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“A ESCRITORA IGNORA INTEIRAMENTE A GRAMÁTICA” CECÍLIA ROMANA, SEU RELATO E A ORDEM DOS

No documento Atas da VII Semana de Estudos Medievais (páginas 37-44)

PREGADORES

Carolina Coelho Fortes*

Ao longo do século XIII, uma nova ordem se configurava. Nova ordem essa, tanto no sentido mais amplo – as transformações que vinham ocorrendo pelo menos desde o século XI agora atingiam contornos claros – quanto no sentido mais restrito – surgia a Ordem dos Irmãos Pregadores. Esse primeiro século de existência da Ordem instituida por Domingos de Gusmão foi marcado por sucessos e reveses, lutas internas e embates com o papado, os clérigos seculares e outras ordens mendicantes. A produção literária nessas décadas foi considerável. Assim, podemos ter acesso a variadas perspectivas do processo de institucionalização da Ordem Dominicana.

Nesta breve apresentação, preocupa-nos analisar uma dessas visões a respeito da Ordem, que toma como ponto central a figura de seu fundador. Nesse sentido, buscaremos no chamado “Relato dos Milagres Operados por Santo Domingo em Roma” elementos que indiquem as posições de seu meio de produção no que tange à identidade institucional da Ordem, e às relações de gênero.

Cecília

Surgem, em 1219, as primeiras controvérsias sobre a incorporação dos monastérios femininos que pediam para se agregar à nova ordem dos pregadores. Inclusive nas modalidades mais informais de relação entre os homens e as mulheres, como é o caso da assistência espiritual respresentada pela confissão, por exemplo, os frades discordavam entre si. Mas, apesar da resistência de muitos em agregar as monjas à Ordem, é fundado em 1221 o convento de Santa Inês de Bolonha, cujos alicerces haviam sido lançados pelo próprio Domingos um ano antes.

O papa Honório III, no fim de 1219, havia legado à Domingos a instituição de um grande monatério para onde confluiriam as monjas sediadas nos antigos cenóbios romanos, reformando a observância segundo um critério de rigorosa clausura. Durante sua estada em Roma no verão de 1218, Domingos já havia estabelecido uma forte ligação com a comunidade feminina de Santa Maria in Tempulo, casa vizinha de São Sixto, quartel- general dominicano em Roma. Aquele grupo de mulheres, acompanhadas por algumas monjas do convento de Santa Bibiana, reuniram-se em S. Sixto em fevereiro de 1221: é o que atesta a pequena obra de irmã Cecília.

Em uma carta à Diana de Andaló, redigida provavelmente na véspera de sua vestição durante a Ascensão de 1223, Jordão da Saxônia, há um ano o novo mestre geral dos pregadores, a notificava que em breve chegariam à Bolonha algumas irmãs de Prouille para instruir as noviças de Sta. Inês nos preceitos da vida claustral. A crise atravessada naquele momento pelo mosterio de Toulouse talvez tenha impedido a realização do projeto imaginado por Jordão. Por isso ele tem que enviar a Roma alguns frades para pedirem ao convento de S. Sixto instrutoras para a nova casa de Bolonha. O pedido é atendido, apesar de uma provável resistência do próprio Honório III, e antes de junho de 1225 já estão ali quatro irmãs romanas, entre elas Cecília, que permaneceria no convento bolonhês até sua morte, em 1290.

Será ela a responsável por descrever as passagens de Domingos por Roma, pelo menos no que tange a seus feitos extraordinários, testemunha direta de maior parte desses milagres. A religiosa era membro de uma conhecida família aristocrática de Roma, os Cesarini. É provável que tenha nascido em 1203, já que afirma em seus relatos, ter feito a profissão de fé em S. Sixto, pelas mãos de Domingos, aos dezessete anos. Nessa ocasião, no entanto, já era monja beneditina no convento de Santa Maria in Tempulo, onde ingressou aos quatorze anos de idade. Sua mudança para São Sixto foi motivada justamente pela ordem de Honório III, que visava colocar sob estreita observância em uma mesma casa todas as monjas dispersas em diferentes mosteiros de Roma.

A Obra

A Relação dos Milagres feitos por Santo Domingos em Roma é a obra que ditou Cecília no mosteiro de Santa Inês em Bolonha a outra monja também ali residente, Angélica. Não se coloca em dúvida sua autenticidade. Ao contrário, há consenso em atribuir à Cecília esta obra, a última escrita por alguém que conhecera Domingos. Sua composição deve ter ocorrido nos últimos anos de vida de Cecília. É provável que ela tenha ditado suas lembranças em momentos diferentes e que Angélica não as tenha ordenado cronologicamente. Esses milagres deveriam ser lidos, ou melhor, cantados, no coro ou no refeitório no dia da festa de Domingos, no monastério de Sta. Inês, segundo se deduz da pontuação que tem para o canto na segunda redação.1

O relato dos milagres é colocado como uma série de testemunhos, sempre afirmados ao final de cada relato, onde Cecília nomeia suas fontes. São sempre frades e monjas que presenciam os episódios narrados, o que já indica tanto uma rede de relações sociais bastante estrita da religiosa, quanto – e é isso que defendemos – a fidedignidade e o caráter privilegiado das testemunhas de feitos excepcionais. É interessante notar que estes últimos, são quase todos ambientados nos conventos romanos de S. Sixto e Sta. Sabina e ocorrem entre os anos de 1220 e 1221, os últimos da vida de Domingos, nos quais, ao que tudo indica, desenvolve-se mais intensamente seu ministério pastoral entre as monjas.

Não sabemos se Cecília recebeu alguma solicitação dos dirigentes da Ordem para redigir suas memórias sobre Domingos. Na verdade, tal fato é bastante improvável. Primeiro porque dificilmente legariam a uma mulher a responsabilidade pela redação sobre os feitos milagrosos do fundador, já que há apenas alguns anos haviam confiado a frades como Constatino de Orvieto e Gerard de Frachet a tarefa de integrar à biografia litúrgica de Domingos novos eventos prodigiosos que teriam escapado aos hagiográfos precedentes. Devemos lembrar também que depois de 1260, com a aprovação e imposição exclusiva do legendário umbertino, o cânone hagiográfico de Domingos já estava largamente fixado, e os capítulos gerais, a instância legislativa máxima da Ordem, devia ponderar, validar e, conforme o caso, até censurar qualquer iniciativa que se colocasse em concorrência ou em desacordo com as diretivas oficiais sobre a natureza e os usos litúrgicos e pastorais das eventuais adições à legenda do santo patriarca.2

No entanto, esses fatores não impediram a inclusão dos Miracula na compilação hagiográfica composta por volta de 1290 pelo frade turingiano Teodorico de Apoldia, escrita por ordem do mestre geral, Muño de Zamorra. É provável que Cecília tenha sido movida por pedidos dos frades que acudiam a Bolonha para celebrar os capítulos gerais ou visitar o túmulo de

Domingos. Entre os visitantes, é provável que por ela tenha passado Teodorico de Apoldia, em 1288, a caminho do capítulo de Lucca.

Esse fato, juntamente com o uso dos Miracula por dois grandes eruditos dominicanos do século XIV – Bernardo Gui e Galvão Fiamma - , explica porque a tradição manuscrita direta das lembranças de Cecília é tão exigua. O manuscrito mais antigo, e provavelmente original, esteve no arquivo do convento de Sta. Inês em Bolonha até 1798, quando passou para a biblioteca do convento de São Domingos. Encontra-se um manuscrito do século XIII na biblioteca da Universidade de Wurzburgo. Há, ainda, uma versão castelhana do século XIII, encontrada no convento de S. Domingos el Real, em Madri.3

Não obstante a mediação redacional de Angélica, já que Cecília era provavelmente semi-analfabeta ou de idade bastante avançada para poder escrever de próprio punho, é possível perceber as expectativas e o olhar restrospectivo desta última. Não completamente inserida na literatura mistica que abundava naquelas décadas (lembremo-nos de Clara de Assis, Angela de Foligno, Juliana de Norwich – as criadoras de uma nova linguagem espiritual que se inscreve sobre o corpo), a visão de Cecília se coloca como conscientemente representativa de uma comunidade de monjas animadas por expectativas semelhantes, e objeto das mesmas diretivas. Ou seja, é claro no relato de Cecília a posição que sua comunidade ocupava dentro do sistema institucional dominicano: a de um grupo eleito e guiado pelos preceitos estabelecidos pelo próprio fundador. Eleição e lideranças estas que se concretizam e ganham autoridade por meio das ações taumatúrgicas levadas a cabo por Domingos. Tais milagres, acreditamos, voltam-se para sedimentar a edificação e a consciência de pertencimento àquela comunidade eleita.

Para a legitimação de tal relato, recorre-se à uma série de topoi literários próprios da hagiografia, mas, como podemos ler no epílogo, ostenta-se os critérios de verificação e testemunho que buscavam estabelecer a autenticidade dos registros da irmã acreditando-se no valor paradigmático para edificação espiritual das futuras gerações de monjas e frades.4 Faz-se

uso, como já dissemos, da recorrente menção à observação direta valorizada não só pela datação, mas igualmente pela santidade e pela devoção de um testemunho que, apesar da declarada ignorância da gramática, não deixa de ter seu valor, e por isso merece ser redigido. Caso voltemo-nos para o conteúdo dos milagres, depararemo-nos com mais elementos para a legitimação da escrita: o silência que tantas vezes Domingos impunha sobre suas realizações prdigiosas corresponde ao difuso topos hagiográfico de matriz evangélica. Nas palavras de Canetti, uma discretio da qual resulta, por paradoxo, uma maior glória do taumaturgo,5 espécie de relíquia viva

da qual as pessoas arrancavam pedacinhos de manto e de escapulário, a ponto de deixá-lo com os joelhos a mostra.

O frei Alonso Getino levanta um argumento que nos interessa particularmente. “As pupilas daquela venerável anciã, que vira levantar-se a Ordem desde o estado pobre e rudimentar dos primeiros dias até o cume das grandezas, tinham que estar demasiadamente impregnadas de ouro e azul para não ver o taumaturgo em seu todo, esquecida do homem, que é o que mais interessa à história.”6 Em outras palavras, Cecília, que havia se

unido à Ordem, a partir de uma imposição papal, inicialmente, mas que, como mostra em sua obra, escolhe não uma, mas três vezes, participar daquela comunidade em formação, testemunhara seu crescimento. Ingressou em S. Sixto em 1221, mudou-se para Sta. Inês em 1225, onde morreu em 1290. Nesse período a ordem se expandiu enormemente. Quando da morte

de Domingos, em 1221, existiam 20 priorados e talvez 300 frades. Já em 1303, haviam 590 priorados e por volta de 13 mil frades. Em relação às casas femininas, eram apenas quatro em 1221, número que saltou para 141 em 1303.7 Mesmo que em Bolonha, as monjas vivessem uma vida de

reclusão, sabemos dos abundantes contatos com o mundo exterior,8 o que

possibilitava o conhecimento de notícias sobre a Ordem. Em suma, a vida da longeva Cecília abarcara o que os historiadores dominicanos chamam de “século de ouro”, o que, defendemos, atesta-se nas entrelinhas das narrativas da monja.

Milagres, gênero e identidade

No que tange aos milagres relatados por Cecília à Angélica, pretendemos agora dar um visão geral, buscando entrever neles uma relação intrínseca com a experiência testemunhada por Cecília, qual seja, a do processo de institucionalização da Ordem dos Pregadores.9 Tal processo se

concretiza por meio, e paralelamente, a construção de uma identidade dominicana em face às outras ordens e a própria Cúria, bem como através da distinção entre frades e monjas. Para pensar esses múltiplos movimentos, nos baseamos nos conceitos de identidade, segundo Woodward,10 e de

gênero, segundo Scott.11

São quatorze os pequenos relatos que compõem a obra ditada por Cecília. Com exceção do último deles, a famosa descrição da aparência física de Domingos,12 é possível depreender de todos relação entre os

milagres e algum elemento marcante da identidade da Ordem. Podemos contabilizar 21 manifestações “maravilhosas”, dentre as quais as mais frequentes são as revelações divinas, o conhecimento de fatos corriqueiros antes do ocorrido ou concomitante a eles, que acontecem cinco vezes em toda a narrativa. Além disso, o demônio é derrotado por quatro vezes, como são quatro as menções à algum tipo de intervenção milagrosa na ordem natural. Temos ainda três aparições benfazejas, duas de anjos e uma de santas, duas curas e duas ressurreições.

Cada um desses eventos relaciona-se mais ou menos diretamente a algum elemento característico da identidade dominicana. Dentre os elementos identitários discernimos aspectos relativos à organização administrativa da ordem, ou ao pertencimento de novos conversos, que recebem oito menções. São feitas, ainda, referências à pregação (oito vezes), à assistência espiritual de monjas ou reclusas (quatro vezes), e à mendicância (uma única vez).

Observemos, por exemplo, o principal dos elementos que marcam a identidade dominicana: a pregação. Durante os sermões de Domingos, fossem públicos ou conventuais, ele expulsa demônios de um mulher que acabaria entrando para a Ordem, a mesma que provavelmente é citada depois em uma das cartas de Jordão para Diana, chamada Amada; ressucita o filho de uma mulher que havia deixado a criança em casa para ouvir o fundador falar; ressucita igualmente Napoleão, sobrinho de Estevão, um de seus auxiliares designados por Honório III na unificação das casas femininas em Roma; afoga um amendrontador lagarto negro, de duas cabeças e duas caldas, que atrapalha seu sermão para as monjas ainda alocadas em Sta. Maria in Tempulo; e depena um passarinho que faz o mesmo numa situação parecida, mas agora já em S. Sixto. Além disso, alguns fatos maravilhosos servem de pretexto para a pregação: depois de ser visitado pela Virgem, santa Catarina e santa Cecília, Domingos profere um sermão exaltando o amor e a reverência à Maria; depois da multiplicação

do pão e vinho no convento de Sta. Sabina, Domingos prega sobre a confiança na providência divina.

Entendemos a recorrente associação de eventos excepcionais e pregação como uma forma de sedimentar não só a importância desta última como o principal aspecto identitário da Ordem, mas também como uma das atividades que mais aproximava o fundador e seus seguidores das mulheres. Mas, por outro lado, é também esse traço da identidade dominicana que mais afasta homens e mulheres, pelo fato de que àquelas a pregação era completamente negada. No entanto, essas relações desiguais permitem complementaridade – eles falam, elas escutam – e não concorrência. O que ocorria, por exemplo, entre dominicanos e franciscanos. É bem verdade que o “campo de batalha” por excelência das duas maiores ordens mendicantes durante o século XIII eram as universidades. Mas um traço bem destacado da hagiografia que aqui analisamos não pode ser deixado de lado. Todos os animais citados nos relatos de milagres são representações demoníacas. Já nos referimos ao lagarto e ao passarinho que perturbam as pregações de Domingos, mas ainda há mais uma aparição demoníaca-animalesca, a de uma macaquinha que faz piruetas e canta versos burlescos enquanto Domingos tenta escrever, ato que o caracteriza como letrado, ao mesmo tempo em que enfatiza uma ação relacionada a organização da Ordem. O que Domingos escrevia, afinal? Uma carta para um frade enviado em missão, um sermão? O que quer que fosse, imagina- se ser referente à Ordem. De qualquer maneira, lá está a macaca tentando atrapalhá-lo. Ele a usa como candelabro, mandando que ficasse imóvel e quando ela começa a queimar-se, gritando de dor (como, aliás, também fez o passarinho ao ser depenado), Domingos arremete contra ela com seu cajado, fazendo-a desaparecer.

Como nos lembra Curtius em sua clássica obra Literatura Européia

e Idade Média Latina, o macaco é uma imagem recorrente para o demônio

em toda a literatura medieval. Era costume, a partir do século XII, usar a palavra simia para designar, entre outras coisas, um imitador sem inteligência.13 Mas temos pelo menos dois representantes do mundo animal,

já que o lagarto é mais um monstrengo do que um bicho. Então como não nos lembrar do sermão de Francisco aos animais, ao qual se refere, entre outros, Tomas de Celano?14 E como, nesse sentido, não ver nessas menções

algo da disputa por audiência, naquelas décadas intermediárias do século XIII, entre irmãos menores e irmãos pregadores? Afinal, Cecília vivia em Bolonha, o segundo maior centro universitária da Europa de então.

Cecília também faz numerosas referências ao carinho e cuidado que Domingos nutria pelas monjas e pelas reclusas. É de extrema delicadeza a sua recordação sobre as colheres de madeira que Domingos havia levado para as monjas de Sta. Maria in Tempulo, quando retorna de uma viagem à Espanha. Além disso, são várias as menções à unificação das casas femininas, e sobre a constante presença de Domingos junto às monjas. Em dado momento, Cecília relata:

A noite ia até as monjas e, em presença dos frades, conversava ou pregava e as instruía sobre a Ordem, pois nunca tiveram outro mestre que as doutrinasse em coisas da Ordem.15

Ou ainda:

Quando o bem-aventurado Domingos pregava de tarde às monjas – os frades fora e as monjas dentro – acendiam

grandes tochas, de tal maneira que muito bem se podia ver tudo quanto se fazia dentro da igreja.16

Cecília dá a entender que Domingos estava sempre junto às religiosas, amparando-as espiritualmente e operando milagres. É de se notar, no entanto, que ele era sempre acompanhado por outros frades, ou seja, nunca ficava sozinho com elas. Essas referências indicam a necessidade de atestar a seriedade do fundador, que assim evitava oportunidades de tentação, ou tão somente impedia rumores maldosos. Tais narrativas podem estar relacionadas aos momentos de incerteza pelos quais passaram as religiosas dominicanas durante todo o século XIII. Em outra ocasião já discutimos os acontecimentos da chamada Querela da Ordem Segunda, o desacordo entre os frades e a Cúria a respeito da responsabilidade sobre as religiosas afiliadas aos pregadores. A insistência de Cecília em mostrar Domingos sempre preocupado com as religiosas dá razão, baseada na autoridade incostente do fundador, para a existência do braço feminino da Ordem.

Talvez mais distante da realidade de Cecília, mas ainda assim marcando presença nas suas memórias, é a relação de Domingos com Honório III, que havia especificamente escolhido o novo fundador para organizar os conventos femininos romanos. São cinco as referências a esse fato ao longo do relato. Essa associação frequente entre Domingos e o papado fundamenta o papel de importantes colaboradores da Cúria que os dominicanos assumiram a partir da segunda metade do século.

Conclusão

Podemos entender os Miracula de Cecília como uma celebração ao grandioso sucesso da Ordem dos Irmãos Pregadores, que havia crescido vertiginosamente sob os olhos da monja. Tal vitória é comemorada, assim, com narrativas excepcionais do seu fundador, que o pintam como um taumaturgo dedicado à missão dominicana. Esta estaria, nos idos da década de vinte do século XIII, ainda a se delinear. E encontra em Cecília, uma anciã vivendo no centro do mundo dominicano – Bolonha – , uma via adequada para estabelecer aquilo que, no fim do “período de ouro”, acreditava-se ser o lugar da Ordem na Cristandade.

Notas

* Doutoranda do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense.

1 GELABERT, M.; MILAGRO, J. & GARGANTA, J. (eds.) Santo Domingo de

Guzmán visto por sus contemporaneos. Madri: BAC. 1947. p. 458.

2 CANETTI, Luigi. L’invenzione della memoria: il culto e l’immagine di

Domenico nella storia di primi frati Predicatori. Spoleto: Centro italiano di

studi sull’alto Medioevo, 1996. p. 164.

3 GELABERT, M.; MILAGRO, J. & GARGANTA, J. (eds.). Op. Cit. A edição que utilizamos aqui é baseada no códice de Sta. Inês.

4 CANETTI, Luigi. Il passero spennato. Taumaturgia e direzione spirituale nei “Miracula beati Dominici” di suor Cecilia. In: MONGINI, G. (dir.) Direzione spirituale e agiografia. Seminario di Piacenza, 11-12 giugno 2001. Atti ... Brescia: Fondazione di Piacenza e Vigevano, 2005. Disponível em: centri.univr.it/RM/ biblioteca/ SCAFFALE/Bibliografie/Biblio-Canetti.htm. Acesso em outubro de 2007.

5 CANETTI, L. Op. Cit.

6 ALONSO GETINO, Luis G., O. P. Origen del Rosario y leyendas castellanas

del siglo XIII sobre Santo Domingo de Guzman. Vergara: Tipografía de El

7 HINNEBUSCH, W. The Dominicans. A Short History. Disponível em: http:// www.op.org/domcentral/trad/ shorthistory/default.htm Acesso em novembro de 2007.

8 Cartas de Jordão à Diana, por exemplo.

9 Desnecessário enfatizar que a mesma fonte contém elementos suficientes para que outros temas sejam trabalhados, como faz Canetti, em seu artigo Il passero

depenato, ao ver ali mais um indício da missão evangelizadora dos frades pregadores.

No documento Atas da VII Semana de Estudos Medievais (páginas 37-44)

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