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Capítulo 3: Caracterização do Universo de Estudos

3.2 Economia Pesqueira Extrativa no Pantanal

3.3.2 Esforço de Pesca: características e evolução

O esforço de pesca diz respeito ao quanto se está pescando de um determinado estoque de peixes com considerações sobre a qualidade e a quantidade da pressão exercida. A pesca constitui o fator direto de alteração dos estoques e no Pantanal é realizada predominantemente nos modos profissional e/ou de subsistência e esportiva. Os anos de 1970

e 1980 constituem-se em marcos importantes para os rumos tomados pelas modalidades citadas no que diz respeito à sua intensificação. Segundo Silva (1986) a partir dos anos 70, comerciantes de peixes, na maioria oriundos de São Paulo, iniciaram uma exploração intensiva no Pantanal – principalmente nos rios Cuiabá, Paraguai e Taquari – com a utilização de tecnologias de pesca até então não usadas pelos pescadores locais – redes. Os anos 80 trouxeram os turistas, que se aproveitaram da infra-estrutura aportada para a exploração da fronteira agrícola (GARMS, 1999; MACEDO, 2002). O resultado foi, como não poderia deixar de ser, um aumento significativo do esforço de pesca.

Não existem pesquisas recentes que tenham aplicado este indicador para a pesca no Pantanal de Mato Grosso. Dados do esforço da pesca profissional têm ficado restrito à variação do fluxo de registro e validação das carteiras, que por sua vez apresenta problemas visto que muitos amadores têm se registrado como profissionais (SEPLAN, 1998). O mesmo procedimento de medida de esforço é aplicado para a pesca amadora. Desse modo, sem o controle sobre a produção, é possível saber apenas se tem mais ou menos gente pescando. Apesar de não deixar de ser um indicativo de esforço, não é suficiente para o cálculo do estoque total e a pressão exercida sobre o mesmo, possível quando há dados de Captura por Unidade de Esforço (CPUE).

Ferraz de Lima (1981) utilizou o modelo de Captura Por Unidade de Esforço (CPUE) em alguns pesqueiros próximos a Cuiabá chegando a um valor global de 35,02 kg/pescador-dia, considerando a porção do rio onde se encontram os pesqueiros. Desde então o procedimento não foi mais usado, até porque, como já se disse, existe a necessidade de se obter séries mais ou menos longas e confiáveis de dados, o que não foi realizado. Silva (1986), chegou à cifra de 24,26 kg/pescador-hora – 6 h dias, 15 dias mês – ou 72,78 kg/pescador-dia21. Catella (2001) aplicando o modelo para o Mato Grosso do Sul, a partir dos dados de SCPESCA/MS entre 1994 e 1995 chegou aos valores de CPUE média anual igual a 11,5 e 3,9 kg/pescador-dia para as pescas profissional e esportiva respectivamente.

Um dado importante sobre o esforço de grande importância e significado para a avaliação dos estoques diz respeito à sua concentração em termos espaciais e por espécies. A Bacia do Rio Cuiabá sempre apresentou a área de maior esforço. É nela que encontramos as principais colônias de pescadores do Estado. Entre o final dos anos 70 e meados dos 80 do

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século XX, a extração na bacia representava 80% do total do estado (FERRAZ DE LIMA, 1986/7; SEPLAN, 1998). Em 1995 representava mais de 2/3 (PCBAP, 1997, vol. II, tomo III). Esta situação não foi muito diferente em 2001 que, embora restrito à participação relativa do total descarregado no Mercado do Peixe de Cuiabá, que apontou 71,2% (MATEUS, 2001). No tocante à seletividade da pesca no Pantanal cabe observar que, apesar da grande diversidade de espécies de peixes existentes, a captura – o esforço – recai sobre algumas poucas espécies migradoras, ditas nobres ( FERRAZ DE LIMA, 1981a; 1984b; 1986/7; 1987; SILVA, 1986; SEPLAN, 1998; CATELLA, 2001). Os estudos apresentados pelo PCBAP (1997, v. II, tomo III) constataram que 80% das capturas recaem sobre apenas 10 espécies, apresentadas no quadro 8. Isso é verdadeiro para todo o pantanal bem como para as diferentes modalidades de pesca – profissional e desportiva. Essa constatação tem gerado muitas discussões entre pesquisadores sobre a forma de avaliação de estoques.

Quadro 8: Espécies mais capturadas

Pintado Pseudoplatystoma corruscans

Cachara Pseudoplatystoma fasciatum

Jaú Paulicea luetkeni

Barbado Pirinanpus pirinanpu

Jurupensém Sorubim cf. lima

Pimelodídeos (peixes de couro)

Jurupoca Hemisorubim platyrhynchos

Pacu Piractus mesopotamicus

Piraputanga Brycon microlepis

Piavuçu Leporinusmacrocephalus

Characiformes (peixes de escama)

Dourado Salminus maxillosus

Fonte: Adaptado de Mateus, 2003, p. 43.

Embora outros fatores contribuam para o decréscimo do estoque22, é muito provável que seja a pesca o fator de maior concorrência. Ferraz de Lima e Chabalin (1984b) já demonstravam preocupações com os rumos tomados pela pesca, principalmente sua característica predatória, quando inclusive era permitida sua realização no período de reprodução – Piracema. Além disso, a rede, embora proibida pela legislação, constituía “...um

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Na é matéria deste trabalho discorrer sobre todos os fatores que concorrem para diminuir o estoque pesqueiro, mas citamos como exemplo até das preocupações relativas ao assunto aqueles arrolados na exposição de motivos da resolução 01/2000 do CONSEMA/MT referindo à definição da Piracema. São eles: ocupação desordenada, assoreamento, lançamento de esgoto, desmatamento das matas ciliares, atividades agropecuárias, fechamento das comportas da UH Manso.

dos aparelhos de pesca mais utilizado nas pescarias do Pantanal.” (FERRAZ DE LIMA,

1987, p. 13).

Os anos de 1980 constituíram o período de maior intensidade do esforço pesqueiro no Pantanal, principalmente da pesca profissional e empresarial. A infra-estrutura relativa à conservação muito contribuiu para o aumento da produção, que segundo Ferraz de Lima (1984a) convergia em sua quase totalidade – produção controlada – para a capital Cuiabá. Segundo o autor, além do Mercado de Peixes duas empresas absorviam grande parte da produção: a estatal EFRIMAT – Empresa de Frigorificação do Estado de mato Grosso – e a privada D. Martins Ind. E Com. Ltda. A primeira abastecia o mercado interno, exportando a maior parte da produção, enquanto que a segunda apenas exportava. Os rumos da política de pesca e a queda na produção acabaram inviabilizando as empresas, que fecharam suas portas.