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1.2 Cartografando Mapas na Rede de Pesquisa

1.2.2 Escolhendo vozes:

Foram realizados 05 (cinco) depoimentos com moradores da cidade de Corumbataí. Porém o número de depoentes foi maior. Como não faço parte dessa comunidade, minha inserção nela foi lenta, programada e houve a necessidade de ser mediada por uma terceira pessoa. Essa mediação foi feita por Alba Soares da Silva, uma funcionária do Jornal Regional que hoje mora em Rio Claro, onde é a sede do jornal, mas que havia morado e trabalhado em Corumbataí como correspondente local por muitos anos. Portanto ela conhece bem os moradores da cidade e havia feito algumas reportagens sobre a poluição no Rio Corumbataí. A Alba me foi indicada pela Lucilene de Aquino, funcionária da prefeitura e Coordenadora da Coleta Seletiva de Lixo e Meio Ambiente, meu primeiro contato na cidade de Corumbataí.

Procurei a Alba em busca de indicações de pessoas que conhecessem bem a cidade, a história do local e do rio e que também gostassem de contar “causos”. A primeira pessoa que ela me indicou foi o Sr. Geraldo Canhoni. Essa indicação foi reforçada alguns dias depois, quando fui à sede do jornal em busca do arquivo com fotografias antigas da cidade de Corumbataí e descobri que hoje em dia nos jornais não existem mais arquivos fotográficos, porém tive a oportunidade de conversar novamente com a Alba, uma repórter muito solícita, sorridente e de olhos espertos, sempre farejando alguma notícia. E ela novamente me indicou o Sr. Geraldo como fonte. Foi aí que liguei e marquei um encontro com ele e com as pessoas que ele quisesse convidar para conversarmos sobre a cidade de Corumbataí e o rio que lhe deu o nome. A indicação do Sr. Geraldo já havia aparecido em conversas telefônicas minhas com a Lucilene e com o Marcelo Kviatkovisk, pois, tanto ele quanto toda a sua família participam ativamente na vida política, agrícola e religiosa da comunidade.

Como o convite foi aberto às pessoas que o Sr. Geraldo Canhoni quisesse convidar, o depoimento foi cedido no dia 10 de setembro de 2005, na sua propriedade e com vários membros de sua família: Umbelina Carrera Canhoni, sua esposa, Maria de Lurdes Canhoni, sua irmã, Anna Bortolin Canhoni, sua mãe, João Batista Canhoni, seu filho e Eleodora Canhoni, sua filha. Ainda estavam presentes seus dois netos, Vitor Luis Canhoni e César Henrique Canhoni. Embora vários membros da família estivessem presentes, quase que a totalidade das falas foram proferidas por Geraldo Canhoni, 70 anos, e seu filho João Batista Canhoni, 43 anos, que na maioria das vezes concordava com as opiniões do pai. Portanto suas possíveis contribuições foram incorporadas nas falas do Sr. Geraldo.

Juntamente com o nome de Geraldo Canhoni, Alba me indicou vários outros nomes de possíveis depoentes, tanto quanto Lucilene e Marcelo. Seguindo a linha dos critérios de escolha utilizados com o Sr. Geraldo, os demais depoentes foram escolhidos por: serem moradores antigos da cidade de Corumbataí, ou seja, fazerem parte daquela comunidade há muitos anos, haverem sido indicados como fonte por outro depoente e/ou pela Alba, e/ou pela Lucilene, e/ou pelo Marcelo, e/ou por outros moradores da cidade de Corumbataí, e terem uma profissão representativa perante a comunidade.

Um fato comum em História Oral e já descrito por Ecléa Bosi, em Tempo Vivo da Memória, é que é de muito bom alvitre sair com ele, caminhar ao seu lado nos lugares em que os episódios lembrados ocorreram (ruas, fábricas, bairros cuja transformação assistiu...) (BOSI, E., 2003, p.60). Seguindo essa diretriz, aceitei o convite da Srª. Maria José de Oliveira Jóia, uma professora aposentada muito prestativa com quem conversei a fim de obter informações sobre a cidade de Corumbataí e que gentilmente me levou até a casa de “D. Lalia”. Todos com quem conversei indicaram Rosália Perin de Oliveira, ou “D. Lalia”, como é conhecida na cidade, como possível portadora de muitas fotografias. O principal motivo é ela ter 95 anos e todos morados em Corumbataí. Esse encontro foi muito interessante e produtivo porque “D. Lalia” realmente possui um grande acervo pessoal de fotografias antigas da cidade, que com toda sua gentileza e simpatia foram cedidas para serem escaneadas e utilizadas na pesquisa.

O segundo depoente foi o professor José Lauro Casseb, 65 anos, indicação da Alba. Hoje ele abandonou a profissão docente e trabalha no tradicional, famoso e bem quisto restaurante Baddy. Conhecedor de muitas histórias por ser muito esclarecido e conversar com muita gente no restaurante, mas principalmente por ter vivido muitas dessas histórias. A entrevista foi realizada no dia 25 de novembro de 2005 em sua residência.

Do terceiro depoimento, por ter sido inusitado, vale que se conte sua história. Eu já havia marcado uma data limite para encerrar a coleta de dados e todo o trabalho de campo, e essa data se encerrava na semana do dia 26 de novembro de 2005, o que acabou não acontecendo. Eu tinha alguns nomes como indicação, mas infelizmente a maioria dos indicados ou eu não havia conseguido contato ou eram professores ou políticos influentes ou grandes industriais, típicos depoentes que eu estava evitando. Os professores, por eu já ter um número considerável de depoentes pertencentes a essa profissão, e os políticos e industriais, por fazerem parte do grupo hegemônico que sempre escreveu a história e, portanto, possuírem um discurso pouco favorável a este ponto de vista mais abrangente a que esta pesquisa se propõe. Então, sem ter absolutamente nada marcado, aliás, somente

um depoimento que já havia sido marcado e desmarcado duas vezes por um depoente escolhido que não queria ser entrevistado, fui até Corumbataí em plena sexta-feira, dia 09 de dezembro de 2005. Dei uma volta na cidade e depois resolvi ir até o sítio de Marisa Zanarelli, uma professora de História muito dedicada que fez algumas pesquisas sobre o Núcleo Jorge Tibiriçá, sobre a história local e com quem eu já havia conversado anteriormente. Eu iria lhe devolver alguns livros de História que ela gentilmente me emprestara. No caminho para o sítio nos cruzamos de carro. Ela me passou a informação de que naquele momento estaria começando uma reunião sobre Meio Ambiente na Casa da Agricultura, assunto de meu interesse. Como a reunião era aberta ao público, ela me convidou a participar. Claro que fui.

Para minha surpresa, participando dessa reunião estavam Marcelo, Engenheiro Agrônomo com quem eu só tivera contato via telefone; Lucilene, funcionária da Prefeitura; João Batista Canhoni, representante da Associação Rural de Corumbataí e filho de Geraldo Canhoni, outros dois produtores rurais, representantes da associação, e duas professoras da escola da cidade. A pauta dessa reunião já foi citada anteriormente. Acabada a reunião, conversei com a Lucilene e com o João sobre a minha falta de alternativas nas escolhas de futuros depoentes. Saímos dali e o João já me levou a dois lugares. Um foi à casa da “Dona” Genny, uma adorável e irrequieta senhora com a qual marquei um depoimento para a próxima terça-feira. O outro foi um lugar no mínimo “diferente” dos academicamente sugeridos para arrumar depoentes, embora bastante apropriado para encontrar possíveis narradores e contadores de “causos”: o bar na frente da praça. Lá encontrei cerca de cinco ou seis senhores, todos aposentados, que iam ao bar todos os dias no fim da tarde para ver o movimento e, segundo eles mesmos, “jogar conversa fora”. Sim, eles teriam muito prazer em me ceder um depoimento. Claro, o depoimento poderia ser feito com qualquer um deles, ou mesmo com todos eles juntos. A que horas? A qualquer uma... O dia também, qualquer um... Segunda-feira, às duas da tarde estaria bem, afinal eram todos aposentados e, portanto, não trabalhariam na segunda. Agradeci imensamente ao João e pedi licença ao dono do bar para a realização do depoimento, que prontamente concordou. Tudo certo para segunda-feira. Saí de lá radiante de felicidade.

Só que chegada a segunda, dia 12 de dezembro de 2005, nenhum dos senhores com quem eu havia combinado apareceu. Talvez eu tivesse marcado esse depoimento cedo demais. O fato é que não apareceram. Mas lá estava um outro senhor, muito distinto e disposto a falar, era o Sr. Adolpho Borgo, e também um outro sentado no banco da praça, o Sr. Vergílio Gigeck, que o dono do bar chamou talvez por ter ficado muito triste devido ao

fato de os outros não terem aparecido. E logo chegou um outro senhor muito bem falante e também amigo dos demais, o Sr. Michel Zaine. E foi assim que finalmente consegui meu depoimento no bar da praça. Totalmente inesperado e com depoentes escolhidos de forma totalmente aleatória. Mas como nada na vida acontece por acaso... o Sr. Adolpho Borgo, aposentado, já havia sido indicado como possível depoente em conversa com moradores da cidade e é marido da Srª. Genny, de quem eu iria tomar o depoimento no dia seguinte. Porém nesse depoimento não consta a voz do Sr. Adolpho Borgo, pois ele acabou por não se pronunciar durante o depoimento. O Sr. Vergílio Gigeck, 77 anos, é primo do Sr. Geraldo Canhoni, que o havia indicado como depoente. E o Sr. Michel Zaine, 79 anos, representante comercial e ex-prefeito da cidade, também havia sido indicado como possível depoente por várias pessoas, entre elas, a Alba e outros moradores da cidade.

O quarto depoimento foi realizado no dia 13 de dezembro de 2005, na residência da Srª. Genny Paiuta Borgo, 76 anos. Como já foi comentado anteriormente, a indicação de “Dona” Genny foi feita por João Batista Canhoni e ela foi escolhida por ser moradora antiga da cidade, já que morou em Corumbataí por toda a sua vida, tanto na zona rural quanto na parte central, e por ser conhecedora da vida e dos costumes da região.

O quinto depoimento foi feito com o Prof. Dr. Heraldo Antonio Britski, 72 anos, e sua esposa Peny Marion Calderini Britski, 67 anos. Ambos residem na cidade de São Paulo. O professor Heraldo é formado em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP), com Doutoramento em Ictiologia. Há vários anos dirige o Museu de Zoologia da USP e é considerado a maior autoridade mundial em peixes de águas interiores brasileiras. Sua esposa, Peny Marion Calderini Britski, é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). O encontro com o casal aconteceu no dia 25 de fevereiro de 2006, no sítio deles, que faz parte do Núcleo Residencial Jorge Tibiriçá, em Corumbataí.

Esse casal não se encaixava no perfil adotado para selecionar os depoentes já que reside há muitos anos na cidade de São Paulo. A primeira intenção era de ter somente uma conversa informal com o professor Heraldo, que tem um conhecimento científico acerca do rio Corumbataí, o que proporcionaria ao trabalho uma visão diferenciada a respeito do meu objeto de pesquisa. Como era só uma conversa, não foi utilizado o roteiro de fotografias durante o depoimento. Porém a conversa tornou-se muito interessante, repleta de novos dados coerentes com os objetivos da pesquisa, pois os depoentes têm familiares que ainda moram na cidade e são freqüentadores assíduos de um sítio que possuem no município, portanto, não perderam o contato com Corumbataí, sua história e seu rio. Dada sua importância essa conversa foi incorporada como depoimento.

Houve mais indicações de depoentes, mas elas começaram a se repetir. Os depoimentos também começaram a tornar-se repetitivos e com poucos fatos novos. Todos os sinais apontavam para o cumprimento dos objetivos desta pesquisa.