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especificamente no tocante ao stay period, também não há como escapar à constatação de que se trate de prazo material.

No documento Processo Nº: (páginas 46-52)

RAPHAEL GONÇALVES E SOUSA

COMPROBATÓRIO DE REGISTRO COMERCIAL DOCUMENTO

E, especificamente no tocante ao stay period, também não há como escapar à constatação de que se trate de prazo material.

Por um lado, a suspensão do curso dos prazos prescricionais, prevista no art. 6º, caput, atinge um instituto, a prescrição, inserido inequivocamente no direito material; de outra parte, a suspensão de toda e qualquer ação e execução já em curso contra a devedora é efeito que não se restringe ao processo de que emanado, incidindo como limitador do exercício de direitos pelos credores fora daquele, daí não se podendo falar em eficácia meramente processual ou interna ao próprio processo de recuperação. Por decorrência, o prazo máximo de cento e oitenta dias em relação a que tolerada a produção desses efeitos materiais também é material, não tipicamente processual.”

56. Dessa forma, se o prazo produz efeitos tão somente fora da recuperação judicial e não atinge os andamentos deste processo, NÃO pode ser considerado

processual, aplicando-se a contagem em dias corridos, nos termos do artigo 219, § único do CPC.

➢ DA CELERIDADE NECESSÁRIA À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E DA

SEGURANÇA JURÍDICA

57. Como o devido acatamento, não há como prevalecer o argumento suscitado na r. decisão agravada no sentido de que a contagem no prazo em discussão em dias úteis é necessária à viabilidade do processo de recuperação judicial.

58. Isso porque, ao prever o prazo de 180 dias, a lógica da Lei foi implantar um tempo razoável para que o devedor pudesse ganhar fôlego, elaborar um Plano de Recuperação viável e apresentá-lo aos seus credores, com a segurança de que seu patrimônio não fosse executado – justamente de forma a manter o equilíbrio entre o direito do devedor e do credor.

59. A entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil em nada modifica o propósito da Lei nº 11.101/05. A lógica e conteúdo não processual do prazo de 180 dias continuam os mesmos, na forma em que foram concebidos na norma específica.

60. Inclusive, foi justamente este o motivo pelo qual a Lei 11.101/2005 tratou o referido prazo como improrrogável. Lembre-se o que dispõe o texto legal:

§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste

artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

61. A intenção do legislador era delimitar o tempo para definição do processo de recuperação judicial – beneficiando a todos os envolvidos, inclusive às próprias recuperandas, a obter, de forma célere, a homologação de seu plano de recuperação judicial.

62. Isto é: o objetivo da Lei era fixar um prazo único, garantindo a conduta diligente da recuperanda, para preservar a credibilidade do processo de recuperação judicial, de forma a limitar o risco na avaliação das empresas – beneficiando, por consequência, o ambiente econômico como um todo.

63. Para evidenciar o escopo do legislador, importante transcrever trecho do parecer apresentado pelo Senador Ramez Tebet, Relator do projeto no Senado, (disponível em https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/63304):

“Modificamos, ainda, a redação do § 5º do art. 7º do PLC nº 71, de 2003, não só para torná-lo mais objetivo, mas também e principalmente para dar-lhe redação que deixe claro que o prazo de 180 dias de suspensão das ações e execuções na recuperação judicial é absolutamente improrrogável, mesmo que o atraso na aprovação do plano não se dê por responsabilidade do devedor. A suspensão das ações é medida gravíssima em relação aos direitos dos credores, que só se justifica excepcionalmente, pela necessidade de se conceder ao devedor alguma tranqüilidade para negociar sua recuperação. Abrir a mínima possibilidade de que uma decisão judicial, dessintonizada dos objetivos de eficiência econômica da lei, prorrogue a suspensão – em um processo que seja – significa prejudicar a credibilidade e a avaliação do risco de todas as empresas brasileiras, pois jamais se saberia com certeza por quanto tempo essa suspensão de cunho legal poderia arrastar-se. A melhor solução é o estabelecimento de um prazo único, de 180 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial, findo o qual as ações e execuções voltam a correr normalmente, independentemente de pronunciamento judicial. Dessa maneira, a lei estimula a conduta diligente do devedor, que deverá apresentar a seus credores um plano viável e envidar seus melhores esforços para que seja aprovado em 180 dias, já que, se não o for, as ações e execuções iniciarão ou continuarão seu curso,

reabrindo-se a possibilidade de decretação da falência por inadimplemento de obrigações anteriores ao pedido de recuperação.

64. Em sintonia com a lógica legislativa, portanto, está a segurança jurídica.

65. E, na mesma linha do parecer do Senador, em outro Agravo de Instrumento acerca desta mesma matéria, de nº 2136791-83.2016.8.26.0000 – também do TJ/SP– o N. Relator fez importante reflexão sobre as consequências de se flexibilizar o texto legal em prol do devedor, diante do risco de se validar recuperações “fracassadas” – já que a empresa que realmente tem capacidade de se soerguer deve preocupar-se em apresentar e aprovar um plano satisfatório o quanto antes – justamente para cumprir sua função social – e não em retardar o processo.

66. Vejamos a ementa do mencionado julgado:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. Recuperação Judicial.

Decisão singular que defere a contagem do prazo previsto no § 4º do artigo 6º da Lei n. 11.101/2005 em dias úteis. Descabimento. No entendimento do Relator, o prazo de 180 dias contado do deferimento do processamento da recuperação é improrrogável e a contagem em dias úteis configura injustificada prorrogação contra legem. Stay period configura-se prazo de natureza material, de modo que a sua contagem deve se dar em dias corridos. Inaplicabilidade da forma de contagem em

dias úteis instituída no art. 219 do CPC/15. Decisão reformada. Agravo Provido. Dispositivo: Deram provimento ao recurso para declarar a contagem do prazo de suspensão das ações em dias corridos.

67. E as reflexões expostas na decisão:

“A eficácia do instituto da recuperação judicial depende da segurança jurídica e, para tanto, observa-se a necessidade de cautela na

flexibilização de dispositivos legais concedida no Juízo Recuperacional ou no uso de interpretações próprias do processo civil que não se dialogam com a recuperação judicial. Permitir a inobservância dos dispositivos legais significa validar recuperações fracassadas. Atrasos e pretensões instrumentais contra legem demonstram uma face insegura e desorganizada do devedor, e sua não disposição em dar prosseguimento a um plano recuperatório capaz de atendera seus interesses de soerguimento empresarial e de cumprimento dos objetivos legais de promover “sua função social e o estímulo à atividade econômica”(LREF, art. 47, final)

também erro em dar interpretação pró-devedor ou manifestamente pró-credor à disciplina recuperatória em juízo porque, de um lado, se manifestará, em breve prazo, a descrença no sistema judicial, como ocorreu com as leis falimentares que precederam à Lei n. 11.101/2005 e, de,outro, a inviabilização do instituto e à atividade econômica como um todo

Isso reflete a importância de se ter bem definido o dia em que cessa o período de suspensão, seja para nortear o devedor quanto ao exato cumprimento das exigências a que voluntariamente se submeteu, seja para definir o período de limitação de direito dos credores, seja para dar segurança à atividade econômica quanto à certeza de que o devedor dispõe de organização administrativa e contábil que lhe permite pleitear a recuperação, apresentando a seus credores plano factível e aceitável de reorganização, em certo prazo definido pelo legislador pátrio.”

68. O que se verifica é que a contagem do prazo de suspensão das ações em dias corridos não prejudica em absolutamente nada a recuperação judicial da empresa que, proativa e diligentemente, impulsionar o seu processo. Ao passo que, a

contagem, em dias úteis, beneficiará à recuperanda que pretende tão somente utilizar- se da recuperação judicial como um escudo para se esquivar de suas obrigações.

69. A despeito da previsão legal, não se ignora que este prazo, às vezes, é dilatado por ordens judiciais, em alguns processos de recuperação judicial, a depender do cenário fático, o que, como visto, afronta a previsão de que é “improrrogável”.

70. Ocorre que, se além dessa prática, contrária ao texto da lei, de se prorrogar o prazo em algumas situações, ainda forem considerados apenas os dias úteis no seu cômputo, estará se pulverizando de vez o escopo imprimido pela nº Lei 11.101/05 – ferindo toda a sistemática acima exposta.

71. Portanto, não se mostra razoável a contagem do prazo previsto no artigo 6, §4º da Lei 11.101/2005 em dias úteis, também pela patente violação ao referido texto de Lei.

➢ DA REGRA DE HERMENÊUTICA

72. Por fim, não se pode olvidar que o Novo Código de Processo Civil é norma geral, que não revoga Lei Especial (Lei 11.101/05), concebida com a contagem do prazo em questão de 180 dias corridos (art. 2º Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro).

73. O Código de Processo Civil possui aplicação subsidiária à Lei n. 11.101/2005, conforme previsão expressa em seu art. 189 – hipótese em que as disposições de regra geral claramente não prevalecem sobre a Lei especial.

74. Nesse sentido, é o posicionamento da doutrina do Prof. Fabio Ulhoa Coelho:

“Claro está que, em prevendo a Lei de Falências uma determinada disciplina para certa matéria, o socorro ao processo geral é incabível: deve-se aplicar o que a legislação falimentar preceitua, ainda que diferente da norma do Código de Processo Civil ou do Código de

Processo Penal” (Comentários à Lei de falências e de recuperação de empresas. São Paulo: RT, 10ª ed., p. 530).

75. Portanto, este é mais um motivo que justifica a reforma da decisão ora agravada.

No documento Processo Nº: (páginas 46-52)

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