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2.2 Divulgação Científica no Brasil

2.2.2 Espaço reduzido na imprensa

Embora reconheça que a Divulgação Científica tem aumentado no Brasil nos últimos anos, Medeiros (2000) acredita que o espaço dedicado a C&T ainda está concentrado em centros maiores como Rio e São Paulo e privilegia áreas como

medicina e saúde. O País produz pesquisas básicas e gera tecnologia de ponta “que melhoram a saúde, a agricultura, a informática interferem no meio ambiente, propiciando o aproveitamento racional dos recursos naturais” (idem). Contudo, “os resultados não são conhecidos do grande público uma vez que a mídia não dá importância às pautas de C&T”. Para Medeiros (idem), os pesquisadores só não são tão desconhecidos porque publicam em revistas especializadas.

A mesma sociedade que financia as pesquisas realizadas em instituições públicas e elege governos que administram estes recursos precisa saber que a C&T está muito mais presente no dia a dia de cada um do que se imagina. Do apoio popular e não só da qualidade das pesquisas depende a sobrevivência das instituições (idem, p. 226).

Massarani (2002, p. 63) argumenta que o espaço dedicado à ciência nos jornais é no geral, bastante limitado e há ainda poucos jornalistas especializados na área, além de grande parte dos artigos publicados sobre ciência se constituírem em traduções de textos comprados ou disponibilizados de jornais ou revistas do exterior.

Depois de um estudo realizado em cerca de 750 textos jornalísticos sobre genética publicados em cinco jornais brasileiros diários − O Estado de São Paulo,

Folha de São Paulo, O Globo, Extra e Jornal do Brasil − entre junho de 2000 e maio

de 2001, Massarani (2003) concluiu que em geral a genética aparece de maneira distorcida na imprensa brasileira. Esta, em grande parte, ressalta apenas os aspectos positivos do tema. Por outro lado, riscos relacionados às novas tecnologias e decorrentes de sua má aplicação são tocados tangencialmente, sem reflexão aprofundada (MIC, 2003).

Além disso, boa parte das notícias é traduzida e ou adaptada de outros países, em detrimento de questões nacionais. Quando os aspectos nacionais são destacados, muitas vezes o são de forma exagerada. De acordo com Massarani (2003), a grande imprensa brasileira enfatiza o determinismo genético e, em grande parte, ignora ou minimiza o papel do ambiente e da sociedade no indivíduo. Portanto, não leva em conta as possíveis conseqüências sociais desta visão de mundo. Estruturado para aferir a percepção pública da genética, o estudo serviu de sustentação à tese de doutorado defendida no Departamento de Bioquímica Médica da UFRJ em 2001 (idem):

Na época do estudo, marcos importantes ocorridos colocaram a genética em pauta, com grande repercussão na mídia. Destacam- se entre eles o rascunho do Projeto Genoma Humano, divulgado em junho de 2000 e o mapeamento quase totalmente finalizado do genoma em fevereiro de 2001. O seqüenciamento da Xylella

fastidiosa, pesquisa brasileira transformada em capa da revista Nature em julho de 2000 foi outro destaque. O objetivo era aferir a

percepção pública da genética e saber quando a ciência vira notícia. Os textos foram classificados por assunto: seqüenciamento genético (incluindo o Projeto Genoma Humano), clonagem, organismos geneticamente modificados, reprodução assistida, associação de genes com doenças e ou características de comportamento, terapia genética e manipulação genética em embriões (MIC, 2003).

A jornalista percebeu que 77,9% dos textos analisados versavam sobre mapeamento genético e 58,7% do material investigado abordava eventos e descobertas internacionais. Boa parte desses textos tinha origem em veículos de informação como as revistas Science e Nature definidas por ela como fontes confiáveis, mas que apresentam uma característica digna de destaque: “As duas revistas são pautadas por interesses dos países do Primeiro Mundo, deixando de lado questões que são mais relevantes no âmbito nacional”. O resultado, segundo ela, é a homogeneização da cobertura de ciência no mundo. Os demais resultados quanto à origem da notícia foram: 33,5% de eventos e descobertas nacionais; 7,7% de nacionais e internacionais e 49,2% de tradução e/ou adaptação de jornais diários, periódicos científicos ou press-releases estrangeiros (idem).

O reduzido tratamento dispensado a assuntos de ciência e tecnologia também é abordado por Reis (2002). Ela cita uma amostragem semanal da quantidade de assuntos referentes à Divulgação Científica contida nos grandes jornais brasileiros, realizada em 1999 por estagiários de Iniciação Científica do Núcleo José Reis de Divulgação Científica/Eca/Usp. “Traz indicativos de como os principais jornais brasileiros tratam os fatos do universo da ciência”. A Folha de São Paulo – um dos veículos pesquisados durante uma semana e considerado um dos jornais de maior tiragem e circulação do país – dedicou uma área média de 2.367,5 cm2, o que representa cerca de uma página e meia de jornal à Divulgação Científica. Em relação à procedência, 41% do material tinha como origem o Brasil e 59% outros países (idem, p.14).

Para Bueno (apud COSME, 2000), o Jornalismo Científico no país também se apresenta atrelado ao modelo internacional:

O divulgador científico nacional, com poucas exceções, tem estado a serviço dos produtores internacionais de tecnologia e legitimando a atuação dos novos empresários, em grande parte consumidores vorazes dos pacotes tecnológicos importados. [...]. O jornalismo científico nacional que, em grande parte, se vale de informações internacionais, precisa ser redimensionado, tendo em vista o fato de que, agindo acriticamente, colabora para perpetuar a nossa dependência científica e tecnológica (idem, p. 30).

Da mesma forma, Tambosi (apud COSME, 2002) se refere ao peso da mídia internacional. Para ele, o grande problema da Divulgação Científica brasileira é justamente a reprodução das notícias divulgadas por esta mídia. A ciência nacional é insuficientemente divulgada no país:

Eu acho ainda que cobre pouco, com raras exceções, cobre pouco a ciência nacional. Deixa muito a descoberto isso. Principalmente com relação às ciências naturais, as ciências físicas; eu acho que os modismos acadêmicos a mídia cobre bem (idem, p. 80)

Marcelo Leite, editor de Ciência da Folha de São Paulo, refere-se ao espaço dedicado às pesquisas desenvolvidas no exterior. De acordo com o jornalista, uma pesquisa que consegue ser publicada nas grandes revistas científicas terá sempre destaque:

É comum ouvir em debate que a Folha só se interessa em pesquisas desenvolvidas no exterior. As pesquisas publicadas em revistas como Nature ou Science sempre serão vistas com respeito, não interessando se foram desenvolvidas por brasileiros, japoneses ou coreanos, pois são revistas que selecionam as melhores pesquisas do mundo inteiro. E isso já é um indicador de qualidade (LEITE apud COSME, 2002, p. 80).

O pouco espaço dedicado à ciência nacional é visto por Leite (apud COSME, 2002) como uma questão de tratamento dado pelos pesquisadores brasileiros e estrangeiros à grande imprensa. Enquanto os cientistas do Brasil têm receio de divulgar o andamento de seus trabalhos, os cientistas de outros países percebem a utilidade de informar aos cidadãos sobre esses resultados:

O pesquisador estrangeiro fala muito facilmente com a imprensa. Ele sabe da importância que tem a pesquisa dele ser noticiada num órgão de divulgação ampla, num órgão que não seja dirigido, que não seja para um público especializado [...]. E o cientista brasileiro nem sempre tem esta capacidade de perceber que não só, principalmente que o cientista que pesquisa com verba, independe disso ser favorável ou não para ele, ele tem obrigação de atender ao público, de divulgar, de escrever, de dar entrevista, de tornar conhecida a pesquisa dele (idem, p. 81).

Para o jornalista, um dos motivos dessa falta de diálogo entre os cientistas e os jornalistas no Brasil, é a desconfiança que os pesquisadores nacionais têm com relação à grande imprensa:

Muitas vezes é um medo justificado, porque infelizmente ocorrem erros, muitos erros, seja por deficiência de formação de gente, ou outro profissional, você não entende direito, publica errado, isso acontece. Com cinco pessoas, não dá para você ser especializado em tudo (idem, p. 81).

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