• Nenhum resultado encontrado

Escolha de takes, Rough Cut e o problema da mala

No documento DENTRO (páginas 102-104)

7. Pós-Produção

7.2 Montagem

7.2.2 Escolha de takes, Rough Cut e o problema da mala

Para a first assembly não foi dada muita importância a qual o melhor take de cada plano utilizar. Em vez disso foi dada a prioridade ao essencial e a montagem foi feita apenas a pensar no progresso a nível narrativo. Para passar ao próximo nível era primeiro preciso analisar todas as filmagens e fazer uma avaliação dos takes de cada plano, de forma a determinar quais tinham a melhor representação, enquadramento, iluminação e onde o conjunto de aspetos que constituem o que está no ecrã estava melhor conseguido. Era também importante que os takes estivessem bons no que toca à captação de som, por isso a cada escolha que era feita, era essencial tratar imediatamente de o emparelhar com o ficheiro de áudio que lhe correspondia. De resto, a diretora de som tinha já também catalogado os ficheiros de som e feito uma primeira montagem para cada take da junção de cada microfone que gravou som durante as filmagens, facilitando a sua apreciação.

Feito em conjunto com o editor do filme, este foi um longo processo, demorado pelo carácter de avaliação subjetiva que é feita, pois é um momento crucial onde se tomam decisões que influenciam diretamente o resultado final do projeto. A longa lista de takes filmados ajudou também a acrescentar tempo a essa escolha. Este foi provavelmente o momento mais agridoce do processo de montagem. Por um lado é gratificante ver finalmente o resultado de tanto trabalho começar a aparecer, mas por outro é um trabalho extremamente repetitivo e aborrecido pelo facto de se tratar de um processo demorado pela consulta de qual ficheiro áudio corresponde a qual ficheiro vídeo, sendo que cada take é constituído por vários ficheiros de som captado a partir de cada um dos microfones utilizados na rodagem. Com a seleção feita e pronta a utilizar deu-se seguimento no processo de montagem.

Agora era já importante começar a ver a forma como se montava o filme. Os cortes começavam a ter de ser pensados e trabalhados da melhor maneira para enfatizar o seu peso dramático e narrativo, a organização de cenas e planos era também algo a ter em conta a partir de agora pois afetava diretamente o pacing do filme e a estrutura narrativa. Inicialmente o rough cut é feito a pensar na história presente no argumento e nos aspetos de continuidade da mesma. Cada inserção de planos tem de começar a ter um peso na narrativa. Aliado à representação dos atores, esta fase dá uma primeira noção de como será o resultado final.

91 Iniciando a montagem, fomo-nos focando na continuidade e invisibilidade do corte, começamos a explorar certos tipo de transições de cena para cena tentando explorar qual o melhor plano para o fazer. Começou-se lentamente a perceber que havia certos planos que funcionavam melhor que outros. E começou-se a sentir o peso da narrativa. O rough cut continha todas as cenas filmadas, na maioria dos casos com todos os planos que nelas se inseriam. Contava a história tal como havia sido pensada e escrita no argumento, sem pensar ainda muito no sentido estilístico e cinematográfico da montagem. Como é normal, este processo é imensamente demorado e implica que tanto da minha parte como do editor seja criada uma ligação com o material que se pode tornar prejudicial ao projeto. Criar apego ao rough cut pode levar a que se torne difícil ver falhas e problemas no mesmo. É sempre preciso ter algum afastamento para poder avaliar melhor o trabalho que vai sendo realizado. Mas o nosso método de trabalho, pelas restrições de tempo que existiam, não incluiu muitas possibilidades de afastamento, sendo um processo de montagem bastante intensivo. Por isso era preciso mostrar o trabalho aos restantes colegas mais próximos do projeto quando houvesse uma versão pronta. Assim que foi montado o rough cut na sua totalidade, foi feita essa mostra.

Figura 70 – O rough cut. Sempre tentando organizar da melhor forma, já com várias faixas de som para guiar melhor o processo.

O filme demonstrou problemas imediatamente. O feedback veio a partir de colegas da equipa, bem como de professores convidados a assistir para dar opiniões e conselhos sobre o rough cut. Os principais problemas eram o pacing, a duração do filme e sobretudo a mala em si. O pacing criava o problema de após o início do filme passarmos demasiado tempo com o grupo de amigos e a consequente escalada de tensão era demasiado rápida em relação a isso e o final perdia todo o impacto emocional. Quanto à duração do filme encontrava-se na proximidade dos 17 minutos, demasiado para uma curta-metragem que ainda nem conta com créditos e que tinha o objetivo de tentar ser uma história concisa e de se inserir numa categoria de curtas-metragens com expectativas de concorrer a festivais, onde esse tipo de duração é considerado excessivo e pode

92 ser problemático para a sua seleção. Estas duas adversidades estavam diretamente relacionadas e era fácil entender este ponto de vista da parte de quem deu feedback. Ainda assim, o outro aspeto negativo era o mais importante. A mala não era credível. O maior ponto de foco do filme e da sua narrativa não estava bem conseguida. Tanto do ponto de vista de cenografia como de narrativa. Visualmente não era credível, não mostrava que podia conter algo realmente valioso, denunciava demasiado que era apenas uma mala vazia, não aparentava ser pesada, os atores transportavam-na com muita leveza e a sua cor branca por vezes deixava passar a ideia que era oca e vazia, uma simples mala de acrílico sem nada lá dentro. Por outro lado da parte narrativa o interesse na mala era excessivo. Não era possível denotar um verdadeiro interesse em abrir a mala, apesar de ser o centro das conversas dos personagens, nem as suas tentativas eram credíveis. Os amigos falavam de como tinham tentado de tudo mas isso não era suficientemente visível e percetível. A mala não oferecia nenhum tipo de misticismo pelo seu aspeto e quando ela é atirada da ponte, não cria o impacto desejado no espectador, pois o seu envolvimento na história era forçado e pouco credível e a sua queda da ponte tornava-se previsível também. Após ouvir as críticas construtivas que nos foram dadas sabia que decisões difíceis tinham de ser tomadas.

No documento DENTRO (páginas 102-104)