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Capítulo 2: Elementos da análise econômica ambiental neoclássica para a compreensão

2.2 Falhas de Mercado

Quando os mercados falham o equilíbrio eficiente muito improvavelmente será alcançado, pois os preços não irão refletir corretamente os custos e benefícios envolvidos. São fundamentalmente quatro as falhas de mercado: poder de mercado, informações incompletas (ou assimétricas), externalidades e bens públicos. Destacaremos apenas as duas últimas por serem de nosso interesse direto.

2.2.1 Externalidades

Podemos definir externalidade como sendo uma conseqüência – geradora de custo ou beneficio – não voluntária sobre a produção ou consumo de um agente social, produzida pela decisão de produção ou consumo de outro agente sem que sejam feitas as devidas compensações. Segundo Mueller (2000), a teoria das externalidades desenvolvida por Pigout (1932) assumiu papel central na economia ambiental neoclássica, deixando de ser considerada uma excepcionalidade pelo fato de que em muitos aspectos, a inter-relação economia e meio- ambiente ocorre fora do âmbito dos mercados. Ao mesmo tempo, em trabalho pioneiro, Ayres e Kneese (1969, apud Perman et al, 1999), concluíram que os efeitos externos são endêmicos na economia moderna e, diante de sua ocorrência, os mercados livres são incapazes de atingir eficiência.

Por envolver necessariamente mais de um agente, as conseqüências da existência de externalidades será sempre socializada. Uma externalidade será negativa (gráfico 2) quando envolver custos e positiva (gráfico 3) quando envolver benefícios. Na presença dos efeitos externos apenas custos e benefícios privados estarão ocorrendo e, para que a eficiência seja alcançada os custos e/ou benefícios devem incluir – internalizar – tais efeitos. Deste modo o custo marginal social (CmgS) será alcançado quando o custo marginal externo

(CmgE) for somado ao custo marginal privado (Cmg). Do mesmo modo o benefício marginal social (BmgS) será obtido quando ao benefício marginal privado (Bmg) seja somado o benefício marginal social (BmgS). De modo geral, a eficiência será dada em BmgS = CmgS. É importante observar que benefícios e custos relacionam-se de forma inversamente proporcional. O agente econômico que os leve em consideração tem com parâmetro de escolha o Custo de Oportunidade que pesa sobre as formas alternativas de escolha. No caso do consumidor, a restrição orçamentária constitui o pano de fundo sobre o qual as considerações e as escolhas serão feitas.

Gráficos 2 e 3: Externalidades negativas e positivas

Fonte: Adaptado de Pindyck, 1999, pp. 703 e 705.

Preço ($) Produção do setor P * P Q* Q D CmgE O=Cmg CmgS * P P Q Q* Valor ($) Nível de Melhorias Cmg BmgE a b BmgS D Gráfico 3 Gráfico 2

Extenalidade negativa: Na existência

da externalidade a produção do setor seria dada em b(Q,P), onde O=D. Porém, neste ponto o custo externo (CmgE) não é levado em conta pois somente os custos privados (Cmg) são considerados. Estariam sendo produzidas quantidades excessivas, embora a custo menor. Já no ponto a(Q*,P*), ocorre a inclusão do custo

externo (Cmg+CmgE=CmgS) provocando a redução das quantidades

ofertadas, embora a custo maior. Seria o ponto a o equilíbrio eficiente do setor.

Externalidade positiva: neste caso, o

beneficio marginal social (BmgS) supera o privado (D), pois a melhoria privada beneficia outros agentes ( gera benefício externo BmgE) sem que haja compensação ao agente promotor. Assim, o nível de melhoria tenderia a ser menor, representado pelo ponto b (Q,P), já que os custos seriam mais elevados, pois seriam arcados por um único agente. Podendo haver devida compensação (D+BmgE=BmgS), os custos podem ser reduzidos e o nível de melhorias aumentado. Até o ponto a.

Segundo Pindyck (1999), as externalidades negativas estão associadas ao excesso de produção, enquanto que as positivas à sub-produção, pois o estímulo de produzir mais é bloqueado pela ausência de compensação. O autor chama a atenção também para o fato de que, na presença de efeitos externos negativos, haverá um número maior de firmas atuando, pois o custo médio privado – que definiria a entrada e permanência no setor – é inferior ao custo médio social. Em boa medida isso pode explicar porque muitos recursos do sistema ambiente-natureza sofrem superexploração.

As externalidades podem ocorrer entre produtores, consumidores e produtores/consumidores como mostra o quadro a seguir:

Quadro 4: Classificação e definição das externalidades

Agentes envolvidos Definição Negativa Positiva

Consumo/Consumo Consumidores são a fonte e ao mesmo tempo receptores Fumantes e não fumantes em ambiente coletivo Cuidados particulares contra proliferação do mosquito da dengue Produção/Produção Produtores são geradores e ao mesmo tempo receptores Despejo de rejeito industrial num rio

afetando hortigranjeiros que

usam essa água a jusante

Um apiário próxima a uma área de fruticultura

Consumo/Produção

Consumidores são a fonte e produtores

são receptores

Turistas que pescam em áreas onde ocorre

pesca profissional

Jardim particular que fornece néctar para produção de mel de um

apiário

Produção/Consumo Produtores são a

fonte e consumidores são os receptores Poluição atmosférica industrial Apiário próximo a um pomar particular

Fonte: Adaptado de Eaton&Eaton, 1999, p.549/50.

De acordo com Garrod e Willis (1999) as externalidades negativas irão persistir enquanto: o custo de buscar o preço excede a renda gerada e, existirem restrições institucionais que inibam o processo de preço. Os autores chamam também a atenção para o fato de que os efeitos das externalidades – que não são mensurados em mercados – revelam – se por meio de bens públicos (Ibid, 1999).

2.2.2 Bens Públicos

De acordo com Garrod e Willis (1999), a classificação dos bens pode derivar de 3 critérios: Custo de Oportunidade (CO), Direito de Propriedade do Produtor (DPp) e Direito de Propriedade do Consumidor (DPc).

. Custo de Oportunidade (CO): quando o consumo do bem por um indivíduo o torna indisponível para outros;

. Direito de propriedade do produtor (DPp): o produtor do bem existe e tem o poder de decidir quando, como e para quem vender;

. Direito de propriedade do consumidor (DPc): o consumidor tem o poder de decidir sobre o consumo ou não do bem.

De acordo com a ocorrência desses critérios, os bens podem então ser classificados em:

Bens privados: aqueles que apresentam todos os critérios;

Bens não congestionados: todos aqueles que o CO é igual a zero, embora existam DPp e

DPc. Mesmo com a cobrança de alguma taxa o bem não pode ser indisponibilizado, uma vez que qualquer indivíduo que possa ou esteja disposto a pagar poderá desfruta-lo. Museus e parques são bons exemplos dessa categoria de bens;

Bens semi-públicos: nesta categoria estão todos aqueles onde CO e DPp não estão

presentes mas o DPc sim. O consumidor pode escolher consumir ou não o bem e o uso por um não impede o uso de outros. A utilidade será positiva ou zero, mas nunca negativa. Exemplos são as transmissões de rádio e TV aberta;

Bens comuns ou de livre acesso: neste caso estão presentes CO e DPc porém não existe

DPp. Não é possível praticar a exclusão. São muito presentes entre as falhas de mercado que mais afetam os recursos ambientais. A ausência de DPp conduz a explorações excessivas. Exemplos eloqüentes são os cardumes pesqueiros e as florestas;

Bens públicos puros: quando todos os critérios estão ausentes. É este o caso de muitos

bens ambientais, a exemplo da qualidade do ar, benefícios de amenidades visuais, defesa nacional.