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O lugar na comunicação: um estudo sobre a comunicação locativa em zonas bluetooth

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURAS CONTEMPORÂNEAS

“O LUGAR NA COMUNICAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A COMUNICAÇÃO LOCATIVA EM ZONAS BLUETOOTH”

MACELLO SANTOS DE MEDEIROS Orientador Prof. Dr. André Luiz Martins Lemos

Salvador / Bahia – Brasil 2011

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MACELLO SANTOS DE MEDEIROS

“O LUGAR NA COMUNICAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A COMUNICAÇÃO LOCATIVA EM ZONAS BLUETOOTH”

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. André Luiz Martins Lemos

Salvador / Bahia – Brasil 2011

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Sistema de Bibliotecas - UFBA

Medeiros, Macello Santos de.

“ O lugar na comunicação : um estudo sobre a comunicação locativa em zonas bluetooth” / Macello Santos de Medeiros. - 2011.

313 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. André Luiz Martins Lemos.

Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador, 2011.

1. Tecnologia bluetooth. 2. Comunicação e tecnologia. 3. Redes locais sem fio. 4. Comunicação - Multimídia interativa. 5. Sistemas de comunicação móvel. I. Lemos, André Luiz Martins. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Comunicação. III. Título.

CDD - 384.3 CDU - 654.165

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Dedico este trabalho a toda minha família, em especial, à minha esposa Aline e aos meus filhos Maria Marcella e Marcello Mariano.

Dedico também a todos os pesquisadores da área de comunicação que, assim como eu, buscam, a cada dia, compreendê-la melhor.

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“Want to pack your bags something small Take what you need and we disappear Without a trace we'll be gone Moon and the stars will follow the car Then we get to the ocean Gonna take a boat to the end of the world When the kids are old enough we're gonna teach them to fly

You and me together, we could do anything, baby” – Dave Matthews “The only way humans can be humans is to be ‘in place’. Place determines our experience” –

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a Nossa Senhora de Fátima, pela paz, saúde e a tranquilidade concebidos

durante esta caminhada.

Aos meus pais, Maurílio e Cleonor, ao meu padastro Mario Jorge e ao meu irmão Márcio pelos incentivos e conselhos.

A minha avó, D. Maria (in memorian), sempre presente…

A minha esposa Aline, pela paciência nos momentos de enclausuramento e revisão cautelosa.

Aos meus filhos Maria Marcella e Marcello Mariano, pela paciência e compreensão da importância desse

trabalho para nossa família.

Ao Prof. Dr. André Lemos,

pelo convívio frutífero e orientação em busca da “questão maior”.

Aos Professores Giovandro Ferreira e José Carlos Ribeiro pelas contribuições fundamentais na Qualificação.

Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom), em especial, a Profa. Maria Carmem e

a secretária Michele Almeida

Ao colega Fernando Firmino, um grande parceiro e amigo nesta caminhada.

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Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Cibercidades (GPC), pelas fundamentais contribuições durante o

desenvolvimento dessa pesquisa.

Aos colegas, professores da Unijorge, pelo apoio e conselhos nos momentos mais difíceis.

Aos alunos da Unijorge e

da Faculdade de Comunicação da UFBA, pelas discussões enriquecedoras.

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RESUMO

Ao adentrar um estabelecimento comercial, um cliente portando um celular recebe o seguinte aviso: “Este estabelecimento quer enviar uma mensagem para você. Você aceita?” Ao aceitar, este cliente é presenteado com um cupom de descontos para utilizar na compra de produtos do estabelecimento. Esta é uma situação inusitada na comunicação, algo impensável antes do advento do celular, que utiliza a conexão Bluetooth, uma tecnologia capaz de enviar e receber mensagens a curta distância e sem custos, presente neste artefatos móveis digitais. O presente trabalho propõe realizar um estudo sobre as zonas Bluetooth tendo como ponto de partida a análise do lugar na comunicação com base em quatro formas: a Comunicação Local, a Comunicação Situada, a Comunicação Global e a Comunicação Locativa. Para tanto, foram utilizados três aspectos na análise: o tipo de interação, os meios técnicos de transmissão e os contextos de produção/emissão e recepção de informação. O objetivo da pesquisa é perceber como as zonas Bluetooth são capazes de criar uma forma inovadora de comunicação, a Comunicação Locativa, na qual o lugar reassume sua importância, como pode ser verificada numa interação face a face. Durante a pesquisa, foram identificadas quatro práticas: Bluetooth P2P, Bluetooth Marketing/Advertising, Bluetooth News/Info e Bluetooth Mapping/Tracking, diferenciadas pelo conteúdo disponibilizado, pela finalidade da prática e o alcance da tecnologia. Todas elas são exemplos de Comunicação Locativa, capazes de comprovar a retomada do alto grau de relevância do lugar na comunicação.

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ABSTRACT

When entering a shop, a customer carrying a mobile phone receives the following warning: "This establishment wants to send a message to you. Do you accept? "By accepting, this client is presented with a discount coupon to be used to purchase products from the establishment. This is an unusual situation in communication, something unthinkable before the advent of cell phones, which uses the Bluetooth connection, a technology capable to send and receive messages over short distances and with no cost, found in these digital mobile devices. The present research proposes to conduct a study about the Bluetooth zones taking a point of departure the analysis of place in communication based on four forms: Local Communication, Located Communication, Global Communication and Locative Communication. Therefore, we used three aspects of this analysis: the type of interaction, the technical means of transmission and the contexts of production and reception of information. The purpose of this research is to understand how the zones are capable of Bluetooth create an innovative form of communication, the Locative Communication, which the place retake its importance, as can be seen in a face to face interaction. During the research, we identified four practices: Bluetooth P2P, Bluetooth Marketing/Advertising, Bluetooth News/Info and Bluetooth Mapping/Tracking, which were differentiated by content provided by the end of the practice and range of technology. All are examples of Locative Communication, able to demonstrate a return to a high degree of relevance of place in communication. Keywords: Place Space Communication Bluetooth

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RÉSUMÉ

Lorsque vous entrez dans une boutique, un client porteur d'un téléphone mobile reçoit l'avertissement suivant: «Cet établissement veut envoyer un message pour vous. Acceptez-vous?» En acceptant, ce client est présenté avec un coupon-rabais à utiliser pour acheter des produits de l'établissement. Il s'agit d'une situation inhabituelle de la communication, chose impensable avant l'avènement des téléphones portables qui utilise la connexion Bluetooth, une technologie capable d'envoyer et de recevoir des messages sur de courtes distances et sans frais, dans ces dispositifs mobiles numériques. La présente étude se propose de mener une étude sur les zones Bluetooth prenant un point de départ l'analyse de la place dans la communication repose sur quatre formes: la Communication Locale, la Communication Situé, la Communication Mondiale and la Communication Locatif. Par conséquent, nous avons utilisé trois aspects de cette analyse: le type d'interaction, les moyens techniques de transmission et les contextes de production et de réception de l'information. Le but de cette recherche est de comprendre comment les zones sont capables de Bluetooth établir une nouvelle forme de communication, la Communication Locatif, ce qui la place reprend son importance, comme on peut le vérifier dans une interaction face à face. Au cours de la recherche, nous avons identifié quatre pratiques: Bluetooth P2P, Bluetooth Marketing/Advertising, Bluetooth News/Info et Bluetooth Mapping/Tracking, qui ont été différenciées en fonction du contenu fourni par la fin de la pratique et la portée de la technologie. Tous sont des exemples de Communication Locatif, en mesure de démontrer un retour à un haut degré de pertinence de la place en communication. Mots-clés: Place Space Communication Bluetooth

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Futebol “ao vivo” no estádio. Figura 02: Futebol pela TV.

Figura 03: Futebol pelo Rádio. Figura 04: Futebol “via Bluetooth”. Figura 05: A cabana de Heidegger. Figura 06: Os postulados.

Figura 07: “Os Elementos”.

Figura 08: As coordenadas cartesianas. Figura 09: Desenho em perspectiva. Figura 10: Pintura em perspectiva. Figura 11: A obra de Le Corbusier. Figura 12: O Modulor.

Figura 13: A “gama diatônica” de Pitágoras. Figura 14: Dominação do espaço .

Figura 15: Apropriação do espaço. Figura 16: Reapropriação do espaço.

Figura 17: Aspectos de análise gerando formas de comunicação diferenciadas. Figura 18: Charge “comunicativa”.

Figura 19: O lugar, os aspectos e o lugar na comunicação. Figura 20: Interpolação espacial.

Figura 21: Interpolação temporal.

Figura 22: Frames de uma Comunicação Situada. Figura 23: Modulor de Corbusier.

Figura 24: Cidade “planejada”. Figura 25: Leitores de livros.

Figura 26: Comercial da operadora Claro “Kind of Magic” (2008). Figura 27: Uma sala de bate-papo.

Figura 28: O site Chatroullette.

Figura 29: Estatísticas do uso da Internet no mundo. Figura 30: Estatística dos usos das ferramentas do celular. Figura 31: Participação via vídeo.

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Figura 32: Participação via Twitter. Figura 33: Vídeo para o programa.

Figura 34: Cobertura das eleições no Irã. Figura 35: A blogueira “cega”.

Figura 36: Zonas de Conexão Sem Fio. Figura 37: Logo da tecnologia Bluetooth. Figura 38: Logo da tecnologia WiFi. Figura 39: Etiqueta RFID.

Figura 40: Frames de um vídeo sobre o uso da zona Bluetooth. Figura 41: Publicidade on line em 2010.

Figura 42: Comparativo de investimento entre veículos. Figura 43: Uma locative media art.

Figura 44: Uma instalação artística. Figura 45: GPS Drawing.

Figura 46: Uma geo-annotation.

Figura 47: Yellow Arrows na porta de uma loja. Figura 48: O projeto “Undersound” no metrô. Figura 49: Símbolo Bluetooth.

Figura 50: As letras do alfabeto rúnico: “B” e “H”. Figura 51: Pinturas rupestres.

Figura 52: Charge com a condição fixa do suporte Figura 53: A escrita em suporte de argila.

Figura 54: A escrita em suporte de papel. Figura 55: Telégrafo com fio.

Figura 56: Telefone

Figura 57: Telégrafo sem fio. Figura 58: Rádio.

Figura 59: TV.

Figura 60: “Infinitos Lugares”

Figura 61: Contextos em mobilidade. Figura 62: Multidiálogos.

Figura 63: Zona Bluetooth.

Figura 64: QR Code Building. Figura 65: Uma “Yellow Arrow”.

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Figura 66: Metáfora do cata-vento. Figura 67: Conjugação Local + Situada. Figura 68: Conjugação Local + Global.

Figura 69: Conjugação Local + Situada + Global. Figura 70: Conjugação Global + Situada.

Figura 71: Conjugação Local + Global (na sala de aula).

Figura 72: Torcida no estádio de futebol – Comunicação Local. Figura 73: O eletromeio “TV”.

Figura 74: O eletromeio “Rádio”. Figura 75: Bluetooth nos estádios.

Figura 76: Informações diretas para o celular.

Figura 77: Conjugação Local + Locativa (no jogo de futebol). Figura 78: Assistindo ao jogo no estádio e ouvindo pelo rádio. Figura 79: Conjugação Local + Situada (no jogo de futebol).

Figura 80: Conjugação Local + Situada + Global (no jogo de futebol).

Figura 81: Conjugação Local + Situada + Global + Locativa (no jogo de futebol). Figura 82: Zona Bluetooth.

Figura 83: P2P entre celular e fone de ouvido. Figura 84: P2P entre celular e som de carro.

Figura 85: Telefones Homologados no Brasil em 2008. Figura 86: Server-Based Network.

Figura 87: P2P Network.

Figura 88: Primeiro carro com conexão Bluetooth. Figura 89: Sistema viva-voz.

Figura 90: P2P entre MP3 player e som. Figura 91: Interconexão de som entre carros. Figura 92: Zona Bluetooth do Tocaê.

Figura 93: Sinalização do Projeto. Figura 94: Projeto Fun Station.

Figura 95: Totens para compartilhamento pago de músicas. Figura 96: Compartilhamento de música na rua.

Figura 97: Compartilhamento de música no ônibus. Figura 98: O processo de compartilhamento.

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Figura 100: Compartilhamento dentro do metrô. Figura 101: Interação com monitor.

Figura 102: Conteúdo em formato de revista. Figura 103: Mecanismo de envio do conteúdo.

Figura 104: Bluetooth Mkt/Ad numa banca de revista. Figura 105: Bluetooth Mkt/Ad em um cinema.

Figura 106: Zona Bluetooth no Barra Shopping. Figura 107: Cupom de desconto da McDonald’s.

Figura 108: Outdoor Interage. Figura 109: Lugar da ação.

Figura 110: Ativação da conexão. Figura 111: Recebendo conteúdo. Figura 112: Acessando o vídeo.

Figura 113: Bluetooth Mkt/Ad no lobby de cinema. Figura 114: Brindes na Cervejaria Devassa.

Figura 115: Sinalização no interior da loja. Figura 116: Cupom de desconto.

Figura 117: Sinalização da zona Bluetooth nos tapumes. Figura 118: Detalhe solicitando ativação.

Figura 119: Policiais e a tecnologia Bluetooth. Figura 120: Inspetor-chefe e equipe.

Figura 121: Trem do Corcovado. Figura 122: Cristo Redentor

Figura 123: Bluetooth no estádio. Figura 124: Informações no celular.

Figura 125: Edição das imagens. Figura 126: Antenas espalhadas no estádio.

Figura 127: Zona Bluetooth na Famecos/RS. Figura 128: Zona Bluetooth na Unijorge/BA.

Figura 129: Parque Buenos Aires. Figura 130: Localização do Parque.

Figura 131: Local da sinalização. Figura 132: Detalhe do banner. Figura 133: Entrada/saída alternativa.

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Figura 134: Divulgação do projeto. Figura 135: Terreiro de Jesus, Pelourinho/BA.

Figura 136: Tábua Babilônica. Figura 137: O Mapa Mundi.

Figura 138: Produção de uma Cibercartografia. Figura 139: Mapa dos buracos de Fortaleza/CE.

Figura 140: Sequência de ações do projeto Talking Points. Figura 141: Visão geral do Festival. Figura 142: Implantação dos roteadores.

Figura 143: Localização no Cityware via Facebook. Figura 144: “Big Brother” via Bluetooth.

Figura 145: Trânsito na Rodovia Eisenhower. Figura 146: Antenas de detecção nos postes.

Figura 147: Campanha com fluxo dialógico. Figura 148: Votação via Bluetooth.

Figura 149: Composição do The Public Broadcast Cart. Figura 150: Uma performance.

Figura 151: Conjugação das formas de comunicação nas Igrejas.

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Tabela 01: Tipos de Interação de Thompson.

Tabela 02: Tipos de Interação mediada e quase-interação mediada. Tabela 03: Tabela de Thompson acrescida da interação multimediada. Tabela 04: Tabela de Thompson acrescida da interação interface móvel. Tabela 05: Modelo I da condição de mobilidade.

Tabela 06: Modelo II da condição de mobilidade. Tabela 07: Modelo III da condição de mobilidade. Tabela 08: Modelo IV da condição de mobilidade. Tabela 09: Modelo V da condição de mobilidade. Tabela 10: Modelo VI da condição de mobilidade. Tabela 11: Características da interação interface móvel. Tabela 12: Formas de Comunicação X Aspectos de Análise. Tabela 13: Práticas Bluetooth X Critérios.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Quadro de Transição entre as formas. Quadro 02: Quadrantes de Paul Adams.

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3G – Terceira Geração AD – Advertising

ADMOB – Mobile Advertising AMD – Artefatos Móveis Digitais

API - Application Programming Interface

ARPANET - Advanced Research Projects Agency Network BBS - Bulletin Board System

CC – Computador Conectado

CCm – Computador Conectado Móvel

CMC – Comunicação Mediada por Computadores FCC – Federal Communication Comission

GE – General Eletric HP – Hewlett-Packard LAN – Local Area Networks

LBT – Location-Based Technologies LBS – Location-Based Services MHz – Mega Hertz MKT – Marketing. MP3 – Mpeg 3 MTV – Music Television

NASA – National Aeronautics and Space Administration NBC – National Broadcasting Company

P2P – Peer to Peer PC – Personal Computer

PDA – Personal Digital Assistant. RFID – Radio-Frequency Identification RSS – Really Simple Syndication RV – Realidade Virtual

WAP – Wireless Acess Point WiFi – Wireless Fidelity

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INTRODUÇÃO ... 21

PARTE I: O LUGAR E O LUGAR NA COMUNICAÇÃO 1. ESPAÇO, LUGAR E TERRITÓRIO ... 27

1.1. O ESPAÇO ... 30

1.1.1. O espaço abstrato: O receptáculo ... 31

1.1.2. O espaço concreto: O mundo sensível ... 35

1.2. O LUGAR... 45

1.3. O TERRITÓRIO ... 63

1.4. O LUGAR NA COMUNICAÇÃO... 69

PARTE II: AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO 2. COMUNICAÇÃO LOCAL ... 79

2.1. INTERAÇÃO FACE A FACE ... 80

2.2. ORALIDADE PRIMÁRIA... 83

2.3. CULTURA ORAL... 86

3. COMUNICAÇÃO SITUADA ... 93

3.1. INTERAÇÕES MEDIADAS... 95

3.2. PROTO-IMPRESSOS E ELETROMEIOS: O EXTENSIO... 103

3.3. DA CULTURA LETRADA A CULTURA DE MASSA ... 117

4. COMUNICAÇÃO GLOBAL ... 135

4.1. INTERAÇÃO MULTIMEDIADA ... 137

4.2. BIT-MEIOS: INTERNET E TELEFONIA CELULAR ... 144

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5. COMUNICAÇÃO LOCATIVA... 167

5.1. INTERAÇÃO INTERFACE MÓVEL ... 168

5.2. MÍDIAS LOCATIVAS E CONEXÃO BLUETOOTH ... 175

5.3. MODELOS DA CONDIÇÃO DE MOBILIDADE NA COMUNICAÇÃO ... 189

6. CONJUGANDO AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO ... 200

6.1. LOCAL + SITUADA... 204

6.2. LOCAL + GLOBAL... 208

6.3. LOCAL + SITUADA + GLOBAL ... 210

6.4. GLOBAL + SITUADA ... 212

6.5. MODELO DE VERIFICAÇÃO DAS FORMAS ... 214

6.5.1. Na Educação ... 214

6.5.2. Num Jogo de Futebol... 216

PARTE III: ANÁLISE DAS PRÁTICAS EM ZONAS BLUETOOTH 7. PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO LOCATIVA EM ZONAS BLUETOOTH ... 224

7.1. PRÁTICA DO BLUETOOTH PEER-TO-PEER (P2P)... 226

7.1.1. COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS... 227

7.1.2. CASOS DA PRÁTICA DO BLUETOOTH P2P ... 230

a) Fiat Stillo Connect ... 230

b) Projeto Tocaê ... 232

c) Blue TunA ... 234

7.2. PRÁTICA DO BLUETOOTH MARKETING/ADVERTISING... 238

7.2.1. MOBILE MARKETING X MOBILE ADVERTISING ... 241

7.2.2. CASOS DA PRÁTICA DO BLUETOOTH MKT/AD... 244

a) Outdoor Interage... 244

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c) Lojas de Departamento C&A ... 249 d) Urban Gallery... 249 7.3. PRÁTICA DO BLUETOOTH NEWS/INFO ... 254 7.3.1. NOTÍCIA E INFORMAÇÃO ... 255 7.3.2. CASOS DA PRÁTICA DO BLUETOOTH NEWS/INFO... 258 a) Polícia de Bournemounth... 259 b) Trem do Corcovado ... 261 c) Bluetooth nos Estádios ... 262 d) Parque Buenos Aires ... 265 7.4. PRÁTICA DO BLUETOOTH MAPPING/TRACKING ... 272 7.4.1. MAPA E TERRITÓRIO... 272 7.4.2. CASOS DA PRÁTICA DO BLUETOOTH MAPPING/TRACKING ... 275 a) Talking Points... 276 b) Festival de Werchter ... 279 c) BlueTOAD... 282 8. COMUNICAÇÃO LOCATIVA EM ZONAS BLUETOOTH... 285 CONCLUSÃO ... 291 REFERÊNCIAS... 302

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INTRODUÇÃO

Uma partida de futebol é um evento esportivo que, em alguns casos, pode ser considerada um espetáculo reunindo em um palco, atores principais e coadjuvantes, espectadores e toda parte técnica necessária para dar início ao espetáculo como os contra-regras, iluminadores, sonoplastas, cinegrafistas, etc. Olhando pelo viés do torcedor que vai ao estádio ver seu time de desempenhar, da melhor forma, o papel de atleta que lhe foi atribuído, a experiência de assistir ao jogo pode ser realizada de várias formas diferentes a depender do lugar onde este torcedor se encontre. Aqueles mais fanáticos preferem ir ao estádio (FIG. 01) na busca de interagir com os outros espectadores e também, de alguma forma, com os atores, já que as “regras” deste espetáculo permitem essa participação de uma maneira mais intensa nessa atividade de torcer pelo time. Outros, no entanto, são impedidos de estar naquele lugar do jogo, seja por uma questão geográfica porque o espetáculo não está sendo exibido na sua cidade, estado ou país; seja por uma questão financeira, o valor do ingresso do espetáculo está além das suas possibilidades financeiras; seja por uma questão de comodidade, pois existem outras formas de assistir ao espetáculo, sem precisar se deslocar para o lugar onde ele está sendo exibido.

Figura 01: Futebol “ao vivo” no estádio. Figura 02: Futebol pela TV.

Uma segunda opção de assistir a esse evento esportivo é através dos meios de comunicação (FIG. 02 e 03). Mesmos nos lugares mais longínquos, tomando como referência as partidas de futebol dos times da primeira divisão que acontecem, na maioria das vezes, nos estádio que ficam localizados nas capitais, os fiéis torcedores podem acompanhar o desempenho do seu time através das ondas do rádio. Diga-se de passagem, que este veículo foi o responsável pela primeira

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transmissão de uma copa do mundo no Brasil em 1938. Mesmo aqueles que não conseguiram acompanhar o jogo pelo rádio, podiam ter acesso ao resultado e comentários através de outros torcedores (principalmente pelos adversários quando o resultado não foi aquele esperado pelo seu time) ou através do jornal que traz as notícias no dia seguinte ao jogo.

Para aqueles que estão mais próximos do centro urbano, dentro da área de cobertura de televisão, outra forma de acompanhar os jogos é por este veículo: a TV. A televisão oferece algumas vantagens na transmissão em relação ao rádio principalmente no que se refere à linguagem audiovisual, reunindo em um mesmo canal de transmissão, o som e a imagem da partida de futebol. No entanto, existem aqueles que acompanham as imagens pela TV e ouvem o som pelo rádio devido à dinâmica oferecida pelo locutor ao descrever as jogadas durante a partida. Da mesma forma que alguns torcedores levam seu rádio de pilha para o estádio, que hoje em dia vem sendo substituído pelo aparelho de celular, com o intuito de saber mais detalhes e informações sobre a partida, algo que, em muitos casos, se perde devido ao ambiente ruidoso que se instala dentro dos estádios.

Uma terceira opção que surge, seguindo o caminho da evolução dos meios de comunicação em virtude da convergência digital, é assistir o jogo de futebol pela internet via transmissão on-line da partida nos sites especializados e portais de alguns meios de comunicação. Além disso, existe a possibilidade de acompanhar a partida através de atualizações constantes de texto publicadas nestes sites e portais, mas também em alguns blogs, pelo Twitter, pelas redes sociais, ou então via SMS, diretamente para o celular, informando todos os lances que estão acontecendo durante a partida.

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No entanto, ainda seguindo os passos dessa evolução tecnológica dos meios de comunicação, uma quarta opção está sendo oferecida em alguns estádios para os torcedores que estão assistindo o jogo de forma presencial. As informações adicionais sobre a partida são enviadas direto para seus aparelhos de celulares utilizando uma conexão sem fio de curto alcance: a tecnologia Bluetooth. O torcedor pode, por exemplo, rever o gol do seu time, ou os melhores momentos da partida enquanto está no bar durante o intervalo do jogo. No final, ele também pode receber um resumo da partida com os números do campeonato que está sendo disputado (FIG. 04).

Com base nesse panorama que foi descrito tomando como exemplo uma partida de futebol, podemos perceber que existe uma relação entre o evento, seus espectadores, a interação entre eles e sua forma de transmissão. Uma das características que mantém o sistema em funcionamento unindo estes elementos citados é a comunicação. Ela pode ser verificada desde a presença dos torcedores no estádio interagindo de diferentes formas com o jogo e com os outros torcedores, até a mediação das partidas, seja em tempo real, através do rádio, da TV, da internet e da conexão Bluetooth, seja de forma assíncrona através dos jornais e revistas, como também pelas resenhas jornalísticas apresentadas nos meios de massa. Mas, além da forma de comunicação que está sendo utilizada para a transmissão do evento, outra característica também pode ser levada em consideração quando comparamos as quatro opções de transmissão: o lugar onde ocorre essa comunicação entre evento e espectadores.

Portanto, a hipótese defendida neste trabalho é a de que, em decorrência do uso dos artefatos móveis digitais como celulares, notebooks e tablets, surge uma forma de comunicação - a Comunicação Locativa - caracterizada pelo envio de informações que emanam do lugar diretamente para estes dispositivos, capaz de retomar o alto grau de relevância do lugar na comunicação. O objetivo traçado para comprovar esta hipótese foi, de forma mais geral, realizar um estudo sobre o lugar na comunicação, investigando a relação entre os termos “comunicação” e “lugar” e as diferentes formas de comunicação que surgem a partir do momento em que tomamos o “lugar” como referencial analítico. Mais especificamente, este trabalho realizou o mapeamento de práticas comunicacionais que ocorrem nas zonas de conexão Bluetooth, tomando-as como o objeto de pesquisa. A observação desses fenômenos que estão surgindo em decorrência das práticas comunicacionais

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contemporâneas que fazem uso das tecnologias digitais, principalmente a internet e a telefonia celular foi a principal motivação para a realização deste trabalho.

O processo metodológico utilizado para atingir os objetivos mencionados, teve início com o mapeamento das experiências que utilizam a conexão Bluetooth. Esta etapa perdurou por quase todo o tempo de pesquisa, sendo catalogadas mais de 200 práticas dessa natureza. Paralelamente, buscamos uma fundamentação teórica que abordasse a relação entre os conceitos de lugar e comunicação, e que também fosse capaz de sustentar a definição do termo-chave na Tese: o “lugar na comunicação”. Decorrente deste estudo preliminar, identificamos quatro formas diferenciadas de comunicação provenientes desse estudo. Por fim, as experiências catalogadas foram agrupadas e classificadas em quatro práticas de acordo com três critérios: finalidade, conteúdo e alcance.

Para uma melhor organização, o trabalho foi dividido em três partes. A primeira parte é composta apenas de um capítulo dedicado à discussão dos conceitos de espaço, lugar e território com o intuito de evitar qualquer tipo de sobreposição entre estes termos por parte dos leitores do trabalho. A segunda parte traz as análises das formas de comunicação divididas em capítulos correspondentes a cada uma das formas de comunicação. Nos capítulos 02, 03, 04 e 05 faremos a análise das formas comunicação, respectivamente, a Comunicação Local, a Comunicação Situada, a Comunicação Global e a Comunicação Locativa, obedecendo três aspectos: 1) o tipo de interação; 2) os meios técnicos; e 3) os contextos de produção/emissão1 e recepção de informação. Em seguida, no sexto

capítulo, discutiremos como estas formas de comunicação estão conjugadas, não sendo, de nenhuma maneira, excludentes. Como vimos no exemplo da partida de futebol, é possível assistir o jogo de diferentes formas, podendo ter mais de uma forma atuando conjugada com outras.

Na terceira parte da Tese é feito um estudo dos casos catalogados durante a pesquisa, trazendo nos capítulos 07, 08, 09 e 10, a descrição de quatro práticas comunicacionais que utilizam as zonas de conexão Bluetooth: o Bluetooth P2P, o

1 Durante todo o trabalho, utilizaremos esta expressão “contexto de produção/emissão” de informação no sentido de salientar que a proposta da análise sob este aspecto pode levar em consideração o contexto de produção ou o de emissão ou ambos, a depender da forma de comunicação analisada. Com isso, evitaremos incongruências na aplicação desta expressão tendo em vista que na área da lingüística este dois contextos podem estar juntos ou separados, nem sempre o contexto produtor é também o emissor de informação. No entanto, nessa etapa da pesquisa não iremos abordar a questão do sujeito, elemento participante dos contextos que, porém, por hora, não é relevante nas análises que se seguirão.

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Bluetooth Marketing/Advertising, o Bluetooth News/Info e o Bluetooth Mapping/Tracking, analisando de três a quatro casos de cada prática capazes de exemplificá-las com base nos critérios mencionados. O último capítulo traz a análise de um caso representativo das duas práticas em zonas Bluetooth que foram consideradas como uma forma de Comunicação Locativa: o Bluetooth Marketing/Advertising e o Bluetooth News/Info. Por fim, apresentaremos a conclusão da Tese, retomando alguns pontos principais discutidos nos capítulos e apresentando dois quadros comparativos: o primeiro composto pelas quatro formas de comunicação e os três aspectos de análise e o segundo composto pelas práticas em zonas Bluetooth e as formas de comunicação.

No final, confirmaremos a hipótese de que a Comunicação Locativa nas zonas Bluetooth representam um lugar na comunicação contemporânea onde ocorrem práticas que retomam seu alto grau de relevância nos processos comunicaionais, tal qual pode ser verificado na Comunicação Local.

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PARTE I: O LUGAR E O LUGAR NA COMUNICAÇÃO

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1. ESPAÇO, LUGAR E TERRITÓRIO

A escolha destes temas para compor o capítulo de abertura se deu por conta da necessidade de esclarecer ao leitor o conceito de “lugar”, cuja discussão perpassa por todos os demais capítulos da Tese. Este termo é o ponto de partida para o entendimento dos fenômenos que escolhemos como objeto de pesquisa, as zonas Bluetooth, e a sua relação com a comunicação contemporânea. É fato que conceituar o “lugar” tem sido uma tarefa desempenhada, principalmente, entre os teóricos da Geografia Humana que se dedicaram aos estudos fenomenológicos sobre o espaço e o lugar como TUAN (1977); MASSEY (2001; 2008); THRIFT (1996); CRESSWELL (2005), entre outros. Porém, mesmo entre eles, ocorre uma dificuldade em fazer uma distinção clara acerca do uso do termo “lugar”, que, por vezes, acaba se sobrepondo ao termo “espaço”. Em outros casos, o “lugar” também tem sido empregado no sentido de “território” por autores de outras áreas como a filosofia e a política. O objetivo principal deste capítulo, será a busca por uma definição do conceito de “lugar” capaz de estabelecer um diálogo compreensível, evitando distorções no emprego destas palavras nos capítulos que se seguem.

Com o propósito de criar um encadeamento entre os termos, partimos do termo mais abrangente para o mais específico. Inicialmente, trataremos do conceito de espaço, entendido aqui como o conceito mais geral. Em seguida, trabalharemos o conceito de lugar e, por fim, o conceito de território, como os mais específicos em relação ao conceito de espaço. A justificativa para considerar o espaço como o conceito mais geral encontra sustentação na ideia de Aristóteles, que afirmava a posição deste como um “pano de fundo” onde se fixariam outros corpos. Isso é o que permite a percepção destes outros corpos, algo como olhar para o céu e as estrelas e poder enxergá-los devido à existência deste espaço.

Talvez essa percepção prévia esteja relacionada à ideia mais abstrata de um “espaço sideral”, enquanto os outros dois termos tenham referências mais concretas (o “local” ou a “terra”). Para atingir estes objetivos mais conceituais, retornaremos, primeiramente, à filosofia clássica, com o intuito de verificar o uso do termo “espaço” em textos mais remotos, percebendo o sentido em que ele era empregado, deixando mais clara a distinção entre os termos. Isso permitirá uma melhor compreensão dos momentos em que estaremos utilizando no decorrer do trabalho o conceito de “lugar”, e em outros momentos adotaremos o conceito de espaço.

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Definir o termo “espaço” não é uma tarefa fácil, até mesmo entre os filósofos que se dedicaram a esta causa. Dentre as várias acepções que existem acerca do termo, tivemos que escolher um caminho capaz de nos levar a uma definição de lugar, que, como já dissemos, é o nosso principal objetivo nesta primeira parte do trabalho. Portanto, no primeiro tópico (1.1) partiremos do conceito de espaço como algo que é “dado”, ou seja, que provém da natureza da exterioridade em geral, “ou seja, daquilo que torna possível a relação extrínseca entre os objetos” (ABBAGNANO, 2003, p. 348). Para um melhor entendimento, decidimos tratar o conceito de duas maneiras distintas. A primeira é como ele aparece nos escritos antigos, na forma de um espaço abstrato, metafísico, transcendental encontrado nos discursos filosóficos acerca da lógica. Entre eles, podemos destacar os pré-socráticos da Grécia antiga, como Demócrito de Abdera (460 a.C - 370 a.C), criador da Teoria Atômica, Epicuro de Samus (341a.C – 210 a.C) e Tito Lucrécio Caro (95 a.C – 55 a.C), autor do poema didático “De Rerum Natura”, e, mais a frente, com o socrático Platão (428 a.C – 347a.C), responsável pelo conceito de “cwvra” (do grego χώρα) ou receptáculo.

A segunda maneira para se entender o espaço é através da sua forma concreta, o espaço físico ou tangível que, segundo Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), é atrelado ao topos relativo ao corpo que ocupa aquele espaço, indo de encontro ao seu mestre Platão que acreditava na existência de um espaço vazio, o receptáculo. Esta percepção de Aristóteles do espaço concreto remete imediatamente à ideia de lugar que veremos mais adiante, cuja essência reside na matéria e na forma como causas intrínsecas do movimento, o que vem acarretar na impossibilidade do vazio. No entanto, esta noção de espaço concreto obteve sua maior representatividade através dos postulados de Euclides (360 a.C – 295 a.C), na geometria, cuja aplicação pode ser verificada, principalmente, nas artes do Renascimento, no século XII, através da noção de perspectiva. Esta noção de espaço concreto culmina como o sistema de coordenadas cartesianas de René Descartes no século XVII que, juntamente com Gottfried Leibniz, negam, definitivamente, a existência do vazio defendida por Platão.

Aliada a estas duas maneiras de compreender o espaço como abstrato e concreto, outras duas maneiras de entendê-lo surgem através das noções de espaço absoluto e relativo. O espaço absoluto tem sua origem na compreensão de um estado imóvel e imutável, sem relação com objetos no seu exterior ou de seus

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observadores, teoria sustentada por Isaac Newton em cujas bases foram formuladas as leis do movimento e da gravitação universal. No entanto, esta noção de espaço imóvel e imutável torna-se discutível ainda nos estudos de Leibniz, apesar de ter obtido uma maior repercussão com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Eisntein demonstrou que o espaço adquire mobilidade e expansão a partir da posição de um observador externo em relação às três coordenadas (altura, largura e profundidade) que, aliadas ao tempo, cria o conceito de espaço-tempo quadridimensional.

Depois de fazer a análise do conceito de espaço nos quatro aspectos (abstrato e concreto, absoluto e relativo) dirigiremos o olhar, num terceiro momento ainda no primeiro tópico, para o interior dos seus “limites físicos”, adentrando, desta vez, o espaço concreto. Nele podemos perceber as relações desenvolvidas entre as pessoas que se encontram nesses espaços físicos e, também, entre essas pessoas e o espaço, muito próximo do conceito de lugar que será visto mais adiante. Um exemplo disso é a questão que Henri Lefebvre (1991) discute sobre o trabalho, tratando-o como o resultado dessas relações que ocorrem dentro de um espaço físico que acaba produzindo o que ele denominou de um espaço social.

No tópico 1.2, discutiremos o conceito de lugar, tomando como princípio a ideia de que “o lugar” é algo constituído no espaço, decorrente de pontos fixados a partir de “coisas” que, segundo Martin Heidegger (2008), são construídas ou edificadas neste espaço e capazes de levar a uma mudança em sua essência. Da mesma forma que o conceito de espaço social defendido por Lefebvre, neste “lugar” também se ancoram as relações desenvolvidas entre os sujeitos, entre os sujeitos e as “coisas”, e entre os sujeitos, as “coisas” e o lugar (por isso notamos esta aproximação entre os conceitos de espaço social e lugar). O resultado dessas múltiplas relações é capaz de criar marcas de identificação e de pertencimento no lugar como pensam os autores Michel De Certeau (1994, 2002) e Milton Santos (2004), cujas obras são referências teóricas na discussão que envolve o conceito de “lugar” enquanto espaço vivido. Juntamente com essas ideias de lugar (Heidegger, Lefebvre e De Certeau), outras definições serão utilizadas para construir um conceito de lugar satisfatório para este trabalho, como a ideia do interacionismo simbólico e o estudo do comportamento no lugar verificado por Joshua Meyrowitz (1984), os espaços de fluxos da Doreen Massey (2001) e a produção de sentido e significado do Tim Cresswell.

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Por fim, no terceiro tópico (1.3), iremos conceituar o termo “território”, partindo da principal característica que o diferencia dos demais: o seu controle. A conceituação deste termo terá como fundamento as teorias de Gilles Deleuze e Félix Guatarri (1995) para quem os territórios são espaços onde podem ser identificadas marcas e fronteiras que, ora, são controlados e vigiados gerando muitas vezes um “território informacional”2 (LEMOS, 2007) onde os fluxos de informação criam uma

espécie de “bolha” vinculada às formas identitárias dentro destes territórios; e, ora, sofrem um processo de desterritorialização, tornando-se “espaços lisos” sem pontos ou trajetórias definidas como o oceano, os pólos e o deserto.

Ao finalizar a etapa inicial de conceituação dos três termos – espaço, lugar e território – partiremos para a definição da ideia do lugar na comunicação, no tópico (1.4). Para isso, faremos uma aproximação entre “lugar” e “comunicação”, utilizando, de um lado, o conceito de lugar estabelecido no tópico 1.2, tomando como referência as ideias de cinco autores que tratam deste tema (Heidegger, Lefebvre, Meyrowitz, Massey e Cresswell), e, do outro, a conceito de comunicação, com base em três aspectos: os tipos de interação apresentados J. B. Thompson (2008), os meios técnicos de transmissão e os contextos de produção/emissão e recepção de informação, os quais também serão utilizados na análise das formas de comunicação na segunda parte da Tese. Segundo Thompson, a relação espaço-temporal (contextualização) estabelecida entre estes dois contextos é determinante para o tipo de interação desempenhada na comunicação e o meio técnico utilizado na mediação.

1.1. O ESPAÇO

Este tópico parte da premissa de que, antes mesmo de ser considerado abstrato/concreto ou absoluto/relativo, o espaço é algo dado, observado na natureza sem ter passado, necessariamente, por qualquer processo de intervenção humana. Sua raison d'être é a própria natureza. Mas não podemos confundir o espaço com paisagem, pois nessa última verificamos os resquícios das sucessivas relações entre homem e natureza com base em objetos reais. O espaço, no entanto, é um

2 Um exemplo dos territórios informacionais são as zonas de conexão WiFi nas quais o controle e a vigilância das fronteiras são determinados, entre outras coisas, pelos acessos pagos e/ou gratuitos dos usuários que, em alguns casos, necessitam de um cadastramento prévio.

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fenômeno que surge naturalmente, sem interferência do homem, ou seja, um produto da phusis, conceito grego que está relacionado à geração espontânea da natureza, em contraponto ao conceito de tekhnè, que está atrelado ao “saber fazer” humano. A phusis e a tekhnè compõem a poièsis, tomado como “o processo de vir a ser, de passagem da ausência para a presença” (LEMOS, 2002, p. 26).

Portanto, partindo desse ponto, conceituaremos, primeiramente, o espaço dentro de uma concepção abstrata que não leva em consideração o processo poiético (a poièsis). Dessa forma, recorreremos, inicialmente, à noção do espaço vazio, típico de um pensamento filosófico pré-socrático para, em seguida, entender como esta compreensão de espaço abstrato é modificada para uma noção de espaço concreto, que passa a fazer parte de um mundo sensível, principalmente, com as teorias aristotélicas e euclidianas.

1.1.1. O espaço abstrato: o receptáculo

É muito provável que o termo “espaço” tenha sido citado pela primeira vez nos textos referentes à “Teoria do Átomo”, elaborada por Demócrito de Abdera filósofo pré-socrático que fundou as bases do materialismo, cujos princípios se baseiam na máxima que “nada existe, na realidade, a não ser átomos e espaço” (DURANT, 1959, p. 25). Para Demócrito, o átomo é a menor parte da matéria, por isso indivisível, e responsável pela geração de todas as coisas encontradas no universo. O universo pleno é formado por estes pequenos pedaços indivisíveis e o espaço vazio constituindo a matéria pura. Mas é com outro filósofo, Epicuro de Samos, que a teoria atômica passa por uma reelaboração, creditando aos espaços vazios entre os átomos a justificativa para a sua movimentação. Isso alterou o conteúdo inicial da teoria do átomo que considerava tais partículas, além de indivisíveis, também imóveis. Contudo, através das mãos de Tito Lucrécio Caro, as ideias de Demócrito e Epicuro foram sintetizadas em forma de poema chamado “De Rerum Natura” ou “Sobre a Natureza das Coisas”:

Átomos são extremamente pequenos, indivisíveis, partículas imutáveis que não podem ser criadas nem destruídas; embora construam algumas substâncias comuns, átomos diferem em forma, tamanho e peso; o espaço entre os átomos é vazio (um vácuo); os átomos ficam juntos em corpos por ligações mecânicas e assim produzem a variedade infinita do mundo material; a densidade de um corpo é uma relação inversa da quantidade de espaço vazio entre os átomos; átomos estão em movimento perpétuo que persiste por ele mesmo (ALMEIDA, 1983, p. 57).

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No entanto, é no idealismo de Platão que o espaço adquire sua dimensão mais abstrata. No diálogo “Timeu”, Platão aborda o conceito de “cwvra” ou chora, o receptáculo como sendo aquilo que contém a matéria, uma espécie invisível, extensa e passiva, fonte de nutrientes necessária para as coisas existirem: “é o receptáculo, por assim dizer, a matriz de tudo o que devém” (PLATÃO, 2001, p. 88). Para Platão, o espaço é algo vivo e dinâmico, diferente do espaço estático e vazio dos atomistas que só é percebido através das formas que o preenchem. Portanto, o espaço platônico é geometricamente amorfo, só passa a existir depois que é preenchido com a matéria, tomando uma forma. Essa característica é ilustrada por Platão quando ele utiliza o trabalho do ourives para explicar através de uma metáfora como o ouro pode ser trabalhado para tomar diferentes formas, mas permanece sendo ouro: um receptáculo que, mesmo mudando a forma, “o mesmo se diga da natureza que recebe todos os corpos; deve ser sempre designada como a mesma, pois jamais se despoja do seu próprio caráter; recebe todas as coisas, sem nunca assumir de maneira alguma, o caráter do que entra nela” (idem, p. 90).

Essa condição de mobilidade e dinamismo do espaço abstrato em Platão já é capaz de apresentar algumas distinções entre os termos “espaço” e “lugar”. No próximo tópico veremos que, de acordo com o pensamento de Heidegger, o lugar é um ponto fixado no espaço, portanto vai de encontro à característica mutável do receptáculo cujas formas mudam com a matéria que nele se instala. Essa visão é muito diferente, por exemplo, do que pensava seu discípulo Aristóteles em relação ao espaço. A condição imóvel do “lugar” é o que o diferencia do recipiente, que é móvel, como pode ser exemplificado no caso de um vaso para transportar água, no qual o vaso é que se move de um lugar para outro permanecendo fixo, estático, por isso podemos afirmar que “o lugar é o primeiro limite imóvel do continente” (ARISTÓTELES apud REALE, 1994, p. 379).

Com isso, em comparação com o espaço abstrato, o lugar deixará de existir caso este ponto fixado/imóvel venha a ser modificado, seja ocupando outro lugar nesse espaço, seja desaparecendo. Para Platão, no espaço, as coisas nascem, morrem e também são colocadas, mas continua sendo o continente da matéria se preservando como tal, diferente do conceito de lugar de Aristóteles em que o lugar “é o limite do corpo do continente, enquanto este é contíguo ao conteúdo” (idem, p. 381). Portanto, para Platão, o espaço só pode ser compreensível a partir das ideias, e não do mundo sensível. Ao fazer isso, é necessário que sejam desprezados “todos

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os conteúdos perceptíveis positivos do Devir” (CORNFORD apud GOMIDE, 2007, p. 192). Em suma, o espaço abstrato surge das características apontadas até então: um receptáculo de matéria indefinida geometricamente, dotada de uma característica mutante dependente das coisas que nele estarão contidos, mas, mesmo com essa mutabilidade, mantém a sua essência sustentando uma forma constante e invariável, coordenando essas coisas e objetos que penetram no receptáculo3.

Por último, há um terceiro gênero, o espaço: por ser eterno, não admite destruição, enseja lugar para tudo o que nasce e em si mesmo não é apreendido pelos sentidos, mas apenas por uma espécie de raciocínio bastardo. Dificilmente pode-se acreditar nele. É o que contemplamos em sonhos, quando dizemos que tudo o que existe deve necessariamente estar nalgum lugar e ocupar determinado espaço, e o que não se encontra nem na terra nem em qualquer parte do céu (idem, p. 93).

É nesse sentido que o espaço platônico cria uma relação com o espaço euclidiano. Para Euclides, o espaço é definido por dois pontos dados infinitamente próximos, sendo uma reta, o menor caminho entre eles. Conhecido como o geômetra das figuras planas, Euclides de Alexandria (360 a.C – 295 a.C) foi o responsável por este e mais quatro postulados (FIG. 06) em cuja obra denominada de “Os Elementos” (FIG. 07) ele estabeleceu as bases da aritmética, geometria e álgebra:

Euclides considerava o espaço como aquilo que é capaz de ser contido em limites ou fronteiras esquematizáveis e, portanto, determináveis dentro de uma figuração preestabelecida na lógica de correspondência cumulativa entre as partes e o todo para estruturar equilíbrio, proporção e simetria (FERRARA, 2008, p. 54).

A representação do espaço euclidiano encontrou o sistema de coordenadas cartesianas como forma de apresentação da sua métrica. A partir de três eixos perpendiculares entre si (x, y e z), números reais são escalonados para representar metricamente pontos dentro de um espaço (FIG. 08). Aliada à matemática de Aristóteles, o espaço abstrato vai se tornando algo ao alcance dos sentidos a partir do momento em que passa a ser representado geometricamente e, pouco a pouco,

3 É interessante ressaltar a semelhança entre o conceito de receptáculo em Platão e em Heidegger. Ambos tratam da ideia do vazio sendo que para Heidegger, a ideia do receptáculo esta associada a ideia da “coisa”no sentido de recolher e reunir: “O vazio é o recipiente do receptáculo. O vazio, o nada na jarra, é que faz a jarra ser um receptáculo, que recebe” (HEIDEGGER, 2008, p. 154).

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vai perdendo a sua mutabilidade comum ao espaço abstrato como receptáculo para se tornar mais estático com o espaço euclidiano e as coordenadas cartesianas. A lógica cartesiana eleva o espaço a uma categoria concreta, passando a levar em conta os sentidos e os corpos através do pensamento dualista que coloca o res cogitans em oposição à res extensa, ou seja, o sujeito em confronto com o objeto (corpo x alma). Segundo Ferrara (idem, p. 27): “o espaço assume uma posição central e passa a ser a ‘res extensa’: essência dos corpos pela exterioridade, propriedades e volume que lhes dão condição de substância passível de conhecimento, porém desenvolvido por outra instância, a ‘res pensante'”.

Figura 06: Os postulados. Figura 07: A obra “Os Elementos”. Figura 08: As coordenadas cartesianas.

No entanto, para Kant, a noção de espaço como uma percepção da exterioridade estaria atrelada ao tempo com uma percepção interior do sujeito, sendo ambas consideradas como formas puras da sensibilidade intuitiva. Segundo o filósofo prussiano, as noções de tempo e espaço são formas a priori da sensibilidade humana e, portanto, incapazes de serem percebidos através da experiência, sendo consideradas condições universais e necessárias: “A representação do espaço precisa existir de antemão para que eu possa relacionar certas sensações com alguma coisa exterior a mim (a qualquer coisa posta num lugar do espaço diferente daquele que estou ocupando)” (KANT, 2009, p. 33). Diferentemente da ideia de espaço euclidiano que busca uma relação entre os corpos, a noção de espaço em Kant se fundamenta na intuição extensiva e correlativa dos corpos físicos: “Desse modo, o espaço resiste à experiência porque é inato e, portanto, não pode ser vivido, mas apenas assumido pela percepção das suas manifestações” (FERRARA, 2008, p. 27).

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Portanto, não há, para Kant, como “conhecer” uma coisa como objeto apenas pela sua representação no espaço, já que “nada que é intuído no espaço é a coisa em si” (KANT, op. cit. p. 37). É possível existir espaço sem coisa, mas não coisa sem espaço, pois “trata-se de uma intuição pura, se essa forma for abstraída dos objetos, denomina-se espaço” (idem, p. 36). No próximo tópico, veremos como este espaço começa a ser percebido pelas suas manifestações exteriores com base na disposição de objetos e sua representação pictórica, principalmente na pintura renascentista.

1.1.2. O espaço concreto: o mundo sensível.

Aos poucos, o espaço vai deixando de ser algo compreendido apenas através da abstração para se manifestar de forma mais sensitiva, baseado na “hierarquia dos objetos através das posições ocupadas” (idem, p. 27) tornando-se algo passível de uma compreensão cognitiva atingindo “a natureza das suas manifestações” (ibidem, p. 27). A aplicação da geometria euclidiana nas artes, principalmente na pintura, contribuiu para o entendimento dessa noção de espaço como algo concreto e perceptível aos sentidos. Uma das descobertas de Euclides foi a noção do cone de visão que permitia, ainda na Grécia antiga, a observação dos fenômenos em perspectiva que davam às pinturas da época uma razoável noção de profundidade a partir da inclinação das linhas, os jogos de luz e sombra, além do recurso de diminuir as figuras posicionadas em segundo plano.

No entanto, a técnica da perspectiva geométrica (FIG. 09) só foi introduzida nas pinturas do período Renascentista do século XV, favorecendo o ponto de vista do observador da obra através da introdução de figuras de formas planas e lineares que, a partir de determinadas angulações visuais, são capazes de dar a este observador uma percepção melhor da figura do que aquela vista num desenho através de um único ponto. Isto porque ao definir os limites dessas formas através da perspectiva, o desenho sem profundidade bidimensional, na era clássica, transforma-se em imagens tridimensionais com volume, proporção e simetria como podem ser vistos através dos pontos de fugas nas pinturas desse período (FIG. 10).

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Figura 09: Desenho em perspectiva. Figura 10: Pintura em perspectiva.

Com a física newtoniana, no século XVII, Isaac Newton reelabora mais uma vez a noção de espaço, retomando a ideia dos atomistas gregos que defendiam a característica inerte e imóvel considerando um espaço absoluto. A Lei da Gravitação Universal faz com que o espaço perca a sua condição metafísica para ser concebido agora pela física. Deixa-se de lado a abstração e a intuição para dar lugar à observação dos fenômenos de forma empírica, ou seja, perceptível aos sentidos. A partir de experiências realizadas depois de observar a queda de uma maçã, Newton constatou a existência de uma força atrativa que age sobre os corpos em decorrência de sua massa e da distância que existe entre estes corpos e a terra. Esta distância pode, então, ser calculada de forma que a resultante matemática entre a distância e a massa de qualquer corpo será a sua aceleração nesse deslocamento sobre a influência da gravidade4.

Durante um longo tempo, esta noção de um espaço absoluto e inerte de Newton balizou diversas pesquisas, influenciando outros teóricos, mas também criou opositores como Gottifried Leibniz, que questionava a existência de uma substância que tornava o espaço absoluto como tal. Newton acreditava num espaço vazio e limitado fruto da propriedade ou atributo de alguma substância, não tendo sido, porém, capaz de comprová-lo. Foi assim que seu maior rival levantou a possibilidade de o espaço relativo ser baseado em uma “ordem de coexistências assim como o tempo é uma ordem de sucessões” (ABBAGNANO, 2003, p. 349). No entanto, é com Albert Einstein que essa noção de espaço absoluto deu lugar à noção de espaço relativo, que tem como ponto de partida a crença na existência do conceito de campo aliado aos fenômenos inerciais e gravitacionais. A partir da observação deste

4 A fórmula da aceleração da gravidade é A=Gm/r², sendo G, a constante universal da gravitação, m é a massa e r, a distância do centro do objeto.

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campo gravitacional, Einstein detectou, com base nas fórmulas elaboradas pelo matemático George Riemann, as funções G's, que ficaram conhecidas como o “espaço de Riemann”. Estas funções tinham como princípio a matemática cartesiana, cujas coordenadas formam linhas retas, diferente da métrica Reimanniana, em que as coordenadas podem ter um traçado curvilíneo.

Segundo Einstein, além dos eixos X, Y, Z curvos da métrica Riemanniana, existe um quarto eixo ou coordenada espacial que é interpretada como o “Tempo”, constituindo o mundo dos eventos dentro de um contínuo quadridimensional. Esse é o fundamento da Teoria da Relatividade Geral, que muda a compreensão da relação entre espaço e tempo, até então considerados distintos e independentes pela teoria do espaço platônico. A descoberta da Teoria da Relatividade de Einstein leva a crer que o universo não é estático, como se acreditava até então, mas está em uma contínua expansão: “Na relatividade, fala-se do movimento em expansão, atingindo o espaço e o tempo como um conjunto interinfluente e interdependente” (FERRARA, 2009, p. 28).

Essa noção de espaço concreto que invade o mundo sensível também influenciou outras áreas, como as artes e a arquitetura. Na arquitetura do início do século XX, uma teoria que ficou conhecida como a “teoria das proporções” obteve destaque pela contribuição dada à compreensão do espaço nesta época. O Modulor de Le Corbusier (FIG. 11) consiste em um sistema de proporção áurea do espaço arquitetônico baseado na unidade de medida em que módulos conhecidos como “seções de ouro” obedecem ao seguinte critério: na divisão de uma reta, o segmento menor está para o maior assim como o maior está para o todo. A proporção áurea ou “média em extrema razão” recebe também diferentes denominações e tem origem na Grécia através de Phidias, escultor que utilizava este número de ouro (o Φ, FI) em suas obras. No entanto, este número “místico” (1,618...) foi aplicado desde o Egito Antigo, passando pela Renacença até chegar na arquitetura moderna com Le Corbusier. A razão áurea é a forma mais harmoniosa de se dividir em duas partes um peça comprida como, por exemplo, uma viga. Outras aplicações da razão de ouro também podem ser verificadas na cirurgia plática e genética ganhando um status de “quase mágico” por ser reconhecida em diferentes fenômenos da natureza, como numa concha, numa colméia, nas falanges dos dedos, sendo sempre relacionada a um fator de crescimento proporcional ou à “divina proporção” como pode ser vericada nos ensinamentos de Leonardo Da Vinci.

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Oriundo de uma família de músicos, apesar de não saber tocar instrumentos, Corbusier entendia que a música, assim como arquitetura, dependia de medidas influenciadas pelo espaço e pelo tempo. A partir da observação dos padrões de subdivisões na música, ele reúne os elementos suficientes para formular a Teoria do Modulor. Um exemplo de como Corbusier se inspirou na música para criar sua teoria está na forma de escrever música através das partituras musicais que, mesmo de forma fragmentada e dividida, pode ser compreendida dentro de um contínuo sonoro resultante dessa relação entre espaço e tempo, levando em consideração a duração da nota (breve, semibreve, mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, etc.) e a proporção harmônica (o mesmo princípio da “seção de ouro”) entre as notas musicais5.

Através de um pensamento lógico, racional e disciplinador, este sistema toma por base as dimensões medianas do corpo humano, o que reflete a preocupação de Le Corbusier em aproximar a arquitetura e as transformações sociais da época, que sofriam o impacto direto das inovações tecnológicas do período industrial. Partindo da combinação desta “seção áurea” com medidas simples como o quadrado e o duplo quadrado (FIG. 12), o Modulor de Le Corbusier apresentava uma técnica capaz de ser aplicada nas produções em série, com vistas de resolver problemas de padronização da indústria. O objetivo de Corbusier, com o Modulor, era criar uma forma de substituir as medidas utilizadas até então pela arquitetura e pela mecânica, baseadas no sistema métrico decimal por uma gama de medidas visuais, assim como a gama diatônica (FIG. 13) e a gama temperada foram utilizadas no estudo musical.

A contribuição desse sistema de proporções está na mudança do olhar para com o espaço arquitetônico, pondo o observador em movimento dentro dele, que com o decorrer do tempo, pode vislumbrar diferentes perspectivas. Esta nova forma de compreensão do espaço vai de encontro às ideias renascentistas, que punham o

5 Esta relação entre as notas tem fundamento na matemática. Foi o filósofo matemático Pitágoras (570 a.C – 496 a.C) que estabeleceu a primeira relação entre as notas e denominou-a de gama diatônica. Mas foi a gama temperada de J.S. Bach que teve uma maior repercussão entre os compositores do Ocidente como Mozart, Beethoven, Debussy, etc. “Pitágoras foi quem primeiro formulou, na tradição do Ocidente, o caráter numérico e harmônico dessas formações sonoras [vibrações]: 'o sentimento instintivo das primeiras consonâncias coincide com as relações entre os primeiros números aplicados ao comprimento (ou a tensão) de cordas vibrantes'. Se temos um som melódico emitido pela vibração de uma corda inteira, o primeiro harmônico (a oitava) resultará da vibração de ½ , o segundo de 2/3, o terceiro de ¾, o quarto de 4/5, o quinto de 5/6. Essa progressão em complexidade corresponderá, por sua vez, à maior ou menor facilidade que temos de reconhecer e produzir um intervalo” (WISNIK, 2005, p. 62).

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observador num centro geométrico, permitindo apenas um foco da visão do espaço, ao restringir a sua percepção visual.

Figura 11: A obra de Le Corbusier. Figura 12: O Modulor. Figura 13: A “gama diatônica” de Pitágoras.

Deixando um pouco de lado a observação exterior desse espaço concreto, resultante de um traçado matemático regido por proporções e, portanto, mais perceptível aos sentidos (o que, convenhamos, não deixa de conter também uma parte da abstração característica do espaço platônico), trataremos daqui em diante das relações sociais que acontecem dentro destes limites físicos estipulados pela métrica e pelas coordenadas matemáticas. Segundo os geógrafos situacionistas, assim como para os teóricos da geografia crítica6, este é o principal aspecto de

observação do espaço que baseiam sua fundamentação teórica, principalmente, nas teorias marxistas. Para estes estudiosos, o espaço é o locus onde se dão as produções das relações sociais, conjugando espaço e sociedade como elementos interligados, em que o primeiro é produto das relações que ocorrem no segundo.

Para isso, vamos recorrer ao sociólogo francês, Henri Lefebvre, que trabalhou o conceito de espaço na sua obra “La Production de L'espace” (1974) sob a perspectiva das relações estabelecidas dentro de um espaço físico7. A proposta de

Lefebvre é entender este espaço físico como o espaço social, regido por três conceitos-chave: a prática espacial, a representação do espaço e o espaço

6 A geografia crítica, ou geocrítica surge após a segunda guerra mundial impulsionada pelas discussões contrárias ao capitalismo e engajadas na problemática social. A proposta da Geocrítica (ou Geografia Radical) é tornar a geografia menos neutra perante as questões de apropriação da natureza e do espaço por uma sociedade capitalista. Os principais autores da Geografia Crítica tiveram influência direta do Marxismo como, por exemplo, Yves Lacoste (“Herodote”), David Harvey (“Spaces of Capital”), William Bunge (“Theoretical Geography”), Edward Soja (“Postmodern Geographies”).

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representacional8. Logo nos primeiros capítulos do livro, percebemos a intenção do

autor em trabalhar o conceito de espaço como fruto da abstração, principalmente quando trata da influência do capitalismo na produção do espaço caracterizado pela fragmentação, homogeneização e hierarquização social. Ao mesmo tempo, Lefebvre pontua, em outras partes da obra, a ideia de um “real” space ou o espaço da prática social, que se distancia do “Ideal” space, o espaço mental (lógico-matemático).

Para Lefebvre, o espaço social demanda encontros em um determinado ponto ou ao redor dele, uma reunião, uma simultaneidade: “social space implies actual or potential assembly at a single point, or around the point”9 (1991, p. 101). Esta

conotação do espaço social de Lefebvre relacionado a um ponto único coincide com a definição de “lugar” defendida por Heidegger, como sendo pontos fixados no espaço, como será tratada no tópico seguinte. Portanto, estamos trabalhando com esta noção de espaço mais próxima do mundo sensível e das relações sociais desempenhadas dentro de um espaço social e não como algo deslocado, “an empty abstraction, likewise energy and time”10 (idem, p. 12), mas, ao contrário, algo poderia

condensar um número indefinido de pontos.

Henri Lefebvre parte do princípio da existência de três formas diferentes de espaço: o espaço físico, relativo à natureza, o Cosmos; o espaço mental, que inclui as abstrações formais e lógicas; e o espaço social. No entanto, estas noções de espaço não podem ser compreendidas de forma independente. O espaço físico é tomado como a realidade, o espaço “real”, onde ocorrem as relações sociais limitadas pelo espaço social, mas que também permite projeções através do espaço mental. Portanto, para Lefebvre, é no espaço social que as demais noções de espaço convergem tornando-se indistinguíveis:

Social space will be revealed in its particularity to the extent that it ceases to be indistinguishable from mental space (as defined by the philosophers and mathematicians) on the one hand, and physical space (as defined by practico-sensory activity and the perception of

8 É necessário fazer uma ressalva em relação ao entendimento do texto de Lefebvre, que não deixa muito claro, se efetivamente o autor está tratando do espaço como algo abstrato e intangível ou como algo concreto e perceptível aos sentidos. Uma das passagens do livro deixa evidente esta indefinição: “Is this space an abstract one? Yes, but it is also “real” in the sense in which concrete abstractions such as commodities and money are real. Is it then concrete? Yes, though not in the sense than an object or product is concrete” (LEFEBVRE, 1991, p. 27).

9 “Espaço social implica uma reunião real ou potencial em um único ponto, ou em torno do ponto” Trad. Nossa.

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nature) on the other11 (ibidem, p. 27).

No entanto, para melhor entender o espaço lefebvriano como parte desse processo de produção dentro do espaço social, o autor francês estabelece três conceitos-chave – a prática espacial, a representação do espaço e o espaço representacional12. O primeiro conceito, da prática espacial, formada pelas locações

ou espaços físicos onde ocorrem as relações sociais, abrange tanto a produção quanto a reprodução do espaço, e tem como função manter a coesão da sociedade garantindo os níveis de competência e de representações dentro dela, tomando sempre como base objetos e produtos que fazem parte dessas relações. Como exemplo, podemos citar a vasta rede de estradas na Idade Média que mantinha as cidades interligadas e acessíveis criando um espaço de relações entre os habitantes.

O segundo conceito, das representações do espaço, é formado por códigos, signos e pelo conhecimento de diferentes ordens (ideológicos, linguísticos e simbólicos) tendo como função primordial a criação de formas para concatenar elementos de diversas ordens com as relações de produção no intuito de serem coordenados e, como isso, tornam-se compreensíveis à sociedade. Para isso, são utilizados números, distâncias, alturas situando as pessoas neste espaço produzido, como fizeram, no renascimento, as perspectivas e pontos de fuga das pinturas da época. Por fim, o conceito de espaço representacional é formado pelas imagens, diagramas e símbolos que emergem da relação entre os outros dois conceitos, se beneficiando dos números e das proporções constituintes das práticas no espaço. Se as perspectivas e os pontos de fuga são as representações do espaço na pintura renascentista, a imagem gerada por estas técnicas é o espaço representacional.

Associado a estes conceitos, Lefebvre apresenta mais três tipos de espaço em forma de eixos que se interpolam, os quais foram denominados de espaço percebido, espaço concebido e espaço vivido. Os dois primeiros estão alinhados, respectivamente, com os pólos filosóficos do idealismo e do materialismo, enquanto que o terceiro eixo perpassa a interseção (ou o ponto de colisão) entre os outros dois, ou seja, é a experiência vivida dos outros dois espaços: o percebido e o

11 “O espaço social será revelado em sua particularidade, na medida em que deixa de ser indistinguível do espaço mental (como definido pelos filósofos e matemáticos), por um lado, e espaço físico (como definido pela atividade prático-sensorial e da percepção da natureza), por outro” Trad. Nossa

Referências

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