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Capítulo 3: A pesquisa no processo de formação continuada e na prática de sala de aula das

3.2 A escrita reflexiva e a formação docente

3.2.2 A escrita como processo formativo

A prática da escrita - em sala de aula, pelos estudantes, ou como um processo de formação docente - é importante e necessária. Saber argumentar, escrever, se posicionar frente a alguma situação ou problema é condição que amplia a sua importância em um universo em que a informação é muito fácil de ser conseguida. Precisamos ensinar aos nossos estudantes a se apropriarem da informação e transformarem a mesma em conhecimento. Isso é possível pelo uso da linguagem, pois pensamento e palavra se constituem mutuamente. Diz Vigostski (2001) que é impossível pensar sem palavras, e assim, a prática de sala de aula que prioriza a memorização pouco contribui para a formação de um pensamento da Ciência, ou seja, é necessário que os conceitos sejam significados pelo estudante.

Mas a prática da escrita nem sempre se dá de forma tranquila, pois, como afirma a professora Sabrina,

Dentro da escola é um desafio fazer formações. A escrita é uma resistência que temos, mas de grande importância, pois muitas vezes não conversamos com os colegas sobre os acontecimentos cotidianos, e através da escrita registramos e documentamos o que acontece em sala de aula com os alunos e professores. Devemos escrever nossas experiências em sala de aula relatar o processo de evolução dos alunos, que é isso que nos realiza como professores ver nossos alunos evoluindo, melhorando suas atitudes a cada dia, um crescimento lento, mas necessário para o bom aprendizado, através de questionamentos e dúvidas que vão surgindo no decorrer das aulas. (Sabrina, Outubro de 2015, p. 140, DB).

A professora Sabrina reflete sobre os desafios para a escrita embutidos no sistema educacional, uma vez que temos, entre alunos e professores, muita resistência para escrever. Para exemplificar, trago a importância dada pela professora Janete para a escrita como processo formativo, por intermédio da formação que participa tanto no PIBID, quanto no GEPECIEM: “Percebeu-se o quanto a escrita e a reflexão gera comentários e troca de

ideias.”(Janete, março de 2015, p. 28).Pois segundo a mesma professora, “ao relatar podemos refletir sobre a nossa escrita e crescer em nossas ações.” (Janete, outubro de 2015,

p. 40, DB).

Nesse sentido, a escrita no Diário de Bordo se caracteriza como um recurso para registros das vivências do professor, o que possibilita a ele acompanhar a sua própria evolução como profissional da educação. Além disso, o Diário de Bordo qualifica a reflexão das experiências educacionais mais significativas e, pela sua socialização, possibilita o confronto de ideias e o compartilhamento de experiências. Nesse processo de parar, pensar e escrever sobre a aula, o professor se torna sujeito de sua formação, falando e se posicionando

a respeito de sua própria prática, num processo que qualifica e redimensiona o fazer pedagógico.

Através da reflexão na formação o professor percebe suas necessidades e toma para si alguns referenciais.

Sinto que deveria /poderia escrever mais sobre minhas ações, minhas práticas, meus anseios, minhas reflexões sobre a docência. A professora [formadora] finalizou sua fala com uma frase de Mario Osório Marques “ Escrever é preciso” que vai ao encontro ao meu sentimento atual de que preciso escrever/registrar mais minhas memórias em torno da minha docência.(Maria, outubro de 2015, DB).

Percebe-se que a professora nota, através de sua reflexão, a necessidade de escrever, de refletir sobre a sua ação, evidenciando a importância da escrita em torno da reflexão na e sobre a ação (SCHÖN, 2007).

Como podemos perceber a partir dos excertos, a escrita reflexiva auxilia na formação crítica do sujeito, na sua constituição docente, instigando-o ao autoconhecimento, à autonomia, à transformação de suas atitudes. Esse movimento não se dá de uma hora para a outra, é um processo muitas vezes árduo, mas que leva o sujeito a conversar consigo mesmo, como argumenta Alarcão:

O ato de escrita é um encontro conosco e com o mundo que nos cerca. Nele encetamos uma fala com o nosso íntimo e, se quisermos abrir-nos, também com os outros. Implica reflexões a níveis de profundidade variados. As narrativas revelam o modo como os seres humanos experienciam o mundo. [...] Geralmente é difícil ganhar o hábito de escrever narrativas. Perante a folha de papel em branco, o professor normalmente pergunta-se sobre o que há de escrever. (ALARCÃO, 2011, p. 57).

A partir do desencadeamento da escrita é que surge a reflexão, resultando num processo formativo amplo que perpassa a formação continuada do professor. O docente, assim, se torna autor e ator de sua formação, dialogando com seus pares nos encontros dos grupos de formação.

A reflexão é um processo que precisa ser desencadeado. Acredito que a escrita reflexiva (nos Diário de Bordo) e o diálogo formativo (possibilitado pelos encontros), fazem/fizeram/farão com que os professores em constante formação possam progredir, assumindo e compreendendo mais fortemente seu papel como autores e atores de sua própria Formação. Ao passo que vão compreendendo seus fazeres e aprendizagens constituídas, vão se constituindo pela malha social e por este caminho poderão examinar suas práticas no que chamamos de pesquisar a ação, e assim vão se constituindo professores em formação. O sujeito professor, em processo de formação, se constitui pela via reflexiva e, desse modo, ele reelabora suas concepções, intervém em sua prática, especialmente quando reflete no diálogo com seus pares, pois primamos por uma reflexão não apenas da ação, mas sobretudo sobre e para ação, ela é retrospectiva e prospectiva e, ao sê-las, se torna formativa. (GÜLLICH, 2012, p. 213-214).

Nesse sentido, o que está ao alcance da escola, segundo Boff (2011), é a possibilidade de desenvolver uma educação em que professores e estudantes sejam autores e atores nos processos de ensino e de aprendizagem.

Portanto, defendo a formação docente como uma prática de constante reflexão na e sobre a prática, através da escrita reflexiva em Diário de Bordo e o diálogo formativo nos grupos de formação, como acontece no PIBID e no GEPECIEM da UFFS Campus Cerro Largo. Afirmo, ainda, que esse movimento formativo qualifica a docência e permite que os sujeitos envolvidos sintam-se autores de sua própria prática. Esse movimento permite, também, que os sujeitos possam “contribuir para a formação própria e do coletivo.” (Professora Janete, Março de 2015, p. 28, DB, grifos meus). Uma vez que as professoras pesquisam a sua prática e buscam melhorá-la. Obtendo melhores resultados no processo de ensino que desenvolvem, as professoras qualificam a sua formação docente, compartilhando-a com os pares que também contribuem nesse processo, através do diálogo formativo.