• Nenhum resultado encontrado

Gradativamente a partir dos modelos norte-americano e europeu implantados na década de 1960, o conceito da planta livre se consolidou durante o final do século XX. Nos anos 1970, os sistemas de mobiliário integrados se desenvolveram e se disseminaram, enquanto nos anos 1980 estes sistemas se focaram na estética e na revisão de conceitos hierárquicos.

Segundo Claudia Andrade, as características das estações de trabalho foram sendo alteradas em razão de três fatores:

1. “a flexibilização das organizações, com a redução do número de funcionários em salas fechadas e a preferência pela integração de equipes;

2. os custos imobiliários que levaram a uma redução no tamanho das estações de trabalho e à conseqüente redução de espaço/custo;

3. o uso de tecnologia de informação, que alterou as necessidades relativas ao

mobiliário”. (ANDRADE, 2000, p.24)

A flexibilização em particular vem acompanhada da necessidade de integração entre funcionários e superiores, a relação entre funcionários de diferentes níveis é menos hierárquica e mais informal. As empresas nestas décadas sofreram diversas mudanças, fusões, algumas cresceram, outras diminuíram, e a cada mudança precisavam readequar o

layout de seus escritórios. Quanto maior a flexibilidade do mobiliário, melhor e mais rápida

era a adaptação às mudanças; conseqüentemente, menor eram os custos de implantação e de modificação de layouts.

Em 1985, a Herman Miller lança mais um sistema de mobiliário integrado, o

Ethospace, ao perceber “que seu produto Action Office não mais representava uma posição de vanguarda para os administradores”. (AMARAL, 1987, p.245) Baseado na administração

da Teoria do Sistema, em que a hierarquia do escritório não é expressa pelo tipo de mobiliário que o funcionário utiliza, nele são minimizadas as diferenças de tamanho de estações de trabalho, recursos técnicos e acabamentos entre as distintas peças de mobiliário dos diferentes níveis hierárquicos.

Esse produto é idealizado como um módulo de estação de trabalho composto por: uma mesa de trabalho, que em uma das extremidades possui uma conexão em semicírculo para reuniões e na outra extremidade possui uma mesa de trabalho em formato de “L”. Ao redor desse conjunto estão os painéis, onde pela primeira vez foi possível combinar

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

diferentes alturas de divisórias do mobiliário e tipos de acabamento (mais humanizados, evocando elementos arquitetônicos como paredes, janelas, tijolos etc.). Esse módulo de estação de trabalho se amplia conforme o grau hierárquico, mas irá sempre possuir os mesmos acabamentos e recursos.

(1) (2)

Linha Ethospace da Herman Miller (1) e (2) Estações de trabalho com diferentes alturas de painéis e acabamentos

Fonte: (1) e (2) Herman Miller, 2005, Catálogo de propaganda de produtos

Paralelamente, os edifícios de escritórios foram se modernizando, passaram a ser projetados com novas tecnologias construtivas (materiais mais resistentes) e a oferecer uma infra-estrutura predial mais moderna e uma arquitetura diferenciada que demonstrasse

status: tudo isso resultou no aumento dos custos imobiliários. É claro que a competitividade

neste mercado é grande, pois a quantidade de espaços de escritórios disponíveis é alta, o que levaria o custo para baixo; mas as características construtivas, arquitetônicas e tecnológicas mudam tanto e tão rápido que em pouco tempo tudo que no prédio era moderno passa a ser antigo.

As empresas começaram a se preocupar mais do que nunca com a imagem institucional, que engloba tanto o aspecto interior quanto exterior do edifício. No seu interior, a identidade visual em seus ambientes de escritórios é destacada: todos os escritórios de uma empresa devem possuir os mesmos acabamentos, ser compostos pelo mesmo mobiliário; dessa forma não importa em qual cidade ou local estejam localizados eles sempre serão identificados por fazer parte de uma mesma empresa através da aparência de seus escritórios. Esses aspectos, acoplados a uma arquitetura diferenciada, moderna ou contemporânea, demonstram qual o perfil de cada empresa.

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

No final da década de 1960 na Europa a questão da participação do usuário no ambiente arquitetônico se tornou uma preocupação central. Por isso alguns arquitetos entendiam que não se deveria fornecer uma solução completamente resolvida para um programa. Era como pensava o arquiteto Herman Hertzberger:

“... o arquiteto deveria criar uma estrutura forte, mas que fosse, em termos de uso, relativamente neutra para ser interpretada e completada de diversas maneiras pelos usuários”. (WESTON, 2003,

p.164)

Ao projetar os escritórios para uma companhia de seguros chamada Centraal Beheer em Appeldoorn, nos Países Baixos (1970-1972), para mais de 1.000 funcionários, Hertzberger se baseou em um módulo tridimensional de base quadrada e executou um edifício bastante complexo de quatro andares.

Cada módulo podia ser dividido em quatro áreas de trabalho separadas por uma circulação em forma de cruz. Quando agrupados lado a lado, os módulos se interligavam através de estreitas passarelas, formando um tipo de planta “xadrez”. A iluminação foi feita através de janelas localizadas nos cantos dos módulos ou pelo teto das passarelas. A interferência dos usuários pode ser vista nas áreas coletivas existentes no centro de cada pavimento, nas passarelas onde foram colocadas plantas e sofás e nos próprios locais de trabalho que os funcionários enfeitaram com plantas, pôsteres e outros materiais personalizados que delimitavam cada espaço de trabalho. Apesar de toda linearidade, a ocupação é de escritório panorâmico: há grande comunicação e integração entre os departamentos.

O projeto foi uma tentativa de no início da década de 1970 diminuir ao máximo a hierarquia ainda resistente dos edifícios de escritórios tradicionais, e por esse motivo muitos críticos consideraram o projeto deficiente. Mesmo assim a citação a seguir demonstra a sua importância para a época e para a arquitetura de escritórios.

“... por mais que o edifício Centraal Beheer pareça agora um modelo antiquado e, por mais que a rejeição às regras tradicionais da forma arquitetônica esteja fora de moda; este prédio continua sendo (...) uma das poucas tentativas, genuinamente radicais e humanas, de repensar um tema predominantemente no século XX, o prédio de escritórios”. (WESTON, 2003, p.164)

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

(1) (2)

Edifício Centraal Beheer, Appeldoorn – 1972 (1) Fachada (2) Vista dos escritórios

Fonte: (1) e (2) WESTON, 2003, p.164

(3) (4)

Edifício Centraal Beheer, Appeldoorn – 1972 (3) Planta baixa (4) Vista parcial da planta

Fontes: (3) WESTON, 2003, p.165 (4) DUFFY, 1997, p.82

Um dos exemplos mais significativos de edifício de escritórios da década de 1980 é o Lloyds Bank (1986). Projetado pelo arquiteto italiano Richard Rogers e equipe (DUFFY, 1997, p.32), o prédio localizado em Londres é feito com estrutura de ferro, acabamento em alumínio e vidro. O projeto foi resultado de um concurso que teve como princípio a flexibilidade das instalações e o atendimento das necessidades do banco, entre elas: triplicar a área que ele ocupava na época em outro edifício, dar continuidade aos negócios sem interrupções por conta da mudança, garantir espaços para atividades conjuntas dos funcionários, facilitar a expansão futura e prover um edifício de qualidade e imponência.

A laje nervurada do edifício é aparente: não é utilizado forro e a iluminação artificial é feita através de luminárias aparentes embutidas nos vãos quadrados da laje (a iluminação natural é zenital através do átrio e feita pelas janelas do perímetro). Essa mesma laje nervurada do teto pode ser vista no piso, o que proporciona um contrapiso oco por onde passam as instalações elétrica e de telecomunicações. O piso acabado acima da laje é feito de placas finas e encaixadas na própria laje.

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

A planta do Lloyds possui um partido diferente da grande maioria dos edifícios da época: há um grande retângulo para distribuição dos escritórios com um átrio central, e todos os espaços de serviços, sanitários, escadas e elevadores, estão localizados fora desse retângulo, facilmente acessíveis para manutenção. Essa diferença fez com que o edifício proporcionasse uma grande integração entre os ambientes de escritórios. O salão único no térreo (com pé-direito duplo) está interligado aos demais pavimentos através de um átrio central, onde estão localizadas escadas rolantes para acesso aos quatro pavimentos logo acima. Sua ocupação é um exemplo de escritório panorâmico europeu: mesas de trabalho em espaço aberto nos andares inferiores e salas fechadas para chefes e diretoria nos andares superiores. Áreas de recepção, reuniões informais e troca de informações do banco estão localizadas no centro do pavimento térreo (na área correspondente ao centro do átrio).

(1) (2)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (1) Fachada (2) Esquema da planta do pavimento tipo

Fontes: (1) www.lloyds.com (2) SAMPAIO, 2003, p.64

(3) (4)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (3) Átrio central e escadas rolantes (4) Área de escritórios no segundo pavimento com vista parcial das escadas rolantes e do átrio central

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

(5) (6)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (5) Área de escritórios no pavimento térreo (6) Detalhe da área de escritórios no pavimento térreo com destaque para o teto e o piso

Fonte: (5) e (6) www.lloyds.com

Na década de 1980, o escritório SOM produziu mais de 20 importantes projetos de edifícios de escritórios corporativos construídos e na década de 1990 mais dezoito importantes projetos.

Mas o design moderno vulgariza-se através da produção industrial em alta escala dos seus mais diversos componentes, incluindo o mobiliário, devido principalmente ao desenvolvimento dos meios de comunicação e às novas necessidades de identidade visual por parte das empresas. Ao mesmo tempo, as necessidades de seguir padrões ergonômicos (regidos por normas de dimensões de mobiliário) e de conforto ambiental (regidos por normas de iluminação nos ambientes, controles de qualidade de ar etc.) se tornam cada vez mais evidentes, fazendo o mercado repensar a fabricação de mobiliário com novos materiais, novas tecnologias e oferecendo uma variedade maior de formas, funções e acabamentos.

A década de 1990 prioriza a contenção econômica, a simplificação e a flexibilidade dos produtos. É quando se estabelece no mercado a modulação de diversos produtos que fazem parte do ambiente interno dos escritórios (desde sistemas integrados de móveis e divisórias a forros e luminárias) e também das edificações, que precisam estar preparadas para receber esses produtos. As dimensões dos espaços arquitetônicos e dos componentes do escritório (como peças de mobiliário, forro, luminárias, piso elevado etc.) seguem os mesmos módulos, com larguras mínimas e padronagens iguais. Isso permite que o mercado ofereça uma maior variedade de soluções para espaços e componentes dos escritórios, com custos acessíveis (compra-se menos e precisa-se de menos itens em estoque) e em pequenos prazos (pode-se utilizar itens existentes para modificar facilmente os espaços).

CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

“Em termos de tipologia de layout a tendência atual é para os sistemas combinados, que resgatam as salas individuais ou para pequenos grupos, situadas junto às faces ensolaradas, deixando o miolo do pavimento livre para ser organizado segundo uma das múltipla variantes dos sistema do tipo Action Office ou panorâmico disponível hoje em dia no mercado. Nota-se forte tendência para as divisória fixas incorporarem grandes painéis de vidro complementados por persianas verticais e horizontais, cortinas sanfonadas ou de enrolar que dão ao conjunto um aspecto de maior leveza e integração, ao mesmo tempo em que permite criar uma maior privacidade quando desejado.” (CALDEIRA, nº10, p.4)

Documentos relacionados