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SISTEMA CADASTRAL ONDE E QUANTO SISTEMA REGISTRAL QUEM E COMO

4. CADASTRO FLORESTAL E RESERVA LEGAL

4.2 ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS

O valor instrínseco da biodiversidade, assim como seu valor de uso, relacionam-se com a competência para gerí-la. Trata-se de uma preocupação comum à humanidade, uma vez que os destinos desta última estão indissocialvelmente vinculados aos destinos do mundo natural, especialmente o dos sistemas vivos.

Uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para a conservação da biodiversidade é o estabelecimento de espaços especialmente protegidos, que trata de separar algumas porções do território e limitar o uso da terra e dos recursos naturais. Apesar de ser uma importante estratégia para conter o uso predatório dos recursos naturais, esta ferramenta vem enfrentando grandes desafios na sua implementação (BENSUSAN, 2006).

Estes desafios estariam relacionados com a forma como estas áreas foram ou são estabelecidas, não considerando, muitas vezes, a pressão sobre o uso dos recursos naturais. A gestão dessas áreas, submetidas a regimes diferentes do vigente na paisagem circunvizinha, mas ainda dependente dela, contam também com limitação de recursos humanos e financeiros.

Talvez o maior destes desafios seja a preservação dos processos que geram e mantêm a diversidade biológica que se quer conservar, sendo necessário para tanto conhecê-los e reconhecer que se dão numa escala que transcende a área protegida.

Para a efetividade da conservação seria necessário a criação de uma rede de áreas naturais protegidas, selecionadas com base em um planejamento abrangente obedecendo a critérios científicos, nas quais se resguarde o maior número possível das espécies animais e vegetais, bem como os ecossistemas existentes (FUNATURA, 1989).

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) inovou profundamente, seja ao regrar a matéria de forma expressa, seja ao estabelecer mecanismos garantidores de perenidade legal e ecológica dos espaços territoriais e seus componentes especialmente protegidos (MILARÉ, 2004).

É de grande importância pensá-los no espaço geográfico, sua distribuição e proximidade entre eles, como forma de favorecer a conservação da biodiversidade e a manutenção dos processos ecológicos.

São eles espaços geográficos, públicos ou privados, dotados de atributos ambientais relevantes, que, por desempenharem papel estratégico na proteção da diversidade biológica existente no território nacional, requerem sua sujeição, pela lei, a um regime de interesse público, através da limitação ou vedação do uso dos recursos ambientais da natureza pelas atividades econômicas.

As áreas ambientais legalmente protegidas são implementadas e geridas por vários órgãos governamentais das três esferas do poder executivo, setorizados e com dificuldade de comunicação entre si, o que não contribui para o conhecimento do panorama destas áreas.

Os espaços territoriais especialmente protegidos foram regrados por leis dispersas podendo ser agrupados em cinco categorias fundamentais (figura 8), a seguir suscintamente descritos. As áreas de Reserva Legal, por serem objeto desta pesquisa, derão mais detalhadamente abordadas, no item 4.3.

Figura 8. Espaços Territoriais Especialmente Protegidos

Biomas Áreas especiais UC - SNUC APP RL Espaços Territoriais

a. Biomas:

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) determinou a proteção genérica aos grandes ecossistemas e biomas brasileiros quais sejam: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira.

b. Áreas de Proteção Especial:

Estão inseridas em um contexto de parcelamento do solo para a implantação de loteamento ou desmembramento urbanos. São consideradas, em sua substância, pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001b) e especialmente pelo Plano Diretor deste estatuto, através dos art. 39 a 42.

Objetivam prevenir a lesão a bens públicos e valores ambientais estratégicos, decorrentes dos processos de urbanização, mediante o controle especial dos projetos de parcelamento do solo urbano. Nestes, a aprovação municipal sujeita-se à disciplina dos Estados membros da Federação.

c. Áreas de Preservação Permanente – APP:

Previstas pela Lei nº 4.771/65 (BRASIL, 1965) e suas posteriores alterações e regulamentações estaduais, é área coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

A vegetação da APP não pode ser removida nem explorada, exceto em área indígena e pela própria comunidade, tendo em vista sua localização (ao longo dos cursos d´água, nas encostas, nas restingas, ao redor de lagos e lagoas, ao longo de rodovias, etc.).

d. Unidades de Conservação – UC:

Esta categoria de área protegida somente tomou impulso através da Politica Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Através dela foi estabelecida um agrupamento de UC, porém ainda casuisticamente e sem rumo certo, administradas sempre com poucos recursos e carentes de uma ação definida de política ambiental.

Numa análise da evolução histórica e conceitual feita por Milano (1999) é assinalado que as preocupações iniciais com os espaços protegidos tinham um conceito emocional da área silvestre, evoluindo para objetivos de pesquisas

científicas, proteção de recursos hídricos, manutenção do equilíbrio climático e ecológico, preservação dos recursos genéticos, e atualmente, constituem o eixo estruturante da preservação in situ da biodiversidade como um todo.

A existência de objetivos muitas vezes conflitantes destes espaços protegidos determinou a criação de tipos distintos de UC ou categorias de manejo que, se devidamente ordenados, seriam capazes de alcançar a totalidade dos objetivos nacionais de conservação, através de um sistema.

O conceito deste sistema evoluiu, estimulado pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e por muita discussão entre ambientalistas e conservacionistas, culminando na promulgação da Lei nº 9.985/00 (BRASIL, 2000a).

As Unidades de Conservação são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, legalmente instituídos pelo Poder Público, que apresentam características naturais relevantes e objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, permanentes, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção.

Esta definição foi dada pela Lei nº 9.985 (BRASIL, 2000a) que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabelecendo normas e critérios que vieram auxiliar no estabelecimento e gestão de áreas protegidas das instâncias federais, estaduais ou municipais.

O SNUC dividiu as UCs em dois grupos de acordo com o tipo de proteção e condicionantes para sua utilização e exploração, cada um com suas categorias, que podem variar desde a intocabilidade até o uso direto e relativamente intenso, que são:

I. Unidades de Proteção Integral (PI), que visam preservar a natureza,