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ESPAÇO ESCOLAR MOBILIZADO: CONSTRUINDO PARÂMETROS DE QUALIDADE PARA O LIVRO DIDÁTICO E DE HISTÓRIA

3. O ESPAÇO ESCOLAR E A DISCIPLINARIZAÇÃO DE UMA PRÁTICA SOCIAL: A CONSTITUIÇÃO DE CRITÉRIOS DE QUALIDADE PARA O LIVRO DIDÁTICO

3.3 ESPAÇO ESCOLAR MOBILIZADO: CONSTRUINDO PARÂMETROS DE QUALIDADE PARA O LIVRO DIDÁTICO E DE HISTÓRIA

O primeiro documento, Definições de Critérios para Avaliação dos Livros

Didáticos – Português, Matemática, Estudos Sociais e Ciências/ 1ª a 4ª, foi idealizado em

1993 e publicado em 1994 pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com as Secretarias de Educação (SECs) e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Sua produção teve como base de análise os livros didáticos mais adotados, de cada disciplina escolar, em 1991.

Possui 376 páginas, sendo, em média, 90% dessas compostas por documentos que resultaram diretamente do processo de avaliação, a saber, fichas de análise e textos analíticos referentes a cada disciplina escolar. Tal estudo foi realizado por grupos de trabalho que prestaram assessoria ao MEC.

O documento é composto por: a) Apresentação, b) Introdução, c) Avaliação específica de cada área, d) Apêndices, anexos e, por último, e) Conclusões e recomendações. Na apresentação desenvolveu-se um breve histórico do PNLD, situando-o como um dos momentos em que o Estado brasileiro se colocou como direcionador de uma política pública em relação ao material. Segundo tal escrito, esse programa é um marco na relação entre Estado, professores, alunos e produtores de livros didáticos, uma vez que garantiu a acessibilidade a esse material e deixou sua escolha a cargo do professor. Ao mesmo tempo, instituiu a construção de parâmetros de qualidade e aquisição.

A Introdução trouxe à discussão a elaboração de critérios comuns a áreas envolvidas. São eles:

a) projeto gráfico editorial – verificou-se se as imagens estavam relacionadas ao texto, assim como os aspectos ideológicos que estavam presentes nesse material e sua legibilidade;

b) abordagem do tema – verificou-se se os textos, orientações e atividades possibilitavam o desenvolvimento dos conceitos de tempo, espaço e relações sociais, assim como se explorava a realidade vivida, a ampliação da dimensão espaço-temporal, a integração dos conceitos de

História e Geografia; se os temas tocavam as realidades locais, regionais e nacionais; se buscaram localizar a exclusão de sujeitos dos processos históricos, a existência de preconceitos e estereótipos e mitos; se os textos permitiam a identificação de concepções de História e Geografia;

c) aspectos pedagógico-metodológicos – avaliou se a obra utilizou diferentes linguagens, se estas eram adequadas à série a qual se destinavam, se contribuíam para o desenvolvimento da linguagem escrita e oral, se havia ou não diversidade textual, se existia informações ou conceitos errados, assim como clareza, nível de gradação, articulação e complexidade na apresentação dos conteúdos. Examinou também as atividades, a fim de saber se apresentavam diversificação e nível de complexidade, se possibilitam a observação, investigação, análise, síntese e generalização, confronto de diferentes fontes, desenvolvimento da criatividade e da criticidade. Ou, por outro lado, se conduziam à repetição mecânica e à mera definição das noções apresentadas. Por último, verificou se o manual do professor apresentava informações adicionais em relação ao livro do aluno e se colaborava com a formação continuada do professor.

A avaliação concluiu que havia semelhanças entre os livros no que dizia respeito aos conteúdos tratados, que apresentavam hierarquizações entre campo e cidade, dificuldade em separar o discurso científico do ficcional, não levavam em conta o caráter de construção do conhecimento, deixando de lado os saberes dos alunos; possuíam erros conceituais, além de uma defasagem em relação à produção acadêmica. Também inferiu que os livros não autorizavam o desenvolvimento de uma localização no tempo, nem a reflexão sobre a situação socioeconômica brasileira, além de utilizarem as imagens apenas como ilustração.

Sugeriu, por fim, que se elaborasse um programa mínimo obrigatório, com objetivos, conteúdos e orientação pedagógica, uma vez que nem todos os Estados possuem uma proposta curricular atualizada, acabando por usar o livro didático para tal fim; instituição de uma comissão permanente para avaliação do livro didático, como forma de garantir que sejam adquiridos pelos professores apenas materiais de qualidade; desenvolvimento de campanha sistemática para divulgação dos resultados da avaliação, a fim de que todos os usuários e aqueles que mantenham contato com o livro possam agir como fiscais; como última recomendação, menciona o incentivo à renovação dos livros didáticos.

O segundo documento analisado nesse capítulo intitula-se Recomendações para

uma política pública de Livros Didáticos (2001b) e foi resultado de um evento realizado pelo

Ministério da Educação em 2001, que tinha como fim balizar os avanços obtidos pelo Programa Nacional do Livro Didático desde sua primeira avaliação, em 1993, até aquele

momento, e composto por 57 páginas que se dividem em seis tópicos, são eles: 1) Apresentação; 2) O processo de elaboração do documento, 3) Histórico, 4) Impactos positivos do PNLD, 5) O PNLD: problemas e perspectivas; 6) Por uma política articulada do livro na escola.

A Apresentação funciona como uma carta de intenções, afirmando que “Este documento apresenta conclusões e recomendações para subsidiar reformulações neste Programa e para discutir e estabelecer elementos para o aprimoramento das políticas públicas do livro didático no país” (MEC, 2001b, p. 7).

No Processo de elaboração do documento, foram descritas as instituições e agentes sociais envolvidos, a saber: técnicos do FNDE e da Secretaria do Ensino Fundamental (SEF), coordenadores da avaliação de livros didáticos (das áreas de Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e Ciências), todos eles docentes de diferentes instituições universitárias brasileiras e membros do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale).

O Histórico construiu um breve panorama do desenvolvimento do PNLD, apontando este como marco na história da relação entre professor, Estado, alunos e produtores de livros didáticos, uma vez que estabeleceu a adoção de livros reutilizáveis (exceto para a 1a série), escolha do livro pelo conjunto de professores, sua distribuição gratuita às escolas e aquisição com recursos do Governo Federal.

No tópico denominado O PNLD: problemas e perspectivas, discutiram-se as alterações ocorridas no sistema educacional brasileiro pós-ditadura civil-militar, dentre elas a mudança de paradigma ocorrida no campo da Educação. Tal mudança se deu em torno da função social da educação, que deixou de ser tecnicista, voltada somente para a formação de mão de obra, para voltar-se ao uso do conhecimento em situações cotidianas. Nesse sentido apontou três problemas que afetavam o PNLD e que precisavam ser resolvidos: a) a cristalização de um modelo de livro didático – esta tratava da manutenção de um modelo de livro didático decorrente da acomodação dos autores e editores, impedindo o surgimento de um material com características diferentes; b) a falsa utilização de correntes teóricas de interpretação da história, elemento que foi encarado pelo documento como estratégia do setor editorial para construir uma falsa distinção entre as obras. Trata-se de uma tentativa de fazer com que mais do mesmo se tornasse aparentemente inovador, garantindo assim vantagens mercadológicas.

O último problema apontado foi denominado de c) descompasso entre as expectativas do PNLD e as dos professores. Problema caracterizado pela escolha dos professores das obras mais problemáticas, deixando de lado as coleções com melhor qualidade.

Por fim, o documento ofereceu sugestões para a melhoria da política do livro didático, dentre elas: a necessidade de produção de estudos, nacionais e transnacionais, para que oferecessem subsídios a essa política, no que diz respeito à questão editorial; a elaboração de editais que fossem mais claros em relação ao que se esperava de um livro didático e de sua qualidade; sugeriu a descentralização das avaliações para as universidades, com intuito de fomentar as pesquisas sobre esse material; e a construção de regras de inscrição que levassem em conta as avaliações anteriores, com a finalidade de otimizar o tempo da avaliação.

Conclui definindo metas para o PNLD, dentre elas: a articulação do PNLD a outras políticas educacionais encampadas pelo MEC; a utilização de outros materiais em sala de aula que não foram produzidos para fins didáticos; a definição clara das relações entre Estado e mercado editorial; o estabelecimento de relação entre os resultados da avaliação e as escolhas dos professores; e o engajamento de todos os membros da comunidade escolar que se utilizam do livro para a melhoria de sua qualidade.

3.4 GARANTINDO A HABITABILIDADE: A PRODUÇÃO DE LEGITIMIDADE PARA

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