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Segundo Aquino, Franco e Lopes (1980), o Homem se faz Homem na relação que consegue construir, ao passar do tempo, com a Natureza, adaptando-se às suas características e transformando-a em seu benefício. O fato de utilizar as palavras Natureza e Homem sempre com letra maiúscula marca a importância dessa relação e são constantes as referências a esse processo:

[...] as mudanças corporais ocorreram a partir das necessidades encontradas pelos homínidas no próprio contato com a Natureza: [...] sua evolução demonstra não uma especialização a este ou àquele ambiente, mas sim uma evolução no sentido de se adaptar a qualquer ambiente. [...] Por tudo que foi dito, chegaríamos à conclusão de que o Homem se fez Homem na medida em que se tornou mais sensível para perceber diferentes tipos de modificações no meio ambiente? (AQUINO, FRANCO e LOPES, 1980, p. 50).

Essa ação sobre a Natureza, reforçada em todo o capítulo, se dá especialmente com o conhecimento das suas dinâmicas, possibilitando o desenvolvimento de técnicas e tecnologias que apontam para uma maior dominação do espaço, por meio da adaptação a quaisquer ambientes e circunstâncias novas. O conhecimento dessa dinâmica da Natureza, especialmente o que será usado como matéria-prima para a produção de seus instrumentos, será fundamental. Essa ação consciente de conhecer para dominar, por outro lado, demonstra também a distinta ação de homens e animais em relação à Natureza. Esses últimos, presos aos limites e às possibilidades de sua constituição física, têm alterações determinadas pela Genética, enquanto que no Homem essas alterações têm um componente cultural poderosíssimo.

A Natureza que o Homem precisa conhecer para dominar, segundo os autores, tem densidade, sons, cheiros e é experimentando possibilidades de manusear, lascar, fundir, tecer, que vão sendo feitas as descobertas essenciais para a constituição da humanidade. Esse processo de observação e descobertas é descrito por Aquino,

Franco e Lopes (1980), colocando em destaque a riqueza de cada nova experiência no sentido de aprofundar a consciência de tudo o que o cerca e, inclusive, dando significados diferentes a cada uma delas.

A referência ao espaço geográfico é dada quando da identificação dos locais onde foram encontrados os diferentes hominídeos: África, China e Alemanha são citados explicitamente. África, um continente, é utilizada junto a dois países, para identificar a localização dos hominídeos. Nessa parte do texto de Aquino, Franco e Lopes (1980), há uma confusão entre os períodos geológicos e culturais, quando Paleolítico Inferior (período cultural mais primitivo) é usado como sinônimo de Plistoceno (período geológico em que ocorreu o surgimento dos primeiros sinais dos hominídeos). Logo em seguida, no entanto, é feito o registro de que os períodos culturais não ocorrem em todas as regiões do Planeta ao mesmo tempo e na mesma seqüência, alertando que os estágios culturais, apontados por Morgan (1976), correspondem aproximadamente aos estágios econômicos, apontados por Marx e Engels.

Segundo Suguio (1999, p. 24 e seg.), o Quaternário (Era Geológica) começou em torno de 1,8 milhões de anos atrás, o que remete para o Terciário o surgimento dos primeiros hominídeos. Plistoceno é o último período do Terciário enquanto o Pleistoceno é o primeiro do Quaternário, em que já é possível identificar sinais do Paleolítico Inferior.

Um aspecto da Natureza – e do seu domínio pelas comunidades primitivas – é apresentado com destaque por Aquino, Franco e Lopes (1980). Trata-se do controle e domínio do fogo, processo que significou um salto de qualidade na vida daquelas comunidades. Relatando alguns possíveis processos de sua fabricação e os conseqüentes benefícios de seu uso, os autores afirmam que “[...] ao fazer o fogo, o

Homem tornava-se um criador, e consolidava o seu domínio sobre a Natureza.” (AQUINO, FRANCO e LOPES, 1980, p. 63).

Cavernas, lagos, rios, estações do ano, fases da lua, tipos de vegetais e animais disponíveis em cada região, são também apontados como importantes na configuração cultural de cada comunidade.

Somente um mapa está presente para registrar os locais em que foram encontradas “[...] importantes obras de arte.” Reproduzido na Figura 8, limita-se à parte meridional da Europa, ao norte da África e à Ásia Menor.

Figura 8 – Áreas de Importantes Obras de Arte do Paleolítico

Fonte: História das Sociedades (AQUINO, FRANCO e LOPES, 1980, p. 66).

O mapa não tem legenda que facilite sua interpretação. Supõe-se, pelo título que sobrepõe o mapa, que as ‘áreas onde foram encontradas as principais obras’ paleolíticas sejam os círculos. Se assim o for, qual o significado da região mais clara do mapa. Quais são os seus limites na África ou na Ásia Menor? Note-se que há uma

referência aos limites da Zona Glacial. Logo abaixo desse mapa está a imagem de um ‘cravado de flechas’, reproduzido na Figura 4 do Capítulo I, que poderia ter seu local de achamento identificado no mapa. Como já citado ao analisar os autores dos outros livros didáticos analisados, a representação espacial por meio de mapas, independente de sua categoria – sejam planisférios, turísticos – exige um aprendizado, uma decodificação, uma vez que utilizam um sistema próprio de símbolos.

Além da utilização do espaço geográfico para identificar o local onde se desenvolveram as ações humanas, Aquino, Franco e Lopes (1980) também utilizam os conceitos de região e de território, que serão abordados aqui, percebendo a apropriação feita.

Região é o conceito utilizado para identificar o espaço com características peculiares em relação aos demais29 e que lhe confere uma identidade. Assim, ao identificar vales aluvionais e áreas desérticas e semidesérticas, onde foi possível exercitar um grande trabalho coletivo, os autores apresentam, mesmo que não explicitando e aprofundando, o conceito de região. Vale lembrar que a fixação de aldeamentos próximos a esses vales proporcionou também um aumento significativo da população.

Conforme (Souza apud Castro, Gomes e Correa, 1995), a idéia de território, que evidencia as relações de poder num determinado espaço pode ser lida nas seguintes citações,

A terra normalmente era propriedade comum do clã, em geral lavrada coletivamente. As pastagens, os rios e lagos, e as florestas eram também propriedade comunal. (CASTRO, GOMES e CORREA, 1995, p. 74).

A passagem da Barbárie à Civilização ocorreu primeiramente na faixa geográfica que corresponde ao Oriente Próximo: do Vale do Nilo e do Mediterrâneo Oriental, passando pela Síria e pelo Iraque (Mesopotâmia) até o Planalto Iraniano e o Vale do Indo. Nessas regiões, de vales aluvionais e áreas desérticas e semidesérticas, o trabalho coletivo de um grande número de trabalhadores era a condição necessária para regularizar o curso dos rios, drenar pântanos, construir canais de irrigação, enfim, recuperar o solo para a

agricultura. (par.) Sendo regiões cortadas por grandes rios, que anualmente renovam as terras aráveis, facilitou a sedentarização das populações. (CASTRO, GOMES e CORREA, 1995, p. 75).

As populações que habitavam as regiões do Vale do Nilo, do Tigre e do Eufrates e da Bacia do Indo desde cedo desenvolveram grandes obras públicas, como drenagem de pântanos e construção de diques e canais de irrigação, domesticando as águas e preparando o solo para a agricultura. [...] Assim, por volta de 3000 a.C., o Egito, a Mesopotâmia e o Vale do Indo já não eram mais um conjunto de aldeias de agricultores auto-suficientes, vivendo sob o regime de comunidade primitiva, mas constituíam Estados, com uma complexa organização social dividida em classes rigidamente hierarquizadas. (CASTRO, GOMES e CORREA, 1995, p. 77).

A transformação de uma produção auto-suficiente em uma economia urbana, baseada no artesanato especializado e no comércio externo, foi muito diversa nas diferentes áreas geográficas. Dessa maneira, as estruturas econômicas, políticas e ideológicas, daí resultantes, divergiam. (CASTRO, GOMES e CORREA, 1995, p. 78).

A necessidade de manter os escravos em submissão e de ampliar o território e de protegê-lo contra os inimigos do exterior fez aparecer na Grécia e Roma antigas o Estado de classes. (CASTRO, GOMES e CORREA, 1995, p. 79).

O poder evidenciado no texto é aquele que ordena a economia, que dá as características das relações sociais enquanto amálgamas das relações de produção, o que é compreensível, dada a opção historiográfica dos autores. Dessa forma, todas as indicações são no sentido de apontar a definição de um território, cujos limites são estabelecidos na função prática da manutenção da formação social em questão.

No entanto, Claval (1976, p. 16) adverte que, “[...] enquanto a densidade populacional é fraca e a terra abundante, poucas são as regras que devem ser estabelecidas para melhor aproveitar o meio: basta assegurar a cada qual o fruto do seu trabalho.”

Mesmo assim, o espaço utilizado exige um mínimo de ordem para que possa produzir o resultado desejado. Com os recursos mais raros, impõem-se organização mais rigorosa, fortalecida pelo exercício de autoridade concentradora de poder, como evidenciado nas citações do livro analisado, especialmente para a realização das grandes obras públicas.

Os textos didáticos em análise são extremamente econômicos nas referências ao espaço ocupado pelas comunidades pré-históricas. Os primeiros apontamentos feitos para este capítulo indicam a localização geográfica dos principais achados arqueológicos do processo de hominização, reforçada por mapas da Europa em dois deles e do Mundo no outro.

Os continentes são citados como espaço geográfico em que se desenvolvem os processos de expansão das sociedades humanas, enquanto que as características climáticas, alteradas pelas sucessivas glaciações, vão exigindo o desenvolvimento das técnicas e tecnologias que permitam a sobrevivência em ambientes mais ou menos inóspitos.

Há imensos vazios espaciais nos livros didáticos analisados. E há, também, um flagrante discurso eurocêntrico, como o de Arruda (1976), por exemplo, ao afirmar que a sociedade humana “[...] irradiou-se em ondas sucessivas de migrações que atingiram as mais remotas regiões, até mesmo a América.” (ARRUDA, 1976, p. 30).

O que leva um autor de livro didático brasileiro, professor universitário a afirmar que a América é uma região remota? De onde ele, como professor e escritor, está ‘olhando’ o espaço em que vive? Depreende-se, daí, o caráter de informação complementar dada à espacialidade. A América, registre-se, tão distante para Arruda (1976), desaparece completamente nas duas outras obras analisadas. E a África, berço da humanidade, aparece em rápidas referências, apenas para garantir o registro da localização geográfica em que se deu o desenvolvimento dos primeiros hominídeos.

Já segundo Saroni e Darós (1979), toda a apresentação e a descrição dos períodos da Pré-História, com características e duração aproximada de cada um, se dão sem uma referência sequer aos espaços ocupados pelas comunidades humanas.

O mapa mundi apresentado por eles registra apenas o avanço máximo da última glaciação. E é só. Será preciso fazer falar o silêncio.

Na obra de Aquino, Franco e Lopes (1980), o espaço, como área geográfica, é uma categoria pouquíssima explorada. Já a Natureza freqüenta todas as páginas dedicadas a entender o processo de o Homem fazer-se Homem, num caráter de oposição a ela na medida em que crescem os dotes culturais das comunidades primitivas.

Dito isso, é momento de lembrar as observações de Telles (1984), ao analisar livros didáticos de História do Brasil. Ela percebeu o esvaziamento dos continentes de seus próprios espaços e histórias, uma vez que todos, à exceção da Europa, passando a adquirir sentido apenas em relação à expansão ibérica dos séculos XV e XVI.

Assim é o registro do espaço geográfico quando se trata de Pré-História, um registro raro e superficial, insuficiente para que o aluno consiga, sozinho, sentir-se seguro, não só em relação à localização geográfica dos sítios arqueológicos, mas também às características dos diferentes espaços ocupados pelas sociedades pré- históricas.

3 UMA HISTÓRIA SEM FIM: AS ORIGENS DA HUMANIDADE

A importância da hominização é primordial à educação voltada para a condição humana, porque nos mostra como a animalidade

e a humanidade constituem, juntas, nossa condição humana.

Edgar Morin30

A mais intrigante de todas as temáticas referentes à Pré-História, sem dúvida, é a que trata das origens da humanidade. Conhecer o(s) longo(s) caminho(s) de hominização tem sido o desafio das ciências. Inicialmente com a intenção de diferenciar o Homem dos outros animais, à sombra da imagem divina, os caminhos nessa busca mostraram outras possibilidades como aponta, por exemplo, Edgar Morin (2000), na epígrafe deste capítulo. A condição humana, dual, que gravita da Biologia à cultura, parece esquecida, às vezes, e remete aos sectarismos e violências entre nações, etnias, religiões, assim como à depredação ambiental que permanecem nos noticiários internacionais.

30 MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo/Brasília,

A temática ‘origens’ aponta, neste início de milênio, para o trabalho, não do arqueólogo em algum novo sítio, mas para o dos cientistas da Genética, em laboratórios cercados das mais modernas tecnologias. A Biologia e especialmente a Genética entraram num campo que, até poucas décadas era terreno, além dos arqueólogos, de paleontólogos, climatólogos, paleobotânicos, geólogos, zoólogos, antropólogos físicos e outros representantes de ciências chamadas auxiliares da Pré- História. Para além de restos ósseos e de instrumentos e outros vestígios associados à presença humana, a análise do DNA mitocondrial vem trazendo novas e revolucionárias contribuições para responder as intrigantes perguntas: Quem somos? De onde viemos? A essas perguntas, cada sociedade constrói suas respostas. Com o auxílio da Filosofia e da Antropologia é possível observar algumas delas, por intermédio dos chamados mitos de origem. Essas narrativas lendárias buscam explicar a origem do universo, o funcionamento da Natureza e os valores básicos de cada povo.

Quando o século XIX coloca o desafio de, por intermédio de metodologia rigorosa definir os limites das ciências, o conhecimento acerca da vida no planeta toma um grande impulso. Pesquisas e mais pesquisas vão construindo um grande quebra- cabeça que vai descortinando os paleoambientes, os animais extintos, o avanço e o recuo dos lençóis de gelo, as alterações no nível do mar, do curso dos rios, da existência e desaparecimento de lagos, desertos e florestas. É também desse século o confronto entre religião(ões)31 e ciência, com a oposição entre o Criacionismo e o Evolucionismo. Num pequeno texto, Lima apresenta, de forma sintética, os dez principais tópicos defendidos pelos criacionistas, baseados nos relatos bíblicos,

1. Houve um tempo em que nada havia.

2. A atmosfera sempre foi a mesma a partir do momento em que foi criada; assim, o oxigênio da atmosfera atual é anterior ao aparecimento dos vegetais.

3. Os primeiros seres vivos foram criados sobre a terra; depois foram criados os seres aquáticos;

4. A Terra, sob o ponto de vista teológico, é o centro do universo; os demais astros do cosmo aí estão para servir o homem.

5. As aves foram criadas antes dos répteis.

6. As plantas e os animais foram criados como espécies diferentes e distintas.

7. O homem foi criado a partir do pó, à imagem e semelhança de Deus. 8. Deus criou o Planeta e os seres vivos em seis dias de 24 horas.

9. Após o sexto dia, Deus terminou sua obra criadora; ela era perfeita e independia de aperfeiçoamentos.

10. Adão foi o primeiro Homem, criado independente e diferente de qualquer outro animal. (LIMA, 1988, p. 24).

Os itens transcritos acima apontam para a aceitação dogmática e textual do Gênesis. Quem neles crê, rejeita os estudos científicos, sob a alegação de que estão repletos de dúvidas insanáveis. O Criacionismo, aparentemente superado pelas pesquisas científicas, vem recuperando significativos espaços nas escolas e sociedades “[...] de pesquisa [...]”, não só nos Estados Unidos, onde o Protestantismo é dominante, mas também no Brasil, especialmente no Estado do Rio de Janeiro, segundo divulgado pela imprensa nacional.32

No entanto, a dicotomia Criacionismo X Evolucionismo foi sendo superada porque, segundo Lima (1988, p. 34) “[...] perceberam, cientistas e teólogos, que ciência e religião se completam, pois enquanto uma procura explicar o mundo físico, a outra se ocupa em encontrar um significado para a vida humana.”

Esse movimento de aproximação percorreu um longo caminho nos últimos séculos. Talvez tenha começado com a aceitação dos preceitos de Copérnico sobre o Heliocentrismo. Passou, seguramente, pelas ‘heresias’ de Galileu e pelos ensinamentos de Santo Agostinho. Sofreu grande impacto com os postulados darwinistas. No século XX, deveu-se principalmente à ação do Padre Pierre Theilhard de Chardin (1970) que,

32 MOON, Peter. Fé Sem Razão. In: Isto É. Nº 1560, 25/8/99, p.88-90. A matéria registra vários casos

em que os conteúdos curriculares em escolas americanas foram retirados ou revistos, em função de pressões de grupos religiosos criacionistas.

especialmente em O Fenômeno Humano, procura adequar o discurso católico frente às descobertas científicas. Ele mesmo pesquisador, contribuiu para ver e fazer ver, como afirma no prólogo da obra, a questão das origens da humanidade. Mas não é só. Em 1941, o Papa Pio XI, pronunciando-se na Pontifícia Academia de Ciências, estimulou a pesquisa científica sobre a evolução, lembrando apenas que os seres humanos, na evolução, ocupam uma posição de destaque. E Lima, para fortalecer esse caminho de aproximação, reproduz uma declaração ‘recente’ do Papa João Paulo II:

A Bíblia fala das origens do universo e da sua constituição não para oferecer um tratado científico, mas para definir as relações do homem com Deus e com o universo. A Sagrada Escritura quer apenas declarar que o mundo foi criado por Deus e, para ensinar esta verdade, se exprime com os termos da cosmologia própria dos tempos dos autores sacros. (PAPA JOÃO PAULO II apud LIMA, 1988, p. 38).

Dessa feita, à exceção das vertentes fundamentalistas33, a evolução é aceita como fato indiscutível, mantendo, no entanto, a vontade divina como impulsionadora das transformações observadas através dos tempos.

Ao contrário do que aconteceu com a questão espacial, os livros didáticos trabalham o tema ‘origens’ ou ‘evolução’, com alguns detalhes, permitindo uma análise mais aprofundada neste capítulo. É possível, claramente, perceber as diferentes apropriações que vão sendo feitas das recentes - à época da publicação dos livros didáticos em análise - descobertas de diversos ramos das ciências. No reverso da medalha está o cuidado com a incorporação desses conhecimentos, uma vez que se tratam justamente de descobertas com grande impacto para a comunidade científica e a mídia, cautelosamente tratados quando se trata da transposição didática.

A construção da árvore genealógica da humanidade iniciou com a análise de fósseis encontrados em diferentes pontos do Planeta, colocando em destaque o trabalho dos paleontólogos. Segue-se durante a primeira metade do século XX, uma

33 Recomenda-se a leitura de BOFF, Leonardo. Fundamentalismo: a globalização e o futuro da

profusão de pesquisas de campo e publicações descrevendo o material encontrado, realização de análises comparativas que foram acrescentando ´ramos à árvore`. Nesse caminho, a maior preocupação era encontrar o elo perdido entre antropóides e hominóides. O modelo que apontava a origem africana, a cada nova pesquisa, revelava voltar ainda mais no tempo. As características físicas da caixa craniana, dos maxilares, da bacia, do fêmur ou das mãos e pés vão evidenciando maior distância ou proximidade com o Homo sapiens. O andar bípede é marco nesse processo de evolução.

A primeira grande síntese do processo de hominização, afirmava o processo evolutivo linear de espécies sendo substituídas por outras mais avançadas. A imagem do macaco ‘se levantando’, evoluindo até o Homem moderno está registrada no imaginário popular, fortalecendo a idéia de evolução em direção ao progresso como único caminho, e assim também aparece na literatura didática analisada neste trabalho.

No entanto, segundo Tattersall (2003, 24),

[...] a hipótese da espécie única jamais foi convincente – mesmo considerando os esparsos registros de 40 anos atrás referentes a fósseis de hominídeos. Mas o cenário implícito da lenta e simples transformação do encurvado e bruto ancestral hominídeo em gracioso e talentoso H.sapiens moderno mostrou-se bastante sedutor – como sempre são as fábulas de sapos que se transformam em príncipes.

Novas pesquisas de campo e laboratório, desenvolvendo um trabalho cada vez mais interdisciplinar, apontam para uma antigüidade ainda maior e para a coexistência de algumas espécies, derrubando a hipótese da evolução linear. Já na década de 1960 são publicadas em português, algumas obras34 defendendo a teoria sintética da evolução que, como o próprio nome anuncia, retoma e relê os conceitos até então

34 SIMPSON, G. O Significado da Evolução. São Paulo, Pioneira, 1962; DOBZHANSKI, T. O Homem

em Evolução. São Paulo, Polígono/EDUSP, 1968; DOBZHANSKY, T. Genética do Processo Evolutivo. São Paulo, Polígono/EDUSP, 1973; PETIT, C. e PREVOST, G. Genética e Evolução. São

formulados, acrescentado os conhecimentos da Genética, o que altera significativamente toda a discussão em torno das origens da humanidade.

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