam na instituição, cursando o 3o ano. De outra forma teríamos que contatar alunos que já formaram, dificultando enormemente a marcação de um encontro com grupos de alunos, visto que, se ainda são estudantes da instituição, suas rotinas se parecem, facilitando o encontro. Além disso, sendo alunos, ainda frequentam a instituição, permitindo assim que nos encontremos nela e, com isso, facilitando esse encontro. Várias entrevistas foram marcadas em horários vagos dos estudantes, geralmente entre aulas de um mesmo dia, visto que nesses momentos os alunos deveriam, de qualquer modo, permanecer na escola para a outra aula. Como cada grupo foi formado com alunos de uma mesma turma, esses horários vagos eram comuns para cada grupo de alunos, facilitando a marcação do encontro. A escolha por entrevistas em grupo, no lugar de individual, se deu por acharmos que assim os alunos, que não me conheciam, ficariam mais à vontade para se expressar. Como a SD tinha sido desenvolvida há aproximadamente um ano, imaginamos também que, em grupo, seria mais fácil de ser lembrada.

O segundo critério foi relativo à escolha de quais alunos, dentro de cada turma, participariam. A escolha dos alunos foi realizada através de dois procedimentos: alguns alunos, aproximadamente metade deles, foi escolhida por mim, após ter assistido a vários vídeos, desenvolvidos pelos alunos em 2014, relativos ao tema trabalhado e proposto no final do curso de termodinâmica como atividade avaliativa. A outra metade de alunos foi escolhida pelos professores que haviam desenvolvido a sequência didática com os mesmos no ano anterior (2014). O critério de escolha, tanto seguido por mim como orientado aos professores que seguissem, foi que selecionassem alunos que, no geral, tanto em sala como nos vídeos, se demonstrassem mais comunicativos. Entendemos aqui como alunos comunicativos aqueles que, aparentando ter menos timidez, gostam ou pelo menos parecem se sentir mais à vontade para se expressar. Esse critério foi escolhido por pensarmos que, assim, conseguiríamos dar maior dinamicidade às entrevistas e, com isso, obter mais dados sobre o desenvolvimento da sequência. Também tivemos receio de que com alunos muito tímidos as entrevistas poderiam ser muito curtas e pouco aprofundadas. Obviamente que sabíamos que, mesmo assim, um aluno que se apresente com desenvoltura no vídeo de um trabalho escolar ou mesmo em sala de aula pode, em outros contextos, como o de uma entrevista, agir timidamente e contribuir pouco com a discussão da questão. Posteriormente verificamos que essa hipótese se mostrou verdadeira em pelo menos um dos grupos entrevistados. As entrevistas com os outros grupos foram dinâmicas e produtivas.

Importante observar que a seleção desses alunos não foi pautada nas notas obtidas ou na participação e empenho do aluno perante a realização das atividades do curso de termodinâmica, mas sim na participação dos alunos em sala de aula no geral, ou seja, durante todo o ano. Entendemos que se a escolha fosse realizada a partir da participação dos alunos apenas durante o curso de termodinâmica, os resultados da pesquisa poderiam ser mascarados pela escolha desses sujeitos. Muitas vezes, os alunos que participam muito das atividades costumam gostar delas e vice-versa, então pensamos que, se escolhêssemos somente aqueles que se empenharam com as atividades, estes fariam, no geral, somente avaliações positivas da sequência e não achamos que isso seria reflexo das opiniões da turma como um todo. Não será possível confirmar essa hipótese, mas a escolha dos nossos sujeitos, usando esse critério de sujeitos comunicativos, permitiu que obtivéssemos grande quantidade de dados para a pesquisa. Coletamos e analisamos muitas avaliações da SD, tanto positivas (que esperávamos que existissem) quanto negativas (que ansiávamos por descobrir). Nossa missão foi desvendar os sentidos expressos por essas avaliações.