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Percebemos, a partir do que foi exposto acima, o quanto é importante proporcionar às crianças brincadeiras diversificadas, possibilitando que façam suas próprias descobertas. Quando nos reportamos às instituições de educação infantil, percebemos a importância do brincar como parte do planejamento do professor. O jogo e as brincadeiras devem fazer parte das atividades diárias.

Para isso, os espaços de educação infantil precisam proporcionar às crianças oportunidades de estimular sua criatividade e promover a interação com outras crianças, além de serem desafiadores para a aquisição de novas aprendizagens e experiências a partir do contato com o outro e da mediação do professor.

Neste processo, é de fundamental importância que a criança tenha a seu dispor espaço e tempo disponível para brincar. É importante deixar a criança com tempo livre para brincar com o que lhe dá prazer, sem lhe impor as brincadeiras, mas deixá-la criar suas próprias, de maneira espontânea, pois desta forma estará desenvolvendo sua criatividade de maneira prazerosa. É por isso que a organização da rotina e do ambiente são aspectos importantes a considerar na Educação Infantil.

Nas instituições de educação infantil, é comum ouvirmos o termo rotina como algo importante para a vida da criança, os professores definem uma rotina com o intuito de desenvolver a autonomia da criança. No entanto, nos estudos de Barbosa (2006, p. 39), percebemos que a rotina pode tornar-se algo alienante, dependendo da forma como é conduzida,

As rotinas podem tornar-se uma tecnologia de alienação quando não consideram o ritmo, a participação, a relação com o mundo, a realização, a fruição, a liberdade, a consciência, a imaginação e as diversas formas de sociabilidade dos sujeitos nela envolvidos, quando se tornam apenas uma sucessão de eventos, de pequenas ações, prescritas de maneira precisa, levando as pessoas a agir e a repetir os gestos e atos em uma sequência de procedimentos que não lhes pertence nem está sob seu domínio. É o vivido sem sentido, alienado.

Em muitos casos, as rotinas encontradas nas práticas pedagógicas tornam-se indiscutíveis, pois elas simplesmente fazem parte do dia a dia da instituição. É como se estivessem intrínsecas ao fazer educacional e não necessitassem de uma discussão mais elaborada sobre sua verdadeira função. Assim, acabam sendo repetidas diariamente de uma maneira mecânica por todos os sujeitos envolvidos e nem sequer são analisadas ou discutidas em encontros de planejamento (BARBOSA, 2006).

Outro documento que também faz referência à rotina na educação infantil é o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI). Encontramos neste documento a seguinte afirmação:

A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas. (BRASIL, V.1, 1998, p. 54).

Neste contexto, a rotina torna-se uma prática dinamizadora quando é organizada e planejada de maneira a contemplar as necessidades do grupo de crianças ao qual o planejamento está voltado, sendo fundamental haver uma flexibilização de acordo com as especificidades de cada criança.

Para Oliveira (2005, p. 76)

O estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias, a rotina, é útil para orientar a criança a perceber a relação espaço–tempo, podendo aos poucos prever o funcionamento dos horários da creche. Contudo, o acontecer de coisas novas, inesperadas, é fundamental para a ampliação das experiências infantis, planejar atividades não se refere propriamente à previsão de uma sequência de fatos que serão obrigatoriamente cumpridos, cabendo ao educador controlar para que as crianças participem obedientemente da mesma.

A partir das ideias da autora, podemos perceber que a rotina na educação infantil é uma prática importante na sequência de atividades diárias, mas que para

que ela tenha um significado para a criança, deve ser planejada levando em consideração que serão desenvolvidas com sujeitos ativos nesse processo e não meros espectadores que estão na instituição apenas para cumprir tarefas previamente programadas pelo professor.

Para que a rotina não se torne algo desenvolvido de maneira mecânica, todas as atividades devem ser planejadas diariamente, contando com a participação ativa das crianças envolvidas, garantindo que as mesmas desenvolvam e construam noções de tempo e espaço, possibilitando também a compreensão do modo como as relações sociais são organizadas e permitindo uma maior interação social. (BARBOSA; HORN, 2001).

Tal como na rotina, o ambiente também deve ser pensado para promover a autonomia, a criatividade e o bem estar da criança. O meio tem uma importância significativa para a criança, bem como o grupo no qual ela está inserida, os espaços destinados a crianças pequenas deverão ser desafiadores e ao mesmo tempo acolhedores, visando uma melhor interação entre elas e delas com os adultos. (HORN, 2004). Os espaços de educação infantil estão impregnados de vínculos afetivos onde o papel do professor é fazer a mediação da compreensão e interpretação deste mundo pela criança, podendo através de observações e interações, ampliar seu conhecimento de mundo.

Horn (2004, p.15) defende que:

[...] não basta a criança estar em um espaço organizado de modo a desafiar suas competências; é preciso que ela interaja com esse espaço para vivê-lo intencionalmente. Isso quer dizer que essas vivências, na realidade, estruturam-se em uma rede de relações e expressam-se em papéis que as crianças desempenham em um contexto no qual os móveis, os materiais, os rituais de rotina, a professora e a vida das crianças fora da escola interferem nessas vivências.

Sendo assim, os espaços de educação infantil são permeados de sentimentos e emoções. Neles as crianças fazem suas primeiras descobertas para além do ambiente doméstico, por meio da interação com outros sujeitos. Esses espaços são constituídos de relações educativas que envolvem diversos aspectos como as emoções, o afeto, a sexualidade, os jogos, as brincadeiras, as linguagens, o movimento corporal, a fantasia, a nutrição, os cuidados, os projetos de estudo, tudo

isso num ambiente onde o respeito pelas diferenças tende a ser uma presença constante (BARBOSA, 2006, p. 25).

É importante percebermos que os espaços das instituições de educação infantil, não podem ser vistos como um pano de fundo, mas como algo característico e pertinente à ação pedagógica; a sala de atividades não pode ser vista como propriedade do educador, mas precisa ser pensada e organizada com a participação ativa de todos os seus integrantes. Tudo o que dela fizer parte deve ter um significado para a criança, lembrando que uma organização adequada dos espaços e materiais disponíveis na sala pode ser um fator decisivo na construção intelectual e social da criança, bem como de sua autonomia (BARBOSA; HORN, 2001).

Para Horn (2004, p. 37), as instituições de educação infantil, são espaços que devem ser povoados com cores, com objetos, com distribuição de móveis:

Ele deveria ser definido pelo professor e por seus alunos em uma construção solidária, fundamentada nas preferências das crianças, nos projetos a serem trabalhados, nas relações interpessoais, entre outros fatores. O que se observa via de regra, é que os professores se apoderam dos espaços, decorando-os e organizando-os a partir de uma visão centralizadora na prática pedagógica, excluindo as crianças disso (HORN, 2004, p. 37).

No mesmo estudo, a autora ainda faz referência às decorações existentes nas turmas de educação infantil, cujas paredes são decoradas pelo professor com personagens infantis, colados nas paredes, sem nenhuma interferência das crianças, ou seja, as decorações até podem ser bonitas, mas sem nenhum significado para a criança. A autora afirma também que este procedimento pode acarretar uma infantilização no processo de aprendizagem, como se as crianças não fossem capazes de interagir e aprender com outros enredos, e como se não tivessem vontade própria.

Neste contexto, é importante ressaltar a importância do professor para o desenvolvimento infantil, seu papel é fundamental em todos os aspectos, desde a organização dos espaços, o tempo, as atividades programadas até as brincadeiras que se fazem presentes nestes espaços, todos estes elementos devem ser pensadas tendo em vista o foco principal de seu trabalho, que é o desenvolvimento integral da criança. O professor deve levar em consideração que a criança é parte integrante deste processo e como tal, deve ser vista como um ser ativo, onde suas vontades e necessidades precisam ser analisadas e consideradas pelo adulto.

4 O TRABALHO DAS PROFESSORAS DE EI: CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS NA PERSPECTIVA DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS