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6 METODOLOGIA

6.2 A ESCOLHA DO LOCUS DE PESQUISA

Este estudo foi realizado em uma escola pública de ensino fundamental de um estado do Sudeste. A escola atende um total de 557 alunos, sendo 291 estudantes no turno da manhã e 266 no turno da tarde. Em ambos os turnos, funcionam turmas que vão do 1° ao 9° ano (nova nomenclatura) ou da 5ª a 8ª série (antiga nomenclatura), totalizando 24 turmas. Lá trabalham 35 professores, sendo 18 no turno matutino e 17 no vespertino, três coordenadores de manhã, três coordenadores à tarde (sendo que um fica apenas de segunda-feira à quarta-feira), duas pedagogas no turno matutino (sendo que uma ainda não foi à escola por estar de licença médica) e duas pedagogas à tarde.

O início do processo de escolha da unidade de ensino para ser o locus da pesquisa se deu em janeiro de 2015, quando participei, junto com meu orientador, da formação continuada oferecida pela Secretaria de Educação do município aos diretores de escola recém-eleitos para o mandato de janeiro de 2015 a dezembro de 2017. Nesse evento, além de ter tido a oportunidade de conhecer um pouco do contexto educacional do município, consegui realizar contatos que possibilitaram listar as escolas que atendiam ao principal critério para a escolha do locus de pesquisa: a de ter um diretor ou diretora que nunca havia exercido essa função. A ideia, ao seguir esse critério, é estudar um sujeito que esteja vivenciando desafios cotidianos do trabalho gerencial pela primeira vez. Assim, busca-se por meio dessa lógica, entender como um novo diretor se constrói e reconstrói como gestor a partir das relações sociais que se desenvolvem na comunidade escolar. Mais do que isso, à luz da abordagem

de Schatzki (1996, 2001a, 2001b, 2002, 2003, 2005, 2006), busquei com esse critério compreender como um ator organizacional, até então exercendo outras funções na escola, passa a se engajar na gestão escolar como diretor e é impactado pelas práticas cotidianas e os arranjos materiais de uma unidade de ensino. Dessa maneira, a vantagem em ter uma diretora recém-eleita como critério para escolha de uma determinada unidade de ensino é que os elementos da prática da gestão escolar ainda não estão ou não foram naturalizados por ela. Isso facilita observar o processo de incorporação da prática, bem como sua implicação para o cotidiano da gestão escolar. No entanto, dessa lista de escolas, uma chamou mais atenção, pois acabara de passar por um importante processo de mudança, que explicarei adiante. Essa unidade de ensino prioriza o atendimento à população de três bairros vizinhos e, ao longo de sua história, sempre esteve situada em uma dessas comunidades. São bairros carentes e que, recentemente, apresentaram um dos piores índices de qualidade urbana do município (de um total de 79 bairros, estão entre os 25 últimos), o que significa que retrocederam ou pouco avançaram nas dimensões educacional, ambiental, habitacional e de renda1.

Principalmente a partir de 2007, algumas discussões e negociações envolvendo a comunidade escolar e o órgão central de educação surgiram, já que pais, alunos e professores estavam insatisfeitos com os problemas estruturais da unidade de ensino, em especial com a estrutura ruim dos banheiros e das salas de aulas, com o risco de queda dos muros e do telhado da escola, com danificações na parte elétrica e com infiltrações ao longo de todo o complexo. Com isso, desde o início deste ano, a escola foi transferida e está localizada em um espaço provisório cedido pela Secretaria de Educação do município, tendo em vista que o prédio onde as aulas aconteciam passará por reformas.

O espaço provisório é completamente novo. No projeto, a unidade de ensino é dividida em dois blocos. O primeiro, com área para estacionamento de 15 carros, área para carga e descarga, cozinha, área de descanso de funcionários, despensa de alimentos e outros materiais, um banheiro masculino e outro feminino, refeitório, sala de informática, sala de pedagogos, sala do diretor, sala de secretaria, sala de

1 FONTE: <http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/indicadores/iqu/ranking.asp> Acesso em: 04 mai.

professores, sala de coordenadores, banheiros masculino e feminino para funcionários e um hall para recepção. O segundo bloco é composto por 12 salas de aula, três banheiros (um masculino, um feminino e um para deficientes) e um pátio. Além disso, a escola também possui uma quadra poliesportiva coberta e com arquibancadas nas laterais, e ainda um parquinho para crianças menores.

No entanto, o espaço provisório está situado em um bairro distinto das três comunidades de origem da escola. Por isso, a comunidade escolar reclama de cinco pontos: primeiro, essa mudança exige que pais e alunos tenham que atravessar uma das avenidas mais movimentadas da região metropolitana do Estado, colocando em risco muitas crianças pequenas; segundo, a distância que precisam percorrer até chegarem à escola é considerável – para quem sai do bairro onde a escola estava localizada, a distância é de aproximadamente 1,5 km. Já em relação aos outros dois bairros, ela pode chegar a 2,0 km 2; terceiro, há constantes conflitos entre grupos rivais

do bairro onde o espaço provisório está situado e do bairro de origem da escola; quarto, até o momento as obras no prédio antigo da escola não foram iniciadas, sendo que moradores de rua foram abrigados no prédio pela própria prefeitura para lá residirem provisoriamente; por fim, durante todo o processo de negociação pela reforma, o local onde hoje a unidade de ensino funciona provisoriamente era a última opção desejada por pais, liderança comunitária, professores e os diretores que antecederam a atual gestão da escola, justamente por causa dos três primeiros aspectos relacionados.

Portanto, essa escola foi a escolhida e começou a ser pesquisada, visto que atendeu a dois aspectos considerados fundamentais: o primeiro, de possuir uma diretora recém-eleita e que nunca ocupou um cargo de gestão; o segundo, a comunidade escolar passa por momentos de insatisfação por causa da troca de local da escola e as consequências dessa mudança. Assim, considerando a prática da gestão como um processo relacional (WATSON, 2005), essa insatisfação é englobada por elementos importantes que impactam na maneira como a gestão da unidade de ensino é construída pelos diferentes segmentos da escola (diretora, professores, demais funcionários, pais, alunos, líder comunitário e órgão central).

2 Foi utilizada a ferramenta Google Maps para calcular essa distância, utilizando como referência de