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PARTE I: O LUGAR E O LUGAR NA COMUNICAÇÃO

1.1. O ESPAÇO

1.1.2. O espaço concreto: O mundo sensível

Aos poucos, o espaço vai deixando de ser algo compreendido apenas através da abstração para se manifestar de forma mais sensitiva, baseado na “hierarquia dos objetos através das posições ocupadas” (idem, p. 27) tornando-se algo passível de uma compreensão cognitiva atingindo “a natureza das suas manifestações” (ibidem, p. 27). A aplicação da geometria euclidiana nas artes, principalmente na pintura, contribuiu para o entendimento dessa noção de espaço como algo concreto e perceptível aos sentidos. Uma das descobertas de Euclides foi a noção do cone de visão que permitia, ainda na Grécia antiga, a observação dos fenômenos em perspectiva que davam às pinturas da época uma razoável noção de profundidade a partir da inclinação das linhas, os jogos de luz e sombra, além do recurso de diminuir as figuras posicionadas em segundo plano.

No entanto, a técnica da perspectiva geométrica (FIG. 09) só foi introduzida nas pinturas do período Renascentista do século XV, favorecendo o ponto de vista do observador da obra através da introdução de figuras de formas planas e lineares que, a partir de determinadas angulações visuais, são capazes de dar a este observador uma percepção melhor da figura do que aquela vista num desenho através de um único ponto. Isto porque ao definir os limites dessas formas através da perspectiva, o desenho sem profundidade bidimensional, na era clássica, transforma-se em imagens tridimensionais com volume, proporção e simetria como podem ser vistos através dos pontos de fugas nas pinturas desse período (FIG. 10).

Figura 09: Desenho em perspectiva. Figura 10: Pintura em perspectiva.

Com a física newtoniana, no século XVII, Isaac Newton reelabora mais uma vez a noção de espaço, retomando a ideia dos atomistas gregos que defendiam a característica inerte e imóvel considerando um espaço absoluto. A Lei da Gravitação Universal faz com que o espaço perca a sua condição metafísica para ser concebido agora pela física. Deixa-se de lado a abstração e a intuição para dar lugar à observação dos fenômenos de forma empírica, ou seja, perceptível aos sentidos. A partir de experiências realizadas depois de observar a queda de uma maçã, Newton constatou a existência de uma força atrativa que age sobre os corpos em decorrência de sua massa e da distância que existe entre estes corpos e a terra. Esta distância pode, então, ser calculada de forma que a resultante matemática entre a distância e a massa de qualquer corpo será a sua aceleração nesse deslocamento sobre a influência da gravidade4.

Durante um longo tempo, esta noção de um espaço absoluto e inerte de Newton balizou diversas pesquisas, influenciando outros teóricos, mas também criou opositores como Gottifried Leibniz, que questionava a existência de uma substância que tornava o espaço absoluto como tal. Newton acreditava num espaço vazio e limitado fruto da propriedade ou atributo de alguma substância, não tendo sido, porém, capaz de comprová-lo. Foi assim que seu maior rival levantou a possibilidade de o espaço relativo ser baseado em uma “ordem de coexistências assim como o tempo é uma ordem de sucessões” (ABBAGNANO, 2003, p. 349). No entanto, é com Albert Einstein que essa noção de espaço absoluto deu lugar à noção de espaço relativo, que tem como ponto de partida a crença na existência do conceito de campo aliado aos fenômenos inerciais e gravitacionais. A partir da observação deste

4 A fórmula da aceleração da gravidade é A=Gm/r², sendo G, a constante universal da gravitação, m é a massa e r, a distância do centro do objeto.

campo gravitacional, Einstein detectou, com base nas fórmulas elaboradas pelo matemático George Riemann, as funções G's, que ficaram conhecidas como o “espaço de Riemann”. Estas funções tinham como princípio a matemática cartesiana, cujas coordenadas formam linhas retas, diferente da métrica Reimanniana, em que as coordenadas podem ter um traçado curvilíneo.

Segundo Einstein, além dos eixos X, Y, Z curvos da métrica Riemanniana, existe um quarto eixo ou coordenada espacial que é interpretada como o “Tempo”, constituindo o mundo dos eventos dentro de um contínuo quadridimensional. Esse é o fundamento da Teoria da Relatividade Geral, que muda a compreensão da relação entre espaço e tempo, até então considerados distintos e independentes pela teoria do espaço platônico. A descoberta da Teoria da Relatividade de Einstein leva a crer que o universo não é estático, como se acreditava até então, mas está em uma contínua expansão: “Na relatividade, fala-se do movimento em expansão, atingindo o espaço e o tempo como um conjunto interinfluente e interdependente” (FERRARA, 2009, p. 28).

Essa noção de espaço concreto que invade o mundo sensível também influenciou outras áreas, como as artes e a arquitetura. Na arquitetura do início do século XX, uma teoria que ficou conhecida como a “teoria das proporções” obteve destaque pela contribuição dada à compreensão do espaço nesta época. O Modulor de Le Corbusier (FIG. 11) consiste em um sistema de proporção áurea do espaço arquitetônico baseado na unidade de medida em que módulos conhecidos como “seções de ouro” obedecem ao seguinte critério: na divisão de uma reta, o segmento menor está para o maior assim como o maior está para o todo. A proporção áurea ou “média em extrema razão” recebe também diferentes denominações e tem origem na Grécia através de Phidias, escultor que utilizava este número de ouro (o Φ, FI) em suas obras. No entanto, este número “místico” (1,618...) foi aplicado desde o Egito Antigo, passando pela Renacença até chegar na arquitetura moderna com Le Corbusier. A razão áurea é a forma mais harmoniosa de se dividir em duas partes um peça comprida como, por exemplo, uma viga. Outras aplicações da razão de ouro também podem ser verificadas na cirurgia plática e genética ganhando um status de “quase mágico” por ser reconhecida em diferentes fenômenos da natureza, como numa concha, numa colméia, nas falanges dos dedos, sendo sempre relacionada a um fator de crescimento proporcional ou à “divina proporção” como pode ser vericada nos ensinamentos de Leonardo Da Vinci.

Oriundo de uma família de músicos, apesar de não saber tocar instrumentos, Corbusier entendia que a música, assim como arquitetura, dependia de medidas influenciadas pelo espaço e pelo tempo. A partir da observação dos padrões de subdivisões na música, ele reúne os elementos suficientes para formular a Teoria do Modulor. Um exemplo de como Corbusier se inspirou na música para criar sua teoria está na forma de escrever música através das partituras musicais que, mesmo de forma fragmentada e dividida, pode ser compreendida dentro de um contínuo sonoro resultante dessa relação entre espaço e tempo, levando em consideração a duração da nota (breve, semibreve, mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, etc.) e a proporção harmônica (o mesmo princípio da “seção de ouro”) entre as notas musicais5.

Através de um pensamento lógico, racional e disciplinador, este sistema toma por base as dimensões medianas do corpo humano, o que reflete a preocupação de Le Corbusier em aproximar a arquitetura e as transformações sociais da época, que sofriam o impacto direto das inovações tecnológicas do período industrial. Partindo da combinação desta “seção áurea” com medidas simples como o quadrado e o duplo quadrado (FIG. 12), o Modulor de Le Corbusier apresentava uma técnica capaz de ser aplicada nas produções em série, com vistas de resolver problemas de padronização da indústria. O objetivo de Corbusier, com o Modulor, era criar uma forma de substituir as medidas utilizadas até então pela arquitetura e pela mecânica, baseadas no sistema métrico decimal por uma gama de medidas visuais, assim como a gama diatônica (FIG. 13) e a gama temperada foram utilizadas no estudo musical.

A contribuição desse sistema de proporções está na mudança do olhar para com o espaço arquitetônico, pondo o observador em movimento dentro dele, que com o decorrer do tempo, pode vislumbrar diferentes perspectivas. Esta nova forma de compreensão do espaço vai de encontro às ideias renascentistas, que punham o

5 Esta relação entre as notas tem fundamento na matemática. Foi o filósofo matemático Pitágoras (570 a.C – 496 a.C) que estabeleceu a primeira relação entre as notas e denominou-a de gama diatônica. Mas foi a gama temperada de J.S. Bach que teve uma maior repercussão entre os compositores do Ocidente como Mozart, Beethoven, Debussy, etc. “Pitágoras foi quem primeiro formulou, na tradição do Ocidente, o caráter numérico e harmônico dessas formações sonoras [vibrações]: 'o sentimento instintivo das primeiras consonâncias coincide com as relações entre os primeiros números aplicados ao comprimento (ou a tensão) de cordas vibrantes'. Se temos um som melódico emitido pela vibração de uma corda inteira, o primeiro harmônico (a oitava) resultará da vibração de ½ , o segundo de 2/3, o terceiro de ¾, o quarto de 4/5, o quinto de 5/6. Essa progressão em complexidade corresponderá, por sua vez, à maior ou menor facilidade que temos de reconhecer e produzir um intervalo” (WISNIK, 2005, p. 62).

observador num centro geométrico, permitindo apenas um foco da visão do espaço, ao restringir a sua percepção visual.

Figura 11: A obra de Le Corbusier. Figura 12: O Modulor. Figura 13: A “gama diatônica” de Pitágoras.

Deixando um pouco de lado a observação exterior desse espaço concreto, resultante de um traçado matemático regido por proporções e, portanto, mais perceptível aos sentidos (o que, convenhamos, não deixa de conter também uma parte da abstração característica do espaço platônico), trataremos daqui em diante das relações sociais que acontecem dentro destes limites físicos estipulados pela métrica e pelas coordenadas matemáticas. Segundo os geógrafos situacionistas, assim como para os teóricos da geografia crítica6, este é o principal aspecto de

observação do espaço que baseiam sua fundamentação teórica, principalmente, nas teorias marxistas. Para estes estudiosos, o espaço é o locus onde se dão as produções das relações sociais, conjugando espaço e sociedade como elementos interligados, em que o primeiro é produto das relações que ocorrem no segundo.

Para isso, vamos recorrer ao sociólogo francês, Henri Lefebvre, que trabalhou o conceito de espaço na sua obra “La Production de L'espace” (1974) sob a perspectiva das relações estabelecidas dentro de um espaço físico7. A proposta de

Lefebvre é entender este espaço físico como o espaço social, regido por três conceitos-chave: a prática espacial, a representação do espaço e o espaço

6 A geografia crítica, ou geocrítica surge após a segunda guerra mundial impulsionada pelas discussões contrárias ao capitalismo e engajadas na problemática social. A proposta da Geocrítica (ou Geografia Radical) é tornar a geografia menos neutra perante as questões de apropriação da natureza e do espaço por uma sociedade capitalista. Os principais autores da Geografia Crítica tiveram influência direta do Marxismo como, por exemplo, Yves Lacoste (“Herodote”), David Harvey (“Spaces of Capital”), William Bunge (“Theoretical Geography”), Edward Soja (“Postmodern Geographies”).

representacional8. Logo nos primeiros capítulos do livro, percebemos a intenção do

autor em trabalhar o conceito de espaço como fruto da abstração, principalmente quando trata da influência do capitalismo na produção do espaço caracterizado pela fragmentação, homogeneização e hierarquização social. Ao mesmo tempo, Lefebvre pontua, em outras partes da obra, a ideia de um “real” space ou o espaço da prática social, que se distancia do “Ideal” space, o espaço mental (lógico-matemático).

Para Lefebvre, o espaço social demanda encontros em um determinado ponto ou ao redor dele, uma reunião, uma simultaneidade: “social space implies actual or potential assembly at a single point, or around the point”9 (1991, p. 101). Esta

conotação do espaço social de Lefebvre relacionado a um ponto único coincide com a definição de “lugar” defendida por Heidegger, como sendo pontos fixados no espaço, como será tratada no tópico seguinte. Portanto, estamos trabalhando com esta noção de espaço mais próxima do mundo sensível e das relações sociais desempenhadas dentro de um espaço social e não como algo deslocado, “an empty abstraction, likewise energy and time”10 (idem, p. 12), mas, ao contrário, algo poderia

condensar um número indefinido de pontos.

Henri Lefebvre parte do princípio da existência de três formas diferentes de espaço: o espaço físico, relativo à natureza, o Cosmos; o espaço mental, que inclui as abstrações formais e lógicas; e o espaço social. No entanto, estas noções de espaço não podem ser compreendidas de forma independente. O espaço físico é tomado como a realidade, o espaço “real”, onde ocorrem as relações sociais limitadas pelo espaço social, mas que também permite projeções através do espaço mental. Portanto, para Lefebvre, é no espaço social que as demais noções de espaço convergem tornando-se indistinguíveis:

Social space will be revealed in its particularity to the extent that it ceases to be indistinguishable from mental space (as defined by the philosophers and mathematicians) on the one hand, and physical space (as defined by practico-sensory activity and the perception of

8 É necessário fazer uma ressalva em relação ao entendimento do texto de Lefebvre, que não deixa muito claro, se efetivamente o autor está tratando do espaço como algo abstrato e intangível ou como algo concreto e perceptível aos sentidos. Uma das passagens do livro deixa evidente esta indefinição: “Is this space an abstract one? Yes, but it is also “real” in the sense in which concrete abstractions such as commodities and money are real. Is it then concrete? Yes, though not in the sense than an object or product is concrete” (LEFEBVRE, 1991, p. 27).

9 “Espaço social implica uma reunião real ou potencial em um único ponto, ou em torno do ponto” Trad. Nossa.

nature) on the other11 (ibidem, p. 27).

No entanto, para melhor entender o espaço lefebvriano como parte desse processo de produção dentro do espaço social, o autor francês estabelece três conceitos-chave – a prática espacial, a representação do espaço e o espaço representacional12. O primeiro conceito, da prática espacial, formada pelas locações

ou espaços físicos onde ocorrem as relações sociais, abrange tanto a produção quanto a reprodução do espaço, e tem como função manter a coesão da sociedade garantindo os níveis de competência e de representações dentro dela, tomando sempre como base objetos e produtos que fazem parte dessas relações. Como exemplo, podemos citar a vasta rede de estradas na Idade Média que mantinha as cidades interligadas e acessíveis criando um espaço de relações entre os habitantes.

O segundo conceito, das representações do espaço, é formado por códigos, signos e pelo conhecimento de diferentes ordens (ideológicos, linguísticos e simbólicos) tendo como função primordial a criação de formas para concatenar elementos de diversas ordens com as relações de produção no intuito de serem coordenados e, como isso, tornam-se compreensíveis à sociedade. Para isso, são utilizados números, distâncias, alturas situando as pessoas neste espaço produzido, como fizeram, no renascimento, as perspectivas e pontos de fuga das pinturas da época. Por fim, o conceito de espaço representacional é formado pelas imagens, diagramas e símbolos que emergem da relação entre os outros dois conceitos, se beneficiando dos números e das proporções constituintes das práticas no espaço. Se as perspectivas e os pontos de fuga são as representações do espaço na pintura renascentista, a imagem gerada por estas técnicas é o espaço representacional.

Associado a estes conceitos, Lefebvre apresenta mais três tipos de espaço em forma de eixos que se interpolam, os quais foram denominados de espaço percebido, espaço concebido e espaço vivido. Os dois primeiros estão alinhados, respectivamente, com os pólos filosóficos do idealismo e do materialismo, enquanto que o terceiro eixo perpassa a interseção (ou o ponto de colisão) entre os outros dois, ou seja, é a experiência vivida dos outros dois espaços: o percebido e o

11 “O espaço social será revelado em sua particularidade, na medida em que deixa de ser indistinguível do espaço mental (como definido pelos filósofos e matemáticos), por um lado, e espaço físico (como definido pela atividade prático-sensorial e da percepção da natureza), por outro” Trad. Nossa

concebido. Fazendo uma relação com os conceitos apresentados anteriormente, o primeiro eixo, referente ao espaço percebido, está relacionado ao primeiro conceito- chave, que corresponde às práticas espaciais as quais envolvem as ações concretas, por isso situa-se no polo materialista, dedicado à matéria e às conexões com a realidade material. Já o espaço concebido, o segundo eixo, corresponde ao segundo conceito-chave apresentado anteriormente, o das representações do espaço, e está situado no campo das ideias ou do idealismo filosófico. Esta é a porção do espaço que necessita não só a compreensão abstrata do mesmo como também de uma abstração por parte das pessoas para compreendê-lo, servindo como fonte de pesquisa para os projetos de arquitetos, engenheiros e matemáticos.

O terceiro espaço, o espaço vivido, é formado pela junção dos outros dois espaços e refere-se ao conceito-chave do espaço representacional. Este espaço é passivo e dependente das produções e processos que ocorrem nos outros dois, tornando-se um terreno fértil para etnologistas, antropologistas e psicanalistas e todos aqueles que estudam a história dos indivíduos, das pessoas:

these experts have no difficulty discerning those aspects of representational spaces which interest them: childhood memories, dreams, or uterine images and symbols (holes, passages, labyrinths). Representational space is alive: it speaks13 (ibidem, p. 42).

Outra discussão que Lefebvre traz no livro (op. cit.) é acerca da dominação, da apropriação e da reapropriação do espaço. A diferença entre os conceitos é que, na dominação, ocorre uma transformação do espaço mediada pela tecnologia e pela prática, fato que ocorre, por exemplo, nos projetos de urbanização de uma cidade quando uma estrada corta um determinado pedaço de terra, e podemos ver a tecnologia através da prática da engenharia introduzindo um novo formato nesse espaço pré-existente (FIG. 14). Em contraponto, a apropriação do espaço acontece sempre a partir de uma demanda comunitária quando pessoas desenvolvem atividades dentro de determinados espaços naturais servindo às suas necessidades (FIG. 15). Já no caso de uma reapropriação, o espaço é utilizado diferente da proposta inicial como ele fora concebido. Isso pode ser visto, por exemplo, em alguns bairros industriais de Nova Iorque, como o Soho, que se tornaram

13 “Esses especialistas não têm dificuldade em discernir os aspectos do espaço representacional que lhes interessam: as memórias da infância, sonhos ou imagens e símbolos do útero (furos, passagens, labirintos). Espaço representacional está vivo: ele fala” Trad. Nossa.

residências (conhecidas como Lofts) de artistas e intelectuais (FIG. 16), mas que, anteriormente, eram espaços que serviam como galpões abrigando fábricas e empresas de diversos tipos. Geralmente, a reapropriação é realizada dentro de uma estrutura, por isso tem o caráter mais interior, ao contrário da dominação e da apropriação que ocorrem com maior frequência em espaços exteriores.

Figura 14: Dominação. Figura 15: Apropriação. Figura 16: Reapropriação.

Um autor que também parte da ideia de um espaço abstrato, intangível, mas que acaba se aproximando do conceito de espaço concreto ou, pelo menos, mais próximo do mundo perceptível aos sentidos, é Martin Heidegger. No texto “Construir, Habitar, Pensar” que faz parte da obra “Ensaios e Conferências”, cuja versão original na língua alemã, data de 1954, período que compreende a fase do autor influenciada pela fenomenologia, e reúne alguns dos seus trabalhos apresentados em conferências ao redor do mundo, Heidegger traz, em primeiro plano, uma discussão acerca do significado das palavras “construir” e “habitar” que, aparentemente, são muito diferentes, mas, no fundo, parecem dizer a mesma coisa. A ideia de habitar, num sentido mais amplo, traduz o sentimento vivido por algumas pessoas quando estão em um lugar onde se sentem em casa. Habitar algum lugar não quer dizer necessariamente “morar” neste lugar ou que ele fora construído com tal finalidade. Podemos habitar um lugar, sem necessariamente, termos construído para isso: “Não habitamos porque construímos. Ao contrário. Construímos e chegamos a habitar à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos como aqueles que habitam” (HEIDEGGER, 2002, p. 128).

Segundo Heidegger, as palavras “construir” e “habitar” possuem uma mesma origem no antigo alto-alemão, justificando a semelhança dos significados, mas que, com o tempo, foram aplicados de formas diferentes no uso da linguagem. Construir,

no sentido de habitar, pode ser entendido tanto como cultivo e crescimento quanto a

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