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Espaço dos templos-modernos: shopping-center

No documento FATIMA APARECIDA DA SILVEIRA GRECO (páginas 107-111)

2. Espaços e Meios de Socialização

2.1. Lugares singulares

2.1.4. Espaço dos templos-modernos: shopping-center

A rua como lugar de encontro, como vimos anteriormente, em muitos bairros dessa cidade, se esvazia cada vez mais e é substituída pelo(a)s jovens adolescentes por um novo ponto de encontro: o ‘Shopping Center’ da cidade. São os ‘shopping-centers’ “templos do consumo”, como FANI CARLOS os denomina, ou, referindo-se ao consumo que instala sua fé por meio de objetos, compara MILTON SANTOS: “templos modernos, construídos à feição das catedrais”.

Não se trata apenas da mudança do lugar de encontro (como aquele da rua), mas do hábito, do comportamento desse(a)s jovens adolescentes, os quais serão normatizados pelo espaço privado e organizado para o consumo. A freqüência e a aglomeração dos jovens nos shoppings passaram a representar um comportamento de uma geração, que ficou conhecida como ‘geração shopping’. Essa cidade, como outras cidades médias e metrópoles, tem seu ‘templo moderno de consumo’ e sua ‘geração shopping’ tem um novo espaço de vivência.

Para este(a)s jovens adolescentes, ir ao shopping é passear. Mas esse lazer é também um consumo de bens materiais e imateriais. Essas mercadorias são a força dos diversos estabelecimentos comerciais que se localizam em um mesmo espaço. Nele se reúnem empresas que têm uma rede mundial e sustentam suas ‘griffes’ de alimentos, roupas, perfumes em diferentes locais do mundo.

A cidade, assim, se revela num plano ao mesmo tempo local e mundial sem perder suas singularidade. Portanto, muito do que marca esse local, e até seus habitantes, é singular e muito do que se tem nesse local é mundial.

Os grandes supermercados e os ‘shopping-centers’ exigem uma localização geográfica que permita o rápido funcionamento do sistema de abastecimento em grande volume e facilite a grande circulação de público e seus carros. A produção, circulação e distribuição no espaço urbano de Uberlândia mudou, se reformulou em função dos novos objetos geográficos como a construção do ‘shopping’, o hipermercado e o novo centro administrativo. A localização geográfica do setor financeiro da cidade junto com o comércio e serviços continua fixa no centro velho, onde as calçadas e as ruas são movimentadas no horário comercial. Os planos orientadores do espaço urbano adaptam a estrutura urbana às novas formas do capital comercial e de serviços.

A localização do setor administrativo, do novo ‘shopping-center’ e do hipermercado promove uma nova centralidade espacial na cidade. Esse novo centro é

resultado, também, de outras mudanças espaciais que ocorreram no seu entorno em tempos anteriores, sendo observado, no início da década de 90, que,

Um ‘novo’ crescimento espacial da cidade vem se efetivando pelo setor sul-sudeste da sua periferia. A ocupação urbana desse setor inaugurando novos bairros, nos anos 80, foi acompanhada de construções de grande vulto político-econômico, como: Complexo do Parque do Sabiá e Estádio João Havelange (1980); Parque de Exposição Agropecuária CAMARU (1980). Ao concentrar espacialmente outras construções, como a do Hipermercado Carrefour (1990) e a construção do Centro Administrativo da Prefeitura Municipal (1992), na confluência do córrego Jataí com o São Pedro, remodelado em avenida (Rondon Pacheco atravessada pela avenida João Naves de Ávila), este espaço passa a ter a função de bairro intermediário, valorizando os terrenos e imóveis e áreas vizinhas que o circulam, se reorganizando (...). Mais além, parece transformar essa área - de várzea e confluência de córregos - no novo centro da cidade (GRECO, 1992, p. 64).

Esses novos objetos geográficos do urbano estão instalados nas margens dessas grandes avenidas que interligam o novo centro com todos os bairros da cidade, permitindo o acesso pelo trânsito rápido em pistas duplas. Usufruem de outras amplas avenidas do seu entorno, privilegiando o uso do automóvel e concentrando o setor comercial e serviços, como o hoteleiro. A circulação pelo sistema de transporte urbano realiza a ligação centro- bairro e bairro-bairro, superando o modelo radial (sistema que somente liga centro-bairro) em transporte coletivo com o novo Terminal Central de ônibus.

O ‘shopping’, para o(a)s jovens adolescentes que o utilizam preferencialmente como espaço de lazer do tempo livre, representa um lugar onde caminham de um ponto ao outro, mas sem sair do mesmo lugar. No ‘shopping’, passeiam ‘desligados’ pelo corredor comercial, se movimentando no percurso da trajetória retilínea das relações entre o consumo e o comércio, vendo seus pares, trocando olhares, amizades, ‘flertes’. Nesse passeio, em meio à sofisticada publicidade e oferta de consumo, vislumbram a promessa ou a esperança de obter, apreciam ou compram os produtos de ‘griffes’, ou consomem lanches do tipo ‘Mc Donald’s’, gelateria Parmalat, entre outros ‘fast-food’. Tudo se dá como se fosse o lugar dos encontros antigos dos jovens nas praças públicas da cidade. Agora o tempo e o espaço são outros. No ‘Shopping’, na praça de alimentação, o(a)s jovens adolescentes param, conversam, ouvem música, trocam confidências, experiências, estabelecendo valores e comportamentos, principalmente ligados à publicidade e ao ‘marketing’, vão ao cinema, ao parque. Tudo isso ofertado em um espaço privado com

segurança privada e aberto ao público, o que o espaço público, como a rua, não mais consegue oferecer aos pais que o(a)s deixam na porta e ali o(a)s recolhem no horário conveniente.

O ‘Shopping-center’, espaço organizado pelo capital e um espaço para o mercado amplo de consumo da cidade e da região, agrega a hotelaria, cursos de vestibular e as casas de lazer noturno, incluindo vários cinemas, ampliando seu atendimento às diversas camadas sociais. Com isso, cada vez mais representa um importante espaço de lazer onde o(a)s jovens adolescentes estão presentes, entre outros que o frequentam com suas roupas de ‘griffe’, conversando no celular, na afirmação do ‘status’, no interior de um recinto de compras. Essa forma de uso do ‘shopping-center’ pelos seus freqüentadores passou a identificar os habitantes dessa cidade com esse lugar e o lazer com o ‘shopping center’. Assim, esse ‘templo moderno de consumo’ torna-se um lugar que identifica a cidade de Uberlândia e cria uma especificidade que marca a cidade como

Rica, poderosa e fútil. Desfila com roupas extravagantes, celular a tiracolo e não perde a chance de dar um pulinho ao shopping center. Se a sociedade de Uberlândia fosse uma mulher teria todas essas características. E mais uma: seria muito invejada. Sim, se o interior dos arredores da BR-153 tivesse de eleger uma capital, sem dúvida seria Uberlândia. É a cidade dos sonhos de quem vive nas redondezas. Cinema, teatro, museu, quem liga para isso? Melhor ir ao clube ou fazer umas comprinhas no shopping novo da cidade. À noite, a programação gira em torno dos bares e boates. Uma animação só. É assim que a cidade gosta de se divertir e faz por merecer esse lazer (GRANATO, 2000, p. 84).

A cidade passa a ser representada pelo ‘shopping center’, uma cidade miniaturizada: os objetos do urbano - comércio e serviços - fixaram-se numa área cercada por atrativos da mundialização e do particular, da tecnologia, da informação, da publicidade e do lazer. Assim, torna-se um templo: lugar do encontro de pessoas, do consumo de produtos impregnados pelas novidades diferentes e diversas para um público heterogêneo, com atrações e entretenimento significativos para o(a) jovem adolescente, um consumidor atuante. Um templo moderno: concentra pessoas, entretenimento e consumo. O sentido da rua se confronta com o uso do Shopping e este torna-se um espaço de símbolos e significados para eles e, principalmente, para elas: ir ao Shopping é passear, é feminino.

No documento FATIMA APARECIDA DA SILVEIRA GRECO (páginas 107-111)