• Nenhum resultado encontrado

4.1 OS EMPREENDIMENTOS: ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS

4.1.1 O Espaço Imaginário

O Espaço Imaginário é um espaço cultural destinado principalmente às artes visuais, audiovisual, música e patrimônio, localizado em Rio de Contas, município situado no sul da Chapada Diamantina. Criado em 2010 por um casal ítalo brasileiro recém instalado em Rio de Contas, o empreendimento teve como objetivo inicial promover atividades e projetos culturais na cidade, bem como propiciar trabalho e geração de renda para seus fundadores. Assim, o casal investiu com recursos próprios na compra e reforma de uma casa no centro da cidade, e ali foi fundado o Espaço Imaginário. Dedicado a oficinas, exposições, exibições de filmes, residências artísticas, espaço para leitura e uma produtora, o espaço cultural sobreviveu economicamente, desde então, de investimentos próprios e apoios a projetos aprovados via editais públicos nacionais ou estaduais. Junto ao espaço cultural, o casal fundou também um restaurante, atividade exercida por eles nas noites de eventos culturais e/ou períodos de férias e feriados (de maior movimento turístico).

Segundo os gestores, a ideia de espaço cultural e restaurante vinha responder a uma demanda: na cidade havia poucos lugares interessantes ofertando alimentação de qualidade, bem como programações culturais; e, por outro lado, correspondia também a uma questão de oferta: os fundadores eram, respectivamente, jornalista com experiência no cinema, e formado em letras com experiência na área de educação e restaurantes. Ou seja, eram as atividades que eles tinham competência para desenvolver profissionalmente.

Desde 2010, o Espaço Imaginário conseguiu manter uma grade de projetos e programação cultural que permitiu ao empreendimento ganhar reconhecimento e legitimidade junto à população local, proporcionando atividades para os alunos das escolas públicas da cidade, grupos de jovens, comunidades tradicionais, etc. Nestes quase seis anos foram sete projetos aprovados, possibilitando a sustentabilidade financeira, mesmo que às vezes precária, do espaço e das equipes que se formaram para execução dos projetos. Vale ressaltar que não se trata de uma sustentabilidade contínua, mas sim no ritmo da aprovação em editais e do repasse dos recursos por parte do poder público, além de serem destinadas à execução de projetos pontuais e não cobrirem necessariamente todos os custos gerados pelo empreendimento (faturas de água, internet, telefone e luz, uma coordenadora, um produtor e uma secretária permanentes, material de escritório, material para as oficinas e para atividades desenvolvidas, etc.).

Por outro lado, muitas iniciativas foram executadas sem apoio financeiro, mas com parcerias das escolas, entidades do terceiro setor de Rio de Contas e Universidades presentes no estado da Bahia (UFBA). Os eventos realizados são sempre de caráter gratuito ou a preços populares e há, pontualmente, estratégias de trocas não monetárias ou parcerias colocadas em prática que visam geralmente a viabilizar a execução de alguma atividade específica.

O Espaço Imaginário tem boa adesão da comunidade, apesar de ter uma proposta artística bastante inovadora para Rio de Contas, uma cidade tradicional do interior baiano com pouco mais de treze mil habitantes. Os gestores tentaram, desde o início, estabelecer relações estratégicas com as escolas, os artistas e grupos culturais já existentes, bem como entidades do terceiro setor e do poder público local. Assim, podemos destacar a realização de projetos com foco no audiovisual junto às escolas públicas da sede do município, projetos voltados ao resgate e valorização de práticas culturais tradicionais, projetos com parcerias de entidades locais como Ponto de Cultura e Instituto de Permacultura da Bahia (IPB). Por outro lado, o Espaço atua, pontualmente, em instâncias de controle social como Conselhos Municipal de Cultura e Colegiado Territorial, colaborando, enquanto sociedade civil, com a construção de políticas públicas culturais.

Do ponto de vista da organização interna, a equipe de trabalho é composta essencialmente pelo casal de fundadores, e a depender do projeto são feitas algumas parcerias e contratação de equipe. Com o aporte financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia para apoio de grupos culturais, durante três anos consecutivos, foi possível contratar uma secretária ao longo deste período. O Espaço não possui estatuto jurídico próprio, utilizando o MEI8 da fundadora quando se faz necessário. A limitação da movimentação financeira deste tipo de estatuto jurídico reduz consideravelmente a capacidade anual de captação de recursos.

Atualmente, nos contam os gestores em entrevista, estão vivendo um período de redução das subvenções aos projetos e desistiram do restaurante (única atividade mercantil desenvolvida). Sobre este assunto, alegam que a sazonalidade do público é um dos principais desafios à gestão do restaurante, havendo momentos de grande frequência e outros completamente vazios. Confessam que não são bons gestores ou administradores e que se deram conta que não estavam conseguindo manter o negócio, com dificuldades em prever estoque,

8 Microempreendedor Individual. O MEI é um estatuto de arrecadação simples, que permite a formalização de

milhares de empreendedores individuais. Porém, como seu nome mesmo informa, é referente a atividade econômica de uma única pessoa, permitindo a contratação de apenas um funcionário. No campo da Cultura, bem como em outros setores, este estatuto tem tido grande adesão, visto que permite uma formalização simples e a baixo custo.

intercalar as atividades do restaurante e do Espaço Cultural, conduzir a administração financeira.

Quanto ao Espaço Cultural, no momento da pesquisa, ele se encontrava fechado, abrindo apenas pontualmente para realização de algumas atividades da Produtora Cultural (que está prestes a executar um projeto aprovado e aguardando repasse dos recursos) ou para algumas atividades realizadas por pessoas que solicitam o uso do espaço (ex: oficinas pontuais, exibição de filmes em atividades extraescolares). Aqui também, o desânimo dos gestores com relação à continuidade do Espaço é atribuído à sobrecarga dos papeis que devem assumir, à falta de recursos e financiamentos e à ausência de propensão de ambos para as atividades de gestão, administração e planejamento de um empreendimento. Os gestores revelam que não têm mais a pretensão de se sustentarem economicamente através deste empreendimento, pois conseguiram outros trabalhos (professor no Colégio Estadual) e acreditam que apenas por meio de novas formas de cooperação e ocupação o Espaço poderá se manter.